sexta-feira, 25 de abril de 2014

Marisângela Dias perpetua arte de vender jornais nas ruas...

 Marisângela vende o jornal "Correio do Estado" na mesma rua há 25 anos.


Fotos: Marihtê Lopes.

Marisângela Dias perpetua arte de vender jornais nas ruas de Campo Grande há 25 anos.
Por Marithê Lopes.

Houve um tempo em que era comum ouvir na rua meninos gritando “Extra, extra!” e seguirem com a manchete a plenos pulmões para incentivar leitores a comprarem o jornal do dia. Atualmente, imaginar a venda de jornais fora das bancas e sem a distribuição gratuita parece uma realidade muito distante. No entanto, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, há 25 anos, clientes fiéis compram de Marisângela Dias Lenos, 59, exemplares do jornal Correio do Estado.

É ali, na rua Júlio de Castilhos, que ela vende diariamente exatos 49 exemplares de jornal. Na verdade, são 50. Um deles é separado para que ela mesma possa ler. “De nada adianta eu só vender, tenho que saber o que está acontecendo para poder saber conversar e discutir com as pessoas. Eu leio. Tem que ler. Sempre tive o hábito da leitura. Eu falo com todo mundo, do mendigo ao dono do posto de combustível. É importante saber se comunicar com todos os tipos de pessoas. Eu vendo jornal para médicos, advogados, políticos e tantas outras pessoas. Gosto de trocar ideias, aprendo com eles por vender notícias”.

Embora sejam as notícias boas que a deixem mais feliz e, segundo ela, ajudam a vender o jornal mais rápido, as notícias mais quentes também são bem-vindas. “Fico satisfeita quando acontece uma bomba de verdade. Muita gente faz questão de comprar o jornal para saber o que aconteceu”.

A rotina de quem vive de vender jornal não é nada fácil. É ainda comecinho da madrugada quando a jornaleira se despede dos lençóis para começar o dia. Na casa de Marisângela, que nasceu em Corumbá (MS), o despertador toca às 2h40. “Pulo cedo da cama, preparo meu café, me arrumo e vou buscar os jornais na sede para poder vender”.

Às 4h30 ela chega ao local de todos os dias, sempre acompanhada de sua garrafa de café e, claro, de seus 50 exemplares. Faça chuva ou faça sol, Marisângela não faz corpo mole. “Ficar quase cinco horas debaixo do sol é difícil, eu sofro com o calor. Prefiro quando o clima está frio. Basta eu me encher de casacos, calças e pronto. Fico aquecida pra trabalhar. Com o clima quente, me canso muito mais”. Vender jornais já foi mais rentável. Quando começou o trabalho, em 1989, Marisângela conta que vendia cerca de 500 exemplares diariamente e contava com a ajuda de duas assistentes. Ela credita à internet a queda nas vendas. “A venda caiu demais, hoje eu mexo com reciclagem de latinha, porque os jornais não estão dando mais nada.

Naquela época não tinham as notícias na internet”. Nos idos dos anos 1990, a vendedora chegava a faturar cerca de R$ 4 mil por mês exclusivamente com jornais na rua. Hoje, essa renda não passa de R$ 1,3 mil em um mesmo período. Mas, ela não reclama. Acostumou-se à rotina e acredita que muito do que conquistou na vida veio deste trabalho. “No começo, eu tinha vergonha de fazer o que eu faço, mas coloquei na cabeça que é um trabalho digno e honesto e nunca desisti”.

A persistência, de fato, rendeu frutos. No início, ela não possuía meio de transporte. Como era mais nova, tinha disposição para andar a pé. Com o tempo, comprou uma bicicleta e, em seguida, uma Parati antiga que tem até hoje. Marisângela também construiu uma casa. “É bom olhar para trás e comparar como eu vivia e como eu vivo hoje. Não sou rica, porém o que eu ganho é o suficiente pra viver”.

A veia leitora também fala alto quando a vendedora analisa o futuro da profissão. Para ela, o jornal impresso está com os dias contados, sobretudo porque muita gente prefere se informar via internet. “Não vejo mais futuro no jornal impresso. A internet chegou e as pessoas passaram a procurar notícias por lá. São poucos os que mantêm o hábito de ler o impresso”, explica.

O relógio marca 8h. Os 49 exemplares estão todos vendidos e o de Marisângela separado. Ela, que cumpriu a tarefa e a meta da venda de jornais, recolhe o banquinho no qual apoia a edição do dia. Mexe no bolso e, orgulhosa, ouve o barulho das moedas, e parte para a próxima missão: sair atrás das latinhas para reciclagem. Logo mais, ela retorna ao seu posto, afinal, a notícia não pode parar.

Fotos e texto reproduzidos do site: portalimprensa.com.br/revista_imprensa

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