sábado, 28 de junho de 2025

Grupo Abril, completa neste mês 75 anos

Post compartilhado do Facebook/VEJA, de 27 de junhode 2025

"Em meados de 1969, VEJA lançou uma seção que faria parte da história da imprensa brasileira: uma entrevista para abrir a revista, todas as semanas. A ideia sugeria uma cor diferente. Como havia um razoável volume de papel amarelo guardado na gráfica, decidiu-se utilizá-lo. E as Páginas Amarelas nunca perderam a mítica tonalidade.

A Editora Abril, que deu origem ao Grupo Abril, completa neste mês 75 anos de ampla renovação, levando aos brasileiros de três gerações invenções surpreendentes, de sucesso imediato e espanto pelo ineditismo.

A revista REALIDADE representou um olhar diferente para as reportagens. VEJA introduziu o jornalismo de excelência, imune ao jogo do poder e a interesses escusos. A Abril levou às bancas discos de ópera e de gênios da MPB. Apresentou a primeiríssima tradução para o português de O Capital, de Karl Marx, e as ideias de Adam Smith, na prestigiada coleção Os Pensadores. Trouxe para o Brasil os videoclipes da música pop por meio da MTV. Reinventou o olhar para a arquitetura e a decoração com a CASACOR.

Foi uma das primeiras a entender os avanços promovidos pela internet — e agora, mais do que nunca, pavimenta os inexoráveis passos para o futuro. As edições impressas permanecem vivíssimas e cobiçadas, mas de mãos dadas com os sites e as redes sociais.

Exemplo disso ocorreu na quinta-feira 26, com a entrada no ar pela Samsung TV do canal VEJA+, reunindo programas, vídeos e documentários produzidos por VEJA e outras marcas da Abril. Não seria exagero dizer que a atual celebração tem um evidente significado: são apenas os primeiros 75 anos de uma marca indissociável do país, da defesa da democracia e das liberdades individuais, da educação e do conhecimento — hoje ancorada nos saltos tecnológicos, como se vê na edição especial encartada neste número de VEJA.

Obrigado a você que segue acompanhando a vitoriosa trajetória da Abril."

Foto: Claudio Gatti

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Veja.

sábado, 21 de junho de 2025

'Dois jornalistas', por Luciano Correia

Legenda da foto: Luciano Correia e Mônica Pinto

Legenda da foto: Jornalista André Barros.
Crédito da foto: reprodução Google e postada pelo blog.

Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 19 de junho de 2025 

Dois jornalistas
Por Luciano Correia (*)

Como se estivéssemos bem servidos de muitos e bons jornalistas, Sergipe perdeu logo dois num dia só. Dois jovens que fizeram muito pelo desenvolvimento de nosso jornalismo e que certamente tinham muito a fazer na nossa imprensa. Mônica, carioca que chegou aqui como Dantas, e depois voltou a usar o sobrenome Pinto de solteira, teve longa carreira no extinto Cinform impresso, mas passou por outros jornais e fundou revista. Foi a editora da Sergipe +, uma publicação de variedades local infelizmente também extinta.

Assessorou a Fecomércio durante anos, construindo afetuosas relações de amizade com vários empresários locais. Era editora-chefe do portal F5 News, dos empresários Fernando Carvalho e Laércio Oliveira. Sou testemunha do carinho que os dois sentiam por ela. Sempre que me encontra, o senador Laércio sequer pergunta o tradicional “Tudo bem?”. A primeira coisa que diz é sempre: “Tem visto nossa Moniquita?” Era assim que eu a chamava.

Amigo íntimo do casal Mônica-Sidnei Xambu, frequentei suas variadas casas, aqui ou em Curitiba, como também fui frequentado por eles, fora os incontáveis almoços e cervejadas por aí, por aí. Perco uma grande amiga, Sergipe perde uma grande mulher, além da profissional competente que sempre foi. À certa altura da carreira, incorporou no seu currículo a função de biógrafa, tendo feito belíssimos trabalhos sobre empreendedores como Raimundo Souza (da antiga farmácia Galeno), Raymundo Luiz e tantos outros, incluindo o próprio comércio aracajuano, personagem de uma de suas sortidas biografias.

Mônica era uma mineira-carioca que jamais perdeu o sotaque, talvez para não se sentir tão estrangeira nos lugares onde viveu. Do Rio, conservava em Aracaju um grupo só de cariocas como ela e Xambu, aqui estabelecidos há décadas. Uma confraria de amigos muito queridos que se reuniam no seu fechado clube para falar reminiscências da cidade maravilhosa, todos, como ela, puxando até hoje aquele sotaque típico dos cariocáááxxx.

Justo quando deu por encerrada sua temporada no frio e insípido Paraná e recomeçar uma nova vida em marcha lenta na sua querida Aracaju, a doença apontou os primeiros sinais. Enfrentou o câncer com um destemor que nunca vi em ninguém mais. Uma leoa rugindo o tempo todo na resistência, pela vida, em alto astral. Foram inúmeras manhãs de sol nascendo e mergulhos na praia em frente à sua casa, que ela festejou como se fossem os últimos, pois que eram mesmos.

No último aniversário, em novembro, mesmo dia em que Mamãe completa anos, ela fez questão de minha presença, com um argumento inapelável: “Porque esse é meu último aniversário, Luc”. Tomei uma pancada com tamanha coragem. E voei de Itabaiana do meio do níver de Mamãe para a lendária Atalaia Nova a tempo de pegar a cachaça e a alegria de sua festinha entre amigos. Pouco mais de seis meses depois, ela cumpriu o aviso: nos deixou de novo perplexos, tristes, sem saber o que dizer com a falta que vai nos fazer. Voa feliz, Moniquita!

André Barros

André Barros nunca foi um amigo íntimo. Vivemos de relações cordiais, mas de uma cordialidade que não é dessas que rolam por aí. Um gentleman, de tão educado, coisa rara em Sergipe dos muros baixos. Trabalhamos na CBN Aracaju, na primeira fase da CBN, quando fui encarregado da implantação do jornalismo. Ele, um âncora seguro, conhecedor como poucos da linguagem de rádio e TV, excelente texto. Era, disparadamente, o melhor jornalista e apresentador de rádio da província. Sua competência, lembre-se, nunca foi obra do acaso, senão pelos anos de estrada aqui e fora de Sergipe, nas TVs Globo e Manchete de Brasília, e em jornais.

Quando âncora da CBN, eu fazia um comentário diário, num quadro chamado de Liberdade de Expressão. Ele, gentil, provocador, sempre me estimulava abrindo um ângulo novo, fazendo daquela dobradinha um raro momento criativo de jornalismo no rádio. Nos cargos públicos que exerci, sempre me entrevistou com honestidade, perguntando tudo, mas fazendo jornalismo com qualidade, sem ser chapa branca nem ser chancelado pelos pagadores de jabás públicos e privados. Estreitamos mais os laços num café em que ele batia ponto no Riomar. Outro dia, de passagem, eu comentei com ele: “Puxa, você abandonou o posto no café, rapaz? Vamos atualizar nossas conversas, fofocar um pouco”. Ele me contou de problemas de saúde, de forma apressada e superficial. Não me dei conta da gravidade. Esta semana é que vi que não vamos mais tomar nosso café.

(*) Sobre Luciano Correia - Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

Texto e imagem1, reproduzidos do site: sosergipe com 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Monica Pinto: uma vida de amor, jornalismo e generosidade


Publicação compartilhada do site F5 NEWS, de 17 de junho de 2025

Monica Pinto: uma vida de amor, jornalismo e generosidade 

Conheça a trajetória da jornalista que construiu sólida carreira em quatro décadas  

A jornalista e escritora Monica Pinto, editora do Portal F5 News, faleceu nesta terça-feira (17), aos 61 anos. Mineira de nascimento, mas sergipana de coração, Monica construiu ao longo de quase quatro décadas uma trajetória marcada pelo talento jornalístico, pela leveza nas palavras e, acima de tudo, por um profundo amor por Aracaju e pelo povo sergipano.

Sua história com a capital de Sergipe começou em 1987, quando, a convite de uma amiga de infância, passou o réveillon na cidade. Apaixonou-se pelo clima, pela cultura e por quem, poucos meses depois, viria a ser o pai de sua primeira filha. De malas prontas, trocou o Rio de Janeiro por Aracaju em julho daquele ano, onde não apenas criou raízes familiares, mas também deu início a uma carreira que deixaria sua marca no jornalismo local.

Mesmo enfrentando os desafios de ser uma jovem mãe em início de carreira, Monica não perdeu o bom humor e nem a vontade de contar histórias. Do primeiro emprego no Jornal de Sergipe à ascensão no Cinform, ganhou respeito e reconhecimento por sua escrita precisa, sensível e carregada de humanidade. “Escreveria um compêndio só sobre o tanto de gente da melhor qualidade que Aracaju colocou na minha jornada”, costumava dizer.

Foi também em Aracaju que conheceu o publicitário, compositor e artesão Xambu, com quem dividiu a vida pelos últimos 30 anos. Juntos, construíram uma história de amor, parceria e amizade, sempre cercados pela família e por muitos amigos que colecionaram ao longo dos anos.

Além do jornalismo impresso, Monica também teve forte atuação no jornalismo institucional, com passagens em órgãos públicos, e corporativo, especialmente junto ao Grupo Multserv, onde editou por anos a revista Sergipe S/A e, mais recentemente, integrou a equipe do F5 News como editora desde a sua fundação - sempre pautada pelo compromisso com a ética e a qualidade da informação. Nos últimos anos, também assinou obras biográficas e de resgate da história da sociedade sergipana como a Memória do Rádio e a Memória do Comércio. 

Mesmo após uma temporada em Curitiba, para onde se mudou em 2005, manteve seu elo com Sergipe. Recentemente, voltou a dividir seus dias entre o Paraná e a vizinha Barra dos Coqueiros, de onde voltou a contemplar Aracaju e a manter laços com amigos, colegas de profissão e sua grande paixão pelo ofício.

Mãe dedicada de três filhas, Luiza Pinto Queiroga Dantas, Mariana Lua Pinto Arruda, Maria Zilda Pinto Arruda e madrasta carinhosa de Isabela Reed, Monica sempre se orgulhou de sua família sergipana.

“Essas quatro mulheres fortes, como a maioria das sergipanas, são para mim uma espécie de legado à cidade cujo povo tão bem me acolheu, onde fui esposa duas vezes, mãe três, e uma jornalista de bom conceito — que procuro firmemente manter — a quem nunca faltaram oportunidades.”, escreveu em uma crônica de homenagem ao 167º aniversário de Aracaju.

A trajetória de Monica Pinto é, acima de tudo, uma história de amor à vida, à profissão e a cidade que escolheu para chamar de sua. Seu legado permanece nas páginas que escreveu, nas amizades que cultivou e na memória de todos que tiveram o privilégio de conhecê-la.

Texto reproduzido do site: www f5news com br

terça-feira, 17 de junho de 2025

Morre o jornalista e escritor Cícero Sandroni, aos 90 anos

Legenda da foto: Cícero foi vítima de um choque séptico causado por uma infecção urinária | Divulgação

Publicação compartilhada do site SBT NEWS, de 17 de junho de 2025 

Morre o jornalista e escritor Cícero Sandroni, imortal da Academia Brasileira de Letras, aos 90 anos

Acadêmico atuou em veículos como O Globo, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã, Jornal do Brasil e presidiu a ABL entre 2007 e 2009

O jornalista, escritor e acadêmico Cícero Sandroni, integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu na manhã desta terça-feira (17), aos 90 anos. De acordo com a entidade, ele faleceu em casa, vítima de um choque séptico causado por uma infecção urinária. Sandroni deixa a esposa, Laura Constância Austregésilo de Athayde, e cinco filhos.

O velório será realizado nesta quarta (18), a partir das 10h, na sede da ABL, no centro do Rio de Janeiro.

Quem foi Cícero Sandroni?

Cícero Sandroni teve uma carreira sólida no jornalismo brasileiro e também escreveu ficção. Nascido em Guaxupé, no interior de Minas Gerais, iniciou seus estudos em São Paulo e mudou-se com a família para o Rio de Janeiro em 1946. Formou-se em Comunicação Social pela PUC-Rio. Atuou em veículos como O Globo, Tribuna da Imprensa, Correio da Manhã e Jornal do Brasil.

Em 1961, foi nomeado secretário de Imprensa da prefeitura do Distrito Federal e redigiu a única mensagem oficial enviada pelo ex-presidente Jânio Quadros ao Congresso Nacional durante seu governo. Em seguida, presidiu o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), mas foi afastado após o golpe militar de 1964.

Sandroni foi reconhecido com o Prêmio Esso de Jornalismo, em 1974. Em 1976, participou do Manifesto dos Mil, movimento de intelectuais que contribuiu para o fim da censura no país durante a ditadura.

Além do jornalismo, Sandroni foi autor de obras como "O Diabo Só Chega ao Meio-Dia" (1985), "Cosme Velho" (1999) e "O Peixe de Amarna" (2003). Em parceria com a esposa, escreveu "O Século de um Liberal" (1998), sobre a vida e obra de seu sogro, o também imortal Austregésilo de Athayde.

Em 6 de junho de 2002, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 6, anteriormente pertencente a Roberto Marinho. Tomou posse em 16 de agosto do mesmo ano, consolidando sua relevância no cenário intelectual brasileiro.

Homenagens

O poeta e também imortal da ABL Marco Lucchesi prestou homenagem nas redes sociais. "Adeus, querido Cícero Sandroni. Saudade e admiração ao amigo de aliança democrática e civil. Realizamos um fato histórico: a paz entre as repúblicas de Pisa e Lucca, que era tema recorrente de nossa lúdica amizade. Toda solidariedade à família", escreveu ele em sua conta na rede social X (antigo Twitter).

Texto e imagem reproduzidos do site: sbtnews sbt combr

sábado, 17 de maio de 2025

Entrevista — Mino Carta - Inimigo nº 1 da mediocridade

Entrevista compartilhada do site ABI, de 19 de novembro de 2008

Entrevista — Mino Carta - Inimigo nº 1 da mediocridade

Por Francisco Ucha e Marcos Stefano, de São Paulo*

“Não existe na imprensa brasileira texto tão elegante como o de Mino Carta.” Quando ouve o elogio do colega Geneton Moraes Neto, Mino Carta ri um pouco constrangido. De fato, é saboroso acompanhar seu trabalho, ora irreverente, ora contundente, mas sempre crítico, publicado toda semana na CartaCapital. Mas apenas esse prisma é insuficiente para se compreender a importância desse genovês de 74 anos para o jornalismo brasileiro nas últimas décadas. Aliás, nem mesmo as muitas publicações que criou, como Quatro Rodas (1960), Jornal da Tarde (1966), Veja (1968), IstoÉ (1976), Jornal da República (1979) e a própria CartaCapital, da qual é Diretor de Redação há 14 anos, mostram de fato a extensão de sua influência.

Além do texto refinado, Mino é uma alma, ou melhor, uma mente inquieta, sempre buscando algo de relevância para transformar o Brasil. Algo que traduz como “capital” e que bem define o seu recado. “Capital significa principal, essencial, fundamental, decisivo, determinante. Mas também é substantivo, e significa valor econômico, centro administrativo de um país, riqueza na sua acepção mais estreita e mais vasta. O que não indica mania de grandeza: explica simplesmente o propósito de uma Carta-capital endereçada ao coração do poder”, escreveu ele na apresentação da primeira edição de sua última criação.

Claro, falava da revista, mas bem podia sintetizar assim também sua missão e visão da vida. Crítico, Mino Carta tem como alvo principal um jornalismo independente, isento, honesto e nivelado por cima, para brasileiros conscientes e não para um público imbecilizado por mentiras e chavões. Em meio ao planejamento da edição 500 de sua revista, ele garante que, mesmo depois de tanto tempo, continua sendo o mesmo: um jornalista, não um patrão. E que continuará assim em sua cruzada.

Jornal da ABI — Quem de fato é Mercúcio Parla?

Mino Carta — A princípio, um personagem dos meus dois livros, “O castelo de âmbar” e “A sombra do silêncio”. Mas é claro que é muito mais. “O castelo de âmbar” eu escrevi no começo de 2000, muito rapidamente, em quatro meses. Não me acho em condições psicossomáticas para fazer um livro de memórias, talvez por causa do jornalismo. Queria algo diferente. Por isso, quando fui empreender essa tarefa, sabia que teria que ser uma coisa um pouco onírica e voltada para a imaginação de uma criação maior. Seriam trabalhos que trazem um lado, vamos dizer, mais artístico.

Não interessa muito contar como é trabalhar para a família Mesquita ou para os Civita. Mas quando isso é feito em uma narrativa de ficção, torna-se algo divertido. Além disso, não preciso pesquisar detalhes, verificar se um evento aconteceu no dia 2 de maio ou no 31 de dezembro. Enquanto “O castelo” é uma obra escrita na primeira pessoa, porque é uma coletânea de documentos, de papéis perdidos, de rascunhos e discursos de autoria do tal Mercúcio, o segundo é escrito na terceira pessoa, porque olha o personagem mais de longe.

E, no fim, o Mercúcio sou eu mesmo. Comecei a escrever movido por uma questão muito mesquinha. Estava muito irritado com o livro do Mário Sérgio Conti, “Notícias do Planalto”, que falseia fatos que dizem respeito à minha vida, porque ele preferiu ouvir o patrão dele, que é um dos pulhas mais refinados que já apareceram por aí. Além disso, falseou a História do País, atribuindo aos jornalistas a criação do fenômeno Collor. Collor foi criado pelos patrões dos jornalistas, inclusive os patrões donos da Veja, na qual ele trabalhava e que inventou o slogan “caçador de marajás”. Quis escrever o primeiro livro, que tem no centro uma figura chamada Mercúcio Parla, num país que não existe, num tempo que não se sabe qual é, mas que carrega boa parte das minhas experiências e boa parte da História recente do Brasil, que acompanhei de perto. Depois, decidi escrever o segundo livro porque havia uma razão sentimental: eu precisava mostrar o outro lado do tal Mercúcio.

Jornal da ABI — Um dos grandes mistérios que rondam sua vida é a data de nascimento. Pode esclarecê-lo?

Mino — Creio que não, pois é uma confusão para mim também, embora me agrade, porque impede que as pessoas tenham certeza. Não digo quanto à minha idade, porque a diferença é de meses, nada fatal. Mas com isso não fico na obrigação de convidar para uma festa, um jantar, uma happy hour. Tenho duas nacionalidades: a brasileira e a italiana. Quando fui tirar o passaporte italiano, a data que aparece é 6 de novembro. No brasileiro, sou de 6 de setembro. Aos 22 anos, no fim de 1956, fui para a Itália, trabalhar num jornal de Turim. Como estava casado, não precisei fazer o serviço militar. Mas tinha que me apresentar no quartel. Lá, em meio a todos os registros possíveis e imagináveis, ao lado de medições variadas, como peso e altura, consta que nasci em 6 de fevereiro. 

Jornal da ABI — O senhor já afirmou que, diferentemente de Roberto Marinho e Victor Civita, não é patrão. Ser patrão é tão ruim assim?

Mino — Não, mas exige vocação, tino, talento. E eu não tenho nenhum para isso, tanto que nunca fui patrão. Tive uma sociedade com Domingo Alzugaray, na Encontro Editorial, para fazer a IstoÉ, e ele implorava que eu me mantivesse longe dos negócios. Depois, ainda na revista, fui empregado do Fernando Moreira Sales e do próprio Domingo, que dizia: “Meu sócio você nunca mais será, porque é um desastre. Terá um bom salário, mas será empregado.” Quando meu sobrinho Andrea herdou do pai a Carta Editorial, que ainda existe e publica a Vogue, também me propôs sociedade. Eu recusei e disse: “Se eu receber esse salário, trabalho para você tranqüilamente.” Fizemos a CartaCapital, que leva esse nome não em homenagem à minha pessoa, mas por causa da editora fundada por meu irmão, falecido em 1994. Assim, a revista estreou como mensal, depois tornou-se quinzenal, e eu continuei como empregado. Quando virou semanal, não foi difícil verificar que havia uma certa incompatibilidade entre a Carta Editorial e essa revista política de oposição clara ou, pelo menos, de independência claríssima. E isso fez com que Deluso e eu assumíssemos a tarefa de tocar o projeto, de emprestar nosso nome a uma nova editora, a Confiança, dentro da qual também não somos patrões de coisa alguma. Eu cuido da redação. Ponto. Faço o trabalho que fiz a vida inteira.

Já trabalhei na Time Life, no L’Express, no Il Messaggero e até na Der Spiegel, sem falar uma palavra de alemão, mas só aqui vejo jornalista chamar o patrão de colega. Isso me irrita, constrange, até entristece. E o sindicato ainda dá carteirinha, se ele quiser. Isso é o cúmulo, mostra o que é o Brasil, um país escravo dos seus oligarcas, até hoje incapaz de raciocinar e de perceber por onde caminha uma democracia autêntica. Por isso, não sou patrão. Patrão não é jornalista, é empresário. 

Jornal da ABI — Falando nas redações pelas quais o senhor passou, como se deu sua saída da Veja?

Mino — Está para sair um livro de memórias do Karlos Rischbieter, Presidente da Caixa Econômica Federal quando eu estava na Veja. Ele conta o episódio e vai ser triste para Mário Sérgio Conti e companhia. A Abril queria um empréstimo de US$ 50 milhões para consolidar aqui dividas que tinha contraído com instituições financeiras mundo afora, sobretudo com a Morgan Trust. Para tanto, recorreu à Caixa. Não havia qualquer coisa suja por trás, as garantias eram válidas. Tanto que, segundo Rischbieter, podia ser feito. Só que acabava sendo um empréstimo político, porque a Veja, vista pelo regime militar como um inimigo, era censurada severamente. A coisa caminhou até chegar no Presidente Ernesto Geisel, que tinha ódio de mim — e acho que estava certo, porque no fundo penso que era um panaca, irascível, bestalhão monumental, como a maioria dos generais nativos e talvez do mundo — e proibiu o empréstimo para a Abril, a não ser que as pessoas por ele odiadas saíssem de lá. O Armando Falcão foi o intermediário desta coisa. Rischbieter conta que tentou falar com o General Golbery e ele disse que não podia entrar nessa questão e ia lavar as mãos. Foi aí que me antecipei. Saí da Veja porque não era somente Diretor de Redação, integrava o Conselho Diretor da empresa. Passei a dizer que valho mais que Jesus Cristo: ele foi comprado por 30 dinheiros e eu, por US$ 50 milhões da época. Estamos falando de 1976.

Jornal da ABI — Antes disso, havia alguma inimizade com o pessoal da editora?

Mino — Nossa relação sempre foi, em primeiro lugar, profissional. Mas há algumas histórias fantásticas, como quando o Fernando Moreira Sales me convidou para construirmos juntos uma quadra de tênis. Eu e minha mulher passamos o domingo inteiro com ele e sua esposa, procurando um lugar próximo a São Paulo para a empreitada. Ele disfarçou muito bem o que planejava fazer duas semanas depois: dizer que eu precisava ir embora, porque puxava a sardinha para o PT e estava me tornando muito importante. Foi aí que descobri que a redação me considerava um ditador e que muitos se reuniam com ele conspirar contra mim. São coisas típicas do nosso Brasil. Em qualquer outro lugar, colega é mais importante que patrão, há jornalistas que não vêem a puxação-de-saco como única forma de crescer. Aqui, isso abunda, sem falar no medo de perder o emprego. Outra coisa que acentua esses problemas é o fato de o editor brasileiro ganhar mais que os repórteres, por exemplo. Queria ver a Miriam Leitão ou a Dora Kramer conseguirem emprego na Europa ou nos EUA. Talvez fossem encaminhadas à cozinha para ver se têm alguma aptidão para, pelo menos, preparar o café.

Jornal da ABI — Em 2005, o senhor afirmou que o maior elogio que recebeu na vida veio justamente de um General, o João Batista Figueiredo, que teria dito: “O Mino Carta é um chato de galocha, mas é o único que não tem o rabo preso.” A imprensa brasileira tem o rabo preso?

Mino — Em 88, o Figueiredo foi a um churrasco e. como já não estava no poder, tomou umas e decidiu deitar falação que um amigo, com sua aquiescência, gravou. Ele me pôs no mesmo pé de grandes empresários da mídia, porque, quando chegou à Presidência, eu ainda era sócio do Domingo. O que ele disse foi: “Essa gente vinha me procurar e só pedia favores. O Roberto Marinho e o Victor Civita só queriam dinheiro. Agora, outra coisa é o Mino Carta. O Geisel tinha ódio dele. Ele é um chato e é capaz de reescrever os Evangelhos, mas não tem o rabo preso, nunca teve o rabo preso.”

Mas quem não tem o rabo preso? Vejam, por exemplo, os livros didáticos neste País: todas as editoras estão metidas nessa operação. Elas fazem algo adequado à nossa inteligência, à nossa cultura, aos avanços extraordinários do nosso ensino? Produzem porque há uma mamata nisso. Digamos que nada seja superfaturado, mas mesmo assim a grana é preta e todos dependem dela. Um esquema aberto, do qual faz parte o Ministério da Educação. No fim, parece mesmo que, enquanto o sangue não correr pelas calçadas, nunca acontecerá nada. Só que as revoluções não estão na moda. Claro, há um toque de brincadeira no que eu falo. Mas acho que o País corre riscos imensos de se apagar, de se perder nessa aposta da globalização, na religião de dois mercados. Uma aposta errada, que não vai dar certo a longo prazo. O rabo preso continua. Os governos são muito dependentes do poder da mídia. Quem ousa no Brasil atacar a Globo? Só se for em alguns momentos, como o faz agora o império da fé.         

Jornal da ABI — O senhor já disse que grande imprensa não sofreu censura durante a ditadura. É verdade?

Mino — Jornal do Brasil, Folha, O Globo nunca foram censurados. A Folha chegou a emprestar seus carros à Operação Bandeirantes. Perseguidas — e duramente — foram toda a imprensa dita “nanica” e a Veja. O Estado vivia uma briga entre primos e irmãos. Julio de Mesquita, o pai, foi ao Rio depois do golpe, para propor ao Castelo Branco alguns nomes ao Ministério. Castelo disse que tinha escolhido todo mundo e não estava a fim de ouvir outras sugestões. Os Mesquita lhe juraram ódio eterno e estava com Lacerda, cujo sonho era receber o poder de mão beijada. Lacerda foi cassado e eles foram censurados, tudo um joguinho em família: vocês são censurados, mas podem, inclusive, mostrar que estão sendo, para a glória no futuro. Para poder depois afirmar que são notáveis e lutaram bravamente. Com isso, o Estadão publicava versos de Camões em lugar das partes cortadas, e o Jornal da Tarde, que eu criei, publicava receita de bolos. Mas vários censores escolhidos a dedo pela Polícia Civil eram amigos dos Mesquita. Por isso, insisto em que a grande imprensa nunca foi censurada.

Jornal da ABI — Mesmo em tempos de blog, jornalismo continua sendo um trabalho de equipe?

Mino — Sim, embora sempre haja alguns carregadores de piano e outros que sabem carregar e tocar — apenas uma meia dúzia. Mas realmente é um trabalho de equipe. Mesmo quem escreve para a internet, se não trabalhar dessa forma, fará algo de péssima qualidade.

Jornal da ABI — O senhor já quis ser santo. Como se tornou jornalista?

Mino — Primeiro eu queria ser santo. Depois, pintor e escritor. Nunca jornalista. Meu pai só falava de jornalismo e meu irmão queria seguir a carreira desde pequeno. Eu não. Mas acho que é uma herança de família. Meu avô materno era jornalista em Gênova, na Itália. Meu pai formou-se em Direito, mas acabou indo trabalhar no jornal que meu avô tinha dirigido e depois em outro, que existe até hoje e é o mais antigo da cidade: Il Secolo XIX. Foi tão bem que, aos 28 anos, já era redator-chefe e, quando a guerra acabou, foi chamado para ser Diretor de Redação.

Papai, que chegou a ser preso pelos fascistas, estava certo de que teríamos uma Terceira Guerra Mundial mais cedo ou mais tarde. Então, quando recebeu a proposta do Conde Francisco Matarazzo para vir ao Brasil e reorganizar as Folhas, aceitou na hora. O Matarazzo supunha ter a maioria das ações, mas tinha de fato de 48% a 49%, além de um pequeno grupo, capitaneado por um certo senhor, Nabantino Ramos, que estava com ele e devia ter uns 3% ou 4%. Para nossa decepção, quando chegamos, no começo dos anos 60, Matarazzo disse: “Eu me enganei. Fui traído. Passaram para o outro lado e o Nabantino virou o dono.”

Jornal da ABI — Mesmo assim, vocês decidiram ficar.

Mino — Como era parte do contrato, o Matarazzo ofereceu uma indenização e passagens de volta. Meu pai aceitou a indenização, mas recusou as passagens. Isso porque o Matarazzo havia fundado com outros senhores da colônia italiana uma importante editora, a Ipê (Instituto Progresso Editorial), que publicou obras de importantes autores nacionais e ainda lançou no País escritores menos traduzidos para o português. Meu pai se tornou Diretor Cultural e Artístico da editora. Mas o jornalismo corria nas veias e ele começou a escrever uma página diária, em italiano, no Diário de S.Paulo. Na Ipê, também conheceu Paulo Duarte, de quem se tornou grande amigo e que o levou para o Estadão, como Secretário. Ele trabalhou lá até morrer de câncer, em 1964, aos 59 anos. Era um excelente profissional, tinha experiência, tarimba, escrevia muito bem. Mas eu achava jornalismo uma coisa muito chata quando era menino.

Jornal da ABI — Então, entrou na profissão a contragosto?

Mino — Eu diria que foi algo mais pragmático. Em 1950, meu pai recebeu de dois jornais, de Roma e de Gênova, o pedido para escrever alguns artigos sobre a Copa do Brasil. Ele aceitou, mas odiava futebol. Na decisão entre Brasil e Uruguai, íamos ao Maracanã e ele me disse: “Não tenho condições de escrever sobre isso, só vou ficar irritado. Você não quer escrever esse artigo?” Como pagavam bem, eu topei, pensando em mandar fazer num bom alfaiate o terno azul-marinho que eu tanto desejava para participar dignamente dos bailes de sábado. A partir daí, percebi que a felicidade não era tão cara e podia ser alcançada escrevendo. Por isso, fui trabalhar com Paulo Duarte em uma revista de cultura chamada Anhembi e, depois, na Agência Ansa, que se instalou em São Paulo em 1952. De repente, veio a proposta para trabalhar na Itália, onde permaneci por três anos e meio.

Jornal da ABI — Seu pai fez a reforma do Estadão com o Cláudio Abramo?

Mino — No fim da década de 50, ele completou a obra que meu pai tinha iniciado. Avançou muito dentro dela, e com excelentes resultados. A reforma do Estadão nunca foi tão badalada como a do JB, mas é um erro, porque aconteceu quase dez anos antes, só que se estendeu por um longo período.

Jornal da ABI — O jornalismo daquele tempo era melhor?

Mino — Creio que era praticado por jornalistas que tinham convicção de que o negócio devia ser feito lá por cima, nunca nivelado por baixo. Jornalistas que sabiam escrever, que usavam a língua com mestria.

Outro dia, um blogueiro me mandou um post com uma crônica do Rubem Braga, só para mostrar como escrevia bem. Mas o Rubem foi também um excelente repórter. A cobertura que ele e Joel Silveira fizeram da expedição da FEB à Itália é fantástica. Eles estavam no mesmo nível dos jornalistas europeus e norte-americanos, ou até acima, pois faziam um jornalismo elegante, com a preocupação efetiva de pensar no País, de fazer com que o leitor evoluísse, de iluminá-lo. Aí surgiram as tiragens, os ibopes, os tormentos variados, a crença de que nós estávamos seguindo os passos dos EUA, mas fazendo uma imitação medíocre.

Jornal da ABI — Como a Veja surgiu num tempo de grandes revistas como O Cruzeiro e Realidade?

Mino — O Cruzeiro chegou a sair com 500 mil exemplares, um espanto para a época. Mas era uma coisa bastante provinciana. A Manchete quis ser um avanço, mas imitava outras publicações, inclusive em seus erros. A Time era o arquétipo de todos, mas quem teria coragem de fazer uma semanal por aqui? A Abril já era uma potência com condições de arriscar muito e, desde que me convidou para voltar ao Brasil, Victor Civita acalentava o sonho de uma revista semanal, ilustrada, mas para depois da Quatro Rodas. A coisa estava bem encaminhada até o Jânio renunciar, em agosto de 61, e ele pôs o projeto em banho-maria. Veio o golpe de 64, eu fui para O Estado de S.Paulo, fazer o Jornal da Tarde — lançado em 2 de janeiro de 1966 —, e a Abril começou a pensar numa revista mensal, que acabou sendo a Realidade — lançada em abril, se não me engano.

Foi o momento dessas duas publicações, novas em muitos pontos de vista interessantes. E a Realidade estava sendo feita pela turma da Quatro Rodas, em que tínhamos uma parte, teoricamente, de turismo, mas que trazia investigações histórico-sociológicas. Por isso, inclusive, ganhamos dois Prêmios Esso de equipe. Aquela turma era excelente, sabia escrever, achava que jornalismo era uma forma de literatura importantíssima. A Realidade nadava um pouco contra a corrente, falava de tabus como femininismo, virgindade, práticas sexuais, aborto, música popular, movimentos operários, assuntos terríveis naquele tempo. Já o Jornal da Tarde realizou, sobretudo, uma revolução formal. Muito estética, textos muito bem trabalhados, paginação corajosa, fotos rasgadas, coisas desse tipo. Mas, do ponto de vista político, era um veículo dos senhores Mesquita, quer dizer, tão conservador quanto o Estadão. Tecnicamente, porém, era um grande avanço.

Jornal da ABI — E a Veja?

Mino — No decorrer de 67, a Abril começou a pensar novamente em uma semanal, agora de inspiração norte-americana, uma news magazine, e me chamou. Os recursos para fazer a revista não faltavam; o erro foi não entender que a situação política era muito complicada, e que a publicação tinha implicações políticas importantes, mas eu não disse nada, porque para mim também era um desafio. Exigi autonomia total em relação ao conteúdo: eles não poderiam ditar regras previamente, seriam leitores da revista; poderiam fazer observações a posteriori, mas não teriam acesso à pauta. E isso vigorou até o fim, até o desenlace mais ou menos dramático.

Jornal da ABI — O sucesso não foi imediato…

Mino — A revista começou muito mal, três anos para chegar no ponto de vender. Aí engrenou, para depois sofrer censura impiedosa. Por outro lado, ganhou o público, que percebia o ataque ao poder. Então, virou oposição, o que levou o Governo a pedir minha cabeça. Comecei na Veja em janeiro de 68, desde a preparação. Fiz viagens a Paris, Hamburgo e Nova York para ver outras revistas e pegar experiência. Em 4 de março, começou a preparação do número zero (foram 13). O lançamento aconteceu em 8 de setembro e quinta edição foi apreendida nas bancas. Cobria o congresso da UNE.

Jornal da ABI — O senhor não temia por sua integridade física?

Mino — Eu tinha um certo cuidado. Havia um senhor muito importante em Brasília que, sem nunca ter mexido uma palha para me tirar de enrascada, duas vezes me ligou dizendo para que eu não dormisse em casa. Sou muito bem informado. Nunca fui torturado, mas acabei preso em duas circunstâncias muito peculiares.

Uma vez porque a revista (que foi apreendida de novo) publicou cartas do Lamarca à amante dele. Passei um dia mais ou menos atribulado na prisão. À noite, já no quartel, fui levado à presença do Coronel Erar, um dos chefões da operação, e disse que um colega dele nos procurara e nos dera a correspondência. Pedi que ligasse e confirmasse. Ele pediu licença, dali a 15 minutos voltou e disse: “Desculpe, por favor.” Fui solto em seguida, às nove da noite.

A segunda vez foi depois de a turma do Fleury matar o Joaquim Câmara Ferreira. No aparelho dele encontraram uma montanha de papéis saídos da redação da Veja para abastecer uma matéria sobre tortura — foi a última edição apreendida, pois a partir daí instalaram os censores. Quando acharam aquela papelada, descobriram nomes de repórteres. À meia-noite, pegaram um deles, que tinha meu endereço, e chegaram a mim. Tive o prazer de ser interrogado pelo Delegado Fleury, aquela figura “imponente”, por três dias a fio. Ele me ameaçou, mas não me tocou. Chegou a me deixar em companhia de torturados, para intimidar. 

Jornal da ABI — O senhor se define como um homem de esquerda?

Mino — Sou basicamente um anárquico. Acho que a esquerda brasileira tem o Partidão, em que alguns homens eram absolutamente sinceros, acreditavam naquilo — não duvido da fé de Marighela ou do Joaquim Câmara Ferreira. Mas a esquerda não é uma tradição no Brasil. Na Itália, como em tantos países europeus, o proletariado foi o caldo de cultura ideal para que a esquerda se firmasse e se desenvolvesse. É evidente que o proletariado não quer ser proletariado. Sua força está no fato de que ele quer ser burguês. Por aqui não temos essa consciência toda. Então, precisamos pensar o que é ser de esquerda. Você não precisa ser marxista, por exemplo, mas deve ter um empenho a favor da igualdade. Liberdade é muito pouco. É o básico. Quem é a favor da igualdade é de esquerda, queira ou não. Nesse sentido, o Zapatero é de esquerda. O Walter Veltroni é de esquerda, Berlusconi é de direita. Obama, dentro do panorama norte-americano, é mais de esquerda do que de direita. Já a Hillary é uma dondoca, conservadora.

Jornal da ABI — E como foi a experiência de fazer o Jornal da República, publicação de imensa importância, mas que acabou não se mantendo?

Mino — Saí da Veja e fiz com o Alzugaray a IstoÉ, mais uma publicação de oposição. Domingo ria de orelha a orelha, deixou-se seduzir pela nova idéia. Mas raciocinávamos mal: do ponto de vista empresarial, caímos em uma esparrela. Não tínhamos reforços para fazer aquilo. Jornal sai todo dia, é um sorvedouro de dinheiro. É impossível comparar com uma publicação semanal.

Tenho a impressão de que, se tivéssemos recursos muito acima do que os fornecidos pelos lucros da IstoÉ, o Jornal da República estaria aí até hoje. Mas, sem publicidade, não durou cinco meses. Domingo retirou-se da parada, algumas pessoas me ajudavam, entre elas o Raimundo Paulo, que era um pensador — fundamental para entender o Brasil, aliás —, não um jornalista. Éramos seis donos da operação, mas um bando de pobretões. Até aparecer um anjo, o Fernando Moreira Sales, filho do Walter, que se dispôs a tapar o buraco do jornal e ficar com a revista. Acabamos perdendo os dois.

Jornal da ABI — Depois de criar tantas publicações, por que lançar mais uma revista? Havia alguma lacuna a ser preenchida?

Mino — A CartaCapital não pretendeu suprir nenhuma lacuna, apenas praticar o jornalismo baseado em três conceitos básicos. O primeiro é o respeito pela verdade factual. Exemplo: estou tomando Coca-cola. Se sou simpático ou não, se a Coca-cola é uma bebida válida ou não, é outro assunto; mas é Coca-cola e eu sou o Mino. O segundo é o exercício desabrido do espírito critico, para o bem ou para o mal. Porque a crítica não é necessariamente negativa. Criticar é postar-se diante da vida. No uso do espírito crítico, você expõe o seu pensamento. O terceiro é a fiscalização do poder, onde quer que ele se manifeste. Seja político, econômico ou qualquer outro. Mesmo na cultura — a ditadura da arte moderna, por exemplo, é uma coisa espantosa. Estamos tentando realmente imbecilizar a Humanidade. Quer dizer, você pega um cocô de cachorro, põe numa sala, chama de “A condição humana” e os críticos vão gritar de alegria, delirar. Essas são as “bolhas” que levam o mundo a estar como está. Por que uma nova recessão norte-americana? Porque se valorizou a produção de dinheiro em lugar da produção de bens. As bolsas são mercados de azar, são cassinos. Hoje, as corporações multinacionais têm mais dinheiro do que nações inteiras e mais peso no quadro dessa religião neoliberal do que os próprios Estados nacionais.

Jornal da ABI — Qual a importância de entidades como a ABI no processo de luta pela liberdade de informação e por melhores condições sociais?

Mino — Teoricamente, total. A melhor recordação que tenho da ABI é do Prudente de Moraes, neto visitando a Veja. Às vezes acho que a Associação poderia se fazer mais presente, até mesmo para dizer: “Senhores, um mínimo de vergonha na cara. Não escrevam certas coisas desta maneira. Não se disponham a agradar o patrão de forma tão servil.”

Jornal da ABI — Em seu blog, o jornalista Geneton Moraes Neto disse que “não existe na imprensa brasileira texto tão elegante quanto o de Mino Carta”. O senhor se acha uma espécie em extinção no jornalismo?

Mino — (risos) É mesmo? Não sabia… Com sinceridade, penso que há muitos que sabem escrever tão bem e mesmo melhor do que eu, como o próprio Geneton. O que importa é que todos que têm consciência e talento saibam que fazem parte de uma cruzada para melhorar o País. Este é o dever de todo aquele que se diz jornalista.

* Esta entrevista foi publicada originalmente na edição 332 do Jornal da ABI (páginas 16 a 21). Copidesque para o ABI Online: Solange Noronha

Texto reproduzido do site: www abi org br/entrevista-mino-carta

Mino Carta - O homem que revela os podres do poder

Entrevista compartilhada do site COMUNITA ITALIANA, de fevereiro de 2001

Mino Carta - O homem que revela os podres do poder

Genovês de nascimento incerto, entre setembro de 1933 e fevereiro de 1934, Mino Carta é considerado um mito. Sua contribuição ao jornalismo brasileiro vai desde a fundação de várias publicações como Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ, Quatro Rodas e Jornal da República, até o exemplo de atitude contestadora e de defesa da verdade factual na imprensa. "Os jornalistas brasileiros se orgulham de escrever com 50 palavras. Tudo pode ser dito em 30 linhas. Isso é uma vergonha! O jornalismo é o exercício do espírito crítico, ele deve fiscalizar o poder e não fazer parte dele", define Mino. Suas impressões sobre a história recente do Brasil foram impressas em "O Castelo da Âmbar", pela editora Record, lançado em dezembro. Nesse livro, que já vendeu 13 mil cópias, Mino desfia relações da imprensa com o poder e relata como seus companheiros se venderam e políticos, conhecidos do grande público, traíram princípios.

E quando critica, o jornalista italiano o faz com conhecimento de causa e, principalmente, com muita convicção. Não fosse assim, se calava diante de poderosos como, seu alvo preferido, o conterrâneo Roberto Civita. Contra o dono da Editora Abril e ex-patrão, Mino delata podres com raiva visceral. "Se o que eu digo desses pilantras fossem inverdades já teriam me processado, no entanto nem ao menos me desmentem". O jornalista, que iniciou sua carreira em 1950 cobrindo a Copa do Mundo para Il Messaggero, de Roma, diz que só continuou no jornalismo pelo Brasil. Pintor conceituado e brasileiro por opção, vê com pessimismo a situação político-social brasileira e sente saudades do tempo em que, mesmo com a ditadura, existia ao menos posições bem definidas.

Com um consistente sotaque italiano e entre risos abertos, Mino Carta, diretor da revista Carta Capital, conversou com Comunità sobre a imprensa brasileira, a situação social do país e de sua decepção com o novo cenário político italiano. Conhecido pelo seu estilo elegante de se vestir, o jornalista das antigas não abre mão de continuar exercendo a profissão de forma combativa e adianta que já está trabalhando nas próximas aventuras de Mercúrcio Parla, um jornalista nascido num outro país. Coincidência? Mino diz que não e afirma que não pretende dar descanso à sua olivetti studio tão cedo.

Comunità - Você fala que se tornou jornalista por causa do Brasil. Se estivesse na Itália acredita que esta seria a sua profissão?

Mino Carta - Acredito que não, mas também não posso afirmar categoricamente coisa alguma porque a história não se faz com "se". Mas eu acabei acreditando na profissão porque estando aqui, vivendo aqui uma ditadura fardada, me convenci que ser jornalista tinha alguma utilidade, alguma serventia para tentar impedir que a história fosse escrita pelos vencedores. Normalmente ela é escrita por eles, isto é claro, mas você como jornalista tem a chance de deixar para o futuro alguma anotação, alguma coisa que poderá, eventualmente, sobreviver à versão dos vencedores.

Comunità - Em "Castelo de Âmbar", você fala muito da imprensa comprometida com o poder, citando diversos exemplos dessa relação. Comparando com o período da ditadura, você acredita que naquela época as perspectivas eram melhores?

Carta - Na época da ditadura as coisas eram mais fáceis, de certo modo, pois você estava do lado dela ou contra ela. Então as definições eram muito simples. Hoje vivemos um momento em que a situação permite confusões maiores. Agora acho que a imprensa brasileira mostrou realmente o que ela é com o fim da ditadura, porque mostrou que serve automaticamente ao poder, porque ela faz parte do poder. E não vejo por aí grandes chances de uma redenção. Este é o destino da imprensa brasileira até o dia em que houver um abalo sísmico forte o suficiente para mudar a estrutura do poder, para mudar as relações, as correlações, enfim, para alterar o rumo da história. Enquanto não houver este abalo sísmico, o poder permanecerá na mão das mesmas pessoas e a imprensa continuará a ser o que é.

Comunità - É por isso que o senhor tem uma visão pessimista quanto ao futuro do país, em relação ao otimismo brasileiro?

Carta - Bom, o otimismo brasileiro é uma coisa meio mística, e, portanto, não pode ser encarado a partir da racionalidade; com racionali-dade. Aí não é razão, a razão não existe! O otimismo brasileiro é determinado simplesmente pela emoção e, portanto, ele deve ser analisado assim como você analisa a fé religiosa. É a mesma coisa. Este é o otimismo brasileiro. Agora, o pessimismo é um traço da inteligência, certamente. Você não consegue ser realista e encarar os fatos como eles são, à luz da razão, sem ser pessimista. O pessimismo é inerente ao exercício da inteligência. O pessimismo, pode ser entendido como ceticismo. A natureza humana tem suas falhas... Agora, eu sou muito otimista em relação a mim mesmo. Nunca esmoreço, nunca entrego os pontos. Eu vou em todas as bolas, a não ser que me atirem uma bala na cabeça. Mas, em relação ao país, francamente, eu não sou otimista.

Comunità - 2001 começa com uma onda de otimismo para a economia, que é refletido pela mídia através dos índices econômicos. Você acha que existe comprometimento nessa divulgação? Qual análise você faz desse início de milênio?

Carta - Sobre a imprensa brasileira e a mídia em geral essa é a demonstração de um teorema, pelo menos é o meu teorema. É um bando de pilantras que servem ao poder e escrevem umas besteiras. Nós somos os campeões mundiais de má distribuição de renda. Isso não vai mudar nada. Nosso PIB, mesmo bem distribuído, seria totalmente insuficiente para fazer um país moderno. Teríamos uns 3500 dólares de renda média per capita. A nossa moeda é uma ficção, não existe, não tem cursos. Você não troca o Real onde for, nem mesmo na Nigéria. Então esse é o Brasil. Tem uma população de analfabetos desesperados que não saíram da escravidão e os caras ainda acham que temos que ser otimistas e basta ser otimista para que as coisas dêem certo. Para piorar temos um oportunista na presidência da república.

Comunità - Você diz ser o MST a única coisa séria neste país no momento. De onde vem esta admiração e por quê?

Carta - Olha não é uma grande admiração, é um registro jornalístico. Quer dizer, o MST é um movimento que se esforça e luta por uma causa justa e o faz com o mínimo de organização, sem trair, ao meu ver, os interesses desses miseráveis que reivindicam apenas um pedacinho de terra para poder cultivar em um país onde 50% das terras está na mão de 1% da população. Dá para discutir essas coisas? É inacreditável que tenhamos que discutir essas coisas que são de uma evidência solar.

Comunità - Sua formação italiana foi importante à sua personalidade contestadora?

Carta - Eu acho que sou bastante italiano em tudo e por tudo, e tenho orgulho disso. Lamento apenas que neste momento, na Itália, exista um fantasma chamado Berlusconi (Forza Italia) que poderá eventualmente ganhar as próximas eleições. Isso realmente é uma demonstração de que a Itália atravessa um período terrível, não tanto do ponto de vista econômico. A Itália é uma sociedade do bem-estar, muito bem sucedida neste ponto de vista. Mas me parece que o bem-estar não trouxe para o cidadão a capacidade de raciocinar em torno das razões deste bem-estar. Na verdade, o bem-estar foi alcançado na Itália graças à presença de partidos de esquerda, que eram realmente partidos de esquerda, e de sindicatos, que eram realmente sindicatos. Graças à pressão política e a pressão sindical, os donos do poder tiveram de entregar os anéis. Houve uma distribuição melhor da renda e isso tornou a Itália uma sociedade do bem-estar. Foi isso que realmente contribuiu de forma decisiva para tanto. Agora, a Itália atravessa um momento grave, ao meu ver, por que a sociedade do bem-estar acredita que pode progredir com um tal de Berlusconi, o qual é um mafioso de gravata e de sapato lustroso.

Comunità - Você esteve presente nos dois países no período do pós-guerra. O que faltou para o Brasil chegar ao desenvolvimento econômico da Itália?

Carta - Acho que aí comparações não são possíveis. A Itália tem três mil anos de história nas costas e o Brasil é um país novo. A Itália é um país onde as mudanças, as miscigenações aconteceram há muito tempo, enquanto que aqui estamos vivendo ainda uma fase de acerto. Não sabemos que povo somos. Acho que nós não temos ainda uma nação na acepção correta do termo. Então acho que é um processo em andamento e não acho que são comparáveis. Agora, acredito que se tivéssemos vivido circunstâncias históricas diversas daquelas em que vivemos e tivéssemos tido um proletariado consciente da sua condição, com consciência de classe, nós teríamos tido partidos de esquerda verdadeiros, ao contrário dos que existem, e teríamos tido sindicatos realmente eficazes, em função da massa com a qual poderíamos contar e o destino teria sido outro. Infelizmente as circunstâncias históricas também determinaram esta situação; precipitaram esta situação em que vivemos. Nós, no fundo, até hoje não saímos da escravidão.

Comunità - Em um país onde há uma classe média forte essa organização não seria mais facilitada? Aqui, onde há um abismo social, a forma de organização italiana caberia?

Carta - Veja, acho que o que transformou um país como a Itália e outros países europeus foi o fato também de que havia um proletariado que tinha uma aspiração de virar classe média. Tinha uma aspiração com a consciência da sua classe, portanto estava disposta a lutar por isso e não aceitar as coisas como elas estavam, impostas. A nossa pequena classe média, na verdade, tem a aspiração de ser aristocracia e aqueles que deveriam ser proletários têm a pretensão de serem remediados, topam qualquer parada, e os miseráveis não têm sequer consciência da sua cidadania. A classe média na França fez a Revolução Francesa. A brasileira não vai fazer revolução alguma. O povo menos ainda. Então, ao meu ver, é este o problema, mas comparações entre Itália e Brasil são impossíveis, assim como outros países europeus, com um fardo de experiência, às vezes até muito trágicas, mas que aprenderam a viver. Nós ainda não aprendemos, e aqui, o poder é para poucos. A nossa sociedade é muito pouco complexa, você tem os ricos e os pobres.

Comunità - Há mais de trinta anos no Brasil, o que permanece da cultura italiana e o que de brasileiro começou a fazer parte da sua vida?

Carta - Eu sou um apaixonado pela Itália e, à medida que o tempo passa, sinto cada vez mais forte as raízes, mas por outro lado, eu fiz a escolha de viver aqui e, enfim, embora sem perder de vista a minha origem, eu acabei virando um brasileiro também. Agora, me sinto frequentemente uma pessoa deslocada, até porque sou incapaz de participar desse tolo otimismo. Sou incapaz de torcer como os brasileiros torcem. Entende? São coisas que tornam frequentemente a minha vida difícil e até às vezes dolorosa.

Comunità - Você participa desde a década de 50 na imprensa brasileira e pode ser considerado um dos principais nomes do jornalismo atual...

Carta - Agradeço a indicação para este posto.

Comunità - Você acha que a sua contribuição ao jornalismo brasileiro já foi dada?

Carta - Eu nunca pensei em dar uma contribuição (risos). Nunca pensei em ser um mestre de coisa alguma, eu pensei no país, pensei nos meus leitores. É isso que penso, não me preocupo em dar contribuição ao jornalismo brasileiro, mesmo porque acho o jornalismo brasileiro lamentável, muito ruim, mas excepcionalmente ruim. Aliás, Eric Robsbawn diz que o país de Gana é melhor que do o Brasil. Eu acho que ele está certo! E não há nenhuma razão para supor que a nossa imprensa seja melhor que a de Gana.

Comunità - No Castelo de Âmbar fica explícito o seu ressentimento com os Civita...

Carta - Ressentimento não, ressentimento não tem nada a ver! Eu quero expor a história como ela é. E, aliás, por que não me processam? Por que não me desmentem? Porque a história foi exatamente como eu a conto. Aquilo é verdade factual. Sabe qual a diferença entre a verdade factual e a que cada um carrega dentro de sí próprio? É como quando a revista Carta Capital fala do sr. Daniel Dantas e o seu Daniel Dantas fica quieto. Agora, trata-se de gente da pior qualidade, gente que está aqui para predar e para fazer com que o país permaneça nesta espécie de limbo trágico. Este é o destino da Editora Abril.

Comunità - Poderia nos falar um pouco mais sobre esse capítulo?

Carta - A personagem principal conta a história verdadeira de época, dos últimos dois anos em que vivi lá na Veja. A história é rigorosamente verdadeira. Olha, me ligou há pouco um grande empresário brasileiro, mas muito grande, e ele me disse o seguinte: ‘li o seu livro, gostei muito, achei ótimo e compartilho absolutamente com tudo, sua discrição do Roberto Civita bate exatamente com o que eu sempre pensei dele’.

Comunità - É interessante que isto aconteça justamente contra um connazionale...

Carta - Não é um connazionale! O Roberto Civita nunca gostou da Itália.

Comunità - Nunca gostou da Itália?

Carta - Não. Ele acha a Itália um paiseco. Ele gosta é dos Estados Unidos. Eles são judeus, e não vejo mal nenhum nisso, evidentemente. Se refugiaram nos EUA, antes que a guerra eclodisse, e fizeram muito bem em se deslocar, mas ele tem uma formação totalmente americana. Ele fala mal italiano com sotaque inglês, assim como fala mal português. Basta ler a cartinha que ele escreve na carta do editor da última veja (nº 1 de janeiro): é uma beleza. É um texto dele. Ele consegue sapecar três gerúndios na primeira oração. É um pobre diabo. Aliás a sogra dele, uma senhora muito simpática e interessante, se atirou do último andar do edifícil do hotel Cadoro, aqui em São Paulo, desesperada com o tratamento da família Civita em relação a ela.

Comunità - Você falou do limbo. Há um pouco do estilo dantesco em seu livro?

Carta - Dante? (risos) Não, espera aí! A história de Dante é uma Commedia à vida. Um extraordinário trabalho de valor estético e filosófico superior, uma espécie de balanço da Idade Média para preparar a Idade Moderna. O meu castelo de Âmbar é um esforço medíocre de um jornalista secundário.

Comunità - Já pensou em algum instante em voltar definitivamente para a Itália?

Carta - Em outros momentos de minha vida sim. Atualmente, sem dúvida não. Eu tive algumas oportunidades profissionais de voltar à Itália ainda na década de 60, mas logo aconteceu o golpe de 64 e eu achei que devia ficar aqui, pela dramaticidade do momento. Hoje em dia não tenho a menor dúvida de que meu lugar é esse.

Comunità - Você veio ao Brasil há cinqüenta anos...

Carta - Não. Vim para cá menino em 46 e depois voltei por quatro anos em 56, a trabalho. Depois voltei para cá em 60, e estou aqui desde 50. Vim com meu pai e voltei ao Brasil definitivamente em 60. Mas eu vou freqüentemente à Itália várias vezes ao ano e fui passar lá as festas de fim de ano.

Comunità - E o que o senhor aprecia da cozinha italiana, tem alguma receita em especial da sua região?

Carta - (risos) Eu gosto de tudo. Um prato é muito pouco. Há várias cozinhas regionais italianas, em todas há pratos absolutamente extraordinários...

Comunità - O senhor não quer se comprometer?

Carta - Não! (esbraveja) Não sou uma pessoa que tenha medo de se comprometer nunca! Sempre digo o que penso, mas seria muito difícil dizer: "eu prefiro este prato". Agora, se você quer saber, eu viveria todo dia a base de massas, mudando só os molhos. Massa para mim é uma coisa imbatível! (risos). Eu mesmo sei fazer a receita de seis maneiras diferentes.

Comunità - Você fala de uma amizade italiana com Delfim Netto. Como você define esse tipo de amizade mesmo com posições políticas tão diferentes?

Carta - Hoje em dia, veja, o Delfim e eu pensamos igual em muitas questões. Em relação à política econômica brasileira, por exemplo, hoje nós pensamos igualmente. Em relação à globalização e ao neoliberalismo, nós pensamos muito parecido. Houve tempos em que ele estava de um lado e eu estava de outro. Mas ele, de uma certa maneira, sempre me tratou com muito respeito. Isso se deve ao fato que ele via em mim um italiano! De muitos pontos de vista ele se considera um italiano também. Então ele sempre teve respeito a minha pessoa embora tivéssemos idéias opostas, em certo momento, pelo menos em relação a muita coisa.

Comunità - E quanto a seu hobby com a pintura...

Carta - A pintura não é um hobby! Para um cara que já vendeu mais de 300 telas, não pode ser um hobby.

Comunità - É uma paixão?

Carta - Não. É um trabalho. É um trabalho como outro. Eu já vendi mais de 300 telas em exposições em Londres, em Antuérpia em Milão, fiz três exposições no Museu de Arte Moderna de São Paulo, você acha que é um hobby?

Comunità - Mas esse trabalho estaria relacionado à sua formação italiana?

Carta - Eu gosto de pintar porque eu gosto de pintar, desde criança eu queria ser pintor, então certamente tem uma influência da Arte italiana. Meu pai me orientou muito, ele gostava de arte e era professor de história da Arte, além de ser jornalista. Ele estimulou em mim esta vontade. Eu trabalhei em Milão com o pintor Carlo Carrà, que é um dos maiores pintores italianos do século, mesmo que por um breve tempo.

Comunità - Sabemos que você dará uma continuação a Castelo de Âmbar. Poderia nos adiantar algo sobre esse futuro trabalho?

Carta - É uma retomada do personagem Mercúcio Parla que se mostra mais como indivíduo e cidadão que como um jornalista. Se trataria de um texto escrito na terceira pessoa porque Mercúcio Parla só escreveu aquilo que está publicado.

Comunità - Você ainda escreve com máquina de escrever?

Carta - Escrevo em minha olivetti studio.

Comunità - Não vai se render ao computador?

Carta - Não sei... (pausa), mas olha, até o momento o problema não é de rendição. O problema é que o computador me assusta de certa forma.

Comunità - Mas por quê?

Carta - Porque ele tem uma linguagem que não é a minha. É uma lacuna minha, eu sei que é. Isto demonstra apenas que sou um homem que tem seus limites.

Comunità - E por quanto tempo o jornalista Mino Carta vai continuar desafiando os poderosos em sua olivetti?

Carta - Isso parece que está nos designes da natureza (risos). Não cabe a mim dizer até quando. Acho que morrerei fazendo meu trabalho. Não vou parar. Enquanto tiver fôlego vou na bola.

Texto reproduzido do site: www comunitaitaliana com br

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O Mercado de Notícias - Entrevista Mino Carta

sábado, 10 de maio de 2025

Foi-se o mestre Raimundo Luis, o silêncio que ecoa

Imagem reproduzida do site Imprensa1 e postada pelo blog,
 para ilustrar o presente artigo.

Artigo compartilhado do post do Facebook/Carlos Magno Andrade Bastos, de 5 de maio de 2025

Foi-se o mestre Raimundo Luis, o silêncio que ecoa
Por Carlos Magno Andrade Bastos

Com profunda tristeza, Sergipe se despede hoje de um nome que marcou a história da comunicação: Raimundo Luis da Silva. Sua partida deixa uma lacuna imensa no jornalismo e na publicidade do nosso estado.

Raimundo Luis não foi apenas um jornalista, mas um visionário, um criador de ideias que transformou a maneira como a informação era transmitida e como as mensagens eram construídas. Sua passagem pela Secretaria de Comunicação nos governos de João Alves Filho deixou um legado inegável. Nos textos primorosos que produzia e nas campanhas publicitárias do governo e de seus órgãos, como o Banese, sua marca era inconfundível: chamadas impactantes, criativas e que ressoavam com a população. Ele possuía o dom de traduzir a informação em algo memorável, de conectar a mensagem com o público de forma única.

Raimundo nasceu em Aracaju, no dia 28 de setembro de 1929. Quando jovem, foi atleta de futebol (meio-campista) e jogou nas equipes do Cotinguiba, clube do qual foi presidente, Sergipe e Itabaiana. Trabalhou no Diário de Aracaju, onde atuou como diretor executivo, Jornal da Manhã (atual Correio de Sergipe) e A Cruzada.

Pessoalmente, guardo com carinho a lembrança do seu apoio constante à imprensa. Raimundo Luis compreendia a importância de uma comunicação plural e não hesitava em estender a mão a todos os veículos, reconhecendo o valor de cada um, desde os mais tradicionais até os que trilhavam novos caminhos. Sua generosidade e visão abrangente fortaleceram o cenário comunicacional sergipano.

A criatividade pulsante de Raimundo Luis fez a diferença. Ele elevou o nível da comunicação em Sergipe, inspirando colegas e deixando um exemplo de profissionalismo e dedicação. Sua paixão pela palavra e pela imagem, aliada a um olhar atento e inovador, o consagraram como uma figura essencial para entendermos a história recente da comunicação em nosso estado.

A ele devo a oportunidade de trabalhar na TV Aperipê  e também a generosidade de ceder sua escrita em centenas de editoriais no Jornal Papagaio, que não carregavam o ranço de críticas pedantes , mas sobretudo apontavam soluções sob o título de "Recado ao leitor" 

Observando a imprensa de hoje e a que atuou na última década, existe um abismo bem evidente. Jornalistas da lavra de Raimundo Luis, Ivan Valença, Tasso de Castro, Alberto Dinis não existem mais, o que tona a  nova geração que ama a comunicação, orfã desses killers maravilhosos para dar lugar a uma plêiade de mediocres que se auto intitulam de influenciadores virtuais.

Do Vitorino ao Caju Ieba

A criatividade de Raimundo Luis ficou  marcada por campanhas publicitárias polêmicas. Os hoteleiros de Aracaju pressionavam o goveno pelo resultado pífio das campanhas vendendo o destino Aracaju. Raimundo morava alí na Barão de Maruim, vizinho da Agência N Menezes do saudoso publicitário  Nairson Menezes. Dali surgiu a lenda do Cajú Ieba cacique de uma tribo imaginária que distribuia pedras da sorte. A peça publicitária veiculada nacionalmente mostrava uma mulher de meia idade recebendo a pedrinha no Aeroporto de Aracaju e em seguida passeando na Orla com um garotão . "Aracaju essa cidade dá sorte" esse era o mote da campanha. Logo os hoteis de Aracaju ficaram lotados. Mas alguns intelectuais locais cairam em cima e acionaram até o Ministerio Público para tirar a campanha do ar. Sobraram toneladas de pedrinhas de seixo e os hoteis voltaram â rotina de baixissima taxa de ocupação.

Outra campanha polêmica foi da Caderneta Tradição , hoje Poupança Banese que distribuia tartaruguinhas denominadas de "Vitorinos" para quem abrisse uma conta. Ecologistas cairam de pau e a campanha subiu no Telhado. Ideias controvessas que davam grandes resultados. Assim era a imaginação fértil de Raimundo Luis.

Neste momento de dor, me solidarizo com a família, os amigos e todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver e trabalhar com Raimundo Luis da Silva. Sua memória permanecerá viva em cada campanha memorável, em cada texto bem elaborado e no impacto positivo que sua atuação deixou na comunicação de Sergipe. Que sua luz continue a inspirar as futuras gerações de comunicadores.

Texto reproduzido do post Facebook/Carlos Magno Andrade Bastos

sexta-feira, 9 de maio de 2025

'Um certo Raymundo Luiz', por Luciano Correia

Legenda da foto: Jornalista e radialista, Raymundo Luiz, morreu aos 95 anos

Artigo compartilhao do site SÓ SERGIPE, de 8 de maio de 2025 

Um certo Raymundo Luiz
Por Luciano Correia (*)

Desde que retomei escrever semanalmente no portal Só Sergipe, tenho assuntos acumulados para tratar nas próximas colunas. Alguns até ficando um pouco desatualizados, face ao frenesi que tem movimentado o obituário nas últimas semanas. Crônicas mundanas, filmes vistos e corrupção de antes e de agora ganham, pois, uma refrescante trégua, porque calhou de nos últimos meses uma lista de pessoas raras e fundamentais se despedirem desse mundo cada dia mais sem graça.

Essa semana Sergipe perdeu Raymundo Luiz, uma espécie de Papa da comunicação local, onde fez tudo e o fez com talento, arte e ética. Raymundo se confunde com a própria história do rádio sergipano, onde fez escola, dirigiu profissionais e programas, lançou ideias e colheu o reconhecimento de ter feito do rádio um instrumento da educação, da cultura e da informação. Onde pôs a mão, trabalhou com seriedade e elegância, um gentleman que jamais vi levantar a voz ou perder a paciência.

Conheci Raymundo ainda rapazinho, quando publicava em Itabaiana, no colégio Murilo Braga, um jornal com tiragem de 1.200 exemplares. Foi como fundador, editor e dono do Cebolão que, juntamente com meu colega Blanar Roberto, também fundador, editor e dono, que viemos conhecer os estúdios da velha Rádio Jornal AM na Rua da Frente, ao lado do Diário de Aracaju, jornal dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.

Eram cerca de 10 da manhã e eu encontrei Raymundo, diretor da rádio, sozinho na redação, à frente de uma máquina, redigindo para os noticiários e programas da emissora. Raymundo é de uma época em que o rádio usava um negócio chamado roteiro. Mesmo quando predominava o improviso, ele estava dentro de um roteiro pré-estabelecido. Nada era por acaso, nem havia esse rádio feito da vaidade e dos intere$$e$ econômicos de proprietários e apresentadores de programas.

Muitos anos depois de minha aventura no Cebolão, quando eu já havia trocado o curso de Engenharia na UFS para fazer Jornalismo na UFBa, voltei a encontrá-lo no comecinho da fundação da Rádio e Televisão Aperipê, a RTA reconfigurada pelo então governador João Alves, que fez da velha Difusora AM, estatal, uma rede educativa com TV e rádios AM e FM. Recém-chegado de volta a Sergipe, fui a Raymundo pedir emprego na TV. Ele disse que já tinha o quadro completo, que lá não precisava de gente, mas que a Secom do Estado, que ele dirigia, precisava de um jornalista com conhecimento político.

Indicou uma máquina de escrever e pediu um editorial sobre a formação da Aliança Democrática em Sergipe. Tratava-se da composição nacional envolvendo PDS e Frente Liberal (PFL) para pôr fim ao regime militar e eleger Tancredo Neves presidente. Em Sergipe, a aliança envolvia a dissidência do PDS de Augusto Franco, comandada por João, e o líder das oposições no estado, Jackson Barreto. Sentei na máquina e em uns 10 minutos puxei o papel e entreguei a Raymundo o editorial que seria o passaporte para meu primeiro emprego, no governo de Sergipe. Raymundo leu, gostou e disse: “Tá contratado, você vai trabalhar comigo junto à Secom e produzir esses textos políticos”. Eu, tão imaturo quanto burro, bati o pé: “Mas eu queria na TV, Raimundo”. E segui desempregado. Sim, no dia seguinte, entre aborrecido/envaidecido, vejo meu editorial publicado na página de opinião do principal jornal do estado, o Jornal de Sergipe de Nazário Pimentel: “A Aliança Democrática em Sergipe”.

Esse episódio jamais turvou minha admiração e respeito por Raymundo, uma das poucas pessoas a quem atribuo o adjetivo de fidalgo. Raymundo era um doce de pessoa, mesmo vivendo a vida inteira no ninho pantanoso da política, com gente traiçoeira, arapucas e falsidades. Foi um homem autêntico e que viveu a vida numa plenitude que podemos dizer: foi um homem rico.

Invejava o carinho imenso que devotava à sua esposa Lurdinha quando ela já idosa e doente exigia cuidados. Seguramente, além de todos os cuidados que recebia, sua amada mulher ganhava diariamente um bálsamo ungido de um amor raro, profundo, a melhor de todas as provas de amor que alguém poderia dar. E ele, embora já bem idoso, passeava pelas redes sociais com a alegria de um menino brincando, exibindo orgulhosamente em textos e fotos sua grande paixão por Lurdinha. Era comovente.

Raymundo Luiz da Silva foi o profissional impecável, competente e cheio de realizações que outros tantos colegas registraram essa semana. Como homem foi ainda maior, da relação com os amigos à devoção à família, como mostra a maneira como tratou a esposa, na juventude e na velhice, na saúde e na doença. Mas tem outro dado da vida pessoal de Raymundo que talvez explique o ser humano especial que foi: sua paixão pelos curiós. Criou dezenas, tudo conforme a legislação, fazendo do canto desses bichinhos uma das trilhas musicais de sua vida. Desportista, comentarista esportivo dos melhores, também bateu uma bola na juventude, vestindo a camisa, nos anos de 1950, da minha querida e sofrida Associação Olímpica de Itabaiana, o Tremendão da Serra, campeão sergipano por onze vezes. Voa, Raymundo, meu velho e querido amigo, na trilha de seus amigos/amados curiós.

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* Luciano Correia Jornalista e professor da Universidade Federal de Sergipe

Texto e imagem reproduzidos do site: sosergipe com br

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Morte do Jornalista Raymundo Luiz da Silva

Publicação compartilhada do site da ASSEMBLEIA LEGISLATIVA, de 05/05/2025

Poder Legislativo lamenta a morte do jornalista Raymundo Luiz da Silva
Por Stephanie Macedo

Sergipe se despediu nesta segunda-feira  (5) de um dos maiores nomes da sua história na comunicação. A Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), por meio do presidente em exercício, deputado Garibalde Mendonça (PDT), e dos demais parlamentares, manifestou pesar e solidariedade à família, amigos e colegas de profissão de Raymundo Luiz da Silva.

Para o presidente em exercício, o falecimento do jornalista, radialista e escritor Raymundo Luiz da Silva deixa o Estado enlutado e com uma lacuna difícil de ser preenchida no cenário da imprensa local. “Seu legado é inestimável e permanecerá vivo na memória dos sergipanos”, declarou o presidente em exercício.

Em 22 de junho de 2004, nascia a ‘TV Alese’. Na época, junto ao então presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), deputado Antônio Passos, o jornalista Raymundo Luiz exercia o cargo de Diretor de Comunicação do Poder Legislativo, pioneiro na época, juntos cravaram uma marca na história do parlamento sergipano.

Com uma carreira que ultrapassou meio século, ele foi referência em seriedade, pioneirismo e competência. Seu trabalho marcou profundamente o jornalismo sergipano, contribuindo de forma decisiva para a transformação e modernização da comunicação no Estado. A trajetória de Raymundo Luiz se confunde com a própria história da imprensa em Sergipe, com importantes passagens pela televisão, rádio e imprensa escrita. Além do talento profissional, era reconhecido também por sua dedicação às letras, mantendo sempre vivo o compromisso com a informação e a cultura.

Velório

O velório será realizado na rua Itaporanga, nº 436, Centro de Aracaju, às 15h. O sepultamento está previsto para às 11h da terça-feira (6), no Cemitério Santa Izabel.

Biografia (*) 

Raimundo nasceu em Aracaju, no dia 28 de setembro de 1929. Casado com D. Maria de Lourdes (Lourdinha), tem vários hobbys, dentre eles o de criar passarinhos.

Quando jovem, foi notável atleta de futebol (meio-campista) e jogou nas equipes do Cotinguiba (seu clube do coração e do qual foi presidente), Sergipe e Itabaiana. Em 1953 entrou para o Banco do Brasil, sendo lotado na cidade de Itabaiana.

Jornalista vitalício, o Comendador Raymundo Luiz foi agraciado com a Medalha da Ordem Aperipê (outorgada pelo Governo de Sergipe), Medalha Serigy (Prefeitura Municipal de Aracaju) e Medalha do Mérito Parlamentar (Assembleia Legislativa). Escritor por excelência, redigiu diversos discursos e pronunciamentos para autoridades e conhecidos políticos sergipanos.

O seu ingresso no jornalismo se deu quase que por acaso. A Associação dos Cronistas Desportivos de Sergipe (ACDS) publicava um Jornal intitulado “Gazeta dos Esportes” e, em dado momento, o seu presidente lhe pediu que escrevesse matérias sobre fisiculturismo, esporte que era praticante. Daí em diante, passou a escrever a sua história de sucesso na imprensa sergipana.

Trabalhou no Diário de Aracaju (tendo sido Diretor Executivo), Jornal da Manhã (atual Correio de Sergipe) e A Cruzada, jornal editado pela Arquidiocese de Aracaju e que tinha como editor-chefe o seu amigo, João Oliva.

A partir daí, passou a conviver com talentosos redatores a exemplo do próprio João Oliva, Padre Luciano, Manoel Cabral Machado, Silvério Leite, Paulo Machado e Jorge de Oliveira Neto. Essa equipe também redigia os editoriais “Nossa Opinião”, da Rádio Cultura, que, a princípio, era lido por Raymundo Luiz e, posteriormente, por Reinaldo Moura e Dermeval Gomes.

Atuando na Rádio Cultura, coube a ele montar uma equipe esportiva e estruturar a programação de esporte da emissora, no ano de 1959. Por sua iniciativa, a Rádio Cultura passou a produzir matérias com os times de futebol de Aracaju dando, assim, um novo formato a esse tipo de noticiário que, via de regra, se reportava, praticamente, aos clubes do sul do país.

Passou, então, a ser comentarista esportivo da equipe por ele criada, consagrando-se, tempos depois, como um dos mais respeitados analistas do futebol. Um radialista de palavra fácil, comunicador por excelência, intitulou o seu comentário como “Falando Francamente”, slogan que o consagrou no seio de todas as torcidas e, até hoje, é a sua marca registrada.

Trabalhou na Rádio Jornal de Sergipe em dois momentos. Na época que a emissora pertencia a um grupo político e que o engenheiro Jorge Leite detinha 60% das ações e, tempos depois, quando fora adquirida pelo seu amigo, João Alves Filho.

Trabalhou na TV Sergipe e na TV Atalaia e implantou outras três emissoras de TV, em Aracaju: A TV Aperipê, TV Jornal e TV ALESE.

Raymundo Luiz continuava a escrever textos brilhantes dentro do casarão onde morou por anos, na Avenida Barão de Maruim, em Aracaju.

Fonte da Bio: Rede Rio FM (*)

Foto reproduzida do Facebook/Raymundo Luiz da Silva.

Texto e imagem reproduzidas do site: al se leg br

Políticos e colegas de profissão se despedem do jornalista

“Ser ético é melhor pra todos em tudo”. Grande Raymundo


Ontem, familiares trocaram a foto de Raymundo no WhatsApp colocando do quintal 
da casa onde ele passou quase toda vida e o quintal com a árvore frondosa onde recebia 
amigos e ouvia os cantos dos curiós que criou por muito tempo.

Nota compartilhada do blog Cláudio Nunes/INFONET, de 6 de maio de 2025

“Ser ético é melhor pra todos em tudo”. Grande Raymundo Luiz.

ESPECIAL

E faleceu ontem, 5, o jornalista, bancário, radialista, desportista Raymundo Luiz da Silva aos 95 anos (nasceu em 28 de Setembro de 1929). Raymundo foi gestor público, passando por comando da Secom do governo nas gestões de João Alves e entre outros cargos, foi diretor da Alese, ondem implantou a TV. Neste período foi companheiro de bancada no plenário da Alese, onde, com seus ensinamentos e conselhos, ajudou muitos jornalistas iniciantes.

Este jornalista teve a oportunidade e o prazer de visitá-lo algumas vezes na residência da Avenida Barão de Maruim. Raymundo teve como hobby por vários anos a criação de curiós, tudo legalizado através de associação, licenciado pelo Ibama e com certificado de origem.

O velório está sendo realizado na rua Itaporanga, nº 436, Centro de Aracaju e o sepultamento está marcado para às 11h, de hoje, no Cemitério Santa Izabel.

Ontem, no dia da morte dele, exatamente há um ano, o mestre Raymundo enviou uma mensagem pelos 18 anos do Blog que foi publicada. O texto de Raymundo Luiz que era leitor assíduo deste pequeno espaço:

“Parabéns, velho companheiro e amigo de sempre. A vida é líquida, queiramos ou não. Ser ético é melhor pra todos em tudo. Falando Francamente. Grande abraço, campeão de uma geração de campeões.”

Raymundo registrou que conheceu o avô do titular deste espaço, José Nunes da Silva, no Ipes, conviveu com Célio Nunes (pai deste jornalista) no Jornal da Manhã e no antigo Condese e, com este jornalista na Assembleia Legislativa. “3 gerações que dá muito orgulho a Sergipe”. Eternos agradecimentos, amigo Falando Francamente, Raymundo Luiz.

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Tributos de alguns colegas da imprensa ao jornalista Raymundo Luiz:

Nota de Pesar – Raimundo Luiz, por Jorge Araújo, jornalista e ex-deputado estadual

É com profunda tristeza que recebo a notícia do falecimento do grande amigo Raimundo Luiz. Uma figura marcante, que muito contribuiu para o desenvolvimento da sociedade sergipana.

Raimundo Luiz exerceu diversos cargos públicos, atuando com competência como Secretário de Estado, e teve uma trajetória admirável como desportista onde destacou-se como um grande comentarista esportivo, levando informação e paixão pelo esporte. Entre seus importantes legados, está a implantação da TV aperipê e da TV Alese, marcos relevantes na comunicação pública de Sergipe.

Neste momento de dor, deixo meus sinceros sentimentos à família, aos amigos e a todos que conviveram com Raimundo Luiz. Que sua memória seja sempre lembrada com respeito, gratidão e admiração.

Texto e foto2 reproduzidos do site: infonet com br