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Por Gilson Sousa
Que falta faz um bom suplemento ou caderno cultural nesta
cidade cheia de respeitáveis literatos. Há anos Aracaju deixou de contar com o
privilégio de possuir uma dessas publicações que servem de desaguadouro da
produção em prosa e versos de centenas de pessoas muito ligadas às palavras.
Sendo assim, é necessário evocar aqui todos os méritos a dois grandes
empreendedores culturais que um dia deram esta oportunidade a tantas e tantos
que burilavam na inspiração com a certeza de que poderiam expor ao leitor sua
constante produção textual. Um viva bem entusiasmado para José Abud e Célio
Nunes.
Abud, durante quase toda a década de 1980, dividiu sua
tarefa de médico com a de editor do ArteLiteratura, caderno publicado aos
domingos na extinta Gazeta de Sergipe. Era feito de forma artesanal, mas
recheado de poemas, contos, ilustrações, ensaios e outros textos que deliciavam
os leitores assíduos do suplemento. Naquelas páginas em preto e branco, nomes
desconhecidos do público e outros já consagrados na literatura local desfilavam
sua arte. A publicação, que nem de longe se preocupava com a questão comercial,
era exclusivamente dedicada à literatura local.
Pelas centenas de edições do ArteLiteratura passaram nomes
como
Jaime Norberto da Silva, Mauricio Santos Oliveira, Dílson
Ramos, Araripe Coutinho, José Carlos Torres, Jonas Santana Filho, Roberto
Mozart, Núbia Marques, Ofenísia Freire, Antônio Alvino Argollo, Aderbal Bastos
Barroso, Eugênia Freire, Emmanuel Franco, Eunaldo Costa, Sônia Barreto, Santo
Souza, Nairson Marinho Souza, Rosivaldo Nascimento, Lídia Dantas, Jeová Santana
e até eu próprio, quando comecei a revelar ao mundo alguns poemas de iniciante.
Outros tantos nomes, devidamente tratados com respeito por José Abud, figuravam
com freqüência no jornal que deixou de existir ainda no final de 1988.
Em novembro de 1990 uma atitude corajosa do jornalista Célio
Nunes, então diretor geral do extinto Jornal da Manhã, hoje Correio de Sergipe,
trouxe de volta a alegria dos literatos até então de luto. Naquele mês foi publicado
o primeiro número do suplemento cultural Arte & Palavra. Muito mais que uma
preciosidade, aquilo era uma necessidade sem dimensão para os poetas, contistas
e demais escritores que habitavam em Sergipe. E já na primeira página os
editores davam o recado: “A nossa tentativa não deixa de ser audaciosa e
arriscada, sobretudo por estarmos numa terra onde, em termos culturais, mesmo
se plantando, nem sempre dá. Que o tempo não nos seja breve”.
Recado dado, o suplemento seguiu adiante. O primeiro Conselho
Editorial foi formado pelo professor e contista Antônio Carlos Viana na
presidência, tendo ainda Jeová Santana, Ana Valença, Paulo Afonso Cardoso, o
próprio Célio Nunes, contista de mão cheia, e este jovem escriba no papel de
aprendiz. O Arte & Palavra não tinha a pretensão de substituir o
ArteLiteratura de José Abud, mas sim oferecer aos escritores daqui e até de
fora do Estado um espaço privilegiado para divulgação de sua obra escrita.
Textos de Iara Vieira, Jackson da Silva Lima, Wilton James,
Gizelda Morais, Juraci Costa de Santana, Luiz Eduardo Menezes de Oliveira,
Djanira Pio, Paulo Fernando Teles de Morais, Luiz Antônio Barreto, Ilma Fontes,
Manoel Cardoso, Hunald de Alencar, Antônio Passos de Souza, Léo Mittaraquis,
Jane Ribeiro Lisboa, eram vistos com freqüência no jornal. Além destes, os
acadêmicos Sonia Maria Machado, Antônio Ponciano Bezerra, Francisco José Alves
dos Santos, Simone Menezes Costa de Santana, Maria Matilde dos Santos, entre
outros, publicavam seus ensaios literários nas páginas do Arte & Palavra
que também republicava textos clássicos da literatura sergipana de Tobias
Barreto, Silvio Romero e outros.
Este suplemento resistiu por pouco mais de dois anos. Aliás,
é bom frisar que a resistência era mesmo de Célio Nunes, que à época enfrentava
a ganância absurda da família de João Alves Filho, proprietária do jornal, pela
obtenção de lucros com o caderno. “Os dividendos são culturais”, respondia
sempre o velho Célio, para desespero de dona Maria do Carmo, responsável direta
pela morte do espaço. Daí então, caro leitor, resta-me confessar a saudade de
tais publicações e tirar mais uma vez o chapéu para figuras imprescindíveis
como José Abud e Célio Nunes.
PS: Texto originalmente publicado no Jornal "Folha da Praia".
Texto e foto reproduzidos do Blog: gilsonsousaaracaju.blogspot.com.br
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