Publicado pelo blog Movimento Ativista, em Julho de 2015.
Eduardo Waack escreve sobre os 25 Anos do jornal O Capital, editado por Ilma Fontes.
Ilma Fontes é figura legendária da literatura nacional, da
nordestinidade e do jornalismo alternativo. Mulher tão forte quanto bela,
partiu corações e fez muitos intelectuais reverem opiniões, embalados pela
clareza de sua presença iluminada e rara. Não é figura fácil, defende suas
posturas com a mesma firmeza com que acolhe amigos oriundos dos quatro cantos
do planeta. Tenho o enorme prazer de conhecê-la há quase 25 anos, quando um dia
recebi em minha casa, no final de 1991, um exemplar de O Capital. Meses antes,
amigos comuns residentes em Pernambuco lhe entregaram a edição nº 9 de O
Boêmio, jornal por mim editado. Era um tempo em que as pessoas se escreviam
longas cartas, que o correio postal entregava e eram aguardadas com verdadeira
ansiedade. Não havia internet e nem telefones celulares, que diluem os afetos e
afastam os seres, dando a falsa impressão que nos une a todos numa aldeia
global. O mundo digitalizado sufocou os afetos e esfriou os carinhos. Com o
mesmo carinho recebi cada uma das 251 edições de O Capital que Ilma gentilmente
me enviou mensalmente.
A alegria contagia toda a família, pois este valente jornal
tem lugar cativo em minha residência, em cima do balcão que une a cozinha à
sala. Sempre existe um exemplar de O Capital à disposição de quem chega em casa
e tê-lo à mostra me faz tanto bem quanto a felicidade de respirar sem precisar
pagar. Ler Ilma é saber e sentir que estamos vivos e atuantes. Por suas páginas
passaram aplaudidos nomes da cena cultural brasileira e pequenos grandes
segredos tornaram-se públicos. Ilma vai até as últimas conseqüências para
honrar seus compromissos e posição. Exemplar cronista, ela deixa o nome de
Sergipe, e em especial sua querida Aracaju, em evidência no atlas nacional.
Lembro-me das colunas de Newman Sucupira e Mano Melo, dos poemas de Ane Walsh,
Maria Cristina Gama e Djanira Pio, da fresca elegância de Araripe Coutinho,
ousado como o perfume de flores silvestres.
Lembro-me de Rosemberg Filho e
Lapi, viajo com Henry Jaepelt e Márcia Guimarães. E sou leitor assíduo dos 24
Comentários de Jorge Domingos. Ilma é nossa grande mãe, nossa mestra, irmã e
musa inspiradora. Aonde ela vai, vamos todos nós. Seus editoriais reunidos são
literatura da melhor qualidade. E assim seguimos esta batalha num intenso
intercâmbio. Somos resistentes ao ordinário, o que fazemos é cultura popular
independente e evolucionária. O destino nos uniu. Como me disse certa vez na
Universidade de São Paulo o poeta concretista Augusto de Campos, referindo-se a
Haroldo, somos irmãos siamesmos. A primeira edição de nossos jornais foi
publicada em 26 de junho de 1991, no mesmo dia mês e ano. O Capital para mim é
referência obrigatória, é tendência, vanguarda e história. Ele me guia como um
pastor conduz suas ovelhas. Procuro dialogar com O Capital e resolver os
enigmas por Ilma propostos. E tenho em mente uma certeza: enquanto existir O
Capital e Ilma Fontes, eu sigo editando O Boêmio. Um dia sei que não estaremos
mais aqui. Porém, fizemos a nossa parte, estamos fazendo, acertando e errando,
da melhor maneira possível. Ilma é a serena lua cheia que cruza os céus da
poesia e ilumina os apaixonados na longa noite latino-americana. Ilma Fontes
sou eu. Eu sou Ilma Fontes.
Eduardo Waack.
Texto e imagem reproduzidos do blog: movimentoativista.blogspot.com.br
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