Otavio Frias Filho (Foto: Lucas Lacaz Ruiz / Futura Press)
Otavio Frias Filho, a trajetória de um jornalista
transformador
Diretor de redação da Folha morreu nesta terça-feira (21) em
São Paulo aos 61 anos.
Por TV Globo, São Paulo
Em 24 de maio de 1984, a ‘Folha de S. Paulo’ estampava um
passo importante na trajetória de Otavio Frias Filho e na sua própria: a
primeira capa em que o jornalista aparecia como diretor de redação.
O começo não foi fácil. O jovem, de 26 anos, enfrentou
resistência interna e externa. Especialmente porque era filho do dono, Octávio
Frias de Oliveira.
"A memória do meu pai é um emblema muito importante na
minha vida, na minha formação", disse Otavio à GloboNews.
O início na Folha tinha sido bem antes.
"Aos 21 anos, por conta da conexão familiar”, disse
Frias Filho. “Comecei muito cedo trabalhando com meu pai, trabalhei também com
o Claudio Abramo, passei por diversas fases do jornal."
Naquele período, a folha já tinha começado seu processo de
modernização havia dez anos, buscando ser um veículo de imprensa independente
das forças políticas.
Já tinha se afastado havia uma década do apoio que, por dez
anos, deu à ditadura militar.
Nos 34 anos como diretor do jornal, passou por turbulências
políticas e econômicas. E um período de profundas transformações no mundo e no
Brasil, que ele dizia que foram acompanhadas também pela Folha e pelo
jornalismo.
"Às vezes se cobra desta folha ter apoiado a ditadura
durante a primeira metade de sua vigência, tornando-se um dos veículos mais críticos
na metade seguinte. Não há dúvida de que, aos olhos de hoje, aquele apoio foi
um erro."
Mas foi sem dúvida nas mãos de Otavio que esse processo de
modernização se radicalizou, se aprofundou e se consolidou.
A Folha de S. Paulo se tornou o que é hoje: um jornal
radical na busca por independência e isenção.
Otavio Frias Filho, assim que assumiu o comando da redação,
lançou o Projeto Folha, que transformou o jornal e foi referência para as
outras mudanças.
E com esse espírito, criou um manual de redação.
O documento pregava um texto mais descritivo, rigoroso e
impessoal -- menos sujeito a impressões do autor e que influenciou toda uma
geração de jornalistas, professores e estudantes da profissão.
“Nós estabelecemos alguns pressupostos em termos de projeto
editorial. A gente costuma dizer que a gente está empenhado em praticar um
jornalismo que seja crítico, apartidário e pluralista”, disse Frias Filho em
entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura.
Um momento que marcou o jornal logo no início da gestão de
Otavio foi a decisão de encampar o movimento pelas Diretas-Já, em 1984, que
pedia eleições diretas para presidente da república após o fim do mandato de
João Figueiredo.
Em 1989, a Folha foi o primeiro jornal brasileiro a
implantar a função de ombudsman - um jornalista cuja função é criticar com
liberdade a forma e o conteúdo do jornal.
Paulistano, Otavio dizia que a Folha ficou conhecida como o
jornal dos imigrantes.
“Voltou-se para as pessoas que nasciam ou chegavam a São
Paulo dispostas a abrir seu próprio caminho e encontrar seu lugar ao sol. A
Folha tornou-se um espelho dessas pessoas. Incorporou sua inquietude, seu
arrojo e suas ambições”, disse Otavio à TV Folha.
Nos 34 anos como diretor do jornal, passou por turbulências
políticas e econômicas. E um período de profundas transformações no mundo e no
Brasil, que ele dizia que foram acompanhadas também pela Folha e pelo
jornalismo.
"O jornalismo se desenvolveu muito, passou a contemplar
áreas que não eram objeto da atenção dos jornalistas, acho que as coberturas se
tornaram mais críticas, mais incisivas, acho que houve também um avanço também
dos jornais e o jornalismo de um modo geral apresentarem visões mais plurais a
respeito da realidade, diferentes pontos de vista”, disse Otavio à GloboNews.
Sobre o surgimento das novas mídias, era um entusiasta.
“Elas colocam dificuldades, problemas, desafios também, mas
eu acho que quanto mais plataformas e veículos e possibilidades de comunicação
jornalística houver, isso vai beneficiar a sociedade e o próprio jornalismo.
Haverá mais competição e a competição em si é algo de bom.”
Em 2000, participou da criação do jornal Valor Econômico,
uma parceria do Grupo Folha com o Grupo Globo (veja a nota do presidente do
Conselho Editorial do Grupo Globo sobre a morte de Otavio Frias Filho).
Em 2016, o Grupo Globo passou a ser o único proprietário do
jornal.
Frias Filho era apaixonado por teatro, cinema, literatura e
dizia ser muito exigente com a própria produção.
Autor de peças de teatro e livros.
Entre eles, um infantil e uma coletânea de 25 ensaios
escritos ao longo da carreira.
“Eu sempre gostei de escrever, sempre gostei de ler, sempre
foi assim um tipo de atmosfera na qual eu me sentia à vontade. Existe de
esquizofrenia, você acaba levando duas vidas, uma vida que é a sua atividade
profissional, sua responsabilidade, seu dia a dia e uma outra vida que no meu
caso eu desenvolvi esse lado autoral.”
Mas foi no jornalismo onde, sobretudo, deixou sua marca.
"Divulgar a verdade, estimular um exercício consciente
da cidadania, iluminar o debate dos problemas coletivos - que outra atividade
seria mais elogiável e necessária do que essa?”
Texto e imagem reproduzidos do site: g1.globo.com/sp
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