Ivan Valença, outro decano, que além de tudo é exímio
crítico de cinema...
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 10/05/2008.
A epopéia dos 200 anos de Imprensa (V)
À memória de Arivaldo Fontes.
Por Luíz Antônio Barreto.
A função cultural dos jornais não pode ser medida apenas
pela força comercial da circulação de cada uma das folhas noticiosas, editadas
duas ou três vezes por semana, até tornarem-se diárias, cumprindo um processo
comum à imprensa brasileira. Há um acervo de pequenos jornais estudantis,
engajados ideologicamente, tanto sob o ponto de vista político, como sob a
ótica cultural, que pode ser acoplado à história, alargando o Catálogo do
venerando Armindo Guaraná, de 1908, o complemento feito por Clodomir Silva no
seu monumental Álbum de Sergipe, de 1920, e, ainda, pelas notas de Gonçalo
Rollemberg Leite e de Magalhães Carneiro, que registram, ainda que sem
detalhes, o surgimento de novos jornais sergipanos, elevando para quase três
centenas o número deles, desde que circulou o primeiro de todos, em 1832.
A imprensa
tem sido a mais sensível das instituições da sociedade, pelo envolvimento com
causas abraçadas ao estímulo do momento, como se ela tivesse a responsabilidade
ética de monitorar a história. E tem, na prática, ainda que muitas vezes
prefira servir a poucos, em detrimento do interesse de muitos. Cada jornal, com
seu perfil, permite avaliar o grau de participação no debate público, abrindo
espaço para demandas que provém das comunidades, ou dos grupos organizados, ou
pautando temas que ganham a atenção do leitorado, e ainda correm soltos na
oralidade, com a força das opiniões, muitas vezes apaixonadas, como se viu,
recentemente, em São Paulo, quando a notícia da morte de uma criança comoveu a
população, agitando manifestações de rua, cobrando justiça.
Os jornais
sergipanos guardam, invariavelmente, um repertório esclarecido de colaborações,
assinadas ou não, de grande valor estético, que não fica a dever nada quando
comparado com a imprensa do eixo dominante do centro, notadamente o Rio de
Janeiro e São Paulo, nem mesmo ao gigantesco Diário de Pernambuco, que desde
1826 faz do Recife uma “cabocla civilizada”, para usar palavras de Tobias
Barreto, sergipano genial pernambucanizado de 1862 a 1889, freqüentador assíduo
das páginas dos jornais recifenses, e ele próprio editor de pequenas folhas,
como Um sinal dos tempos, O Desabuso, Contra a hipocrisia, O Martelo, O
Escadense, dentre outras, de circulação restrita, para escapar dos rigores da
lei que regulava a imprensa, e sem faltar um pequeno periódico em língua alemã
– Deutscher Kaempfer, editado pela primeira vez em 2 de agosto de 1875.
Para
exemplificar todo o século XIX se pode tomar o Correio Sergipense, de 1838 a
1866, nas fases de São Cristóvão, de 1838 a 1855, e na de Aracaju, de 1855 a
1866, quando deixou de circular. Além de marcar a história da imprensa como
divulgador do noticiário público, oficial, do Governo e da Assembléia, o
Correio Sergipense era produzido na Tipografia Provincial, criada para este
fim,em 1838, causando surpresa ao Imperador Pedro II que não sabia que os jornalistas
eram pagos com dinheiro público. Evidentemente que existem outros jornais e
muito bons jornalistas e colaboradores em jornais editados no século XIX, tanto
no interior, como é o caso dos republicanos de Laranjeiras, como na capital,
onde penas brilhantes surgiram e alimentaram o hábito saudável e fundamental da
leitura e trataram de questões essenciais, fundantes de uma nova sociedade. É
depois da República, contudo, que cresce o número de articulistas, fazendo e
deixando nomes e perfis, com os quais será possível escrever uma boa história
da imprensa em Sergipe. Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles,
Clodomir Silva, Ávila Lima, Gumercindo Bessa, Artur Fortes, Carvalho Lima
Júnior, Ítala de Oliveira, João Passos Cabral, Omer Mont´Alegre, Mário Cabral,
Paulo Costa, José Maria Fontes, Carlos Garcia, Nunes Mendonça, Orlando Dantas,
desembocando numa geração mais nova, atualizada, que tem sabido manter em alta
a cotação do texto jornalístico, ornado pelo talento e erudição, como Luiz
Eduardo Costa, neto e filho de jornalista (Costa filho e Paulo Costa), Ivan
Valença, outro decano, que além de tudo é exímio crítico de cinema, Célio
Nunes, que é também ficcionista, Ezequiel Monteiro, que voltou, há pouco tempo,
a ocupar, com a velha empolgação dos tempos da Gazeta de Sergipe e do
Suplemento do Jornal do Brasil, uma parte do Jornal da Cidade, onde Marcos
Cardoso pontifica, e onde Clóvis Barbosa de Melo revela um eloqüente discurso
semanal. Jorge Carvalho, Luciano Correia, Diógenes Brayner, Gilvam Manoel,
Jozailto Lima, são vultos estrelares no jornalismo sergipano, que mantém a
tradição de inteligência da colaboração midiática. E estão aí, nas redações, os
novíssimos, e um deles chama a atenção pelo texto traçado como um ponto de
bordado, trabalhado na linguagem como uma jóia de ourives, que assina Rian
Santos.
Foram
muitos, também, os jornais estudantis, do Ateneu, do Tobias Barreto, do Jackson
de Figueiredo, da Escola de Comércio Conselheiro Orlando, que revelaram figuras
como Joel Silveira, Armindo Pereira, Paulo Carvalho-Neto, e Arivaldo Fontes,
falecido há poucos dias, no Rio de Janeiro, depois de construir uma rica
biografia de militar, professor e escritor, sempre ligado, pela intimidade, com
Sergipe e sabia, como poucos, acompanhar a vida intelectual sergipana. Os
jornais estudantis, desde os tempos de Péricles Muniz Barreto e do Século XX,
fizeram furor e deixaram uma lição pedagógica, que é um legado a ser tomado
exemplarmente pelas gerações atuais que estão nas salas de aulas. De certo modo
professores e alunos souberam, por muitas décadas, contribuir com a cultura
nesta pequena terra de homens ilustres. (continua).
Texto reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário