sábado, 9 de julho de 2022

Jornalista sergipano Ancelmo de Rezende Gois

Legenda da foto: Imagem de Ancelmo Gois reproduzida do portal unit e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo

Artigo publicado originalmente no site [fgv.br/cpdoc/acervo]

Jornalista sergipano Ancelmo de Rezende Gois

Ancelmo de Rezende Gois nasceu no dia 15 de setembro de 1948, na cidade de Frei Paulo (SE), filho de Euclides Góis e Maria Rezende Góis. Seu pai, comerciante, teve inicialmente um armazém no interior, e mais tarde tornou-se funcionário público, integrando também a banda de música da cidade. Ancelmo foi um dos 15 filhos do casal que sobreviveu, de um total de 24.

Fez o curso primário nas cidades de Frei Paulo e Estância (SE), sempre em escolas públicas. Em seguida foi para Aracaju, onde cursou o secundário no Colégio Estadual de Sergipe, e iniciou o clássico, sem, contudo, concluí-lo, o que somente conseguiu fazê-lo mais tarde, com o Artigo 99 (como na época eram denominados os exames supletivos).

Começou a participar da política estudantil por influência paterna, que, como membro do Partido Republicano, chegou a vereador em Frei Paulo (SE). Ancelmo foi criado em um ambiente favorável a despertar interesse pela política. Segundo seu depoimento, desde cedo se acostumou a ouvir conversas sobre política, a acompanhar os políticos da capital quando em campanha pelo interior sergipano. E assim movido pela política, acabou ingressando na política estudantil, tendo sido eleito vice-presidente do grêmio de sua escola, e liderado inúmeras manifestações políticas.

Em 1963, deu-se o primeiro pulo da política para o jornalismo. Contando com apenas 15 de anos de idade, Ancelmo, então membro da Juventude Socialista, foi trabalhar na Gazeta de Sergipe, jornal que inicialmente se chamava Gazeta Socialista, ligado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). A primeira matéria que escreveu para o jornal foi sobre a descoberta de petróleo em Carmópolis (SE) em novembro de 1963, mas em seguida passou mexer com vários assuntos, de crítico de cinema à coluna de reclamações da população, além de limpar os clichês que eram usados para a impressão das fotografias. Sua participação, no entanto, durou pouco, pois no ano seguinte, com o golpe militar que derrubou o presidente João Goulart, o jornal que foi empastelado e muitos de seus profissionais, presos.

Segundo seu depoimento ao ABI Online, esta experiência com o jornalismo em Sergipe teve como aspecto mais importante a influência de dois grandes mestres, de acordo com suas próprias palavras: José Rosa de Oliveira Neto, que chegou a ser dirigente do PSB, principalmente pela orientação que lhe deu com relação a leituras; e Ivan de Macedo Valença, seu primeiro chefe na Gazeta, que tinha por hábito introduzir muitas ideias que pesquisava em outros jornais, e que despertou nele, Ancelmo, a admiração pelo Jornal do Brasil.

Ancelmo aderiu ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) em 1968, ano que marcado pela contestação política, no Brasil e no mundo. O movimento estudantil caracterizou-se assim como de protesto, contra o regime militar estabelecido em 1964. Ao final do ano, foi baixado o Ato Institucional nº 5 (13/12/1968), através do qual o presidente da República ficava autorizado, em caráter excepcional, a: decretar o recesso do Congresso Nacional, intervir nos estados e municípios; cassar mandatos parlamenteares; suspender, por 10 anos, os direitos políticos de qualquer cidadão; decretar o confisco de bens considerados ilícitos; e a suspender a garantia do habeas-corpus. Dentro deste novo contexto, Ancelmo Gois, junto com toda a liderança secundarista e universitária de Sergipe, foi preso e levado ao 28º Batalhão de Caçadores do Exército, em Sergipe, onde permaneceu ao longo de 40 dias, muito embora não tenha sido em momento algum torturado ou molestado fisicamente. Em janeiro de 1969 finalmente foi libertado, mas a essa altura já tinha perdido o emprego na Gazeta de Sergipe.

Em 1970 foi indicado pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) para fazer o curso de formação de quadros na União Soviética (URSS), na escola da Liga Comunista Leninista da Juventude (Komsomol), com duração de um ano. Sua viagem foi toda ela sob a proteção da KGB, que lhe deu a identidade falsa de Ivan Nogueira. Para o governo brasileiro, no entanto, Ancelmo se encontrava na França.

De volta ao Brasil em 1971, mais do que nunca apaixonado pela política, fixou-se no Rio de Janeiro, onde passou a trabalhar como profissional do PCB: dava assistência às organizações de base, e distribuía o jornal Voz Operária para diversos comitês, como o estudantil da Tijuca, dos intelectuais entre outros. No entanto, em pouco tempo, com o aumento da repressão, o PCB começou a ter problemas financeiros, deixando de pagar seu salário. Abrigado na casa de Luiz Paulo Machado, seu companheiro dos tempos de Konsomol, Ancelmo passou a procurar jornalistas também filiados ao partido, para que eles lhe conseguissem emprego. Através de Maurício Azêdo, também filiado ao PCB e influente na imprensa carioca, conseguiu contato com o jornalista Domingos Meirelles, que então trabalhava na revista Realidade, e através deste com José Preciliano Martinez, que o colocou como freelancer das revistas técnicas da Editora Abril: Máquinas e metais; Transporte Moderno; Química, Plásticos e Embalagens, entre outras. Já no início, ficou responsável por uma coluna que as revistas apresentavam logo nas primeiras páginas, “Negócios em Exame”, que veio a ser o ponto de origem da revista Exame. Nesta atividade se manteve por dois anos.

Quando a Editora Abril desistiu de publicar essas revistas técnicas, vendendo os títulos para outras editoras, Ancelmo foi para a Gazeta Mercantil, no Rio de Janeiro, mas onde ficou apenas por sete meses. Recebeu então o chamado de alguns antigos companheiros da Exame, do pessoal que havia ficado na Abril, entre eles Paulo Henrique Amorim e Flávio Pinheiro. Graças a eles, voltou para a Exame, agora não mais uma revista encartada e sim autônoma

Também em 1971 Ancelmo Gois deu início ao curso de jornalismo na Faculdade Hélio Alonso, no Rio de Janeiro, concluindo-o em 1975.

Em 1973 deixou mais uma vez a revista Exame, aceitando o cargo de subeditor de Economia da revista Veja, embora colaborasse também com a coluna “Radar”, de Élio Gaspari, a quem considera um verdadeiro padrinho. Segundo o próprio Gois, foi um “período de muitas matérias interessantes, de muitos furos de reportagem”.

Quando da saída de Marcos Sá Corrêa da Veja e sua consequente ida para o Jornal do Brasil, Ancelmo foi convidado a acompanhá-lo, para ser o novo editor do “Informe JB”. Segundo seu depoimento à ABI On Line, o Sá Corrêa apostara nele “com uma coragem sem igual”, o que para ele representou um grande salto na profissão. Afinal, deixava a subeditoria “de Economia da Veja para escrever a mais importante coluna da imprensa brasileira daquela época, que era o ‘Informe JB’”. Aí permaneceu ao longo de seis anos. Segundo alguns de seus depoimentos, Ancelmo costuma creditar ao JB o fato de ser jornalista, inclusive por que a própria Gazeta, onde começou, era inspirada nele.

Depois deste período, retornou à Veja, assumindo não apenas a sucursal da revista no Rio de Janeiro, mas também a responsabilidade pela coluna “Radar”.

A partir de 2000 mais uma vez atendeu ao chamado de Marcos Sá Corrêa, que vinha ampliando sua área de atuação, passando a atuar também no jornalismo on-line. Gois foi assim trabalhar para o site Notícias de Opinião (NO), motivado não apenas pela proposta vantajosa que lhe fora feita, mas também pelo desafio. Segundo suas palavras, “quem fica parado é poste; no dia em que o profissional se acomoda ele está lascado”, mais do que tudo, porque “confiava muito no taco do Marcos”. Em termos de desafio, saía de uma coluna de 4 milhões de leitores, para um jornal digital veiculado por um “negócio chamado internet”, em que ninguém tinha certeza ainda do alcance, mas que acabou se tornando uma experiência extremamente rica, no qual Ancelmo Gois permaneceu por cerca de 500 dias. Financeiramente, foi também uma experiência bastante vantajosa, já que o NO, na época, era bancado por um grupo de empresários (como Daniel Dantas; Carlos Jereissaiti; de pessoas ligadas à Brahma e o dono da empreiteira Andrade Gutierrez), que via nele um produto a ser vendido mais adiante, e Ancelmo foi contratado ganhando três vezes mais do que recebia na Veja.

Sua saída pode ser explicada pelo “estouro” da bolha, conforme suas próprias palavras, o que ocorreu exatamente no momento em que no jornal O Globo saía o Ricardo Boechat, deixando vago o cargo de colunista. Neste jornal permanece até hoje, mantendo coluna diária que leva seu nome, feita com colaboradores, e que aborda os mais variados assuntos, como mercado financeiro e imobiliário, fatos culturais e eventos artísticos, além, naturalmente, de política.

Atualmente assina também no portal G1, a coluna “Ancelmo.com”, e vem apresentando o programa “De lá prá cá”, voltado para a história, na TV Brasil, ao lado de Vera Barroso.

É casado com Janete Correia de Melo Gois, com quem teve dois filhos, um deles, Antonio Gois, também jornalista.

Ao longo de sua trajetória profissional recebeu diversos prêmios, entre eles o prêmio Abril de Jornalismo, na categoria Atualidades/Reportagem Geral (1985); o prêmio Imprensa Embratel, na categoria Jornal e Revista, pela série de reportagens publicadas no jornal O Globo, “No rastro das propinas – O caso do propinoduto”, junto com Alan Gripp, Dimmi Amora e a equipe do jornal (2003); e o Comunique-se (2004 e 2006, como Colunista de Notícia; 2010, como Colunista Social; e 2012, como Melhor Blog).

Alzira Alves de Abreu

FONTES: Entrevista ao CPDOC da Fundação Getulio Vargas em 07/04/1997 e 09/04/2001; Portal da Associação Brasileira de Imprensa. Disponível em: <http://www.abi.org.br>. Acesso em 02/09/2014 e 05/12/2014; Portal dos Jornalistas. Disponível em: <http://www.portaldosjornalistas.com.br>. Acesso em 05/12/2014.

Texto reproduzido do site: fgv.br/cpdoc/acervo

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