quinta-feira, 18 de abril de 2024

Gráfica J. Andrade, em Aracaju-SE.

Gráfica J. Andrade, localizada na rua Lagarto, em Aracaju

Fundada em 15 de setembro de 1964 por Jesonias Andrade, a Gráfica J. Andrade, desde então situada na Rua Lagarto, 322, em Aracaju/SE, durante todo esse período, vem se modernizando através da aquisição de maquinários e treinamento de seus profissionais. Tem como principais produtos livros e periódicos, folders, cartazes, panfletos, calendários, convites, rótulos entre outros. Dotada de uma moderna infra-estrutura, a Gráfica J. Andrade abriga, em seu parque gráfico, profissionais treinados e vários equipamentos no nível das melhores gráficas do Brasil, seja no setor de pré-impressão, impressão ou acabamento.

A pequena gráfica de Jesonias Andrade e sua mulher Maria Gonçalves Andrade, assumindo uma posição consciente de liberdade, não temeu os tempos difíceis da ditadura militar, que impôs censura à criação e à edição de textos. E assim, fiel aos princípios que adotou desde que foi criada e instalada, a Gráfica Editora J. Andrade, inicialmente denominada Indústria Gráfica J. Andrade Ltda, percorreu, com dignidade, mais de quatro décadas, sempre atendendo a sua clientela com qualidade e dedicação profissional.

Jesonias Andrade, nascido em 6 de novembro de 1904, em Nossa Senhora das Dores e falecido em Aracaju em 27 de agosto de 1994, era um homem simples, prático, mas de rara sensibilidade. Sabia distinguir os trabalhos, distribuindo-os na gráfica com paginadores e impressores, nas pequenas e velhas máquinas. Com o passar do tempo, adquiriu máquinas novas e deixou a parte comercial com o seu filho mais velho, Stênio Gonçalves Andrade, que, mais tarde, ajudado pelos irmãos Clóvis Gonçalves Andrade, José Augusto Gonçalves Andrade, o Duda, e por um grupo seleto de colaboradores, respondem pelo sucesso da empresa.

A Gráfica J. Andrade faz um nome na história empresarial de Sergipe, investindo com arrojo no parque gráfico, tendo autonomia de concorrência com centros mais adiantados, atualizando-se tecnologicamente e preparando mão-de-obra qualificada. De um pequeno folheto, do tamanho de um cordel, a um livro de arte, todo em policromia, a Gráfica J. Andrade acompanhou e testemunhou a evolução da literatura sergipana, imprimindo livros de muitos autores, como Carlos Britto, Dom Luciano Duarte, Jackson da Silva Lima, Santo Souza dentre muitos outros.

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J. Andrade conquista Prêmio de Excelência Gráfica José Cândido Cordeiro

Legenda da foto: Stênio e Rodrigo Andrade

Uma das gráficas mais tradicionais da Região, a J. Andrade acaba de conquistar o 5° Prêmio Nordeste de Excelência Gráfica José Cândido Cordeiro. A empresa sergipana foi finalista em cinco categorias da premiação, tendo conseguido quatro delas: convites de formatura, guias, manuais e anuários, kits promocionais e folhetos publicitários. "Foi o reconhecimento do nosso trabalho", afirma satisfeito Rodrigo Andrade, diretor comercial da J. Andrade.

Promovido pela Associação Brasileira da Indústria Gráfica (ABIGRAF/PE) e o Sindicato das Indústrias Gráficas de Pernambuco, o Prêmio foi conferido às empresas nordestinas que mais se destacaram nas 45 categorias em disputa. O exame das concorrentes foi feito por uma bancada de jurados de todo o País, formada por profissionais de áreas relacionadas ao trabalho gráfico como designers, técnicos, especialistas, professores e publicitários.

Rodrigo Andrade afirma que a participação de empresas reconhecidas na Região pela qualidade do trabalho que realizam valorizou o Prêmio conquistado pela J. Andrade, única gráfica de Sergipe a ser selecionada. A premiação estimula as empresas para que incorporem atitudes de responsabilidade social e ambiental em suas estratégias, a partir da difusão de boas práticas. "Além do reconhecimento do trabalho que realizamos, este Prêmio chega como um grande estímulo aos nossos colaboradores, que festejaram muito o resultado", afirma o diretor.

Fundada em 15 de setembro de 1964 por Jesonias Andrade, a Gráfica J. Andrade não pára de se modernizar através da aquisição de maquinários e treinamento de seus colaboradores. Dotada de uma moderna infraestrutura, a J. Andrade abriga, em seu parque gráfico excelentes profissionais e equipamentos no nível das melhores gráficas do Brasil, seja no setor de pré-impressão, impressão ou acabamento. "Agora mesmo acabamos de adquirir duas máquinas novas de acabamento: uma acopladora automática de capas e uma laminadora", revela Rodrigo.

Fonte: Jornal da Cidade

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Imagens reproduzidas do Facebook e Google

terça-feira, 16 de abril de 2024

'Thaís Bezerra morreu', por Odilon Machado

Legenda da imagem: Foto de Thaís Bezerra, 
reproduzida do Google e postada pelo blog 'Meio Impresso'.

Publicação compatilhada do site INFONET/BLOGS, de 3 de abril de 2024

Thaís Bezerra morreu
Por Odilon Machado (blog infonet)

Esta foi a noticia que recebi ontem ao acordar.

Eu sabia que ela estava doente há algum tempo, tentando vencer uma moléstia terrível, mas não sabia que já estava tão mal

Os humanos, mesmo os gigantes, mulher ou homem, são frágeis.

Thaís era uma gigante, sobretudo no que escrevia, já que no papel cabe tudo, inclusive as minhas garatujas, e tantas outras nódoas, tão comuns aos inúteis.

Muito difícil é escolher pincéis e tintas, e com eles exprimir o riso e o colorido da vida, como Thaís o fazia semanalmente, seja com saúde, riso ou dor, hoje o sabemos com o seu passamento, vindo com surpresa, quase em susto.

A minha Tereza, que era sua amiga desde a infância, e eu tomamos esse susto.

Perdemos uma amiga a quem admirávamos bastante, embora nunca fôssemos habituês de sua coluna.

Por que iríamos ali sair, se vivemos muito bem, à margem do “jetset” social?

Bastava-nos percorrer suas linhas semanais, contemplar o seu sorriso, que era belo, muito belo, e com ele nos divertir algumas vezes.

Ao saber de sua morte, pensei em escrever algumas palavras de saudade, mas senti-me insuficiente no que pretendia.

Seu passamento nos deixava menores.

Como traduzir isso, se diante da morte todos nos sentimos apequenados e insuficientes?

Assim lembrei de um texto meu antigo, datado de 20 de agosto de 2008*, justo quando Thaís completava 30 anos de colunismo social, mensagem lida por ela em vida, e que bem vale repeti-la, ainda!

Segue agora como minha homenagem em suas exéquias

Ali eu falo em outras pessoas que me são caras também; Ivan Valença e Antônio Carlos Franco, que bem valem lembrar.

Antes, porém, um destaque necessário, por fugir do ordinário e ultrapassar o quase além, por extraordinário: Thaís era uma mulher em sua plenitude: bela (“Que me perdoem as feias [se é que existem!], mas beleza é fundamental!”), muito bela, isso em rosto, colo e curvas, a ensejar ciúmes, invejas e iras; uma mulher muito inteligente, criativa e suavemente apimentada; tudo aquilo que os homens admiram, sem falseios.

E se como mulher não foi mãe, para no todo completar-se; comenta-se no além do seu contorno, que soube muito bem ser uma tia querida, tia-avó inclusive!; E uma irmã bem-amada, a evidenciar que o seu viver transcendeu um excesso de ternura e fecundidade...

* Leia + clicando no Link > https://meioimpresso.blogspot.com/2019/08/parabens-thais-bezerra-por-odilon.html

Texto reproduzido do site: infonet com br/blogs

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Sobre a Abril e p q todo mundo deveria lamentar s/derrocada

Crédito da foto: Fernando Moital/Flickr Creative Commons

Artigo compartilhado do site PÁGINA 22, de 11 de agosto de 2018

Sobre a Editora Abril e por que todo mundo deveria lamentar sua derrocada

Nosso trabalho bem feito incomoda e não podemos deixar que o mercado nos vença. Uma sociedade sem imprensa livre é confortável demais pro status quo. A gente precisa de mais pedras em mais sapatos. Vida longa ao jornalismo

Pra começar a ler esse texto, primeiro deixe de lado sua raiva contra a Veja. A Veja é uma (ok, talvez a mais) importante revista editada pela Abril, mas ela também é responsável pela publicação de Elle, Cláudia, Capricho, Gloss, Nova Cosmopolitan, Lola, Boa Forma, Women’s Health, Men’s Health, Placar, Playboy, VIP, Alfa, Superinteressante, Mundo Estranho, Recreio, Almanaque Abril, Guia do Estudante, Viagem e Turismo, Guia Quatro Rodas, Minha Casa, Arquitetura & Construção, Casa Cláudia, Exame, Você S/A, Veja São Paulo, Veja Rio, Veja BH, tantas outras, vou parar de nomear para não chorar mais do que já chorei pensando na derrocada desse gigante editorial que falou com tantas pessoas nesse Brasil tão grande. Dentro da editora muitos também odeiam a Veja, ela tem (tinha?) espaço para todo tipo de profissionais, da esquerda à direita, cada um em seu nicho dando seu sangue para fazer cada edição melhor que a anterior.

Em centros urbanos menores e mais distantes, a Editora Abril é que leva (levava?) conhecimento impresso por meio de suas revistas e coleções. Palavras que ajudaram crianças a aprender a ler, adolescentes a entender o próprio corpo, estudantes a passar no vestibular, mulheres a saírem de relacionamentos abusivos, aventureiros a pegar o carro e sair pelo Brasil. Levavam mundos possíveis, sonhos, desejos. Não concordo com todos os discursos que viajaram nas páginas das revistas, mas ultimamente elas estavam cada vez mais contemporâneas, a sociedade mudou e com elas também as revistas: a Elle teve capa com mulher trans, gorda, negras, demorou mas elas apareceram. E agora se despedem porque essa empresa-mamute não soube virar pombo-correio. Não entendeu que produz conteúdo, não revista impressa. E por isso não conseguiu adaptar-se aos tempos líquidos. Estamos em uma sociedade cada vez mais faminta por informação e esse gigante fecha os olhos, extinto por causa da teimosia de seus dirigentes.

Nós jornalistas costumamos falar pouco de como a salsicha das notícias é feita, mas frente ao encerramento de quase todas as revistas da Editora Abril vou quebrar o protocolo e falar do próprio rabo.

Todo mundo com mais de 20 anos lembra que nossa sociedade era cataclismicamente diferente antes da invenção do 3G e dos smartphones. Mas se tem uma coisa que nunca mudou é o tanto que jornalistas são maltratados no exercício do jornalismo. Escolhi a profissão por teimosia. Não faltaram avisos de que seria uma carreira de pouco sono, café ruim, altos níveis de stress, feriados e folgas fugazes e pouquíssimo (ou nenhum) reconhecimento. Mas a vontade de descobrir, ouvir e contar histórias foi mais forte que qualquer sensatez. Por isso me formei, empacotei meia dúzia de brusinhas e fui pra São Paulo fazer o Curso Abril de Jornalismo em janeiro de 2010 com uma dívida de 500 reais e muita vontade de participar da História.

Eu tinha 21 anos quando me formei e o mundo ainda não tinha quebrado e fumado minhas esperanças como se fossem pedras de crack. Hoje tenho 31 e não posso dizer que estou mais sábia.

Ainda acredito que as pessoas são essencialmente boas e tento olhar para o mundo com os olhos frescos das primeiras vezes (por isso tenho um blog de viagens, por isso escrevo crônicas, contos e poesia), mas também já tomei umas lambadas: já fui demitida, já levei calote, já me demiti pra fazer uma volta ao mundo, já trabalhei em redação, em agência de publicidade, em instituto de educação, já fui recepcionista de hostel, passeadora de cachorro, atendente de livraria, bartender, massagista. Hoje sou blogueira e frila: trabalho onde houver computador e conexão de internet.

O conceito de emprego líquido sonhado pelo TemerVampiro eu já vivo desde 2012 e aviso que desse lado da ponte não existe plano de saúde, previdência privada nem investimento em CDB. Neste momento não pago nem aluguel, tô morando com meus pais, que ainda bem deixaram o quarto que tinha virado escritório voltar a ser meu quarto. Mas tá tudo bem, é o que eu tento repetir como mantra todas as manhãs. Foi consequência das minhas tentativas de ser feliz e não me arrependo de nada. Um dia eu volto a ter grana pra pagar aluguel… mas esse texto não é sobre mim, é sobre o menino jornalismo. Voltemos a ele (e mandem frilas pra mim!).

2010 foi um ano de auge pra Editora Abril. Talvez não O Ano dO Auge, mas certamente um ano bom: a editora inaugurou as revistas Lola, Alfa, Minha Casa e Máxima, o portal Exame.com, expandiu o MdeMulher… e com essa bonança absorveu a maioria dos integrantes do meu Curso Abril em sua folha de pagamentos para compor a base da força de trabalho nessas marcas. Éramos repórteres, designers, fotógrafos e videomakers baratos, com a energia e o brilho nos olhos de quem acha que é especial porque foi selecionado entre centenas de profissionais para compor a elite do jornalismo de revistas no Brasil, quiçá do mundo. E éramos bons mesmo, talvez não Os Melhores mas entre os melhores, o Edward Pimenta, responsável pela seleção do Curso Abril, descobriu talentos preciosos ao longo de sua carreira. Ele saiu da Abril pra Editora Globo antes que o navio afundasse.

Era sensacional trabalhar num prédio ao lado de nomes do jornalismo que eu admirava — até que fomos expulsos. Nós chão-de-fábrica e eles pica-grossa também. Passaralho atrás de passaralho, as redações foram reduzindo, os títulos foram fechando até que a empresa que ocupava os 26 andares de um edifício espelhado na Marginal Pinheiros em São Paulo passou a ocupar só quatro desses andares, depois foi transferida pra um outro edifício comercial no Morumbi e então, hoje [7 de agosto de 2018], demitiu ainda mais gente, restando apenas 15 marcas, entre sites e revistas, do que era antes um império comparável a Condé Nast e Hearst. Passaralho, em jornalistês, significa demissões em massa, como uma revoada de aves que trazem desgraça profissional por onde passam. Muito ruim pra quem vai, péssimo pra quem fica e precisa assumir mais funções pra manter a máquina funcionando. Podem botar meu nome no bolão de apostas: a editora não dura mais 5 anos. Haja coração para seguir tocando violino enquanto o Titanic afunda.

O que aconteceu com a Abril? A crise do jornalismo assola todas as redações do mundo, mas por que ela, especialmente, teve uma derrocada tão feia em tão pouco tempo? E o que os outros meios de comunicação podem aprender com sua queda — e evitar o próprio fim?

Lá em 2010, durante o Curso Abril de Jornalismo, a gente teve palestras sobre a crise do impresso: as verbas de publicidade estavam migrando das páginas de revistas e jornais para a internet. Os conglomerados de comunicação ainda não sabiam como fazer para atrair esse investimento de volta. O ideal teria sido assumir que o mundo estava mudando e descobrir um jeito de impedir que toda a grana que seria remanejada do papel pro digital fosse diretamente pro Google e Facebook. Talvez desse para manter uma parte desse dinheiro nas marcas em sua versão digital… Mas isso não foi possível. Tanto porque Facebook e Google entregam publicidade com precisão cirúrgica (dá pra segmentar um anúncio só para mulheres grávidas entre o 6º e o 9º mês de gravidez, por exemplo. Sim, é MUITO assustador!) como porque as empresas jornalísticas demoraram a aprender — e talvez não tenham aprendido totalmente ainda — como fazer para ganhar dinheiro com jornalismo na internet. E a gente lá dentro da empresa desesperado vendo o Titanic se aproximar do iceberg.

E sabe quem pegou uma fatiazinha do mercado que as revistas e jornais poderiam ter ocupado? Eles, os produtores de conteúdo: influenciadores. Enquanto as revistas estavam batendo cabeça para manter os jornalistas longe dos holofotes, a nossa sede por contato humano foi saciada por gente que não tem problema em expor a própria vida na rede.

A Editora Abril tá falida porque não entendeu que seu negócio era produzir conteúdo, não imprimir revista. As mentes dinossáuricas na dirigência da Abril nunca deram o valor devido à tal da internet. Acharam por muitos anos, até tarde demais, que a net era moda passageira, ou algo do tipo. Acreditavam que as pessoas jamais trocariam um impresso folhudinho por telas touch. Ou, se trocassem, seria para ler revista em tablets. Eram apegados demais ao meio, à materialidade, falhando em perceber que o que mantinha os assinantes e compradores fiéis era o excelente conteúdo produzido por jornalistas, designers, ilustradores, cronistas, fotógrafos que recheavam as revistas.

Esses profissionais incríveis poderiam ter continuado seu trabalho em qualquer meio, adaptados os formatos devidamente… mas estavam sempre entre os primeiros a serem expulsos da editora nos passaralhos. Os donos da Abril tinham que ter demitido os cabeça-duras que teimavam em investir no impresso como sempre tinham feito, os profissionais de marketing que só sabiam vender anúncio de página, os resistentes às mudanças inevitáveis da sociedade.

Tinham que ter investido num núcleo de inovação que tivesse poder real para empreender mudanças nas redações, pra testar formatos de conteúdo aliado com vendas… e não só pra parecer que fazem bonito, tolhendo todas as boas ideias que a galera de chinelo e espinha na cara, mas que manjava de tecnologia, sugeria. Trabalhar com web na Abril era desesperante, digo por experiência própria.

E mais! A Editora Trip (que também não tá bem, mas enfim, outra história) faz conteúdo pra marcas desde sua criação e só em 2015 a Editora Abril percebeu que essa poderia ser uma saída pra aumentar a rentabilidade da empresa. 2015, gente. Tarde demais. A fatia do mercado de publieditoriais já tinha migrado pros blogueiros. Eu sou blogueira e adoraria fazer vários publis pra pagar boletos e viagens, mas somos poucos os que têm algum tipo de compromisso com conteúdo de qualidade. Tem muita gente ruim ganhando dinheiro na internet. E não só gente ruim de coração, não, gente ruim de serviço mesmo.

Outra característica da atualidade é que todo mundo pode produzir conteúdo. Basta ter internet, saber escrever, tirar fotos, editar vídeos e publicar.

Bom jornalismo respalda as informações que veicula com fontes especializadas, pesquisas, livros, compromisso com o leitor. Produtor de conteúdo… nem sempre. Depende de quem publica, la garantía soy yo. E muita gente não liga a mínima para a veracidade do que veicula. Quer lacrar, bombar, virar meme, angariar muitos seguidores e interações para ganhar dinheiro com eles.

Como as empresas de publicidade só querem saber de quantidade de seguidores e interações do influenciador, tanto faz como ele consegue isso: se é produzindo conteúdo de qualidade, somando na vida das pessoas que os assistem e leem, ou ficando nu, ofendendo gente, abusando do grotesco e do sensacionalismo. As marcas contratam olhando números e financiam gente que representa o pior da humanidade. Aí, quando o ~famosinho é racista, machista ou homofóbico, as marcas acionam seu departamento de relações públicas pra se desculpar “não compactuamos com esse tipo de comportamento” e retirar o patrocínio. Mas a fama do escroque já tá feita e os boletos dele já foram pagos.

Tem youtuber andando de jatinho hoje em dia, pra quê? Dividam essa grana com a Editora Abril e impeçam que a Mundo Estranho feche, pelamordedeus. Quer dizer, a ME já fechou… mas a Superinteressante ainda tá lá. Eu amo a Super, eu lia muita Super quando era uma jovenzinha adolescente, foi lá onde eu escrevi umas matérias bem loucas, tipo uma sobre a inteligência das plantas e outra sobre como escapar de uma ilha deserta. Eu queria muito que essa marca sobrevivesse por gerações. Mas não vou me enganar achando que isso vai acontecer.

Uma premissa é clara hoje que não era em 2010: não dá pra competir por clique. Sempre vai ter um site ruim especializado em SEO para catar cliques fazendo mais dinheiro com google ads do que empresas que pagam jornalistas para investigar e produzir conteúdo de qualidade. Bom jornalismo precisa de tempo (pero no demasiado), de procrastinação, de um mix de gente jovem com energia e gente experiente que transmita conhecimento.

Uma boa matéria tem entrevistas com especialistas que dão informações além do que o que está escrito na Wikipedia. É preciso manter relacionamento com fontes, triar os releases ruins dos bons e ligar pra pessoas que não estão citadas neles para saber se o que foi escrito pelas assessorias de comunicação procede mesmo, ler livros, ir a exposições, peças de teatro, ciclos de palestras, a eventos que não vão dar em nada e, no táxi da volta, descobrir que existe uma pauta ali adiante que ninguém mais vai publicar.

Quando bem feito, jornalismo é uma competição entre jornalistas pra ver quem encontra mais pérolas no mar. Fazer bom jornalismo é uma mistura de faro treinado, ouvido atento, curiosidade, jogo de cintura e sorte — robôs jamais conseguirão nos emular. Ou pelo menos acreditarei nisso até o fim.

As histórias continuam na rua para quem tem sentidos para perceber. Mas faz tempo que os jornalistas não saem das redações pra reportar o mundo. Quando a informatização chegou, imaginava-se que os jornalistas e designers iam trabalhar muito menos, mas o que aconteceu é que muita gente foi demitida e quem ficou continuou trabalhando no limite da adrenalina. São muitas pautas por dia pra cuspir, as assessorias já mandam conteúdo suficiente para preencher a cota necessária, porque sim, as assessorias de comunicação desonestas mandam matérias já prontinhas pra jornalista preguiçoso botar o próprio nome e publicar. Essa prática é muito comum e pouca gente sabe disso. Isso não é jornalismo, isso é preencher espaço, fazer o mínimo. Menos que o mínimo.

O leitor percebe que está sendo enganado. Pouco depois de um passaralho vai embora também uma parte da audiência, que se chateia com o conteúdo piorado feito por menos profissionais equilibrando pratinhos. Por que vou pagar 16 reais numa revista que não me dá nada que já não esteja na internet de graça? Não vou. E o ciclo segue vicioso: menos público gera menos verba de publicidade que gera arrocho nas redações que gera conteúdo pior que gera menos público…

O leitor deveria ser o chefe do jornalista. É isso que a gente sai da universidade acreditando e é isso que diferencia um jornalista de um produtor de conteúdo contratado por uma empresa.

Rapidinho percebemos que entre nossa matéria e o leitor tem o editor, o editor-chefe, o dono do meio de comunicação, as empresas que anunciam nele e os meios de distribuição do veículo… É um trabalho coletivo de equilíbrio tênue, mas um bom jornalista seria aquele que consegue driblar todas as camadas de censura para fazer sua apuração chegar o mais pura possível na prensa, esperando que o pessoal do marketing e da distribuição façam com que ela chegue até os leitores. Ufa.

Se fosse assim já seria estressante, mas na fábrica de salsicha é bem pior. Não é nem nunca foi interessante pras grandes famílias que detém os meios de comunicação e as grandes corporações que o jornalismo seja isento. Sempre foi um campo minado para quem, idealisticamente, quisesse denunciar os injustos e ajudar os justos a obter justiça.

O tal jornalismo isento 100% não existe. Não. Existe. Nunca. Existiu.

Mas hoje em dia até o jornalismo meia-boca respira por aparelhos.

Nas grandes empresas tradicionais brasileiras, é essa insalubridade que falei aí em cima. Aí tem as as iniciativas gringas com filial no Brasil: El País Brasil, BBC Brasil, The Intercept Brasil, Vice News… outra parada, nem me atrevo a analisar porque não manjo, mas parece que o El País tá mal das pernas também. God Save The Queen of England e o imposto que mantêm a BBC de pé, amém.

E tem as pequenas. As empresas criadas por comunicadores que foram espremidos das grandes indústrias, os levados pelos passaralhos que estão apostando economias e energias no jornalismo independente. Nexo, Agência Pública, Jornalistas Livres, Mídia Ninja, a Revista Bravo!, que tinha sido fechada pela Abril e cujos direitos foram comprados por editores varridos num chefaralho (o passaralho de chefes). Empresas embrionárias que experimentam modelos de negócios, arriscam novas formas de ganhar dinheiro com jornalismo, que sejam eternos enquanto durem.

Eles são pequenos ainda para absorver esse grande mercado de jornalistas desempregados, suas redações compostas por alguns grandes jornalistas experientes e vários recém-formados de olhos brilhantes. Eu adoraria que prosperassem, me contratassem, contratassem boa parte dos jornalistas que foram demitidos hoje na Abril e muitos outros ótimos que foram embora em passaralhos anteriores e pudéssemos viver uma longa e duradoura relação. Mas meus poucos 10 anos com o jornalismo me ensinaram a ser mais cabreira que a minha já desconfiada mineiridade.

Quem vai pagar para que possamos produzir matérias, veiculá-las e pagarmos nossos boletos para seguirmos produzindo e veiculando notícias verdadeiras? Há experiências interessantes. A International Journalist’s Network listou 7 modelos de negócio que talvez possam salvar o jornalismo. O mais adotado hoje é o de paywall, aquele esquema que permite ler 10 matérias grátis por mês, mas depois bloqueia e pra ler mais tem que pagar mensalidade.

O New York Times inaugurou sua paywall timidamente em 2011, mas o número de assinantes está crescendo cada vez mais e parece que ela vai dar conta de segurar o forninho da empresa do tamanho que está (com todos os 1300 jornalistas) mesmo se perder os assinantes do jornal impresso. Pode ser a salvação do jornal e por isso o modelo tem sido replicado aqui pela Folha, Globo, Estadão… Mas eu temo que não seja o melhor jeito de fazer. Quem não paga pra atravessar esse muro acaba lendo só as manchetes, um mal que vivemos nesse mundo de pós-verdade.

O jornalismo está em crise (houve época em que não esteve?), mas a sede por notícia não acabou. Nunca lemos tanto. Todo mundo lê postagem no Facebook, legenda do Instagram, legenda de vídeo fofo ou de notícias que assistimos com o som desligado, tweets, mensagens no WhatsApp, posts de blog e ainda assistimos a canais no YouTube, ouvimos podcasts, e, gente do céu, as pessoas ainda leem livros! No século XXI! As editoras tradicionais podem estar em crise, mas o mercado editorial independente está crescendo real oficial. É bonito de ver. É fato que a sociedade em que vivemos é uma sociedade leitora, mesmo que seja leitora de memes. Analfabetos não nos tornamos.

Lemos, mas temos sérios problemas de interpretação de texto: a gente lê manchete, uma legenda ou duas, o olho (aquele pedaço da matéria em letras grandes) e se dá por satisfeita, interpreta como convém. Com paywall, temos até a desculpa que não dá pra ler e tem que se contentar mesmo só com a manchete porque não pagamos a mensalidade do jornal em questão. Mas a gente lê. O desafio é entender como fazer com que as pessoas leiam mais, leiam melhor — e leiam menos mentiras.

O resultado da crise de credibilidade no jornalismo aliado ao crescimento de blogs que não precisam de legitimidade alguma pra existir e crescer é que as notícias falsas se espalham feito fogo no inverno do Cerrado. Eu vejo uma manchete ultrajante que confirma meus preconceitos e compartilho, sem clicar. Manchete falsa cresce mais que pão orgânico no calor das nossas bolhas e aí caras bizarros tipo o Trump são eleitos. Acendo uma vela todo dia para que o Bozonada não consiga o mesmo feito. Precisamos aprender com os erros dos outros, é urgente!

Atrasados em uns dois, três anos, Facebook e Google se aliaram a empresas jornalísticas para checar notícias espalhadas em suas redes… talvez esteja aí o futuro do financiamento do jornalismo diário..? A verba da publicidade voltando dos gigantes da internet pros gigantes do jornalismo que mantém estúdios de checagem para derrubar as notícias falsas que os dois, em sua disputa pelo dinheiro das marcas, deixaram germinar tipo cuscutas, parasitas.

O futuro do jornalismo não é um só, serão vários caminhos, isso é certo.

A Abril foi uma escola onde coloquei em prática vários conceitos que eu tinha aprendido na faculdade e onde aprendi muitos mais, alguns com meus editores e alguns na marra, fazendo, experimentando, reformulando, sonhando e tornando os sonhos possíveis. Sem romantizar, tinha muito editor abusador lá também, gente maluca que queria que a gente não tivesse vida fora da editora, que usava drogas em horário de trabalho, que glorificava fechamento que virava noite, que assediava mulheres. Tinha de tudo. A Editora Abril era um microcosmo.

Acredito que ainda é possível fazer jornalismo com sangue na boca, mesmo com o fim desse laboratório gigante que reunia tanta gente com vontade de fazer.

Eu quero acreditar que ainda tem lugar nessa sociedade pra bons jornalistas. Agora, nesse contexto de loucura que vivemos, precisamos de gente defendendo direitos humanos, democracia, denunciando corrupção, calculando e recalculando porcentagens de comunicados públicos pra achar erro e denunciar. O jornalismo tem que ser pedra no sapato e, se não incomodar, tá fazendo errado. É por isso que tantos jornalistas morrem no México. É por isso que o Sakamoto recebe ameaças de morte por denunciar trabalho escravo. É por isso que não existe imposto brasileiro que financie uma empresa de comunicação pública como é a BBC.

São ideais apenas, eu sei. Eles, os sonhos, fizeram que nos preparássemos para uma carreira que até os professores das universidades alertam que é furada. É furada. Eu falo isso pra todo mundo que estuda jornalismo hoje: faça outro curso. Já tem jornalista desempregado demais no mercado. Deixa essa profissão pra lá, vai fazer letras, publicidade, radialismo, medicina, sei lá.

Quem formar forma por teimosia e já sai avisado que vai dar merda, como eu me formei. Dez anos depois, eu sou frila morando com meus pais, volto a lembrar. Mas ainda acredito que o jornalismo tem uma função social. E que um dia, quem sabe, voltarei a conseguir pagar boletos e ser jornalista ao mesmo tempo.

Nosso trabalho bem feito incomoda e não podemos deixar que o mercado nos vença. Uma sociedade sem imprensa livre é confortável demais pro status quo. A gente precisa de mais pedras em mais sapatos. Vida longa ao jornalismo.

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Escrevi esse texto depois de uma chuva de granizo estranhíssima que caiu sobre Belo Horizonte. Estamos em agosto e não deveria estar chovendo granizo — as pedras de gelo geralmente caem no verão — mas o aquecimento global está aí (winter has come) e a gente vai precisar se acostumar a não entender mais o tempo como antigamente.

Lívia Aguiar é jornalista, escritora, mochileira e autora de um blog sobre viagens, eusouatoa.com. Este artigo foi publicado originalmente em sua página no Medium.

Quer ler mais sobre o assunto? Acesse esta edição de Página22 que publicamos em julho de 2013 (“Jornalismo é Achado Vivo”), que antecipou muita coisa. Aqui, a reportagem de capa, “Imprensa Sem Papel”.

Texto e imagem reproduzidos do site: pagina22 com br

terça-feira, 9 de abril de 2024

Jaguar > O Começo do Pasquim



Imagens reproduzidas do Google.

JAGUAR

O COMEÇO DO PASQUIM

Prestem atenção pesquisadores, historiadores, editores, professores e estudantes de comunicação, repórteres de segundos cadernos, autores de tese de mestrado e doutorado, entrevistadores da imprensa escrita, falada e televisada: esta é a última vez que falo nisso.

A (meia) verdade do título é uma medida cautelar. Todas as vezes que tento rememorar as origens do hebdô, aparece uma porção de gente para me desmentir.

Na verdade, só Sérgio Cabral e Claudius podem dizer que não foi bem assim, muito pelo contrário. Os outros fundadores, Tarso de Castro e Prósperi não estão mais aqui.

Então, vamos lá: o embrião do Pasquim foi gerado em setembro de 1968, no dia em que morreu Sérgio Porto, sobejamente conhecido como Stanislaw Ponte Preta. Ele era responsável pela Carapuça, tablóide semanal de humor. Na verdade, o jornaleco poderia continuar indo para as bancas. O autor dos textos, de cabo a rabo, era Alberto Eça, que conseguia fazer uma imitação razoável do jeito de escrever do fero cronista. O pessoal do ramo sabia que o estilo do Stan era inimitável, mas dava para engabelar a plebe ignara. Desconfio de que nem lia o jornal, recebia um cachê para usarem seu prestígio.

Mas como explicar aos leitores? Acho que nem com a convocação do médium Chico Xavier se convenceriam de que o jornal estava sendo editado do Além. Murilo Pereira Reis, da Distribuidora Imprensa, que editava a Carapuça, chamou Tarso de Castro, que na época fazia um baita sucesso com sua coluna na Última Hora. Tarso encontrou-se comigo no Jangadeiros e quis saber minha opinião. “Melhor fechar e abrir outro jornal”, sugeri. Sérgio Cabral já tinha dito o mesmo. A editora topou. Tarso convidou Sérgio Cabral, e eu escalei Claudius e Carlos Prósperi para fazer o projeto gráfico.

A coisa quase desandou porque o nome do jornal não saía. Durante longas semanas, nos reunimos na casa do Magaldi, diretor da TV Globo, que tinha sido sócio do Prósperi na agência Prósperi, Magaaldi & Maia, que marcou época em São Paulo. Listas e listas de nomes eram descartadas. Aí lembrei-me da Tribuna da Imprensa, que tinha tiragem bem menor que os jornalões. Por isso era pejorativamente chamada de lanterninha da imprensa. Deu a volta por cima adotando a lanterna como símbolo.

“Que tal Pasquim?”, propus. “Vão nos chamar de pasquim (jornal difamador, folheto injurioso), terão de inventar outros nomes para nos xingar.” A sugestão não suscitou muito entusiasmo, mas como ninguém aguentava mais tanta reunião, acabou sendo aprovada. Para alívio do Magaldi, que contabilizou grandes baixas na sua adega.

Nossa primeira redação foi numa sala no prédio da Distribuidora da Imprensa, na rua do Resende, 100, no Centro. A equipe: nós cinco, uma secretária (e musa inspiradora do Pasquim), dona Nelma Quadros, e um boy, Haroldo Zager (que mais tarde foi nosso diretor de arte).

O ratinho Sig, personagem dos Chopnics – uma HQ que Ivan Lessa e eu bolamos para o lançamento da cerveja Skol -, foi nomeado para símbolo do Pasquim. Também chamado de o rato que ruge, por causa do filme. Três mesas, outras tantas máquinas de escrever, telefone, a prancheta do Prósperi, um bom estoque de uísque e estávamos prontos para o que desse e viesse.

Tarso decretou que a primeira entrevista seria do Ibrahim Sued (fui voto vencido). Foi gravada no escritório do turco, na esquina da avenida Nossa Senhora de Copacabana com a rua Siqueira Campos. Fomos bem recebidos e brindados com um furo: ele revelou que o próximo general a mandar no Brasil, depois do Costa e Silva, seria um tal de Garrastazu Médici. Fui também voto vencido na reunião para decidir a tiragem do número, que foi impresso na gráfica do Correio da Manhã.

Ainda escaldado pela meteórica trajetória do Pif-Paf, do Millôr (oito números, antes de ser inviabilizado pela ditadura), achava que 5 mil era mais do que suficiente. Resolveram lançar 14 mil. A edição esgotou em dois dias. Rodaram mais 14.000 exemplares.

Por que tablóide? Fizemos uma pesquisa entre os colegas de jornal e a maioria opinou que o leitor brasileiro não gosta do formato. “Então vai ser tablóide”, decidimos. Aliás, ninguém levava fé, achavam que seria mais um jornalzinho de bairro. O lançamento foi no dia 26 de junho de 1969. Cinco meses depois, demos uma festa para comemorar os cem mil exemplares. O primeiro número, além da entrevista do Ibrahim, tinha dois ilustres correspondentes, Chico Buarque, de Roma, convidado pelo Sérgio, e Odete Lara, diretamente do Festival de Cannes. Além dos cinco fundadores, colaboraram Martha Alencar, Fortuna, Luiz Carlos Maciel, Ziraldo (nos deu permissão para republicarmos os Zeróis), Sérgio Noronha, Nísio Baptista Martins (deste eu não me lembro) e Olga Savary, que assinava as Dicas. Quatro páginas de propaganda: da Shell (Prósperi fazia a revista da empresa), da Skol, dos cartões Thomas de la Rue (assinados pelos desenhistas do Pasquim) e das casas do Ricardo Amaral (saudosa Sucata!). Todos os anúncios foram feitos pelo Claudius e por mim. O número só tinha 20 páginas, mas mesmo assim faltou matéria. Tivemos que tapar buraco enchendo duas páginas com cartuns de Don Martin e textos de Groucho Marx.

Mas o ponto alto foi o artigo do Millôr, que termina de maneira lapidar: “não estou desanimando vocês não, mas uma coisa eu digo: se este jornal for mesmo independente, não dura nem três meses. Se durar três meses não é independente. Longa vida a esta revista!”.

E realmente teve: durou, aos trancos e barrancos, até o número 1072, de 11 de novembro de 1991. Mais de 22 anos! Caso raro de um rato – no caso, o Sig – que não abandonou o navio, afundou com ele como aquele almirante batavo.

Mais duas coisas: do requintado projeto gráfico do Prósperi para a capa sobrou apenas o logotipo; e a entrevista do Ibrahim, que não foi das melhores que publicamos, provocou, por acaso, uma transformação na imprensa. Já começamos inovando: levando uísque para nosso consumo e botando o entrevistado na roda, o que é imitado até hoje ad nauseam. Transcrevi a entrevista utilizando o gravador; Tarso e Cabral sumiram, só apareceram na hora de o jornal rodar. Deram uma lida e disseram: “Tem que fazer o copidesque.”

Eram jornalistas tarimbados, eu só sabia desenhar cartuns. “Copidesque? Que diabos é isso?” Pacientemente, explicaram que era adequar o texto à linguagem jornalística. Mas felizmente não deu tempo, o jornal rodou com a entrevista do jeito que estava.

E foi assim que, repito, por acaso, o Pasquim tirou o paletó e a gravata do jornalismo brasileiro.

SIG

O Sig existiu, era um ratinho branco de estimação de Hugo Bidet, que o batizou carinhosamente de Ivan Lessa. Estava sempre conosco no velho bar Jangadeiro. Hugo embebia bolinhas de pão na vodca, que o rato comia e ficava de porre. Quando o bar fechava, a gente às vezes esticava na casa do Hugo, que era ali do lado. Numa dessas o Ivan Lessa, que costumava ficar zanzando pra cá e pra lá no parapeito, caiu, completamente de porre. Era no primeiro andar, mas para um rato era como se fosse o décimo.

Despencamos pelas escadas, Hugo, Pereio, Roniquito e eu. Ivan Lessa ainda respirava, mas estava nas últimas. Pegamos o táxi e o levamos para o Miguel Couto; nem por um momento nos passou pela cabeça que se tratava de um rato; pra nós era um companheiro que precisava de socorro. Já os médicos do hospital pensavam de maneira totalmente diferente. Saímos na porrada e na briga, Ivan Lessa acabou de morrer. Todo mundo foi parar no distrito. Mais tarde quando lancei os Chopinics, o Hugo, na tira virou BD (que se transformava no Capitão Ipanema), e o Ivan Lessa virou o Sig, que acabou se tornando o rato-propaganda do Pasquim.

Hugo (o sobrenome era Leão de Castro, mas ficou Bidet porque um dia serviu uma feijoada no bidê, pois não tinha lugar para acomodar as carnes) não durou muito; meteu uma bala na cabeça, depois de passar a noite inteira contando piadas para o pessoal. Sacanagem.

Outro dia, biritando no bar do Luís, Pereio e eu ̶ os sobreviventes desse episódio ̶ chegamos à conclusão de que, depois de uma certa idade, os amigos pegam o péssimo hábito de morrer. Vou logo avisando que podem parar com isso; enchi o saco de ir a enterro; o do Henfil foi o último. Depois desse, só comparecerei ao meu, e mesmo assim, se arranjar uma boa desculpa, darei o bolo.

CHOPINICS

Não tenho saco para personagens, não tenho paciência para história em quadrinhos, embora seja o que dá grana. Eu comecei a fazer quadrinhos justamente com o Mauricio de Sousa…

Eu fui chamado pelo Zequinha Castro Neves, que trabalhava numa agência de publicidade, e ele me propôs criar uma história para o lançamento da cerveja Skol no Brasil. Aí eu bolei o CHOPNICS, o nome com a mistura de chopp com os beatniks da época. E havia personagens como o BD, que virava o Capitão Ipanema quando falava a palavra Skol e ganhava superpoderes, mas somente dentro da área da bairro. Quando passava voando pelo Jardim de Alah ele perdia os poderes [risos]. Havia o Dr. CARLINHOS BOCA, que era eu. Me lembro que eu saía na Banda de Ipanema, num calor de 40º C, fantasiado de Carlinhos Boca, com um chapéu preto e uma capa de borracha preta… Não sei como é que eu não morri! E tinha o Sig, abreviatura de Sigmund Freud, que era o intelectual e eterno companheiro de Hugo Bidet, apaixonado pela Tânia Scher e pela Odete Lara. Ele era um rato atormentado, cheio de problemas existenciais…

Essas tirinhas saíam todo dia no Correio da Manhã e no O Globo – dois jornais na mesma cidade! Eu não tinha noção do sucesso que o Chopnics fazia. Era um sucesso do caralho! Eu não me dei conta disso, depois, sinceramente, encheu o saco de fazer.

A tira teve uma sobrevida, acabou saindo no Pasquim e o Sig acabou ganhando vida própria e virou um símbolo do tablóide durante 22 anos, até a última edição.

O HENFIL

Quando o Henfil chegou pela primeira vez na redação, eu estava com o Fortuna, que estava diagramando a enciclopédia Delta-Larousse. Chegou o Henfil de Minas, com a pastinha debaixo do braço, mostrou uns desenhos feios, péssimos, como os meus eram também. Eu perguntei: “Como é o seu nome”. Ele falou: “Henfil”. Eu repeti: “Fiu? Parece um assovio, fiu, fiu, fiu…” (risos) Ele ficou puto, porque o Henfil era rancoroso pra caralho! Depois disso ficamos amicíssimos e ele me disse que naquele dia ficou andando direto, pra cima e pra baixo na praia do Leblon, de tanta raiva! Agora, o Henfil depois se transformou num extraordinário desenhista! Era impressionante! Ele conseguia, num desenho, num papel em branco, parado, imprimir um movimento que parecia desenho animado. Só ele fazia isso. Eu nunca vi nada igual nem entre os estrangeiros. Aqueles traços ao lado da perna, assim, indicando direção… Vai tentar imitar. Não dá! Eu já tentei e não consegui… E ele tinha também uma noção de composição fantástica, né?

Sendo do mesmo ramo, eu via o sacana do Henfil fazer uma charge num passe de mágica, como Salieri, ouvindo Mozart, morrendo de inveja.

A REDAÇÃO

Foi uma experiência meio maluca. Era um grupo muito brilhante, é como se fosse o Santos Futebol Clube, da era Pelé, do jornalismo. Você imagina: Millor Fernandes, Ziraldo, Tarso de Castro, Henfil, Paulo Francis, Sérgio Augusto, Fausto Wolf, Ivan Lessa, só tinha craques. Era um bando de porra loucas. Mas redação d’O Pasquim era uma bagunça completa. Por exemplo, um jornalista profissional que eu chamei para ser editor, o Alberto Dines, é um cara acostumado com aquele sistemão de jornal grande, e ele ficava histérico. Ele dizia 'Jaguar, o jornal vai fechar daqui a meia hora e ainda não tem capa, porra!' E eu, 'calma, rapaz, ainda tem meia hora' (risos). Uma vez cheguei na sala dele, ele estava deitado no chão, em posição fetal, completamente desesperado.

Para você ver como era um jornal diferente Ivan Lessa, que é um gênio, quando começou a responder as cartas, os leitores participavam, havia uma empatia, e chegavam sacos de cartas. Sabe o que o Ivan fazia? Jogava tudo fora, inventava as cartas e respondia. Era muito engraçado.

A gente vivia fotografando mulher pelada. As mulheres ficavam andando peladas pela redação. Eu, por exemplo, era monógamo.

Sempre fui monógamo, com uma mulher de cada vez, que nem o Vinícius. Ele foi nove vezes monógamo, nove vezes fiel, fidelíssimo. Mas, claro, de repente tomava um porre e acordava num lugar que você não sabia nem onde estava. Agora, tinha o Tarso de Castro que era um mulherengo danado, que deitava e rolava. Eu me lembro que nós fizemos uma matéria que tinha uma mulher pelada andando, e tinha um cara que viu e “tem uma mulher pelada aí”, e nós “está vendo alguma mulher pelada aqui?”. Ela deitada na minha mesa, pelada, e eu “não estou vendo mulher pelada nenhuma, você está maluco, cara!”. Era muito divertido.

Aquilo era uma loucura. Hoje em dia é inviável, porque as pessoas, nas redações, não se falam mais. O cara que tá do teu lado, rapaz, isso é uma loucura.

O pessoal do Casseta e Planeta, por exemplo, despontou numa saleta na redação do Pasquim, aquele velho casarão da rua Saint Roman, em Copacabana, que já foi randevu e hoje pertence à Fundação Paulo Coelho. Sinto falta da energia dos meus 40 anos e da garrafa de uísque ao lado do vidro de nanquim.

O SUCESSO

Em junho de 1969, um bando de cartunistas, jornalistas e até um artista gráfico (Carlos Prósperi, que bolou o projeto gráfico) conspirou numa sala da Rua do Rezende para lançar um projeto que tinha tudo para dar errado: um jornal sacaneando o governo militar. Não tinham ideologia. Isto é, tínhamos uma extraordinária, rara, pretensiosa ideologia, a do ‘Não estamos nem aí!’. Não era conosco. Não tínhamos nada a ver com solução dos problemas da pobreza, com a nojenta utilização que os ricos fazem do dinheiro, com as mulheres fazendo indignados ataques aos homens e se apropriando indevidamente de termos como: “Não me enche o saco!” (...) Na verdade, influenciávamos o Brasil inteiro, porque não vivíamos no Brasil, vivíamos no Rio de Janeiro, ou melhor, em Ipanema. (Para depois explicar que nenhum de nós morava em Ipanema) E o bar, o glorioso Flag onde nos reuníamos, cheio de mulheres lindas (vamos manter o mito e a inveja), ficava nos fundos do Othon, em Copacabana.

O jornal pegou logo, foi um sucesso fulminante, que surpreendeu até seus mais otimistas colaboradores. Em dez semanas, pulou de 28 mil exemplares para 220 mil. Os leitores de todo o País vibravam com as novidades oferecidas em 32 páginas. A única fonte de renda vinha da venda em bancas ou assinatura (ou seja, estávamos sempre no vermelho).

A gente ganhava muito dinheiro e gastava para caralho. Cada um gastava da sua maneira. O Tarso alugava avião, comia a Candice Bergen, alugava uma suíte em um hotel e enchia de mulher. A minha curtição era a seguinte: eu aluguei uma casa em Arraial do Cabo e ficava lá a semana inteira tomando cana com os pescadores. Cada um tinha o seu estilo.

Ele deu certo pelo seguinte: a hora que uma coisa acontece é porque há uma necessidade. A coisa mais gratificante, por exemplo, foi os caras que foram, que nem o Betinho, para a Europa em um rabo de foguete, e chegavam lá, em Paris e não sei aonde, cada O Pasquim era lido por cem pessoas, acabava rasgado, em frangalhos. E era um negócio que era proibido, os professores proibiam. Inclusive a gente não teve muita solidariedade, aliás, nenhuma.

Quando o jornal era apreendido, a grande imprensa publicava assim: 'um certo semanário'. Não dizia nem o nome. E toda hora o jornal era apreendido.

A CENSURA

A censura foi uma escalada. Primeiro não tinha censura, porque era só um jornalzinho de Ipanema. Quando o jornal cresceu e não dava mais para fechar, porque a gente tinha feito contato com o Washington Post, o Le Monde, e ia dar uma repercussão internacional, então eles botaram a censura.

CENSURA COM A DONA MARINA

No começo, a censura era mais branda. Um dia chegou uma senhora lá na Redação, Dona Marina, dizendo que era da censura. “Tudo bem, Dona Marina?”, perguntei eu. “Tá aqui o material, a senhora pode ficar nessa mesa …”. Ela sentava ali e ficava, era uma senhora muito simpática…

Mas eu sempre com a minha garrafa de Red Label, bebendo. Um dia, depois do expediente, ela chegou e falou assim: “Será que eu podia tomar um uisquinho?”. E eu “claro, Dona Marina, como não?”. Aí tomamos um uisquinho, brindamos. No dia seguinte, providenciei um balde de gelo e uma garrafa de Red na mesa dela… [risos]. Depois disso, ela aprovava tudo! Foi demitida, né! Depois soube que morreu alcoólatra…

CENSURA COM O GENERAL JUAREZ

O próximo censor foi um cara do caralho, o general Juarez, um bonitão, sósia do Gary Cooper, que era pai da Helô Pinheiro, a Garota de Ipanema. Ele recebia a gente na garçonnière dele ali na Barata Ribeiro. Sentávamos num sofá na sala e ele pegava o material e riscava a lápis o que achava discutível, censurável. A gente argumentava. Havia diálogo. Se ele se convencia, apagava. Se ele não se convencia, passava a caneta. E o mais engraçado é que ele fazia essa conversa toda debaixo de um enorme retrato de um metro e meio de altura da Brigitte Bardot com os peitos de fora. De repente chegava uma garota, bonitinha e tal, e ele apresentava: “Esses são meus amigos do famoso ‘Pasquim’.” E logo depois “Vá lá para o quarto que daqui a pouco estou lá”. E aí rapidamente ele aprovava tudo. Liberava as maiores atrocidades! E a gente ficava torcendo para chegar uma garota lá. Nessa época, passava troço à beça também.

Uma vez eu botei um anúncio de office-boy… Me chega um carro, tipo americano, com uma loura espetacular. Ela chega na minha mesa e diz assim: “Eu vim pelo emprego de office-boy, no caso, office-girl, né?”. E eu: “Peraí, com aquele carro ali?”. Ah, eu tô cansada da minha vida de madame, e quero trabalhar, gosto de O Pasquim. Por fim, a coloquei como secretária, era bonitona pacas e muito competente também…

O Juarez jogava biriba com uma turma de coroas na praia, e nós contratamos a loira espetacular, que ia de biquíni levar o material, ela chegava lá e ficava se esfregando nele, e todos morrendo de inveja e ele cheio de prosa dando a entender que era amante dele. Ela dizia: “Ah, meu bem, não faz isso, os meninos vão ficar tão tristes...” Ele ficava orgulhoso de ter uma gata daquelas ao seu lado e liberava tudo. Até que ele foi demitido. Por que ele foi demitido? Eu fui entrevistar Angela Gillian uma negra antropóloga americana que disse “quero fazer uma denúncia de que esse país era racista'. Eu falei “eu também acho”. A entrevista foi ótima, mas eu pensei “isso não vai passar porra nenhuma”. Eu mostro a entrevista para o Juarez, ele lê e diz “eu também acho que essa Angela está certa!”. E eu “o senhor acha?”, ele “acho!”. Saiu o jornal e ele estava demitido.

CENSURA EM BRASÍLIA

Aí a coisa ficou feia, porque a censura começou a ser feita em Brasília, e aí você tinha de mandar por avião ou por ônibus, e era uma complicação, às vezes extraviava, em vez de ir parar em Brasília ia para Belém do Pará. Mas mesmo assim havia os caras que se afeiçoavam ao Pasquim, e esses caras eram demitidos pelo general Bandeira. Nessa época, O Pasquim começou a decair devido ao atraso. A gente fazia um jornal que tinha uma semana de atraso. Até ir pra Brasília, voltar e não sei o quê, quando saía O Pasquim as notícias já estavam velhas… Foi aí que começou a decadência… Fora aquela história de incêndios e explosão nas bancas... Às vezes, mandávamos um volume de material que daria pra três edições, torcendo para que, após os cortes, o que voltasse salvasse pelo menos uma edição. Foi aí, que a gente pegava e colocava um monte de secretárias, datilógrafas, copiando Os Sertões, Rachel de Queiroz… Então, de cada 20 páginas, apenas três eram de O Pasquim. Só que eles tinham que ler aquela merda toda, entendeu? E eles censuravam a Rachel, o Fernando Sabino, censuravam Rubem Braga… [risos] Era uma guerrilha, e a gente fazia isso muito bem. A gente driblava bastante o esquema. … Pra evitar, por vezes, que os censores riscassem o nosso original com caneta Pilot, a gente passou a enviar um esboço. Se fosse aprovado, aí sim a gente finalizava. Só que, depois da aprovação, a gente, na finalização, mudava a expressão dos personagens, o que basta para mudar toda a mensagem… E eles não pegavam isso… [risos]

Eu me lembro que a primeira vez que fui conhecer Brasília foi porque um general da censura mandou me chamar, e eu “mas não tenho dinheiro para a passagem”, e ele “se vira, senão o jornal não sai”. Aí fiz uma vaquinha, consegui uma passagem, fui lá e ele marcou às 4 horas. 4 horas eu chego lá, aí o filho da mãe diz assim “só posso atender daqui a duas horas”, e eu falei “puta que o pariu, não conheço Brasília. Onde é que tem um bar aqui, porra”. Aí fui para o bar Beirute e fiquei duas horas tomando Steinhager e chope, Steihager e chope.

Eu me lembro até que parou um carro no trânsito, era o Magalhães Pinto, aí eu disse 'ô careca! Como é que é, careca!', e ele acenou, mineiro, né.

Aí finalmente voltei lá, completamente de porre. Mas quando eu fico de porre, eu sou profissional, eu fico duro, como se tivesse engolido uma vassoura. E o que o general queria era só me dar um esporro e mais nada. Ele me fez sair do Rio só para me dar um esporro, disse “eu conheço toda a sua vida, o senhor era funcionário do Banco do Brasil, não sei o quê, casado, dois filhos, por que o senhor leva essa vida de subversivo?” Eu falei “mas eu não sou subversivo, sou só um porra louca, mais nada”.

Então ele me esculhambou, esculhambou e me mandou embora e liberou o material censurado, e quando eu estava na porta ele falou “Jaguar!”. Eu me virei para ele, fiz uma cara meio que sacana, e ele “é verdade que vocês fazem muitas orgias lá no jornal?” Eu falei “mais ou menos” [risos] e fui embora antes que ele fizesse alguma proposta.

A GRIPE DO PASQUIM (PRISÃO)

A fundação d’O Pasquim logo depois do AI-5 foi uma coisa inteligentíssima, né? [risos] Um grupo de pessoas consideradas de um certo QI, esperou o AI-5 pra abrir um jornal pra falar mal do Governo! Foi uma idéia brilhante! [risos] Deu tanto resultado que, seis meses depois, 80% da redação estava em cana.

O negócio é o seguinte: eu fiz uma montagem com o quadro Independência ou Morte do Pedro Américo, coloquei um balão onde o Dom Pedro gritava “Eu quero é mocotó” de uma famosa música na época, do Erlon Chaves, e foi um deus-nos-acuda! Eu tava viajando, tinha alugado uma casa de pescador lá em Arraial do Cabo. Quando voltei, me aconselharam. “Jaguar, se esconde, estão prendendo todo mundo”. Aí eu falei, “e agora? O que que eu faço?” Pra você ver como o Brasil é surrealista: o Flávio Cavalcânti, que era um dos mais reacionários, que depredou a Última Hora, me ofereceu para ficar escondido na casa dele e, inclusive, numa excelente companhia, Leila Diniz. Tava eu lá o dia todo tomando umas com a Leila Diniz, quando liga – não sei como, alguém forneceu o telefone – Paulo Francis lá da Vila Militar. “Ô Jaguar, é o seguinte, nós tamos aqui presos e eles só vão soltar a gente se você se apresentar para prestar depoimento.” Aí, eu falei: “Ô Francis, porra! Tá maluco, rapaz? Eu vou ficar preso e vocês também vão continuar aí!”. E ele falou assim: “A sua consciência é que responde isso”. Pensei. “E agora?”. Aí, pronto, falou em consciência… Liguei pro Sérgio Cabral [o pai, naturalmente], que também estava escondido e falei assim: “Sérgio, o que você acha?”. “Vamos lá”, respondeu. E o Flávio Rangel, que não estava sendo procurado por nada, gritou: “Eu também vou!”. [risos]. Falei, “você vai junto por quê? Não tá sendo pedido”. Aí passamos lá, ele tava com uma malinha. “Que malinha é essa aí?” E ele: “Não vamos ser preso?” “Cara, eu estou sendo chamado para prestar depoimento, então deixa a malinha aí, tá?” O lugar era lá na Vila Militar, na Zona Oeste, longe pra cacete! E eu ainda tive que pagar uma nota preta de táxi! Chegando na porta da Vila Militar eu mandei o táxi parar. E o Sérgio Cabral pra mim: “O que foi, mudou de idéia?”. “Não, mas vamos pro boteco mais próximo!”. Tomei meia garrafa de cachaça, depois voltei e me entreguei. Cheguei e pedi para falar com um oficial. “Eu sou o Jaguar, estou sendo procurado…”. “Ah, é? Prendam esse cara aí!”. E ficamos lá por mais de dois meses… Nós éramos 11, todos do Pasquim, Eu, Tarso de Castro, Ziraldo, Sérgio Cabral, Paulo Francis, Fortuna, Flávio Rangel, Luis Carlos Maciel, Ivan Lessa, Paulo Garcez, e Haroldinho (ajudante da equipe).

Eu fiquei, primeiro, preso com o Flávio Rangel, que era um gentleman. A gente só podia sair pra ir ao banheiro. E a gente tinha uma revista do Clube Militar, onde a gente lia os feitos heróicos do Exército… Os caras não entendiam nada por que a gente ria tanto. Ficava um guarda na porta, armado, do lado de fora, e a gente lá dentro das grades e ríamos pra caramba… Eu me lembro de uma “história heróica” de um cara chamado Tenente Prego, que estava lá na Guerra do Paraguai, quando caiu uma daquelas bombas, que aparecem nos quadrinhos, com um pavio aceso [risos]. Ele se jogou em cima, rapaz! Pown!!! Foi ’prego’ pra tudo que é lado! Salvou a vida dos outros e morreu! E a gente dentro da cela: “Quá! Quá! Quá! Quá!”. Os guardas do lado de fora não entendiam nada, né? Eu e o Flávio Rangel presos e tendo aqueles ataques de riso! Outra reportagem que me lembro foi do cerco do terror em Santa Catarina, na cidade de Lajes. Nessa o cara dizia o seguinte, de forma heróica: “Vou tomar Lajes na baioneta!”. Na seqüência, a própria reportagem esclarecia: “Frustrou-se o intento, pois foi o primeiro a morrer”. E a gente: “Quá, quá, quá, quá, quá!”.

Na cela não tinha banheiro, a gente tinha que pedir pra ser levado. Na primeira vez que eu fui, o cara me acompanhou com a metralhadora nas minhas costas. Fui fechar a porta e ele: “Não, não, tem que ser com a porta aberta”. “Agora passou a vontade! Eu não sei cagar com alguém me olhando”, respondi [risos].

Logo depois eu comecei a subornar uns guardinhas de lá. Eles me forneciam cachaça e eu passei a beber um litro de por dia. Eu ficava o dia inteiro lendo Guerra e Paz, aquele calhamaço do Tolstoi, que você só lê na prisão. Ficava lendo e bebendo cachaça.

Depois, jogava a garrafa vazia pela grade da cela no matagal dos fundos. Havia o Coronel Sarmento, que era muito educado, e dizia: “Os senhores são meus convidados. São meus hóspedes. Não vou julgar o que vocês fizeram”. Não sei por qual motivo, acho que ele me considerou com uma cara mais séria, me escolheu como uma espécie de interlocutor do grupo. Ele vinha falar comigo e eu assim (mostrando a mão encobrindo a boca): “Não, tá tudo bem, coronel!”. E eu escondendo o bafo de cachaça. “O que é isso aí?”, perguntava ele. “É que tô com um problema no dente…” [risos]. Depois, quando eu fui solto, fui lá atrás só pra ver. Tinha uma pirâmide enorme de garrafas… [risos].

A coisa que eu mais detestava era a visita das famílias. Eu proibi a minha família de me visitar. Aquilo era uma choradeira… O Sérgio Cabral chorava, a Magaly chorava, o futuro Governador chorava… E outra coisa: aquele sentimentalismo do Ziraldo e do Sérgio Cabral, eu sou o avesso completo. Não tenho essa coisa. Eles sim, choravam… Até resolveram fazer uma ceia de Natal! Foi muito engraçado… O Antonio’s nos mandou a ceia, um peru, que arrumamos em cima de uma mesa improvisada, feita com barris. E tinha uma televisão preto-e-branco com o programa especial de Roberto Carlos… [risos]. E os caras com metralhadora em volta, e todo mundo cantando Noite Feliz e chorando… Eu não queria viver aquilo. Queria ficar quieto, lá no meu canto…

Outra coisa muito engraçada era o Tenente Macieira, um cara que tinha todos os cursos, até de guerra na selva. Era exemplar. Ele conversava horas com a gente… E foi se interando da situação do País… A gente já tinha uma certa liberdade para andar no quartel. Ficava andando pra lá e pra cá. Eu tinha uns óculos com duas lanterninhas pra ler de noite. Me lembro que uma noite, tava meio frio, eu me enrolei num lençol pra ir ao banheiro, com aqueles óculos, e ele quase morreu de susto! Pensou que fosse um fantasma…

Eles faziam com a gente uma tortura psicológica, que era o seguinte… “Preparem os seus pertences, que vocês vão ser soltos”, diziam… A gente arrumava tudo, dava parte das nossas coisas para os outros presos, tipo abridor de lata e garrafa. Os caras pegavam a gente, dávamos uma volta de carro, e nos traziam de volta… [risos].

O Tenente Macieira acabou saindo do Exército, ficou meu amigo e abriu um restaurante em São Francisco, na Califórnia…

Inclusive, uma vez, ele salvou a vida da gente. A Polícia do Exército, ali do batalhão da Tijuca, resolveu seqüestrar a gente. Aí, sim! A gente ia se fuder, né? Os caras entraram na Vila Militar pra levar a gente na mão grande. Eles, sei lá, achavam que a gente tava levando uma vida muito mansa, e quiseram dar uma ’dura’ na gente. E o Tenente Macieira pegou a metralhadora e disse: “Se derem um passo, eu atiro!”. Só aí é que os caras foram embora. Nossa sorte era que o Tenente Macieira era um soldado mesmo, ou seja, ele atiraria pra valer. E aí os caras desistiram… E a gente: “Macieira, pelo amor de Deus! Fecha essa porta da cela a chave, e dá pra gente tomar conta. Deixa a chave com a gente aqui dentro, que é pra não ter risco de, se eles voltarem, conseguirem entrar!”. (risos) Eu, na prisão, ficava lendo Ulisses. Lia 20 páginas por dia. No dia seguinte, voltava dez páginas e retomava a leitura. Eu não tomava banho, tava sujo, imundo, parecendo um pária, e o Paulo Francis passava com o Paulo Garcez, também de cueca, com aqueles óculos de fundo de garrafa dele, com uma varinha debaixo do braço, como se fosse um oficial inglês, e um dizia pro outro com aquele sotaque britânico, olhando pra mim. “He is almost human”. [risos] Mas eles sofriam pra caralho! O Paulo Garcez, coitado, sofreu à beça. Ele foi solto logo, pois descobriam que fotógrafo não tinha nada a ver com a história. Só fotografava. Ele foi preso da maneira mais trágica. Casou, passou a lua-de-mel lá na Lagoa. No dia seguinte, desceu para comprar jornal e foi preso! E ele sequer entendia o motivo disso… Inclusive, de esquerda ele não tem nada. Pelo contrário, é um aristocrata. E o Paulo Francis também… Todo mundo no Pasquim trabalhando do lado de fora, a gente preso sem fazer nada, e ainda com pinta de herói… [risos]. Não fomos torturados, Nós não fomos torturados, a única tortura era ter de conversar com os milicos. [risos] Luis Carlos Maciel passou por uma tortura física. Ele tinha o cabelo até aqui [bate com a mão no ombro], ele era o guru dos hippies na época, tinha aquela seção “UNderground” n’O Pasquim, e aí o cara falou, “corta o cabelo desse cara”. Aí cortaram a força e todo mundo falou “vamos fazer greve de fome”, e eu falei, “eu, não”, “Eu vou furar a greve. Já tô preso, ainda vou ficar sem comer? Nem pensar.” E todo mundo ficou aliviadíssimo, porque eu era o furador de greve, entendeu? [risos]

Aí o que aconteceu? O Maciel tava revoltado. “Ô, Maciel, você quer que eu te diga uma coisa? Você ficou muito melhor de cabelo curto”. Tanto é que nunca mais deixou crescer o cabelo.

Tinha tortura psicológica. Um dia um cara falou assim: “olhe aqui, se arrumem que vocês vão ser trocados pelo embaixador que foi seqüestrado pelo Gabeira e não sei quem, e vocês vão ser trocados e vão para a Argélia daqui a duas horas”. Aí eu me levantei e disse “olhe aqui, eu só vou debaixo de porrada, tem que me matar. Porra, eu tô aqui e amanhã vou estar andando de camelo no deserto do Saara, vá para a puta que o pariu!”, virei para o lado e dormi. E foi aí que ganhei o apelido de 'o vegetal'. Mas, depois, um psiquiatra amigo meu disse o seguinte: “você, quando passa de um limite e a realidade fica intolerável demais, uma das reações é apagar.” Foi o que eu fiz. O pessoal ficou a noite toda discutindo, discutindo, e no fim era tudo guerra de nervos.

Finalmente fui solto no dia do réveillon. Perguntaram,“Quer que leve pra onde?” Eu respondi, “Quero que me leve pruma festa que eu e o Albino [Pinheiro, um dos fundadores da Banda de Ipanema] fazemos todo ano no Silvestre [que hoje, me parece, virou um cortiço], no reveillon.” Cheguei lá no reveillon uma hora da manhã. Me deram tanta bebida, que em meia hora, eu estava em estado de coma, acordei dois dias depois. [risos]

O Ziraldo, fica puto quando começo a contar essas histórias engraçadas, pois ele acha que elas estragam a nossa imagem pública. “Pô, você fica nos esculhambando, todo munda fica rindo… Parece que foi uma brincadeira!”. Não era, eu sei disso. Por exemplo, se os caras da PE da Tijuca tivessem conseguido nos pegar, eu provavelmente não estaria aqui.

BOMBAS NO PASQUIM

Em 1970, a redação d’O Pasquim sofreu dois atentados a bomba: o primeiro destruiu a fachada do prédio-sede, em Botafogo. O segundo, um explosivo muito mais potente que o primeiro foi igualmente deixado na porta do jornal, na madrugada de 12 de março daquele ano, mas falhou.

“Felizmente os terroristas foram incompetentes, e a bomba deu chabu. Segundo o perito Penteado, apertaram demais a ligação do estopim com a espoleta e o fogo não chegou até a carga de cinco quilos de dinamite. Se tivesse explodido, destruiria a casa, matando o caseiro e a família, e atingiria os prédios vizinhos, uma mortandade. Resumo da ópera: cartunista sempre foi uma profissão de risco. Nos dois sentidos da palavra.”

A ENTREVISTA DA LEILA DINIZ

As entrevistas eram fantásticas. Nossas entrevistas ficavam boas porque éramos um monte de caras de porre que íamos falar com um coitado de um entrevistado que não tinha chance de abrir a boca. Passava um aperto danado. Depois que a coisa pegou, a imprensa começou a usar essa fórmula, só que para levantar a bola do entrevistado. Aí perdeu a graça. A entrevista da Leila Diniz, por exemplo, foi um escândalo. Agora, você lendo hoje a mesma entrevista, ninguém entende a repercussão da época. Não tem mais o impacto. Hoje você vê em qualquer revistinha as atrizes dizendo onde fica o seu ponto G e coisa e tal… A atriz falava muitos palavrões ao longo do papo, mas sem a intenção de chocar. Era o jeito dela falar. Aí optamos por manter as características dela. Decidimos colocar um asterisco, entre parênteses, no lugar do palavrão. Então, a entrevista parecia uma Via Láctea.

A Leila Diniz era um mocinha considerada prostituta, né? Tanto que, quando ela morreu naquele acidente, a gente fez um movimento para a Rua Jangadeiros passar a se chamar Rua Leila Diniz. E os moradores da rua, inclusive a mãe do ex-Prefeito César Maia, que morava lá, fizeram um abaixo-assinado dizendo que não queriam morar numa rua com nome de puta!

Agora, tem umas coisas dessa época que não voltam mais, como o Barbado. Nunca houve um cachorro como o Barbado. Era um vira-lata que fazia ponto no Bar Jangadeiros. Comia filé-mignon, tudo do bom e do melhor, era guarda-costas da Leila Diniz na praia. Quando vinha algum paulista jogar uma cantada em cima dela, ela fazia um sinal para o Barbado, que entrava na água, voltava, se balançava e molhava o paulista todo… (risos). Era aplaudido… Trabalhou no Tem Banana na Banda, com a Tânia Scher, a Leila Diniz e a Maria Lúcia Dahl… Na hora certa, ele fazia a sua pontinha ali no espetáculo. Ia de ônibus pro Centro da cidade, depois voltava e coisa e tal. Era o Charles Darwin dos cachorros!

A SEÇÃO ABRE-ALAS

O Fortuna bolou um concurso chamado Abre-alas. Então todo mundo mandava cartum, aí apareceu um monte de gente, Alcy, Laerte, Glauco, Angeli, todo mundo. Aí os caras que eram bons a gente publicava. Através do Abre-alas e de envio de cartuns para a redação, o Pasquim foi criando uma nova geração: Angeli, Reinaldo, Hubert, Leonardo, Nani, Claudio Paiva, os Carusos: Chico e Paulo...

O FIM

Uma vez saiu um boato sobre o fim do pasquim. Nossa resposta foi: “Sig, o único rato com sete fôlegos, vai bem, obrigado.” E puto da vida. “Estamos falando da matéria que saiu sábado passado no suplemento Cidade do JB, que inaugurou um novo tipo de jornalismo: a matéria catástrofe.” Sig sorrindo e de braços abertos declarou: Este é o último número do Pasquim!, continuou sua fala explicando: “Antes da Nova Fase”.

Chegou uma hora que saiu todo mundo e eu continuei sozinho durante 10 anos, coisa de maluco, né? Me ferrei, fiquei igual aquele japonês que não foi avisado que a guerra acabou (risos). Até que o Pasquim foi a pique porque não tinha mais como sobreviver por falta total de recursos. Senão eu estaria fazendo o Pasquim até hoje.

O Pasquim foi uma experiência muito divertida, mas eu poderia tê-la diminuído em dez anos. Fiquei fazendo o jornal de teimoso. Me endividei. Foi um horror. Todos pularam fora e eu fiquei. O jornal perdeu a influência, a tiragem era pífia. Podia ter feito como os outros, que foram cuidar de suas vidas. Mas, não, fiquei lá, morando na redação, dormindo num colchonete debaixo da prancheta. Um maluco.

Mesmo assim, fez um sucesso retumbante e se manteve durante 22 anos, aos trancos (processos) e barrancos (prisões). Por ironia do destino, foi a pique com a abertura política (quando qualquer um podia falar mal dos milicos sem ser preso). Contrariando a tradição, o rato de bordo, o Sig, foi o único que não abandonou o navio e afundou com ele. Mesmo assim, o jornaleco atrevido durou mais que a ditadura.

(coletânea de depoimentos feitos com o Jaguar nos veículos A Tarde, ABI, Agenda Bafafá, Antologia do O Pasquim, Catálogo Henfil, Folha de São Paulo, GGN, Jornal Já, O dia, O Globo, Rede Brasil, Revista Um)

Texto reproduzido do site: bndigital bn gov br

Ziraldo > Sobre o PASQUIM





Imagens para simples ilustração - Diversas capas do jornal 'PASQUIM'

ZIRALDO

SOBRE O PASQUIM I

Olha, a gente revolucionou o estilo de entrevista no Brasil por causa disso. Porque não tinha ninguém para tirar a entrevista do gravador. Então sempre tiravam do jeito que ela saia, e eu dizia: “Quem vai editar? Sérgio Cabral?”. “Não”. "Vai assim mesmo…” E inventamos a entrevista espontânea, onde aparecia o cara que tirava a entrevista, colocava “risos”. Nunca tinha isso né, aquela coisa dos risos, dos comentários, tal. Então, o Pasquim foi feito muito dessa improvisação. As dicas que a Olga Savary inventou, que era para ela poder botar as coisinhas que ela queria lá, acabou virando um dos maiores índices de leitura do Pasquim. Também criou o estilo de jornalismo, de forma de interpretar a notícia, que mudou um pouco a história da imprensa brasileira.

SOBRE O PASQUIM II

Tem uma frase do Millôr que foi publicado no Pasquim, “Jornalismo é oposição, o resto é um armazém de secos e molhados”. E é verdade. Outra coisa é o Millôr explicando que O Pasquim reunia uma porção de gente que você não pode comprar com dinheiro.

A gente tinha, na época do Pasquim, época da ditadura, quer dizer, todo mundo silenciado, e nós todos tivemos o privilégio de não ficar calado. Quer dizer, de não engolir o que os caras queriam enfiar pela garganta da gente. E isso é muito salutar, entendeu? Então as pessoas que foram para o Pasquim, foram porque acharam um espaço para poder desenvolver a sua indignação.

SOBRE O PASQUIM III

Ter tido O Pasquim na minha vida para atravessar os chamados anos de chumbo foi um privilégio. Foi uma experiência válida e inserida no contexto, foi mesmo. Não sei se a palavra é afetou, quando você se refere às formas de criação. Afetou não é pejorativo? Estou perguntando. Não seria melhor dizer influiu? Quando você diz afetar, já vem com um preconceito. Já está me dizendo que achou que o Pasquim me fez mal. Fez não. Era o que a vida podia me oferecer para que eu a seguisse construindo naquele momento.

SOBRE O PASQUIM IV

Quando eu fui para o Pasquim, já éramos (eu, Jaguar, Paulo Francis…) bastante conhecidos.

O Pasquim já era um escrete, depois veio o Ivan Lessa, o Henfil arrebentou. O Fradim virou o maior sucesso do Pasquim. Eu pude atravessar a ditadura toda no Pasquim — em vez de ficar em casa chorando as mágoas, usamos as páginas do jornal para enfrentar a ditadura. Simultaneamente ao Pasquim, que não rendia dinheiro pra gente, fui um dos primeiros profissionais brasileiros a assinar peças publicitárias. Quando a ditadura voltou para os quartéis e o Pasquim perdeu o vigor, nos anos 1980, fiz O Menino Maluquinho. O livro fez tanto sucesso que eu virei autor para criança e sobrevivo hoje como autor para criança.

CENSURA COM O GENERAL JUAREZ , A SANTA CEIA

As observações regulares do censor eram atendidas. O humor pasquiniano era capaz de driblar quem quer que seja. Certo dia, temendo a Igreja, o General impediu que circulasse um número. Na página central havia um desenho, onde aparecia a Santa Ceia, com Jesus Cristo contando uma anedota e todos os apóstolos gargalhando.

— General, o Pasquim está pronto. Caso o senhor não deixe sair, o jornal vai acabar—argumentaram os jornalistas.

— Se vocês conseguirem uma autorização do Cardeal, eu permito — retrucou o General.

No mesmo instante, seguiram para o Palácio São Joaquim e solicitaram audiência com D. Eugênio Sales. Expuseram-lhe o assunto e dele ouviram:

— Proibir, eu não proíbo. Mas autorizar é tão grave quanto proibir.

E continuou o Cardeal, atenuando após a insistência dos redatores:

— Se o Bispo Auxiliar autorizar... Tentem convencê-lo.

Ziraldo, que conhecia o Bispo Auxiliar, D. José Alberto de Castro Pinto, conseguiu a autorização. O número foi liberado pela Censura.

CENSURA COM O GENERAL JUAREZ, OS PAULISTAS

O pai da garota de Ipanema era o nosso censor, ele era bonito, parecia o Steve McQueen, Ele nos chamava de "Meus meninos", e era censor pra agradar um general, amigo dele que pediu pra ele cuidar da censura do Pasquim.

Quando eu fiz aquele "Todo paulista que não gosta de mulher é bicha", ele deixou passar. Depois deu o maior problema, encheram o saco dele, ele me chamou assim:

– Ziraldo, a outra vez que tu criar um problema nessa merda, eu vou matar você.

– Mas o senhor liberou.

- Mas é claro, todo paulista é bicha!

CENSURA DEPOIS DO GENERAL JUAREZ

Tinha umas moças que eram censoras, faziam academia de polícia, A gente levava o material para elas no DOPS, no centro da cidade. Ficávamos lá conversando, batendo um papo, eram umas moças bonitonas e tal.

Eu disse assim: – Que empreguinho de merda que você foi arrumar, hein, Você é uma moça tão bonita, por que você não vai trabalhar como professora? Vocês não estão construindo nada, a gente faz uma obra e vocês destroem o que a gente faz.

– Ziraldo, não faz isso comigo! (chorando)

Aí eu fui pra Europa e mandei um cartão postal pro DOPS lá pra elas, com a estátua do Davi, do Michelangelo, de costas. E escrevi no cartão que não estava mandando o Davi de frente, porque elas cortariam o piru dele. Depois, quando fui levar material para censurar, elas tinham sido demovidas da função, porque estavam dando confiança para os censurados. Aí não tivemos mais nenhum contato com o censor, e logo depois passaram pra Brasília.

CENSURA EM BRASÍLIA E A RADIOATIVIDADE

A gente mandava 20 números de Pasquim pra eles devolverem um, que podia sair. A gente mandava muito "boi de piranha", né, a gente mandava pra eles cortarem.

Uma vez o censor cortou o contador Geiger:

E eu perguntei: – aí meu amigo, por que você cortou o contador Geiger, o cara na matéria tá procurando radioatividade.

E ele falou: – Ziraldo, você pensa que eu sou besta? Não entendi bem, mas que tem uma gozação aí, tem, que eu não sou besta! Isso é gozação com o general Geiser!

NA PRISÃO

‘RIO, mas é de chorar.’

– Vocês foram presos todos juntos na redação?

– Não. Cada um de nós foi apanhado em casa e levado com capuz na cabeça.

– Disseram que o fato de Jaguar ter colocado um balãozinho em D. Pedro com a frase: ‘Eu quero é mocotó’, na cópia do quadro de Pedro Américo sobre a proclamação da Independência, tinha sido a causa da prisão.

– Nada disso. Não havia uma causa determinada. Primeiro eles nos prenderam, depois foram pesquisar o jornal para encontrar uma justificativa para cada prisão. Para mim, encontraram o fato de eu ter tentado abrir os olhos do maestro Erlon Chaves (lembra dele no programa do Flávio Cavalcanti?) que acabara de ser preso por atentado ao pudor à saída de um show no Maracanãzinho.

– O que que ele tinha feito no show?

– Ele colocara algumas louras que desfilavam dançando de forma muito delicada.

– Nenhuma delas segurava o tchan?

– Que isso! Elas vinham suavemente dançando e quando passavam por ele, lhe davam um beijo na boca. No final do espetáculo, aquela coisa: capuz na cabeça e sequestro sem papo. Fiquei imaginando o Erlon, coitado, direita até a medula, apavorado por ser, logo ele, vítima de uma violência como aquela. Então fiz uma nota no PASQUIM onde dizia (mais ou menos) o seguinte: ‘Se você fosse branco, Erlon, você poderia beijar aquelas moças. Vê se deixa de ser babaca, puxa-saco dos milicos e percebe o problema, cara.’ Me acusaram de ter estimulado o racismo. Dois meses de prisão.

– Mas, ao contrário, você o estava denunciando.

– E dai? Não conhece a fábula do lobo e do cordeiro?

– Conheço. Aliás, uma das capas do PASQUIM, quando vocês estavam presos, foi feita justamente com esses personagens, o lobo bebendo água no lado mais alto do rio e o cordeiro, lá em baixo, ‘sujando’ a água que o lobo bebia.

– Exatamente. Mais grave ainda do que essa acusação maluca foi o que fizeram ao Ivan Lessa: ‘atentado à moral pública’, porque ele tinha feito uma história em quadrinhos...

– Um ‘Pasquim-Novela’?

– É. Tinha posto no cenário, ao fundo, um bar cujo nome era Porradas.

– Isso tudo ficou sem ser revelado ao público por quase 20 anos...

– Não se podia falar nada, nem da censura prévia ao jornal o público podia saber. Um mês depois da gente estar preso, um capitão do sul de Minas encontrou a frase que o Jaguar colocara no quadro do Pedro Américo. Chegou para ele: ‘Fui eu que te enquadrei, por aquela frase no quadro.’ Jaguar então virou-se para a turma toda e disse: ‘Ei, pessoal, sabe por que fui preso? Porque eu quero é mocotó.’ Aí, o Flávio Rangel, que estava ao lado do Jaguar, virou-se para o capitão e falou: ‘Como é teu nome, capitão?’, e ele, pra que você quer saber?’, e o Flávio: ‘Por que assim ao menos eu fico sabendo. A História não registra o nome dos algozes. Diz aí quem foi o algoz de Danton, de Ivan Ilich. Não sabe, não é, ninguém sabe. O teu também ninguém vai saber.’ E o capitão; ‘Para com isso Flávio.’ Ué, não tenho culpa de você estar do lado errado.’ Vá tomar no c*...’ ‘Vá você, ora...”

PRISÃO – VIOLÃO E METRALHADORA

E a noite botavam a gente pra tomar banho de lua, sentávamos lá fora, e ficamos conversando, com os caras em pé com metralhadoras, nos vigiando.

Um capitão, oficial do dia, veio bater papo com a gente e disse: – Ziraldo, a noite tá bonita, boa pra gente escutar um violão, né?

Ai eu: – Ah é até que pegava bem e tal.

– Você toca, Ziraldo?

– Eu, não!

– Você toca, né, Sérgio?

O Sérgio: – Eu não.

– Mas, Sérgio, você é o Sérgio Cabral e não toca violão!?

O capitão disse: – Mas tem um menino que toca violão sempre. Traz um violão e chama o Zezinho, lá! Manda ele vir.

Ai chegou o menino segurando uma metralhadora,

Quem segura a minha metralhadora pra mim? Ai o Sérgio Cabral falou: – Me dá! E ele deu a metralhadora pro Sérgio Cabral!

Ai o capitão disse assim: – PARA, para! Ai já é esculhambação demais!

PRISÃO - O PARENTE DO FORTUNA

No dia em que a gente foi preso, eu tive uma crise de choro: – é um pais de merda, num sei o que, buáaa! E o Sérgio Cabral também, a gente ficou chorando. Dali a pouco, chega um guarda, abre a cela e pergunta: – Quem é Reginaldo Fortuna? Todo mundo Ahhh... – Acompanhe-me! Ai nós olhando ele indo pro cadafalso, de noite, no fundo de um posto de gasolina, no batalhão de armamento (Batalhão de Conservação de Armamento - BCM). Ele foi saindo assim, olhou pra trás, eu lembro dele olhando pra trás, saiu assim o Fortuna no corredor até sumir na noite, pahahahah, fechou a cela, trancou. Lá foi o Fortuna embora.

Nós ficamos naquela preocupação, entendeu, aí, dali a pouco volta o Fortuna, trágico assim (semblante). Ai PLAH! Jogam o Fortuna no cela Clack! , fecham a cela, o guarda vai embora, o Fortuna olha e cai na gargalhada. – Porra, o que que é o Fortuna? Fortuna: – O coronel conhece a minha família, disse que eu sou um péssimo marido e que a pobre da minha mulher foi casar com um comunista. O coronel deu um esporro nele: – Você é um péssimo marido! Fortuna: – Tô preso porque sou um péssimo marido! (rindo muito).

O coronel era parente da família, ele sabia de todas as fofocas e tal.

PRISÃO - ALARMES FALSOS E TORTURA PSICOLÓGICA

Teve um dia que eles chegaram e falaram: – Vocês vão embora pra casa.

A gente deu tudo para os meninos que estavam presos com a gente, camisa, calça, cueca, remédios, tudo que a gente tinha recebido de casa. A gente ainda não tinha recebido a visita da família, mas tínhamos recebido um monte de coisa. O Canela, mandou remédios, principalmente Hetero Viofórmio e analgésicos, e o Sérgio Bitencourt (filho do Jacó do Bandolim), que a gente vivia esculhambando porque ele trabalhava no programa do Flávio Cavalcanti, mandaram um monte de coisas e um ventilador. Eles tinham acesso aos militares e foram nos visitar e levaram as coisas.

Cada um entrou num carro e ficamos rodando, rodando, e aí chegamos num outro quartel, sem roupa sem remédio e fomos presos de novo. Eu sei que quando me deixaram na vila, eu nunca tinha ido tão longe. Rodamos horas e os caras não deixavam eu ficar olhando do carro. Eu achava que iriam me jogar no mar. Aí quando eu cheguei e abriram o lugar onde eu iria ficar, até hoje eu quero desenhar esta cena, parecia um desenho impressionista alemão, era uma sala com um pé direito altíssimo, cheio de janelas dos lados e todas fazendo aqueles raios de sol, como se tivesse esfumaçado o ambiente, e aqueles raios de sol como a gente vê na floresta, e uma porção de camas com os pés altos, parecia a enfermaria de um hospital, mas vazia, e da bruma vinha um sujeito com um cuecão enorme, vinha andando em minha direção e disse: –Ti pegaram também? Era o Paulo Francis de cueca!

PRISÃO – 76 CARTAS DO ZIRALDO

Na nossa cela éramos eu, Sérgio Cabral, Maciel e Flávio Rangel. Com aquela confusão de sequestro no dia que fiquei com a chave, era um troca pra cá e pra lá e eu acabei ficando sozinho. Quando chega às 4 da manhã chega um soldado e diz: – Você vai embora pra Argélia. Eu disse: – Você está maluco!

– Você foi pedido em troca pelos sequestradores do embaixador suíço.

Me tiraram da cela e eu fui fazer exame de corpo de delito. Tiraram uma série de fotografias minha pelado pra provar que não estava machucado. Voltamos pra cela e eu pedi:

– Por favor me arruma papel e caneta, que eu vou escrever carta.

Escrevi 76 cartas me despedindo das pessoas! Tem carta até para o Miguel Paiva. As cartas ficaram depois com a Wilma, ela tem tudo isto guardado lá em casa.

Arrumei todas minhas coisas, estava lá esperando, quando chega um soldado e diz: – É alarme falso, você não vai mais pra Argélia.

– Não, agora eu quero ir, porra! Já fiz tudo...

PRISÃO – 90 DIAS POR IGNORAR O MANDANTE

Nós ficamos presos 90 dias, porque ninguém sabia quem tinha mandado prender a gente. Então o cara que podia soltar dizia: – eu não vou soltar, porque eu posso talvez magoar o coronelzinho fulano de tal. E era uma revolução sem dono, o cara não podia soltar a gente porque não sabia, porque ele podia magoar o outro!

Um dia falaram, vocês querem saber de uma coisa: podem ir embora.

Aí, já tinha passado o natal, aí mandaram todo mundo em prisão domiciliar e depois esqueceram, nunca mais foram encher o saco da gente, a gente ligava: Quando é que acaba, quando é que acaba?

– Ah, depois.

Eu fiquei preso em casa. Ai um dia eu fui lá no quartel para ver se davam um visto no meu título de eleitor. Fui falar lá com o comandante.

E eu: – Comandante.

E o comandante: – Ziraldo, você por aqui!

Ziraldo: – Claro, comandante! Matar a saudades, claro! (com jeito irônico)

Ziraldo: – E também eu vim pro senhor dar visto no meu título de eleitor, porque eu não votei, eu estava preso aqui.

E o comandante: – Mas você nunca esteve preso aqui.

Eu: – Mas senhor?

Ele disse: – Oh Ziraldo, você esteve preso aqui?

Eu falei: – É mesmo!

Ele: – Como que pode isso! Você teve preso aqui?

Eu: – É mesmo, claro que não! (muitas risadas da loucura que era)

Ele: – Vamos conversar um pouquinho...

Mas tem cada coisa, cada história, surreal!

CAMPANHA PELA ANISTIA - RETORNO DOS EXILADOS

Outra coisa sensacional do Pasquim foi a Festa dos Retornados. Nós fomos no aeroporto buscar Gregório Bezerra, Fernando Gabeira e todos. Tem essa coisa emocionante do Gregório Bezerra, uma das maiores figuras da ideologia brasileira deste século, um homem bravo, um comunista visceral... Ele foi pra Europa, depois de ser muito torturado, de ser arrastado por um jeep lá em Recife, ele foi resgatado pelo rapto dos embaixadores, quando retornou para o Brasil um cara perguntou:

– Gregório, o que você quer fazer? Quer ir para o alto do Corcovado pra ver o Rio, quer ir para o Pão de Açúcar, quer jantar numa churrascaria?

Ele falou:

– Não, eu quero ir para a redação do Pasquim!

Isto é uma das coisas mais gratificantes de nossa vida lá no jornal.

O Pasquim foi o grande jornal dos exilados. Muitas famílias assinavam o jornal para enviar para os exilados.

O Luís Carlos Prestes, que era um inocente, achava que o Pasquim era uma célula do Partido. Ele usava as charges e meus desenhos do Pasquim para fazer as capas da revista do Partido Comunista em Paris.

ZIRALDO X JAGUAR

Quando o Brizola voltou, o Pasquim estava em crise, o contador e diretor comercial um dia disse: – O Pasquim tá em perigo, estamos cheios de dívidas, e vai quebrar.

O Jaguar tomou conta do jornal um tempo, o Millôr tomou conta também um tempo e saiu do Pasquim. Aí ficou só eu e Jaguar.

E o Pasquim afundando.

Nós tínhamos uma editora, que teve uma semana em que dos dez livros mais vendidos da semana, oito eram da Codecri. Oito, oito títulos!

A turma era toda anarquista, o único que procurava analisar a situação política era eu, o Jaguar não queria saber, o Millôr era anarquista absoluto, completo, o Francis... Quer dizer, a gente era contra, mas sem vínculo com movimento político, aí quando veio a abertura, eu percebi que o negócio era entregar o Brasil pro Montoro, pro Tancredo, e pro Rio de Janeiro, o Miro Teixeira, que provou-se depois que era um dos melhores deputados que a câmara teve. O melhor deputado brasileiro era o Miro, mas naquela época ele era cria do Chagas Freitas, que era um cara fisiológico.

Mas de qualquer maneira, quem tinha preparado o Brasil pra poder receber a democracia de volta, era esse triângulo em São Paulo o Montoro, o Tancredo de Minas, o Ulisses que era aquela grande figura e o Miro no Rio. Aí o Jaguar se apaixonou pelo Brizola, desesperadamente... Sem perceber que o Brizola fez toda uma jogada com o Golbery, ele não chegou no Rio, ele entrou pela fronteira, tudo que o Golbery determinou ele fez, que o Brizola tinha a estratégia dele, e eu percebi isso, e eu não quero o Brizola como governador do Rio, eu quero que o Montoro ganhe em São Paulo, o Tancredo em Minas, e o Miro no Rio. O Montoro ganhou em São Paulo, o Tancredo ganhou em Minas, e o Miro perdeu pro Brizola, o que foi a grande desgraça do Rio de Janeiro, primeiro a transferência pra Brasília, e segundo, o Brizolismo. Duas vezes. Dizem que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas caiu duas vezes! Aquela má compreensão da política de Direitos Humanos e... Nossa Senhora... Os pactos que ele fez... Ele era muito simpático, mas ele não era nem carioca! O Miro conhecia cada cantinho do Rio de Janeiro, era um cariocaço! E o Brizola era aquela coisa, aquele sonho, aquela coisa fantástica. Eu não tenho raiva do Brizola, até acho ele uma pessoa encantadora, mas não interessava. Aí como o Pasquim estava na crise, eu falei pro Jaguar: – Jaguar, se o Miro ganhar, eu fico no Pasquim e você some, porque aí eu vou conversar com o Miro, e o Miro vai dar condições da gente pagar as dívidas do jornal e tudo mais, Aí eu salvo o jornal, assim a gente dá uma continuidade da vitória da democracia. E se você ganhar, você se resolve com o Brizola.

Aí eu apostei que o Miro ganharia, apostamos que eu comeria o Pasquim se o Miro perdesse. E o Miro perdeu, e eu tive que comer o Pasquim lá na churrascaria, o Jaguar fez um Pasquim de bolo e eu comi o Pasquim...

Mas o Brizola é aquela coisa, deixou o Jaguar na mão mesmo, aí eu fui embora pra casa cuidar da minha vida.

(coletânea de depoimentos feitos com Ziraldo nos veículos Gargalhantes Pelejas, TV Cultura, A Revolução do Humor, Humor com Gosto, Correio Braziliense, Cult, GMS, Sábados da Memória das Artes Gráficas)

Texto reproduzido do site: bndigital bn gov br