sábado, 16 de março de 2019

REGISTRO - Livro resgata a memória da imprensa escrita...


Publicado originalmente no site da revista Imprensa, em 11/03/2019 

Livro resgata a memória da imprensa escrita no país

Por Marta Teixeira 

Ao longo de quase 50 anos como jornalista, Aziz Ahmed conviveu com muita gente que ajudou a construir a imprensa brasileira. Nos bate-papos com amigos soube de histórias que nunca chegaram às páginas dos jornais e quase ninguém tem conhecimento, ou melhor, não tinha.
Crédito:Reprodução

Nesta segunda-feira (11), Ahmed lança, no Rio de Janeiro, o livro "Memórias da Imprensa Escrita", com relatos saborosos de uma das épocas mais românticas do jornalismo. O livro, que também está disponibilizado na versão e-book, tem ainda um recurso interessante e útil. Cada capítulo possui um QR code que permite ao leitor acessar o vídeo com o depoimento do entrevistado.

Entre os depoimentos está a última longa entrevista concedida por Ricardo Boechat antes de sua morte, no dia 11 de fevereiro, em acidente de helicóptero. Ele e Aziz conversaram durante mais de três horas, resultando em um relato que ocupa cerca de 30 das 316 páginas do livro.

Em meio a suas recordações, Boechat falou sobre a vida difícil da família nos tempos da ditadura. Para ajudar na renda, a mãe, dona Mercedes, vendia enciclopédia e foi considerada provável contato do grupo Tupamaros, que combatia a ditadura no Uruguai, com terroristas brasileiro apenas por viajar com frequência a Montevidéu, onde tinha uma filha com doença terminal.

"Ele fala que a casa deles era um verdadeiro drive thru da repressão no início dos  70. Foram várias batidas de agentes do Exército", relata Ahmed ao Portal IMPRENSA. "Décadas depois, Boechat leu um relatório da inteligência interna que apresentava a casa dele como esconderijo de armas e sua mãe como provável contato entre o grupo Tupamaros e terroristas brasileiros." 

O próprio Boechat foi vendedor de livros e chegou a fazer teste para vender sepulturas, diz Ahmed. A mudança de vida começou quando tentou fazer uma venda para um diretor do jornal Diário de Notícias. O executivo acabou lhe dando uma indicação. "Ele foi trabalhar na coluna de Ibrahim Sued, ficou 12 anos, saiu e fez a carreira que todos conhecemos."

Histórias não faltam para cativar o leitor. No total, 26 renomados jornalistas compartilham suas narrativas nas páginas do livro. Algumas delas poderiam ter mudado o rumo da história do Brasil. Luiz Edgar de Andrade, por exemplo, revela que antes de ser político e encantado com o sucesso da radionovela O Direito de Nascer, o então jornalista Carlos Lacerda queria ser autor de novela. "Como ele diz, se Lacerda tivesse sido o Agnaldo Silva da época, Getúlio (Vargas) não teria se suicidado, Jânio (Quadros) não teria renunciado, João Goulart não teria sido cassado e não teria havido a ditadura porque Lacerda foi o grande mentor civil, o grande articulador, de todos esses personagens", brinca o autor.

Ahmed compara seu livro como um colunão de jornal reunindo muita informação, curiosidades e revelações. "Esse livro pega dos anos 50 até o início do século e fala muito da transformação que o jornalismo teve daquele período romântico até hoje. É uma aula de jornalismo para quem quiser conhecer os jargões e os sufocos que a gente passa. Não acho que falte literatura sobre jornalismo. A proposta desse livro é contar o lado pitoresco dos bastidores desse período", explica.

Os entrevistados são: Aluizio Maranhão, Anna Ramalho, Aristóteles Drummond, Arnaldo Niskier, Bruno Thys, Cícero Sandroni, Fernando Carlos de Andrade, Fuad Atala, Gilson Campos, Henrique Caban, Jarbas Domingos, J.B. Serra e Gurgel, Jomar Pereira da Silva, José Silveira, Luiz Edgar de Andrade, Milton Coelho da Graça, Miranda Jordão, Nelson Lemos, Nilo Dante, Nilson Lage, Paulo Jerônimo, Pery Cotta, Pinheiro Junior, Ricardo Boechat, Telmo Wamber e Walter Fontoura. "O mérito do livro, eu divido com eles, eu só ouvi suas histórias", diz Ahmed modestamente.

Apesar de ter escrito o livro em aproximadamente seis meses, o projeto todo demorou cerca de dois anos para ser concluído. Um motivo foi a parte burocrática, a publicação do Ateliê de Cultura tem patrocínio da Delphos e da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, via Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Lei do ISS). Outra razão foi o minucioso trabalho de checagem do autor.

A carreira jornalística de Ahmed começou em 1961, no Correio da Manhã. Ex-chefe de reportagem dos jornais O Globo e Última hora e com passagens em outras grandes redações, o ex-professor universitário do curso de jornalismo fala com propriedade das transformações do setor nos últimos anos. "O jornalismo hoje está completamente diferente do que era antes. Não sou especialista nisso, mas acho que falta uma visão estratégica para ver como os jornais devem ser produzidos em função das redes sociais. O que me atrai é a leitura de profissionais que têm certa bagagem. A primeira coisa para a juventude que chega à redação precisa é saber que ele está ali para informar. Deixe o leitor chegar às conclusões dele."
  
Para os cursos de jornalismo o lançamento também vem acompanhado de uma boa notícia. Ahmed planeja fazer palestras pelo país, levando seus amigos para compartilharem essas e muitas outras histórias com as futuras gerações de comunicadores brasileiros. Segundo ele, muitas instituições já demonstraram interesse pelo projeto.

Serviço
O que: lançamento do livro "Memórias da Imprensa Escrita", de Aziz Ahmed
Quando: 11/3, a partir das 17h
Onde: Auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

Texto e imagem reproduzidos do site: portalimprensa.com.br

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