Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho,
em 29/11/2018
Jornalistas e Homens de Ciência
Por Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
Estamos vivendo a segunda década do século XXI sem que
tenhamos conseguido resolver problemas como a pobreza, a ignorância e a
segurança pública. Da mesma maneira, não conseguimos distribuir equanimemente a
riqueza, o bem estar social e o conhecimento científico. Qual é a importância
neste período em que vivemos do chamado jornalismo científico? Seria apenas
para divulgar curiosidades que ele existe? Por que em muitas situações
jornalismo científico é visto como ilustração inútil por parte de jornalistas
responsáveis por editorias de maior prestígio como política e economia ou desperdício
de tempo, por parte de alguns pesquisadores? Efetivamente, para que serve esse
tipo de prática jornalística? No Brasil ainda há muito por conquistar quanto ao
jornalismo de divulgação científica, muito embora não haja qualquer tipo de
dúvida quanto ao fato de as suas práticas serem objeto do interesse de diversos
campos do jornalismo e de todos os campos da ciência. O jornalismo científico
possui padrões próprios e categorias de análise específicas, tendo obtido
reconhecimento nas editorias dos jornais e nos cursos de jornalismo em
diferentes países do mundo.
Noticiar e comentar sobre o trabalho e as descobertas da
pesquisa científica, bem como os cientistas, prosperou como gênero e deu certo.
Títulos de trabalhos preocupados com as descobertas e revelações da ciência e
com a vida dos cientistas congestionam os catálogos das editoras e as
prateleiras das livrarias, da mesma maneira que as colunas de divulgação
científica ocupam espaço em jornais e revistas. Espaço utilizado agora, com
preocupações com a natureza da informação e das fontes, de modo coerente com as
regras contemporâneas.
O primeiro jornal que circulou em Aracaju foi o Correio
Sergipense, em 19 de março de 1855. Tinha uma tiragem de 300 exemplares,
circulava três vezes por semana e era impresso na Tipografia Provincial. O
segundo foi O Progresso, que circulou a partir de sete de fevereiro de 1857, na
tipografia particular de B. J. J. Guedes, a primeira da capital sergipana, para
a edição de jornais, revistas e de livros e encadernações. Depois vieram Aurora
Sergipana, em 1857, A Época e A Borboleta, em 1859. 27 outros jornais foram
criados na década de 70 do século XIX, dentre eles O Bouquet, uma "revista
literária e recreativa", redigida por senhoras. Na década de 80 do século
XIX apareceram 43 periódicos. Francisco José Alves fundou o jornal O Libertador,
em 1880, editando-o até 1885. Em 1882, ele passou a editar O Descrido, enquanto
o jornal Luz Matinal tinha entre seus redatores o bacharel e crítico Prado
Sampaio. O jornal O Republicano tinha como redator o professor Brício Cardoso.
Desde a circulação do nosso primeiro jornal, a ciência tem
frequentado as páginas da imprensa em Sergipe, seja através do noticiário, de
artigos e crônicas avulsos dando conta das descobertas e das aplicações da
ciência e da tecnologia, seja por meio de colunas publicadas com regularidade,
assinadas e redigidas em estilo mais livre e pessoal, com notas, crônicas ou
artigos. Os divulgadores da ciência sejam eles jornalistas ou pesquisadores se
impuseram, pelo menos, duas obrigações: criar uma consciência pública acerca do
valor da ciência; fazer com que a maioria conheça as descobertas de uma minoria
especializada, democratizando o conhecimento. O jornalismo científico no Brasil
foi marcado, durante o século XX, por nomes como os de José Reis, Júlio
Abramczyk, José Marques de Melo, Wilson da Costa Bueno e Glória Kreinz, entre
tantos outros. Em Sergipe, desde o século XIX, muitos cientistas e jornalistas
frequentaram as páginas da imprensa fazendo divulgação científica. É claro que
desde a circulação do nosso primeiro jornal a imprensa sergipana tem dedicado
espaço aos fatos e feitos da ciência. Não certamente o espaço que esse tipo de
informação deveria ocupar. O espaço da ciência sem foi infinitamente inferior
ao noticiário policial ou ao que foi dedicado a frivolidades como as colunas
sociais.
Bisbilhotar a vida privada interessou bem mais que o
conhecimento científico. Saber dos feitos da pesquisa histórica, dos avanços do
conhecimento médico, das descobertas sobre recursos minerais ou de processos
acerca da conservação de alimentos interessou menos aos editores e a sociedade
que o menu da última recepção oferecida pela mulher de um importante
industrial. O espaço dedicado à fofoca, aos fatos policiais foi sempre maior
que aquele dedicado à difusão da ciência, o que leva a uma reflexão indagando
se aquilo que é mesmo importante do ponto de vista da vida dos homens é o que
efetivamente serviu para vender jornais.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho
Nenhum comentário:
Postar um comentário