quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Kátia Santana

Foto: Reproduzida do Portal Infonet

Kátia Santana, a menina que Deus nunca perdeu de vista
Por Osmário Santos/Jornal da Cidade (19.08.2012).

Jornalista por vocação, ela se desafiou e ocupa posição de destaque na comunicação de Sergipe.
Inquietude e ousadia são palavras que definem bem a personalidade de Katia Santana. Apesar da relativa pouca idade, a filha de seu Dedé (José Bispo) e de dona Maria de Lourdes, tem muita história para contar. E não são histórias de contos de fadas e de vida tranquila. Ela nasceu no bairro Novo Paraíso e aos três anos foi com a família para o São Conrado.

 Por lá viveu toda a infância, adolescência e boa parte da fase adulta. Aos seis, sete anos de idade, perambulava pelas ruas do bairro vendendo mugunzá, arroz-doce e mingau de puba, feitos no fogão à lenha, pela mãe, madrugada à dentro. Os trocados que ganhava, juntavam-se aos adquiridos pelo irmão Moisés, que vendia picolé na redondeza, e aos do pai, que era pedreiro, para sustentar os 11 irmãos.

 A vida escolar começou aos sete anos na escola Poeta Garcia Rosa, no Conjunto Médici. Das professoras tem poucas lembranças. Recorda que a primeira delas, responsável pela sua alfabetização, foi Maria de Fátima. Passou pelos cuidados de outras mestras que contribuíram decisivamente para a sua educação como dona Dolores e Gilza. “Todas foram verdadeiras educadoras”, lembra a menina pobre e de sonhos pouco definidos, até então.

 Tímida e extremamente carente sob todos os aspectos, ela continuava conciliando trabalho e escola. Saía do colégio ao meio dia e voltava, a pé pelo Distrito Industrial, até o São Conrado. Horas depois, já estava no chafariz buscando água para abastecer a casa. Junto com o irmão, ganhava dinheiro “vendendo” água para várias famílias do bairro que não podiam e/ou não gostavam de enfrentar as longas e desgastantes filas do chafariz.

 Ao encerrar a quarta-série, na época, foi matriculada no colégio General Garrastazu Médici. Sempre inquieta, alfabetizou crianças da comunidade, vendeu frutas e trabalhou como doméstica. Aos 14 anos já trabalhava no antigo mercado vendendo sapatos de domingo a domingo, na barraca de Naninha. À noite, corria para a escola e, sempre que tinha a oportunidade, fazia um teste ali e outro acolá, na expectativa de encontrar um trabalho melhor.

 Nesse período, os pais se separaram e as dificuldades financeiras se avolumaram, uma vez que ele decidiu não ajudar em nada. Com isso, ela assumiu a “paternidade” dos irmãos e criou, em si, o compromisso de não lhes deixar faltar nada. Por vezes, trocou o vale-transporte por leite e pão na mercearia do bairro. “É importante ressaltar que não tenho rancor e nem dores. Sinceramente, penso que tudo o que vi e vivi foi decisivo para que eu quisesse ser alguém na vida”, adianta. 
   
 Por ser menor de idade, era mais difícil alguém dar emprego, mas nada lhe intimidava. Pedia oportunidade de trabalho a todos que conhecia. Entre uma história e outra, ela diz que a vida nunca lhe abriu um largo sorriso, mas não tem dúvida de que Deus sempre lhe olhou de forma atenta e lhe permitiu viver situações gritantes para, de tudo e em tudo, sair fortalecida e honrada. Aos pouco mais de 15 anos, foi trabalhar num consultório dentário, tendo como patrão o endodontista Paulo Seabra.

 “Quem conseguiu essa vaga pra mim foi Bira, uma figura que conheci do nada e que se tornou um grande amigo. Com doutor Paulo aprendi muito. Um homem íntegro, generoso, ético e que contribuiu de maneira decisiva para o meu crescimento. Na época, pagava-me bem e era com esse dinheiro que eu garantia o sustento de casa e ainda comprova peças de linho para que todos tivessem roupas novas no natal. A minha, não importava, mas as dos meninos, sim”.

 Focada, ainda na adolescência, passou a nutrir o sonho de ser jornalista. “Confesso que nem sei por que eu queria ser jornalista. Na minha casa não tinha televisão e eu não lia nada. Só vim ter acesso e oportunidade de ler, já adulta”, conta. O sonho era atravancado pela falta de dinheiro. É que na época, só a Faculdade Tiradentes oferecia o curso de Comunicação. Sem perspectiva de torná-lo realidade, pensou em ser professora e até fez pedagógico no colégio estadual José Antônio da Costa Melo. Lá usufruiu das aulas dos professores Walter Ribeiro, Walter Marcena, Zenilde Pinto e tantos outros. O sonho de ser jornalista, porém, continuava cada dia mais vivo, mas sufocado pela falta de grana para fazer a matrícula e manter as mensalidades.

 Após encerrar o pedagógico, preparou-se, estudando em casa, para o vestibular. Reservou o valor da taxa e foi fazer a inscrição. Fez a prova, foi aprovada no processo e com o salário do consultório passou a pagar, também, a faculdade. “Na época, doutor Paulo me pagava salário, mais comissões. Dava uma grana legal”, conta. Mesmo assim, em virtude das demandas familiares, às vezes, faltava-lhe dinheiro para pagar a passagem do ônibus.

 “Em vários momentos, eu usava o vale-transporte que doutor Paulo me dava para comprar leite ou qualquer outra coisa que faltava em casa para o sustento dos meninos. Por conta desse desfalque, saia da faculdade às 22 horas, na Rua Lagarto, e ia até o São Conrado a pés”, lembrando, brincando que, apesar de assustada, sempre chegava sã e salva. “Ufa”!

 Para Kátia, as dificuldades lhe tornaram mais forte e provocava muitas inquietações. Foi por conta delas que cuidou de, praticamente, todos os irmãos com o zelo de uma mãe, sempre os aperreando para que não se envolvessem com drogas, com prostituição, com más companhias “Sentia-me na obrigação de conduzi-los e orientá-los para a vida. Eu tinha que ter pulso forte, ser resistente e desafiar os desafios que a vida me impunha a cada dia”, diz. Apesar desse compromisso “imposto”, ela não tem mágoas do pai e vê a mãe como uma fortaleza. “Minha mãe é um figura enérgica, do bem”.

 Antes de se formar em jornalismo pediu demissão do consultório, onde ficou por quase dez anos e foi se aventurar na área. O primeiro emprego foi como estagiária da TV Aperipê, quando a emissora passava por sérias dificuldades. Apesar do sucateamento, foi lá que ela aprendeu lições importantes dos mestres Cleomar Brandi (in memorian), e Luciano Correia. De quebra, ainda contava com os ensinamentos do radialista Fernando Pereira, que com toda a boa vontade a recebia na Rádio Cultura para passar orientações valiosas.

 De lá para cá, como prova de que Deus nunca lhe perdeu de vista, vieram os destaques e a reconhecida conquista de espaço no campo jornalístico. Trabalhou no extinto Diário de Aracaju ao lado veteranos colegas ilustre como Euler Ferreira e Gilvan Manoel. “Eles me deram oportunidade e me ensinaram muito do que sei”, reconhece. Entre uma coisa e outra, foi assessora da Câmara Municipal de Aracaju, correspondente da Agência Reuters e repórter especial da Agência Nordeste.

 Idealizou, produziu e apresentou programas de televisão, como o Café com Política, na TV Atalaia/Record e mantém o blog www.katiasantana.com.br. Em 2001, lançou o livro Ecos da Política, e há aproximados 16 anos integra a equipe de Política do Jornal da Cidade, de cuja página foi editora. Ás quartas-feiras escreve a coluna Toda Quarta.  “Foi um casamento perfeito. Amo o que faço. Saio de casa todos os dias, para longas jornadas, feliz, comemorando. Celebro a vida e o trabalho. Divirto-me com o que faço e ainda sou bem remunerada por isso”, brinca. 

 Depois de estabelecida e todo mundo encaminhado, foi cuidar de si. Especializou-se em assessoria de imprensa, e é mestranda na linha de Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Sergipe sob a orientação do professor-doutor Antônio Ponciano Bezerra. Em dezembro passado se casou com o analista de sistema, Harley Pedrosa. Reservada, Katia tem a família como o seu porto seguro, os amigos como indispensáveis, e Deus como a sua rocha e socorro sempre presente. De gestos e vida simples, ela se considera uma privilegiada e garante que da vida não há o que reclamar.

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