Publicado originalmente no Blog do Brunet, em 3 de agosto de
2014.
Ancelmo Gois: o menino de Sergipe que virou o maior
colunista do país.
Vou publicar aqui (e com certa frequência) textos sobre
jornalistas e suas boas histórias. A estreia será com Ancelmo Gois, o colunista
do GLOBO, com quem trabalho há uns três anos. Minha ideia inicial era apenas
registrar uma história, um grande caso, uma grande cobertura. Mas não deu.
No vídeo abaixo, Ancelmo conta um pouco da trajetória dele
no jornalismo, fala sobre o sonho de mudar o mundo, da revelação que fez no
“Informe JB” sobre PC Farias e de seu primeiro dia no Jornal do Brasil. Vale a
pena assistir.
Sergipano de Frei Paulo, Ancelmo, de 65 anos, começou a
trabalhar aos 15 anos na “Gazeta de Sergipe”. Sua primeira função foi arquivar
fotos. Entre uma tarefa e outra, corria para ouvir os jornalistas conversando
sobre os problemas da cidade. O menino logo se interessou pelos assuntos,
principalmente os que envolviam política. A transição do arquivo para a
reportagem foi natural, como era antigamente.
Antes mesmo de completar 18 anos, Ancelmo já escrevia a
coluna “Reclamações do povo”, que publicava pequenas queixas da população. O
trabalho dele era selecionar e reproduzir as cartas enviadas pelos leitores.
Como já apresentava talento, o jovem sergipano migrou para a reportagem, e a
pequena estrutura da “Gazeta de Sergipe” abriu espaço para que ele fosse
testado em outras áreas. Chegou, inclusive, a fazer crítica de cinema.
Em dezembro de 1968, logo após o AI-5, Ancelmo, que
participava da luta contra a ditadura, acabou preso e passou o réveillon de
1969 atrás das grades. Quando deixou a cadeia, já não tinha mais o seu emprego
na “Gazeta de Sergipe”. Clandestinamente e com apoio do Partido Comunista, ele
se exilou em Moscou, na Rússia. Lá ficou mais de um ano.
Na volta, já depois da Copa de 1970, Ancelmo foi morar no
Rio de Janeiro. Queria continuar trabalhando como quadro político, mas a pouca
grana que recebia na militância o obrigou a procurar emprego. Decidiu voltar ao
jornalismo. Bateu na porta do jornalista Maurício Azêdo, que era um quadro do
Partido Comunista.
Por indicação dele, Ancelmo começou a fazer freelas em
publicações, da editora Abril, sobre trabalhos técnicos, relacionado a metalurgia,
siderurgia. Ele, por exemplo, acompanhou, de dentro da Redação, o surgimento da
revista “Exame”, uma fusão das antigas publicações da Abril.
AGDe lá, Ancelmo foi para a revista “Veja”, no início dos
anos 1980. Foi repórter de economia, subeditor, editor. Em 1986, trocou a
“Veja” pelo “Jornal do Brasil”, a convite do amigo Marcos Sá Corrêa. Ancelmo
Gois conta ter realizado um sonho ao entrar no “JB” (veja o vídeo). Foi lá que
ele engatou a carreira de colunista, ao se tornar titular da “Informe JB”, que
na época era a coluna mais importante do país.
Seis anos depois, em 1992, o jornalista voltou para a
“Veja”. Dessa vez, como chefe na sucursal da revista no Rio e titular da coluna
“Radar”, que estava sendo reformulada.
– Quando eu fui pra lá, fui tocar o projeto da “Radar” com
duas páginas. Antes, só tinha uma, e as notas eram mandadas pelos chefes das
sucursais – conta.
Nesta segunda passagem, Ancelmo ficou cerca de oito anos. Em
2000, foi para o site Notícias de Opinião (NO). Foram os primeiros passos do
jornalismo brasileiro na internet. E, no ano seguinte, assumiu a principal
coluna de notícias do jornal O GLOBO, onde está até hoje.
Apesar dos seguidos furos, das grandes revelações e dos
inúmeros prêmios, Ancelmo Gois mantém a simplicidade daquele menino de Sergipe.
Costuma sempre dizer pra gente:
– Muita gente bate no nosso ombro e diz que fazemos a melhor
coluna do país. No dia em que acreditarmos nisso, ficaremos para trás…
Ancelmo Gois é um grande mestre, talhado nas pernas ágeis da
notícia.
Texto, fotos e vídeos reproduzidos do blogdobrunet.com.br
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