segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Jornalistas e Homens de Ciência


Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho, em 29/11/2018

Jornalistas e Homens de Ciência

Por Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento

Estamos vivendo a segunda década do século XXI sem que tenhamos conseguido resolver problemas como a pobreza, a ignorância e a segurança pública. Da mesma maneira, não conseguimos distribuir equanimemente a riqueza, o bem estar social e o conhecimento científico. Qual é a importância neste período em que vivemos do chamado jornalismo científico? Seria apenas para divulgar curiosidades que ele existe? Por que em muitas situações jornalismo científico é visto como ilustração inútil por parte de jornalistas responsáveis por editorias de maior prestígio como política e economia ou desperdício de tempo, por parte de alguns pesquisadores? Efetivamente, para que serve esse tipo de prática jornalística? No Brasil ainda há muito por conquistar quanto ao jornalismo de divulgação científica, muito embora não haja qualquer tipo de dúvida quanto ao fato de as suas práticas serem objeto do interesse de diversos campos do jornalismo e de todos os campos da ciência. O jornalismo científico possui padrões próprios e categorias de análise específicas, tendo obtido reconhecimento nas editorias dos jornais e nos cursos de jornalismo em diferentes países do mundo.

Noticiar e comentar sobre o trabalho e as descobertas da pesquisa científica, bem como os cientistas, prosperou como gênero e deu certo. Títulos de trabalhos preocupados com as descobertas e revelações da ciência e com a vida dos cientistas congestionam os catálogos das editoras e as prateleiras das livrarias, da mesma maneira que as colunas de divulgação científica ocupam espaço em jornais e revistas. Espaço utilizado agora, com preocupações com a natureza da informação e das fontes, de modo coerente com as regras contemporâneas.

O primeiro jornal que circulou em Aracaju foi o Correio Sergipense, em 19 de março de 1855. Tinha uma tiragem de 300 exemplares, circulava três vezes por semana e era impresso na Tipografia Provincial. O segundo foi O Progresso, que circulou a partir de sete de fevereiro de 1857, na tipografia particular de B. J. J. Guedes, a primeira da capital sergipana, para a edição de jornais, revistas e de livros e encadernações. Depois vieram Aurora Sergipana, em 1857, A Época e A Borboleta, em 1859. 27 outros jornais foram criados na década de 70 do século XIX, dentre eles O Bouquet, uma "revista literária e recreativa", redigida por senhoras. Na década de 80 do século XIX apareceram 43 periódicos. Francisco José Alves fundou o jornal O Libertador, em 1880, editando-o até 1885. Em 1882, ele passou a editar O Descrido, enquanto o jornal Luz Matinal tinha entre seus redatores o bacharel e crítico Prado Sampaio. O jornal O Republicano tinha como redator o professor Brício Cardoso.

Desde a circulação do nosso primeiro jornal, a ciência tem frequentado as páginas da imprensa em Sergipe, seja através do noticiário, de artigos e crônicas avulsos dando conta das descobertas e das aplicações da ciência e da tecnologia, seja por meio de colunas publicadas com regularidade, assinadas e redigidas em estilo mais livre e pessoal, com notas, crônicas ou artigos. Os divulgadores da ciência sejam eles jornalistas ou pesquisadores se impuseram, pelo menos, duas obrigações: criar uma consciência pública acerca do valor da ciência; fazer com que a maioria conheça as descobertas de uma minoria especializada, democratizando o conhecimento. O jornalismo científico no Brasil foi marcado, durante o século XX, por nomes como os de José Reis, Júlio Abramczyk, José Marques de Melo, Wilson da Costa Bueno e Glória Kreinz, entre tantos outros. Em Sergipe, desde o século XIX, muitos cientistas e jornalistas frequentaram as páginas da imprensa fazendo divulgação científica. É claro que desde a circulação do nosso primeiro jornal a imprensa sergipana tem dedicado espaço aos fatos e feitos da ciência. Não certamente o espaço que esse tipo de informação deveria ocupar. O espaço da ciência sem foi infinitamente inferior ao noticiário policial ou ao que foi dedicado a frivolidades como as colunas sociais.

Bisbilhotar a vida privada interessou bem mais que o conhecimento científico. Saber dos feitos da pesquisa histórica, dos avanços do conhecimento médico, das descobertas sobre recursos minerais ou de processos acerca da conservação de alimentos interessou menos aos editores e a sociedade que o menu da última recepção oferecida pela mulher de um importante industrial. O espaço dedicado à fofoca, aos fatos policiais foi sempre maior que aquele dedicado à difusão da ciência, o que leva a uma reflexão indagando se aquilo que é mesmo importante do ponto de vista da vida dos homens é o que efetivamente serviu para vender jornais.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho

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