terça-feira, 10 de junho de 2014

A Epopéia dos 200 Anos da Imprensa


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 11/04/2008.

A epopéia dos 200 anos da imprensa

Quando Luiz de Camões escreveu Os Lusíadas ele encerrou o ciclo das epopéias de pura imaginação, iniciando os cantos de ação, tendo no centro, como personagens, os mareantes portugueses.

Aos participantes da 38ª
Reunião da Associação Brasileira de
Imprensas Oficiais

Por Luíz Antônio Barreto. 

Quando Luiz de Camões escreveu Os Lusíadas ele encerrou o ciclo das epopéias de pura imaginação, iniciando os cantos de ação, tendo no centro, como personagens, os mareantes portugueses que souberam, em suas caravelas instrumentalizadas para dilatar a cartografia do mundo, revelar paisagens, nações, riquezas com as quais os governos europeus sequer sonhavam. Havia, é certo, um imaginário em torno da Ilha de São Brandão, ou, antes, da presença fenícia, comandada pela fugitiva rainha Bar de Ilu, e, em conseqüência, da identificação de mulheres guerreiras, sem o peito esquerdo, como se fossem as lendárias Amazonas. Os fatos gerados por Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Américo Vespúcio, que fizeram tremular a cruz e a bandeira portuguesa em suas viagens, atestaram a inspirada poética de Camões.

Na paráfrase possível, a circulação dos jornais que estão na origem da história, de 200 anos, da imprensa no Brasil terá tido a mesma força cultural que a epopéia de Camões. Os jornais universalizaram o conhecimento dos fatos, retirando a concentração geradora da difusão interessada, e mantida pessoal e grupalmente, como um bem restrito, um Poder unipessoal, hereditário. Mesmo que os jornais tivessem seus donos, ou fossem criados como órgãos públicos, produzidos pelas tipografias oficiais, eles popularizam as notícias, deram espaço aos críticos e comentaristas, e assim cumpriram, de 1808 até 1898, em 90 anos, um papel inestimável, produzindo efeitos singulares na vida brasileira.

Três exemplos: a cobertura, engajada e até apaixonada, da Guerra do Paraguai, louvando a formação dos voluntários da pátria, com suas vitórias nos campos de batalha, e, ao mesmo tempo, animando o surgimento de uma nova classe influente, a dos militares, que cobertos de glória organizaram, em certa medida, a República, cuja propaganda, desde a divulgação do Manifesto de 1870, se fez pela imprensa, em todos os rincões do Brasil e a campanha pela abolição da escravatura, presente nos jornais, antes mesmo da criação das sociedades secretas e abertas, que patrocinaram debates e ações práticas, até 13 de maio de 1888.

Uma verdadeira peleja foi travada entre o conhecimento dirigido, de transmissão oral, e de interesses definidos e bem localizados, e as notícias que os jornais levavam, quase sempre sem freqüência certa, sem formato universal, aos leitores, cada vez mais curiosos com a geração daquele conhecimento novo. Os jornais popularizaram as notícias, quebram a espinha dorsal do conhecimento dominante, e permitiram o surgimento de um processo inesgotável de evolução cultural.

De tal forma o jornalismo difundiu as descobertas do inglês Charles Darwin sobre a vida e a evolução das espécies, seqüenciadas pelo alemão Ernest Haeckel, que fez da segunda metade do século XIX um campo de batalha intelectual, conotado pelo pensamento filosófico que balizava a discussão e permitia uma nova paráfrase: o saber de salvação era questionado e muitas vezes trocado por um conhecimento crítico, atualizado pela força de cada corrente de pensamento. Tal testemunho está nas páginas dos jornais brasileiros, desde as pequenas folhas, quase avulsas, até os grandes noticiosos, para qualquer necessidade de conferência.

É, talvez, a partir de tais embates que os textos jornalísticos ganham maior qualidade e revelam autores que se tornaram, em várias partes do Brasil, intelectuais importantes, para a formação da cultura brasileira. É mais uma das contribuições que a imprensa, em seus 200 anos, tenha a apresentar, o que leva a louvar a atitude de D. João VI, que tão logo chegou ao Rio de Janeiro, para governar do Brasil o Reino Unido de Portugal e Algarve, trouxe em sua bagagem prelos e tipos, antes proibidos, terminantemente, por sua mãe, Dona Maria, tida como a Rainha Louca. A Imprensa Régia, tanto quanto o Correio Brasiliense, é parte desse capítulo inicial da imprensa brasileira.

Os apupos, querelas, enfrentamentos na convivência do noticiário oficial e a plena divulgação dos fatos, são percalços que não retiram, em nada, a importância da imprensa e do jornalismo que vive nela. O Brasil ganhou muito com os fatos de 1808, e guarda, em condições nem sempre favoráveis, um acervo grandioso de jornais, que é fonte primária da pesquisa histórica. Parte dos jornais brasileiros, desde 1808, está disponível, em microfilmes, e para consulta, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. Sergipe avançou mais e mantém, em CDs, grande parte dos seus jornais, dos séculos XIX e XX, alguns dos quais disponíveis na rede mundial de computadores. (continua).

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

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