Gazeta Socialista
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 25/04/2008.
A Epopéia dos 200 Anos da Imprensa (III).
À memória de Orlando Dantas.
Por Luíz Antônio Barreto.
As páginas dos jornais estão repletas de informações e de
opiniões que atestam interesses difusos, pendulando entre a formação de uma
opinião pública de adesão e outra destinada a ajudar na compreensão dos fatos.
A opinião pública de adesão decorre do uso político do jornalismo, para fins de
conquista ou manutenção do Poder. Muitos exemplos, deploráveis, fizeram dos
jornais armas de grosso calibre, mortais em seus textos, marcantes para a vida
de pessoas, alvejadas pela vileza de uns, que tal e qual o humor dos príncipes,
visam apenas demarcar território de domínio. Os políticos, ou aqueles que lhes
estão próximos, são os alvos preferenciais, como temos, em Sergipe, bons
exemplos.
No convívio social três situações são deploráveis e afetam,
moralmente, a imagem de cada vítima: a traição conjugal, o homossexualismo, e a
ladroagem. É comum achar-se, na história da imprensa, exemplos de tais
situações, ou suspeitas, envolvendo desafetos, notadamente entre políticos,
justamente aqueles que circulam no meio das comunidades, em busca de votos para
os seus projetos eleitorais. Graccho Cardoso, Augusto Maynard, Manoel Dantas,
Luiz Garcia, dentre muitos outros, sofreram a pecha da suspeita e mesmo que
nada pudesse passar de suposições, ficaram marcados. Via de regra os atingidos
provém de famílias pobres, que superaram a realidade familiar e projetaram seus
nomes na história. Quem era Graccho Cardoso, nascido e criado numa família de
professores pobres, para merecer os ataques de alguns jornais, enquanto estava
no Governo do Estado (1922-1926)? E o Major Augusto Maynard Gomes,
revolucionário de 1924 e 1926, filho de uma família comum, sem engenhos ou
usinas, em Rosário do Catete? E Luiz Garcia, nascido também em Rosário, filho
de um pequeno comerciante de produtos farmacêuticos e funcionário público? E
Manoel Correia Dantas, que embora nascesse respirando o cheiro da cana moída
nos engenhos dos seus familiares, entre Divina Pastora e Capela, era um cidadão
de classe média, que atingido em sua honra preferiu viver e morrer fora de
Sergipe, desde que foi retirado do Poder pelos revolucionários de 1930. Não por
mera coincidência, a classe dominante, endinheirada, sobreviveu acima de
qualquer suspeita, como se fossem parâmetros de dignidade. E muitos eram.
O equilíbrio está no jornalismo que forma opinião no sentido
de cada leitor ter possibilidade de compreender e assimilar os fatos. Cresce de
importância, tanto no século XIX, quanto no século XX, os jornais destinados ao
serviço de causas justas, inovadoras, progressistas, como aquelas que podem ser
encontradas em jornais como o Correio Sergipense, Luz Matinal, O Libertador, O
Republicano, todos do século XIX, que souberam abraçar temas novos e
palpitantes. Nas páginas do Correio Sergipense estão as primeiras produções
literárias locais, artigos tratando da organização da vida econômica da
Província emancipada, e tudo o mais que estava destinado a fazer de Sergipe um
objeto de permanente reflexão. Luz Matinal e O Libertador, reunindo Francisco
José Alves, Etelvina Amália de Siqueira, Prado Sampaio e outros abolicionistas,
agitaram a idéia da liberdade dos escravos. O Republicano, publicado em
Laranjeiras, era porta-voz dos jovens republicanos, e contava com o talento de
Felisbelo Freire, Silvio Romero, Baltazar de Góes e outros cabeças da
propaganda republicana em Sergipe.
No século XX foram muitos os jornais editados em Aracaju,
alguns dos quais de excelente feição redacional e gráfica, contando com ícones
da intelectualidade local em suas páginas. É sempre bom lembrar que Gumercindo
Bessa, Prado Sampaio, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Clodomir Silva,
Passos Cabral, Artur Fortes, Carlos Garcia,
Carvalho Neto, que souberam ser jornalistas e intelectuais, conciliando
a ética e a estética, como valores
inseparáveis ao jornalismo e à literatura. É também de boa lembrança que poetas
como José Maria Fontes, José Sampaio, Santo Souza, freqüentaram as páginas dos
jornais, antes que os suplementos ganhassem importância como veículo
diferenciado. A criação de órgãos de cultura, como ao Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe, em 1912, a Academia Sergipana de Letras, em 1929, a
Sociedade de Cultura Artística de Sergipe, em 1951; as tragédias, como a da
Gripe Espanhola, em 1918, a dos torpedeamentos dos navios na costa sergipana,
pelo submarino alemão U-507, em 1942, os
crimes do menino Carlos Werneck, do médico Carlos Firpo, e muitos outros eventos
que chocaram e comoveram Aracaju, ao lado de datas sociais, festas, diversões
que alegraram a vida local, ocuparam as páginas dos jornais, em registros
definitivos.
A Gazeta Socialista, depois convertida em Gazeta de Sergipe,
que funcionou por mais de 50 anos, difundindo um pensamento político novo,
fazendo a defesa do Estado e dos mais legítimos interesses da população, num
claro uso de formação de uma opinião pública de compreensão da realidade;
lutando em favor da exploração das reservas minerais e de um modelo de
desenvolvimento diverso daquele que vigorou, desde a conquista do território,
em 1590; pode ser, sem favor e ainda que sem esconder seus pecados, um exemplo
e um símbolo, uma casa e uma escola do jornalismo sergipano. (continua).
Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
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