Artigo compartilhado do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, de 4 de janeiro de 2025
O ‘Estadão’ e o jornalismo como causa
Este jornal chega aos 150 anos fiel a seu propósito inaugural: a defesa irrenunciável da liberdade, adaptando-se aos desafios de seu tempo sem jamais abandonar seus princípios editoriais.
Editorial do vetusto, que cochilou muitas vezes, mas esteve desperto e atento nos momentos mais delicados do país:
A publicação de um jornal manifestamente republicano em 4 de janeiro de 1875 foi, antes de qualquer coisa, um ato de extrema coragem de seus fundadores, em particular de Américo de Campos, Francisco Rangel Pestana e, pouco depois, Júlio Mesquita. Escrutinar o poder da Coroa foi apenas o primeiro dos inúmeros desafios que o futuro reservava para aquele então modesto periódico.
Recorde-se que, quando este jornal circulou pela primeira vez, há exatamente 150 anos, o Brasil vivia sob o regime monárquico. Aqui não havia cidadãos, mas súditos. Logo, não havia igualdade de todos perante a lei, muito ao contrário: havia escravidão. São Paulo era uma província com cerca de 837 mil habitantes, de acordo com o Censo de 1872. Daí o seu primeiro nome, A Província de São Paulo.
A Província de São Paulo também ganhou as ruas naquela segunda-feira como uma profissão de fé, uma afirmação de valores que, quando materializados em ações – seja pelo poder público, seja pela iniciativa privada –, têm o condão de fazer do Brasil um país mais livre, justo e próspero para todos. Um século e meio depois, o distinto leitor encontra em cada um dos editoriais publicados por este jornal a defesa aguerrida dos mesmíssimos compromissos assumidos em sua edição inaugural. Não por recalcitrância, mas por firmeza na crença de que a defesa da liberdade, em suas múltiplas dimensões, é irrenunciável e imune ao transcurso do tempo.
A rigor, a fundação deste jornal foi o desdobramento natural de um movimento cívico que culminaria, 13 anos depois, na abolição da escravidão no País e, logo em seguida, na Proclamação da República. Foi a partir desse evento que São Paulo deixou de ser uma província e o jornal adotou o nome pelo qual é conhecido até hoje: O Estado de S. Paulo.
Além da coragem, a marca deste jornal hoje sesquicentenário é a independência. Para servir à causa da liberdade e do respeito às leis, o Estadão se estabeleceu como uma empresa jornalística financiada por seus próprios meios. Só assim estaria livre para exercer um jornalismo profissional e independente, de modo a estar “em posição de escapar às interposições do governo, às paixões partidárias e às seduções inerentes aos que aspiram ao poder”, como enunciado já no primeiro editorial.
Desde então, o Estadão tem se adaptado a cada um dos desafios de seu tempo ao longo desses 150 anos, mantendo-se na vanguarda do jornalismo, mas sem jamais abandonar seus princípios fundadores e compromissos editoriais. Aquele jornal logo passaria para as rotativas elétricas para se firmar como um jornal moderno e dinâmico não apenas para São Paulo, mas para o Brasil.
Do papel às plataformas digitais, do linotipo aos algoritmos, este jornal registrou e absorveu todas as transformações dos meios de comunicação para continuar a cumprir o seu dever de informar a sociedade com rigor técnico, ética e respeito à verdade factual. Assim era no início, assim é hoje e assim sempre será.
A chamada revolução tecnológica trouxe inúmeros desafios. O Estadão, ao invés de receá-los, abraçou as novas possibilidades e adaptou-se a cada uma das demandas da sociedade do século 21, criando versões digitais de suas publicações, aumentando os investimentos em jornalismo de dados e, não menos importante, incorporando a excelência de sua produção editorial às novas plataformas audiovisuais a fim de diversificar os meios pelos quais chega até os seus leitores.
Quando pisou na redação de A Província de São Paulo pela primeira vez, ainda como redator, em 1888, Júlio Mesquita encontrou um jornal que tinha exatos 904 assinantes. Em 1927, ano de sua morte, 48.638 pessoas pagavam para receber O Estado de S. Paulo todos os dias em casa, como registra Jorge Caldeira, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras, em sua portentosa obra Júlio Mesquita e Seu Tempo (2015).
Essa extraordinária transformação de um periódico provinciano no jornal que o Estadão é hoje é a prova maior de que firmeza de propósito, respeito aos fatos e compromisso com a democracia e com o desenvolvimento do Brasil não saem de moda e ainda compensam.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi blogspot com
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