domingo, 10 de dezembro de 2017

Luiz Carlos Maciel, adeus

Foto reproduzida do site: filmow.com e postada pelo 
blog "Meio Impresso", para ilustrar o presente artigo.

Luiz Carlos Maciel, adeus
Do jornal O Globo

Morre, aos 79 anos, o escritor e filósofo Luiz Carlos Maciel

Autor foi uma das figuras-chaves do movimento underground nos anos 1970 e 1980

Morreu na manhã deste sábado, aos 79 anos, em decorrência de uma falência múltipla de órgãos, o filósofo, escritor, diretor teatral, dramaturgo e jornalista Luiz Carlos Maciel. A informação é da sua filha, Lucia Maciel.

Nascido em 1938, em Porto Alegre, Maciel foi uma figura-chave da contracultura no Brasil. Colaborador do semanário “O Pasquim” e diretor de redação da versão nacional da revista “Rolling Stone”, é autor de 12 livros, como “Geração em transe, memórias do tempo do tropicalismo” (1996), em que aborda diferentes momentos e obras da contracultura brasileira.

Em 1959, depois de ganhar uma bolsa da Universidade da Bahia, conheceu Glauber Rocha, de quem se tornaria amigo, e atuou no primeiro curta-metragem do diretor, “A cruz na praça”. Graças a uma bolsa da Fundação Rockefeller no ano seguinte, estudou direção teatral no Carnegie Institute of Technology, em Pittsburgh, Estados Unidos.

De volta ao Brasil ganhou fama com a coluna “Underground”, no “Pasquim”, em que tratava de temas da contracultura. Lá, ganhou o apelido de “papa do underground”. No semanário, ficou próximo de Paulo Francis, Ziraldo e Millôr Fernandes. Em 1970, chegou a ficar dois meses preso pela ditadura militar. Atuou ainda em veículos como “Jornal do Brasil”, “Última Hora” e “Veja”, entre outros, escrevendo colunas e críticas teatrais.

A partir dos anos 1960, Maciel colaborou em importantes espetáculos teatrais. Em 1967, participou do processo de criação da linguagem da montagem de “O rei da vela”, de Oswald de Andrade, pelo Teatro Oficina. É dele a direção da primeira peça de Plinio Marcos, “Barrela”, censurada já na sua estreia, em 1968. Também dirigiu os espetáculos “Boca molhada de paixão calada” (1991) e “Brida” (1991), “Fantoches” (1995), “Jango, uma tragédia” (1996), entre outros.

Formado em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maciel escreveu, em 1969, “Sartre, vida e obra”, uma biografia do filósofo e escritor francês.

Durante vinte anos, trabalhou como roteirista da Rede Globo. Em 1968, escreveu o roteiro de “O homem que comprou o mundo”, dirigido por Eduardo Coutinho. Em 2003, Maciel publicou um livro reunindo seus conhecimentos na área, “O poder do clímax — Fundamentos do roteiro de cinema e TV”, relançado este ano.

Em entrevista ao GLOBO em março deste ano, Maciel brincou com sua fama de “polímato” (pessoa que detém conhecimentos em áreas completamente distintas).

— Alguns polímatos se transformam no Leonardo Da Vinci, fazendo tudo com perfeição. Outros se transformam em mim, que é isso que vocês estão vendo — disse.

Apesar das múltiplas competências, Maciel usou seu perfil de Facebook, em 2015, para publicar um desabafo sobre a falta de oportunidades profissionais nos últimos anos. Sem emprego e com a saúde debilitada, ele vinha sofrendo dificuldades financeiras.

“Um tanto constrangido, é verdade, mas sem outro jeito, aproveito esse meio de comunicação, típico da era contemporânea e de suas maravilhas, para levar ao conhecimento público o fato desagradável de que estou sem trabalho e, por conseguinte, sem dinheiro”, escreveu ele.

Segundo o jornalista Claudio Leal, um de seus amigos mais próximos, Maciel desejava organizar novas coletâneas de sua obra, reunindo escritos sobre teatro.

— Ele deixou essas demandas encaminhadas — conta Leal. — Sabia da proximidade da morte. Estava desmotivado com o clima do país, e me falou que não tinha mais saco para abrir o Facebook, preferia ouvir discos de jazz.

Luiz Carlos Maciel deixa a esposa, a atriz Maria Claudia, e dois filhos, Roberto Maciel e Lucia Maciel.

Texto reproduzido do site: zebeto.com.br

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