Clique no link abaixo, para assirtir ao vídeo com Mino Carta.
Veja como foi encontro de Mino Carta com jornalistas.
Jornalistas conversam com Mino Carta sobre crise política no
Brasil e mercado editorial brasileiro.
Por Nocaute em 23 de maio de 2017.
Mino Carta recebe Eleonora Lucena, Fernando Morais, Luis
Nassif, Luiz Carlos Azenha, Miro Borges, Paulo Henrique Amorim e Rodrigo Vianna
para entrevista.
Na segunda-feira (22/5), Mino Carta anunciou que estava
escrevendo seu último editorial. “Só voltaria a escrever se as diretas fossem
convocadas sem maiores delongas e se, finalmente, a justiça fosse feita”.
No editorial intitulado Sonho e realidade, Mino Carta
escreve que sua ausência não significa o abandono da “pequena e valente equipe
de CartaCapital” e afirma que “estamos asfixiados financeiramente por um
governo ilegítimo, sabidamente corrupto, e pelo abandono de setores do
empresariado que outrora tinham maior compromisso com a diversidade e a
pluralidade.”
Leia abaixo o texto completo:
“Sonho e realidade
Diretas antecipadas são a solução inteligente e pacífica,
mas a casa grande vai resistir
Os fados costumam arcar com um papel importante, às vezes
decisivo, na história do Brasil. Em meio ao caos precipitado pelo golpe de 2016
irrompe o elemento-surpresa de sorte a abrir uma perspectiva para a saída da
crise. A solução correta, pacífica e inteligente, está na convocação de
eleições diretas antecipadas no prazo mais curto possível. Ao povo a palavra
final.
Não faltam pedras neste caminho, a se considerar que as
instituições da República inexistem, enquanto os senhores da casa-grande
cuidarão, conforme a tradição manda, de conciliar seus interesses com a nova
conjuntura.
Houvesse condições de confiar nos poderes republicanos,
contássemos com Legislativo e Judiciário à altura da situação, poderíamos
apostar em um retoque constitucional capaz de reduzir ao mínimo o tempo de um
governo provisório eleito indiretamente para logo alcançar o momento das
diretas.
Corremos o risco, contudo, de ter de padecer a súbita
presença no Planalto de Cármen Lúcia, por exemplo, ou Nelson Jobim. Pasmem:
talvez Fernando Henrique. E que tal Henrique Meirelles?
Não duvidemos que seja este o projeto de saída acalentado
pelos golpistas e não nos deixemos enganar se a mídia nativa se apressasse a
abandonar o barco que soçobra. Trata-se de um específico barco, e não do transatlântico
das prepotências e das artimanhas da casa-grande.
Os barões midiáticos saberão instruir editorialistas,
colunistas, repórteres, âncoras, locutores, no sentido que lhes convém, a eles
apenas e não ao País.
Nos corredores da casa-grande ouve-se murmurar os nomes mais
cotados para reger a orquestra do futuro e ninguém como Henrique Meirelles, o
homem para todas as estações, seria mais adequado para a manutenção do projeto
de país até hoje comandado por Michel Temer.
Diga-se que aos infinitos atributos de Meirelles soma-se o
de ter sido presidente do conselho de administração da holding da JBS, de 2012
a 2016. Sublinho, JBS, a empresa do Joesley, o grande acusador do momento.
A capa de Veja pós-depoimento de Lula na República de
Curitiba tem a força altamente simbólica de toda a ferocidade, no nível extremo
e mais vulgar, que o ódio de classe pode atingir no Brasil do golpe de 2016. A
campanha das Lojas Marisa por ocasião do Dia das Mães não deixa por menos. E é
fácil imaginar os aplausos que saudaram as duas iniciativas e os cumprimentos
calorosos recebidos pelos autores, celebrados por sua genialidade.
Vivemos um estado de exceção em que tudo se permite
impunemente. A casa-grande manda sem intermediários, ao contrário da ditadura
da segunda metade do século passado, que entregou aos militares o serviço sujo.
Assenhorou-se das instituições e fez delas suas aias, valeu-se da colaboração
dos milenaristas curitibanos e confirmou a mídia nativa no departamento de
propaganda. Os jagunços prontificam-se a vestir uniforme policial.
E os barões midiáticos são titulares da mansão, representada
País afora, uma das suas dependências se estabelece no Rio de Janeiro nas
cercanias da Lagoa Rodrigo de Freitas e em São Paulo às margens fétidas do Rio
Pinheiros. Dali reinam os senhores Marinho, e ganham, inclusive, a genuflexão
de políticos que se dizem de esquerda: o apoio do plim plim é indispensável à
sua ascensão. Vale acrescentar que uma entrevista nas páginas amarelas de Veja
também é muito valiosa.
Em diversas passagens dos governos de Lula e Dilma, a Secom
virou antessala da Globo, enquanto CartaCapital era definida revista
chapa-branca por praticar o jornalismo com o respeito devido à verdade factual,
embora punida por um critério técnico que na Inglaterra teria fulminado The
Economist. Nem se fale dos tempos do ministro Paulo Bernardo. Como
propagandista das vontades da casa-grande, a mídia esbalda-se agora, fiel à
tarefa de semear o ódio contra o operário ousado além da conta e do seu
partido.
Escrevi mais de uma vez neste espaço que a vitória de um
ex-metalúrgico nas eleições de 2002 representava um divisor de águas na
história do Brasil, ao inaugurar uma nova estação política em busca da
democracia autêntica, até então impedida pela monstruosa desigualdade social.
Iludia-me, como já se dera inúmeras vezes. Mudança houve, contudo, no sentido
oposto e o Brasil correu vertiginosamente no rumo do passado remoto.
Neste cenário, e com tais personagens, ainda há quem suponha
viver em um recanto digno da contemporaneidade. Nutrem os pretensos letrados a
certeza de que convivem aqui direita e esquerda, como se houvesse ideologias
vivas além daquela da predação.
Sim, haverá um ou outro conservador, ou liberal à moda
antiga, algum respeitável leitor de Marx e Gramsci, assim como há os generosos
e solidários leitores de CartaCapital. Mas a dicotomia criada à sombra da
Revolução Francesa nas nossas paragens, sobretudo nesta quadra da história, não
tem a mais pálida chance de medrar.
Não sei se teremos a ventura de assistir à reedição da
campanha das Diretas Já de 1984. Reuniu milhões em ruas e praças, foram as
primeiras, fluviais manifestações populares movidas pelos mais dignos intuitos.
Recordo, porém, e com pesar, que José Sarney, futuro presidente da República,
foi quem comandou no Congresso a rejeição da emenda das diretas por uma
vantagem de dois votos apenas.
Nos dois mandatos de Lula, o País tornou-se protagonista na
ribalta da política mundial, hoje passa a figurar no coro grego dos
desgraçados. Os vendilhões da pátria que dizem amar, conforme convém aos
canalhas, cuidam de assegurar-lhe a condição de súdito de algum império. E quem
haverá de impedi-los? Por ora, não é imaginável a revolta das ruas.
Dizia um grande brasileiro, exceção obviamente, Joaquim
Nabuco, que não bastava abolir a escravidão, seria preciso acabar com a cultura
da escravidão, caso contrário o Brasil padeceria mais três séculos de prepotência
e atraso. Palavras escritas há bem mais de cem anos, tragicamente proféticas.
Manter a maioria neste limbo, neste prematuro oblívio, foi o
objetivo da chamada elite, sempre eficaz nos seus intentos, como costumava
sublinhar Raymundo Faoro. Sábia apenas no empenho de manter de pé a
casa-senzala e a senzala, ao mesmo tempo incapaz de entender que o povo é um
tesouro do País, a par das inúmeras dádivas oferecidas pela natureza.
História dolorosa até o absurdo absoluto dos dias de hoje,
sem descurar de variados aspectos da situação. Elite cada vez mais ignorante,
grosseira, exibicionista, feroz. Podemos entender a resignação de quantos
trazem nos lombos a marca da chibata, assim como podemos perceber a índole e os
humores da chamada elite ao confrontar os senhores atuais com aqueles
desenhados por Debret, enquanto escravos agitam sobre suas cabeças leques
descomunais. São exatamente os mesmos.
CartaCapital certamente apoiaria a candidatura de Lula se a
razão acabasse por triunfar e vingasse a solução das eleições antecipadas. Um
destacado juiz italiano, Gerardo Colombo, integrante da força-tarefa da Mani
Pulite, na qual Sergio Moro diz inspirar-se, veio ao Brasil no ano passado para
entender de perto o funcionamento da Lava Jato.
No regresso à Itália disse textualmente ao amigo Antonio
Vermigli: “Se Mani Pulite tivesse se portado como o juiz Moro, nós é que
teríamos acabado na cadeia”. Vermigli é um carteiro toscano que, depois de
aposentado, tornou-se respeitado ativista político e bom amigo de Lula, e como
tal participou de uma recente reunião na Câmara dos Deputados em Roma com os
advogados do ex-presidente, chamados a expor irregularidades e absurdos
jurídicos cometidos pela República de Curitiba.
Sinto muito comunicar aos nossos fiéis leitores que este é o
meu último editorial, só voltaria a escrever se as diretas fossem convocadas
sem maiores delongas e se, finalmente, a justiça fosse feita. Minha ausência
neste espaço não significa que abandono a pequena e valente equipe de
CartaCapital, de honestos praticantes do jornalismo, tanto mais em um momento
de dificuldade extrema. Estamos asfixiados financeiramente por um governo
ilegítimo, sabidamente corrupto, e pelo abandono de setores do empresariado que
outrora tinham maior compromisso com a diversidade e a pluralidade”.
Texto reproduzido do site: nocaute.blog.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário