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Imprensa (escrita) No Nordeste
Regina Coeli Vieira Machado
Servidora da Fundação Joaquim Nabuco
pesquisaescolar@fundaj.gov.br
A imprensa é o meio de comunicação de massa constituído por
publicações periódicas (jornais e revistas), que divulgam informações,
comentários e imagens gráficas referentes aos fatos sociais, econômicos e políticos do País, e do mundo, que sejam de
interesse para a sociedade.
O aparecimento da imprensa se deu na antiguidade como
instrumento elementar de comunicação imediata e simbólica gravada em pedra,
madeira, metal, barro, símbolos pitográficos e paleográficos, com a finalidade
de resguardar a história da época e transmiti-la às gerações futuras.
Na Idade Média, o livro era manuscrito, copiado pelos
monges, composto em folhas de pergaminho e de papiro enroladas em forma de cilindro.
Nesta época, se desenvolveram também a xilografia, que se constitui na
reprodução de textos originais em chapas de madeiras, e as atas urbanas, que
eram noticiários vulgares, afixados nas ruas e nas praças públicas.
Em decorrência da falta do pergaminho e do papiro, as
notícias passaram a ser transmitidas de boca a boca, através das poesias
palacianas, dos jograis, das cantigas de escárnio e maldizer, recitadas aos
reis, príncipes e damas, surgindo posteriormente os panfletos, precursores da
imprensa moderna.
No ano de 1400, o alemão Johannes Gensfleish Gutemberg, que
morava em Mogúncia, na Alemanha, produziu os primeiros tipos metálicos móveis,
que deram origem à imprensa.
O ciclo da imprensa moderna espalhou-se por todo o
continente europeu e americano, difundiu-se entre grandes centros
universitários e comerciais através de artigos científicos, crônica política e literária
e dos periódicos.
O Brasil, no entanto, foi um dos últimos paises a usufruir
de um dos maiores inventos da história
do mundo, a imprensa. Este atraso foi em
decorrência da política intencional da Corte Portuguesa, que segundo a
legislação vigente, declarava que: o Brasil, por se encontrar subordinado ao
governo português, tinha que ser um mero produtor daquilo que fosse conveniente
e rendoso a Portugal.
Mesmo sem autorização da Corte, houve várias tentativas para
a implantação da imprensa no Brasil. A primeira foi durante o governo de
Maurício de Nassau, mas falhou em virtude das constantes rebeliões e guerras
internas que ocasionaram a expulsão dos holandeses em 1645.
A segunda tentativa foi em 1746, pelo tipógrafo português,
Antonio Isidoro da Fonseca, que instalou uma tipografia no Rio de Janeiro.
Porém, após produzir alguns impressos, a Corte Portuguesa ordenou a destruição da tipografia.
Em 1808, D. João VI autorizou, através de decreto, a
instalação dos primeiros prelos no Rio de Janeiro, trazidos de Portugal, dando
origem à Imprensa Régia do Brasil, que atualmente é o Departamento da Imprensa
Nacional.
No dia 10 de setembro de 1808, foi impresso o primeiro
semanário, A Gazeta do Rio de Janeiro que publicava, exclusivamente,
documentários oficiais e informações da família real.
Em 1º de junho de 1821, foi lançado o Diário do Rio de
Janeiro, o primeiro jornal informativo a circular por todo o País, com notícias
de crimes, demandas, movimentos de navios, venda, leilões e fuga de escravos.
Durante o período da Monarquia, o Nordeste brasileiro viveu
sob intensa movimentação popular contrária à administração da Coroa, e a
imprensa se sobressaiu através dos noticiários divulgados pelos periódicos, que
serviram de alicerce para grandes acontecimentos da História do Brasil.
De Pernambuco, na época a capitania mais desenvolvida,
saíram as tipografias para a província do Ceará, da Paraíba, de Alagoas, do Rio
Grande do Norte e de Sergipe.
Por ocasião da Revolução Pernambucana de 1817, foi lançado o
primeiro impresso intitulado O Preciso, que, de autoria duvidosa – José Luis de Mendonça ou Antonio Carlos
Ribeiro de Andrada – divulgava os últimos acontecimentos referentes à
conspiração para a Revolução. A apreensão deste panfleto sufocou a Revolução e
resultou na destruição da tipografia.
Em 1820, o então governador da província, Luis do Rego
Barreto autorizou a instalação da Officina do Trem de Pernambuco, que publicou
o primeiro jornal da Província, Aurora Pernambucana, editado de março a
setembro de 1821. O periódico tinha como objetivo conter o ânimo dos
pernambucanos com seus ideais de independência contra as decisões da Coroa
Portuguesa. Diante dos constantes conflitos e rebeliões, fechou-se a Officina
do Trem de Pernambuco que, no entanto, foi reaberta, no mesmo ano, por ordem do
presidente da junta governativa, Gervásio Pires, com o nome Officina do Trem
Nacional de Pernambuco. A Officina publicou inúmeros panfletos de proclamações,
manifestos e os periódicos Relator Verdadeiros – espécie de órgão oficial da
junta governista, que publicava notícias do governo – e oSegarrega, editado
entre dezembro de 1821 e outubro de
1823, redigido pelo português Filipe
Mena Calado da Fonseca que, no início,
noticiava ações sobre os ideais
republicanos, defendendo a liberdade política, passando depois a se opor
à corrente republicana.
Em abril de 1823, no Recife, o médico baiano Cipriano José
Barata de Almeida, uma das figuras mais corajosas e combativas do jornalismo
brasileiro, estreou como jornalista na Gazeta Pernambucana e publicou a
Sentinela da Liberdade. Foi preso em novembro do mesmo ano, mas continuou a
publicar o seu jornal com o nome Sentinela da Liberdade na Guarita de
Pernambuco, Atacada e Presa na Fortaleza do Brum por Ordem da Força Armada
Reunida. Em 1836, publicou sua última Sentinela. Em seguida, abandonou a
política e o jornalismo.
Em 1823, o pernambucano Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo,
Frei Caneca, editou o Typhis Pernambucano, defendendo a liberdade de imprensa,
condenando a escravidão, alertando contra o perigo da dissolução da
Constituinte, e das forças armadas do domínio português. Em 13 de janeiro de
1825, após a derrota da Confederação do Equador Frei Caneca foi fuzilado em
pleno centro do Recife.
Durante a Confederação do Equador, a província do Ceará foi
a que mais contribuiu na mobilização política pela independência do Brasil.
Recebeu o primeiro prelo em 1824, enviado pelo então governador de Pernambuco,
Manoel de Carvalho Paes de Andrade, criando a Typographia Nacional do Ceará,
que imprimiu o primeiro jornal cearense Diário do Governo do Ceará, editado
pelo padre Inácio Gonçalo de Albuquerque
Mororó.
Em 1825, foi fundado no Recife o Diario de Pernambuco, o
mais antigo jornal em circulação da América Latina e em 1919, o Jornal do
Commercio.
A província da Paraíba, vinculada a Pernambuco até 1799,
teve participação ativa em todos os movimentos revolucionários, inclusive na
Confederação do Equador, mas somente em
1826, contou com a sua primeira
tipografia enviada do Recife, que recebeu o nome de Typographia Nacional da
Parahiba, editando seu primeiro
periódico, A Gazeta da Parahiba do
Norte.
Como se já não bastasse o atraso no desenvolvimento
provocado intencionalmente pela Corte Portuguesa ao Brasil, a província de Rio
Grande do Norte, que esteve vinculada à administração de Pernambuco por muito
tempo, teve que passar mais 10 anos sem imprensa, em represália aos manifestos
contrários à Confederação do Equador.
Somente em 1832, foi autorizada a instalação da Typografia Natalense, que
editou o Natalense, o primeiro periódico de grande influência política.
A província de Sergipe foi a mais prejudicada pelo atraso
sociocultural e econômico do Brasil. Teve seu primeiro jornal impresso em 1832,
O Recompilador Sergipano, editado por Monsenhor Antonio Fernandes da Silveira
e, em 1834, o Noticiador Sergipense, que publicava atos oficiais. A partir de
1851, com o apoio dos sergipanos Tobias Barreto e Silvio Romero, Sergipe começa
a produzir inúmeros jornais e revistas literárias, passando a ocupar lugar de
destaque na sociedade de literatos
brasileira.
Apesar da repressão e da intensa confluência política,
suspensões, proibições, prisões e mortes durante o Primeiro Reinado, a imprensa
informal do tipo panfletagem, semanários, jornais, se desenvolvera baseada numa
linguagem violenta, atitudes ousadas e desafiadoras contra
a opressão e as distorções políticas
da época, e se expandiram por
todo o País, como uma ferramenta de
conscientização de massa em favor das mobilizações sociais, das lutas políticas e questões sociais da época como a
Independência, a Confederação do Equador, a Abolição da Escravatura, o desgaste
da Monarquia, a Proclamação da
República, e outros movimentos históricos brasileiros.
Em decorrência do surgimento das grandes cadeias
jornalísticas, diários associados e da contribuição de jornalistas
célebres como o paraibano natural de
Umbuzeiro, Francisco de Assis Chateaubriand, do pernambucano de Caruaru,
Belarmino Maria Austregésilo Augusto de Ataíde,
e muitos outros, a imprensa brasileira no período pós-República, teve um
grande avanço cultural. Industrializou-se, o noticiário diversificou-se, deixou
de ser exclusivamente político e passou a ser um jornalismo profissional.
Recife, 29 de junho de 2004.
(Atualizado em 18 de agosto de 2009).
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FONTES CONSULTADAS:
HISTÓRIA da tipografia no Brasil. São Paulo: Museu de Arte
de São Paulo, 1979. 227 p.
RIZZINI, Carlos. O jornalismo antes da tipografia. São
Paulo: Comp. Ed. Nacional, 1968.
______. O livro, o
jornal e a tipografia no Brasil 1500-1822: com um breve estudo geral sobre a informação.
São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1988. 445 p.
SILVA, Leonardo Dantas. A Imprensa e a Abolição. Recife:
FUNDAJ. Ed. Massangana, 1988. 184 p.
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Fonte: MACHADO, Regina Coeli Vieira. Imprensa (escrita) no
Nordeste. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível
em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acesso em: 26/08/2015.
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