O Noticiador Sergipense.
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 18/04/2008.
A epopéia dos 200 anos da imprensa (II).
A Ivan Valença, ao ensejo dos seus 50 anos de jornalismo
Por Luíz Antônio Barreto.
A imprensa sergipana, criada na Estancia em 1832, na
Tipografia Silveira, com o pequeno jornal O Recopilador Sergipano, redigido
pelo padre José Alves Pitangueira, insere-se na história da imprensa
brasileira, pela ligação íntima com a divulgação dos atos oficiais. Enquanto o
Correio Brasiliense, o primeiro jornal brasileiro, circulou em Londres, em
1808, distante no Poder, o jornal estanciano tinha a proximidade política com a
administração da nova Província,
emancipada em 8 de julho de 1820.
O monsenhor Antonio Fernandes da Silveira, proprietário da
tipografia Silveira, foi o responsável pela edição de outros jornais, como
Diário do Conselho Geral da Província de Sergipe, em Estancia, e o Noticiador
Sergipense, em São Cristovão. Foi, também, editor do primeiro jornal da
Província do Piauí, além de político, fundador de um dos primeiros partidos – o
Luzia, deputado geral e membro e presidente do Conselho Geral da Província, que
precedeu a Assembléia Provincial de Sergipe, criada com o Ato Adicinal de 1834
e instalada no começo do ano de 1835.
Um parêntesis: No passado mais remoto, por volta dos anos de
1730/1740, houve uma tentativa de organização de uma tipografia em Sergipe,
chegando a ser publicadas umas “gazetas”, consideradas infamantes e
subversivas, atribuídas ao padre Eusébio Dias Laços Lima, da vigararia de
Itapicuru de Cima, agregado a Freguesia de Lagarto. Tais publicações foram
citadas em processo no Conselho Ultramarino, que envolveram o sacerdote por ter
declarado o Brasil – especialmente Sergipe e Alagoas – Império livre,
distribuindo cartas de nobreza com seus seguidores. Fecha o parêntesis.
O dístico Sede justos se quereis ser livre/ sede unidos se
quereis ser forte, de Washington, colocado como epígrafe no cabeçalho do
Recopilador Sergipano, tinha relação apropriada com o sentimento de liberdade
dos sergipanos, que a Constituição do Império, de 1824, consolidou. E tanto foi
assim que outros jornais com as mesmas características de folhas oficiais
repetiram a frase, como uma espécie de guia conscientizador. Os jornais
Noticiador Sergipense e Correio Sergipense, ambos editados na capital da Província,
também se valeram da mesma epígrafe¸ o que significa um uso contínuo, por 34
anos, de uma afirmação forte de justiça, de liberdade, de união e de força,
elementos agregadores de uma sociedade em formação, com a responsabilidade de
gerir seus próprios negócios, ter seu próprio Governo, construir seu próprio
futuro.
Todos os jornais até agora citados têm em comum a função de
folha oficial, embora a circulação fosse de duas ou no máximo três vezes por
semana. De todos eles o mais duradouro, e por todos os títulos melhor, foi o
Correio Sergipense, que teve início em São Cristovão em 1838, quando pelo
Decreto nº 4, de 7 de março, foi montada a Tipografia Provincial, para
publicação de um jornal, sendo editado às quartas e sábados até 1855, passando,
com a capital, para Aracaju, onde circulou por mais 11 anos, até 1866. Este
jornal foi editado pela Tipografia Provincial. Domingos Mondim Pestana e
oVigário José Gonçalves Barroso foram dois dos mais importantes redatores,
tendo o primeiro sido diretor da Tipografia Provincial, um dos empregos
públicos de destaque, naquele tempo.
Outro parêntesis: Em 1860, ao visitar a Província de
Sergipe, o Imperador Pedro II esteve na Tipografia Provincial, conheceu os
funcionários e estranhou que eles fossem pagos pelo Governo da Província, viu o
maquinário, os tipos móveis com os quais era composto o jornal, mas registrou a
falta de uma coleção completa, com os números atrasados. A observação do
Imperador atesta que o descaso para com a memória sergipana é antigo. Ainda
hoje as coleções dos jornais são incompletas, e muitas delas não favorecem a
leitura. O próprio Diário Oficial, que desde 1919 é editado regularmente, não
tem sido guardado com regularidade. A SEGRASE, por exemplo, começa sua coleção
em 1922, com um pequeno volume encadernado. A atual direção, sensível ao fato,
já pensa em recompor a coleção completa, o que favoreceria a consulta interessada e a pesquisa histórica. Fim do parêntesis.
Houve um pequeno hiato entre o Correio Sergipense e o Jornal
de Aracaju como jornais destinados à publicação dos atos e do noticiário
oficial da Província. O Correio encerra as suas atividades em 1866 e o Jornal
do Aracaju só inicia a sua edição em 1870. O Governo provincial pensou em
acabar com a Tipografia e contratar diretamente a edição de jornais. Através do
instrumento contratual, o Jornal de Sergipe, órgão do Partido Liberal, dirigido
pelo bacharel José Fiel de Jesus Leite, que circulou, com interrupções, entre
1868 e 1906, contando com outras direções, como a de Gonçalo de Aguiar Boto de
Menezes, e diversos colaboradores, como Antonio da Mota Rabelo, tomou feição de
jornal oficial.
Seguiram-se os jornais O Republicano, ( primeiramente foi
editado em Laranjeiras, como órgão da propaganda republicana, depois foi mudado
para Aracaju, onde começou a sair em 4 de janeiro de 1890), dirigido por
Joaquim Anastácio de Menezes, tendo como principal redator o professor Brício
Cardoso, editado de 1890 a 1893; O Dia, de janeiro de 1894 a 1895. No primeiro
Governo do general Oliveira Valadão foi criado um jornal oficial, que a partir
de 1º de setembro de 1895 começou a circular com o título de Diário Oficial do
Estado de Sergipe, dirigido por João Menezes, sobrevivendo até 1898, quando foi
extinto, coincidindo tal extinção com o fim do mandato do Presidente Valadão.
No mesmo ano de 1898, no dia 5 de julho, apareceu o jornal O
Estado de Sergipe, como jornal oficial, redigido por Brício Cardoso, até 1904,
e por Manoel dos Passos de Oliveira Teles, nos anos seguintes e até 1919, quando
o Decreto 696 de 22 de outubro o transformou em diário oficial, com o mesmo
formato do primeiro DO, que é igual ao de hoje, tipo de tablóide.
Desde 24 de outubro de 1919, quando publicou em suas
primeiras páginas a nova Constituição estadual, que o Diário Oficial do Estado
de Sergipe vem cumprindo a sua função divulgadora, com poucas modificações,
sempre circunstanciais, sempre provisórias, sendo o mais completo acervo dos
atos oficiais de Sergipe, por isso mesmo uma fonte recorrente da vida administrativa,
política e jurídica do Estado. (continua).
Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Nenhum comentário:
Postar um comentário