domingo, 17 de novembro de 2024

Neu Fontes... p/resgate do Pipiri - O Jornal da Cultura

Legenda da foto: Eu e Neu Fontes, com o livro dele em mãos: uma ideia de resgate

Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA, de 11 de novembro de 2024

Neu Fontes está de mangas arregaçadas, trabalhando pelo resgate do Pipiri - O Jornal da Cultura

Por Antônio Passos*

Nesta segunda-feira, 11, pela manhã, antes de sentar para escrever esta coluna, fiz uma visita ao recém-empossado presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju – Funcaju -, o artista, gestor cultural e amigo Neu Fontes.

A visita começou a ser esboçada poucos dias antes. Em um encontro casual, parabenizei o amigo por ter assumido a Presidência da Funcaju e ele me adiantou que pensava em promover um resgate do Pipiri – O Jornal da Cultura.

Para quem não tem idade de ter visto e ainda não teve a oportunidade de conhecer a história, o Pipiri foi um jornal impresso, inicialmente produzido pela então Secretaria Municipal Cultura, que circulou durante alguns anos.

Estamos falando da década de 1980, um tempo no qual o jornalismo impresso tinha um papel central na vida da cidade e na formação da opinião pública. Não havia internet e nem as agitadas redes sociais de agora.

Os jornais impressos eram indispensáveis para quem quer que quisesse andar bem informado. Eram peça farta entre livros carregados por universitários embaixo de braços vestidos por paletó e dentro de bolsas.

Em Aracaju haviam quatro ou cinco jornais diários, uns dois semanais e mais alguns de periodicidade duvidosa. Entretanto, em toda essa folhagem impressa quase sempre os temas arte e cultura viviam espremidos.

Foi aí então que surgiu o Pipiri – O Jornal da Cultura. Isso mesmo, uma publicação inteiramente dedicada a arte e a cultura produzidas em Aracaju e seus intercâmbios com expressões vindas de outros cantos do mundo.

A estrutura que deu suporte ao projeto foi a Secretaria Municipal de Cultura. A secretária era Lânia Duarte e a produção e editoria foi entregue ao comando da jornalista Ilma Fontes. A ideia foi tão bem aceita que perdurou por diferentes gestões.

E assim circulou o Pipiri por um bom tempo, feito com muito carinho e empenho por quem passou por lá. De um modo quase artesanal, o jornal contou em sua concepção visual com o indelével traço do artista plástico Jorge Luiz e de outros.

O tempo e os gestores, entretanto, que tanto promovem quanto sufocam momentos luminosos, acabaram por encarcerar o Pipiri – O Jornal da Cultura, em salas escuras de arquivos mortos.

Agora, mostrando compromisso com a sua história de mais de 40 anos envolvidos com a arte sergipana, bem como com a gestão cultural, Neu Fontes arregaçou as mangas em favor de um resgate do Pipiri.

A ideia é produzir ainda este ano uma edição especial que apresente às novas gerações de artistas e produtores culturais essa página tão reluzente e vibrante de divulgação de nossa cultura artística: o Pipiri.

Que a memorável ideia seja semente e volte a dar bons frutos. Que sirva de farol para iluminar o caminho de início da nova gestão municipal que se aproxima. Aracaju e Sergipe andam carentes de publicações dedicadas aos temas arte e cultura.

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* Articulista Antonio Passos, é jornalista e professor

Texto e imagem reproduzidos do site: www jlpolitica com br

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Coleção completa da 'Playboy' é anunciada por R$ 73 mil

Legenda da imagem: Coleção completa da 'Playboy' é anunciada; edição com Xuxa está entre as raridades — Crédito da foto: divulgação e reprodução

Publicação compartilhada do site do jornal EXTRA GLOBO, de 11 de novembro de 2024 

Coleção completa da 'Playboy' é anunciada por R$ 73 mil na web; saiba quais são as mais raras e desejadas

Revista completaria 50 anos no Brasil em agosto de 2025

Se ainda fosse publicada, a "Playboy" completaria 50 anos de existência no Brasil em 2025. Mesmo extinta por aqui desde 2017, a revista que tirou a roupa de várias estrelas se mantém viva na memória de colecionadores, fazendo com que sebos físicos e virtuais sigam vendendo exemplares. Agora, uma coleção completa da "Playboy" brasileira, do primeiro ao último número, está sendo anunciada na web por um valor astronômico: R$ 73 mil.

O dono do sebo, Lucas Hit, que também é colecionador, justifica o preço cobrado: "Esse lote tem 551 'Playboys' regulares, 264 revistas de edições especiais e outros itens como suplementos, livros e raridades. São no total 915 itens".

Revista fez sucesso durante 40 anos no Brasil

Xuxa, Sonia Braga, Claudia Ohana, Luciana Vendramini, Mara Maravilha e Tiazinha são algumas das musas mais procuradas da revista, que chegou a se chamar "Homem" nas primeiras edições. A "Playboy" que traz a Rainha dos Baixinhos na capa, publicada em dezembro de 1982, é a mais valiosa. Seu preço varia de R$900 a R$2 mil, dependendo do estado de conservação.

“A Sonia Braga, em setembro de 1984, teve uma capa alternativa da sua 'Playboy' que foi publicada apenas no estado do Rio de Janeiro. Em boas condições, vale R$ 350. A primeira edição da revista, de agosto de 1975, também é muito rara de se encontrar, pelo tempo e pela tiragem na época que foi bem pequena. Vale em média R$500", afirma Lucas.

Outro fetiche dos colecionadores é a edição com a "xuxete" Luciana Vendramini na capa. Uma revista em bom estado de conservação é uma raridade.

"No final de 1987, quando essa revista foi publicada, a impressão não era das melhores. Muitos colecionadores contam que a cola da revista (e algumas outras edições desse período), que segura a lombada, fica seca com o tempo e a revista quebra no meio. Um drama para os colecionadores mais 'chatos'", conta Lucas.




Texto e imagens reproduzidos do site: extra globo com

terça-feira, 5 de novembro de 2024

Evandro Teixeira...um dos gigantes fotojornalistas brasileiros

Legenda da foto: Evandro e Fernanda Montenegro na Casa Roberto Marinho. 'É sempre um prazer estar com ela', escreveu ele em seu perfil no Facebook (12/5/2024). No fundo da imagem, foto feita por ele na Passeata dos 100 Mil (Foto: reprodução).

Texto publicado originalmente no site do JORNAL DO BRASIL, de 4 de novembro de 2024 

Morre Evandro Teixeira, o maior do Jornal do Brasil, um dos gigantes fotojornalistas brasileiros

Por Gilberto Menezes Côrtes 

O lendário fotojornalista Evandro Teixeira, de 88 anos, faleceu nesta segunda (4), na Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio, onde estava internado desde o dia 8 de outubro, lutando contra complicações decorrentes de uma pneumonia. A informação foi confirmada pelo hospital.

Evandro Teixeira é considerado um dos maiores fotojornalistas de todos os tempos. Nascido em 25 de dezembro de 1935, em Irajuba, na Bahia, depois de uma passagem no Jornal de Jequié, cidade vizinha, começou sua carreira em 1958, no Rio de Janeiro, aos 23 anos, como estagiário do “Diário da Noite”. Em 1963, entrou no JORNAL DO BRASIL, onde trabalhou por 47 anos. Foi no JB que ele capturou registros que se tornariam imortais na história da comunicação brasileira.

Durante a ditadura militar, entre 1964 e 1985, tirou fotos como a "Caça ao Estudante na 'Sexta-Feira Sangrenta'", de um homem barbudo caindo ao ser perseguido por dois policiais durante um movimento marcado pela repressão das autoridades, em junho de 1968, depois de uma missa na igreja da Candelária (sites maliciosos já usaram a foto como se fosse Lula perseguido pela PM). Dias depois, fotografou a famosa "Passeata dos Cem Mil".

Um dos seus segredos para capturar os rostos dos participantes era repetir a estratégia de Vladimir Palmeira, o líder estudantil da “Passeata dos Cem Mil”, que subia em um caixote para se sobressair na multidão. Evandro usava uma escada na qual subia e, assim, as fotos das movimentações tanto identificavam as pessoas quanto o teor das faixas e cartazes. Outra estratégia foi subir em marquises ou janelas dos prédios da Avenida Rio Branco, onde ficava o JB.

Um grande furo no Chile

Um de seus grandes furos jornalísticos aconteceu no Chile, para onde viajou, em agosto de 1973, pelo JORNAL DO BRASIL, na companhia do saudoso repórter Humberto Vasconcelos, a fim de cobrir a agitação política que levou ao fim do governo do presidente Salvador Allende e ao golpe militar liderado pelo general Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973. A primeira página do JB, de 12 de setembro, com o relato da morte de Allende e a tomada do poder pelo general Pinochet, foi antológica, mas não teve nenhuma foto de Evandro. Para driblar a ordem da censura que não queria manchete nem imagens do golpe militar, o JB publicou um texto integral em corpo 24, sem títulos e entretítulos.

Depois do golpe, um dos grandes apoiadores de Allende, o poeta Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Literatura de 1971, morreu em hospital. Evandro conseguiu se infiltrar no quarto do escritor e fotografou seu corpo rodeado por familiares. Furo mundial. Investigações posteriores indicaram que Neruda morreu envenenado.

Legenda da imagem: A antológica primeira página do JB, de 12 de setembro de 1973, com o relato da morte de Allende e a tomada do poder pelo general Pinochet. Fotos proibidas pela ditadura Foto: CPDOC Jornal do Brasil

No ano passado, Evandro foi a Santiago para a inauguração de sua exposição com fotografias sobre o golpe de 1973 contra Allende, na descomemoração dos 50 anos... O Coletivo Viva Chile relata “o enorme privilégio de estar com ele" na ocasião e destaca que “todas as honras lhe foram prestadas no Museu da Memória e dos Direitos Humanos, onde a exposição foi instalada, e no Palácio da Moneda, onde ele foi pessoalmente recebido pelo presidente Gabriel Boric”.

Ainda segundo o Coletivo Viva Chile, “o Chile reconheceu a importância das fotos de Evandro Teixeira, que registrou para a história, entre outras coisas, a morte de Pablo Neruda e os presos enjaulados no Estádio Nacional de Santiago. Um desses presos, cuja imagem havia sido capturada por ele, estava presente na inauguração da exposição”, assinala a mensagem.

Como fotógrafo do JB credenciado para cobrir a Presidência da República, além de acompanhar e registrar viagens dos generais da ditadura pelo mundo, Evandro registrou visitas importantes, como a da Rainha Elizabeth II, em 1968, com uma foto icônica da Rainha do Reino Unido recebendo cumprimentos do Rei Pelé, após um amistoso entre a seleção carioca e a paulista, no Maracanã. Em 1980, foi a vez de Evandro registrar a visita do Papa João Paulo II. Artistas e ídolos do esporte brasileiro, como Pelé e Ayrton Senna, eram constantes em seu “álbum de figurinhas”.

Ao longo de seus quase 70 anos de carreira, documentou, através de suas lentes, imagens sobre música, moda e comportamento, além do Carnaval e outras festas populares.

Canudos, uma obsessão

O baiano de Irajuba, um pequeno município de pouco mais de seis mil habitantes no Leste da Bahia, cortado pela BR-116, tinha obsessão por Canudos, por ter reunido, há um século, o dobro da população da sua Irajuba. Como parte do projeto para marcar os 100 anos da aniquilação do arraial de Canudos, em 1897, em livro com fotos suas e apresentação da jornalista Ivana Bentes, Evandro para lá viajou, em 1996, a fim de fazer registros fotográficos da Vila de Canudos, fundada em 1893 por Antônio Conselheiro junto com seus seguidores. O local era uma fazenda abandonada que pertencia a um homem chamado Barão de Canabrava. Em meados de 1893, Conselheiro já tinha mais de 10 mil seguidores que se instalaram de vez em Canudos.

O livro “Canudos: 100 Anos, Fotografias de Evandro Teixeira” foi editado em 1997. O primeiro registro em livro das obras de mestre Evandro Teixeira é uma coletânea, de 1982, da Editora JB, com algumas de suas obras mais icônicas nos tempos da ditadura militar. O segundo livro, “Evandro Teixeira: Fotojornalismo”, é uma edição de 1988.

O terceiro livro, de 1990, é “Evandro Teixeira Chile 1973”, com os registros da repressão sangrenta no começo da ditadura de Augusto Pinochet e os detalhes do velório e sepultamento do corpo do poeta Pablo Neruda.

Em 2005, a Textual Comunicação, empresa da filha Carina, editou “Vou viver: tributo ao poeta Pablo Neruda”, com as fotos icônicas do poeta vivo e a sua última imagem.

Para comemorar os 40 anos da “Passeata dos Cem Mil”, a Textual lançou, em 2008, “Destinos, 1968-2008: passeata dos 100 mil”, com relatos de 100 pessoas escolhidas, identificadas na multidão clicada por Evandro Teixeira, um trabalho de fôlego para revisitar a vida de uma fração dos manifestantes. Em 2015, foi lançado “Evandro Teixeira. Retratos do tempo – 50 anos de fotojornalismo”.

Mas assim como cansei de encontrar Evandro na beira da praia de Ipanema num domingo, procurando fotos para a primeira página do JB, ele viajou pelos quatro cantos do Brasil e do mundo atrás de um bom registro de manifestações populares. Ele tinha um jeito todo especial para tirar os melhores ângulos de um evento, como o Quarup, na aldeia do Parque Nacional do Xingu, em 2012, em homenagem ao antropólogo Darcy Ribeiro, devidamente clicado pelas lentes de Milton Guran.

Homenagem em Paraty

Sempre celebrado em exposições pelo mundo afora, uma das últimas aparições de Evandro Teixeira foi, em setembro, no 20º Festival Internacional de Fotografia de Paraty, do qual o convidado de honra era Sebastião Salgado. No primeiro dia do Festival, Evandro foi surpreendido com uma exposição de suas fotografias, na Galeria das Marés, presente dos amigos Sérgio Burgui e Giuseppe Mecarelli. Na abertura da mostra, um encontro de mestres: o amigo Tião Salgado veio acompanhado da esposa, Lélia. Além de posar com o casal, Evandro não se cansou de fotografar Sebastião Salgado e narrou, em postagem no Facebook, de 18 de setembro, a emoção e a alegria que sentiu com a palestra de Salgado.

Evandro era casado com Marly Teixeira, e deixa as filhas Carina e Adryana, e as netas Carina, Manoela e Nina.

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Nota da Presidência da República:

"O Brasil perde hoje Evandro Teixeira, referência no fotojornalismo do nosso país e do mundo.

Com mais de 70 anos de carreira, Evandro registrou momentos históricos como o período da ditadura militar no Brasil. É de sua autoria uma das fotos mais emblemáticas desse período: a Tomada do Forte de Copacabana, de 1964.

Evandro deixa um acervo de mais de 150 mil fotos, com imagens que fazem parte da história do Brasil. Cobriu posses presidenciais, registrou a fome, a pobreza, esportes, personalidades e a cultura do nosso país.

Meus sentimentos aos familiares, amigos, colegas e admiradores de Evandro Teixeira.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República."

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As filhas do Evandro, Adryana e Carina, enviaram a seguinte nota aos amigos na tarde desta segunda-feira (4)"Aqui escrevem Adryana e Carina.

Melhor do que as fotos do Evandro Teixeira, só ELE.

É ele quem coleciona afetos, histórias, amigos e fãs.

É ele quem esbanja generosidade, alegria e uma imensa curiosidade pela vida!

O dono do sorriso largo agradece, junto conosco, as orações, vibrações, mensagens e fotos tão bacanas feitas recentemente.

Este cara fora de série, único, seguiu seu caminho de luz.

Amanhã, terça-feira, dia 5 de novembro, na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio, das 9h às 12h, haverá a cerimônia para os amigos darem um até logo pro baiano mais porreta das nossas vidas!"

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A passeata dos 100 mil. 1968 Foto: Evandro Teixeira/CPDOC Jornal do Brasil

Gal Costa em 2002 Foto: Evandro Teixeira/CPDOC Jornal do Brasil

Texto e imagens reproduzidos do site: www jb com br/obituario/2024

Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo


Fotos de Evandro Teixeira

Texto publicado originalmente no site G1 RJ, de 4 de novembro de 2024 

Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo do Brasil morre no Rio, aos 88 anos

Fotógrafo registrou por 70 anos eventos marcantes da história brasileira e mundial. Velório será aberto ao público, na Câmara Municipal do Rio, na terça-feira.

Por g1 Rio, GloboNews e TV Globo

Morre o fotógrafo Evandro Teixeira, aos 88 anos

Evandro Teixeira, um dos maiores nomes do fotojornalismo brasileiro, morreu nesta segunda-feira (4), aos 88 anos, no Rio de Janeiro.

O fotógrafo inúmeras vezes premiado e autor de imagens marcantes da história do Brasil – e até de outros países – estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, na Zona Sul. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos em decorrência de complicações de uma pneumonia.

Evandro deixa a esposa, Marli, com quem esteve casado por 60 anos, duas filhas e três netas.

O corpo do fotógrafo será velado em cerimônia aberta na Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio, na terça-feira (5), das 9h às 12h.

Passeata dos 100 mil, Tomada do Forte, enterro de Neruda: fotógrafo Evandro Teixeira contou ao g1 as histórias por trás da cobertura de ditaduras

Fotógrafo histórico

Evandro registrou, quase sempre em preto e branco, boa parte do que de mais importante aconteceu na segunda metade do século 20.

Nascido na Bahia, em 1935, Evandro Teixeira deixou Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, para fotografar o Brasil.

Ainda jovem, fez um curso de fotografia à distância e, em 1957, chegou ao Rio de Janeiro com uma carta de recomendação para trabalhar no Diário da Noite.

Logo depois, foi convidado a integrar a equipe do Jornal do Brasil, onde trabalhou por 47 anos, tornando-se uma referência no fotojornalismo.

Em quase 70 anos de carreira, registrou eventos marcantes como o golpe militar de 1964 e a ocupação do Forte de Copacabana em 1º de abril de 1964.

Com a câmera escondida, ele se disfarçou de oficial sem farda, acompanhado por um amigo militar.
"Aí ele bateu continência, eu bati também e falei que era o capitão tal – já não me lembro mais o nome (risos)", lembrou ao g1, em entrevista feita em setembro de 2023.

Em seguida, bateu a poética foto que estampou a primeira página do Jornal do Brasil no dia seguinte, com militares em contraluz debaixo de chuva...

"Tirei o filme da câmera, botei na meia. Na saída, tive que mostrar a câmera, mas já estava com o filme escondido", lembra, revelando um hábito que tinha para evitar ter o rolo apreendido e perder as fotos.

As lentes de Evandro Teixeira foram fundamentais para imortalizar a luta contra os horrores da ditadura no Brasil.

Suas fotos, como a da multidão de cariocas na Passeata dos 100 Mil em 1968, na Cinelândia, no Centro do Rio, são exemplos marcantes de seu trabalho.

“Estava lotado e eu nunca vi tanta gente. Aquela faixa de ‘Abaixo a ditadura, o povo no poder’ me chamou a atenção.”

Em um dia de confusão e corre-corre no Centro do Rio, Evandro capturou uma de suas fotos mais icônicas: a de um estudante caindo enquanto era perseguido por dois policiais...

Recentemente, a imagem circulou com uma mensagem falsa alegando que o estudante seria o atual presidente Lula.

“Ele soltou um gemido alto e ficou estirado no chão. Os policiais tentaram levantá-lo, eu tirei mais uma foto e saí correndo porque eles começaram a me perseguir”, disse ao g1, no ano passado.

Em outra ocasião, na Candelária, Evandro registrou a repressão policial com agentes montados a cavalo.

Em setembro de 1973, Evandro Teixeira voltou sua câmera para o golpe militar no Chile, que resultou na morte do presidente Salvador Allende.

Durante sua estadia, ele capturou fotografias que se tornaram documentos históricos. Algumas dessas imagens foram feitas no Estádio Nacional, onde Evandro conseguiu documentar a violação dos direitos humanos.

Também são dele as fotos do adeus a um dos ícones da esquerda no Chile, o poeta Pablo Neruda...

Também eternizou em imagens Pelé e Ayrton Senna, acompanhou a visita da Rainha Elizabeth e do papa João Paulo II, documentou fome e pobreza e as festas populares, como o carnaval.

O fotógrafo reuniu em livros tudo que lhe dava orgulho. Além da mulher Marli, duas filhas e netos, Evandro deixa um tesouro captado por um olhar incomparável.

Não foi à toa que ganhou, em vida, uma honraria: uma poesia escrita só para ele por Carlos Drummond de Andrade, um admirador do seu trabalho.

Texto reproduzido do site: g1 globo com/rj

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sábado, 2 de novembro de 2024

'Eugênio Nascimento... nos deixou e fará falta!' (C.S.)

Imagem reproduzida do Google

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 01 de novembro de 2024

Opinião - Eugênio Nascimento foi um grande companheiro, nos deixou e fará falta!

Por Célia Silva* (Coluna Aparte)

Hoje o dia amanheceu triste para tantos e muito mais para mim. O jornalista Eugênio Nascimento, que faleceu ontem à noite, foi, além de um colega de Redação, um grande amigo que, assim como os jornalistas Marcos Cardoso e Cleomar Brandi e José Araújo, estes dois também já falecidos, enxergaram naquela "foca" do ano de 1994 que eu era um potencial para estrear no maior e melhor jornal de Sergipe. 

Eugênio Nascimento chegou mais tarde, mas também me abriu portas. Me fez editora e chefe da Redação do jornal onde me formei jornalista para trabalhar naquele que, àquela época, era o grande jornal do Estado de Sergipe. 

Eu e Eugênio brigávamos muito a boa briga no dia-a-dia da Redação. Era cada um, à sua maneira, querendo o melhor para o nosso JC. 

Mas também brincávamos, conversávamos e nos respeitávamos muito, baseados numa profunda admiração mútua e recíproca. 

Agora Eugênio Nascimento se vai, deixando saudades e boas lembranças de um bom camarada, um bom papo, um super alto astral, com aquele vozeirão tão trovejante e enorme como o seu coração.  

Morreu fazendo o que tanto amava e o que tão bem sabia fazer. Sim, morreu jornalista. Um excelente jornalista, com um faro para a notícia como o de poucos que conheci.

Morreu diretor de Redação do JC. Agora vá em paz, meu grande amigo Eugênio Nascimento, cujo sepultamento se dará às 14h no Cemitério Colina da Saudade! 

Embora você respeitosamente não acreditasse, kkk, mas os seus amigos espirituais, o Mestre Jesus e o Grande Pai, estão de braços e de sorrisos abertos pra você. Gratidão eterna, meu bom amigo!

* É jornalista profissional.

Texto reproduzido do site: jlpolitica com br 

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

'Eugênio Nascimento, um grande do jornalismo político' (M.C.)

Artigo compartilhado de post do Facebook/Marcos Cardoso, de 1 de novembro de 2024

Eugênio Nascimento, um grande do jornalismo político

Por Marcos Cardoso

Era impossível não notar quando Eugênio Nascimento chegava à redação do Jornal da Cidade. Entre o vozeirão inconfundível e a pressa de escrever logo o texto político sempre haveria as inevitáveis chacotas. Uma vez ele se levantou e se dirigiu ao amigo Osmário Santos:

— Osmário, seu nome tem um erro de concordância. O grande colunista de variedades e memorialista ficou sem entender. A redação também não entendeu. Ele emendou: — É que seu nome devia ser Os Mários.

E saía dando gargalhadas, chamando Adiberto de Souza de “Qualha” e Cleomar Brandi de “Breti”. Um por causa de um personagem de Chico Anysio chamado Qualhada, apelido que foi dado por Paulo Serra, também emérito piadista, e o outro numa alusão a Bertolt Brecht. Todos éramos muito amigos e sempre ríamos das palhaçadas de Eugênio, mesmo quando já sabíamos do desfecho da piada.

Estávamos no velho Jornal da Cidade da avenida Antônio Cabral, respirando o ar do rio Sergipe e os eflúvios do Mercado Municipal e a poucas quadras da orlinha do Bairro Industrial. Ali fazíamos o principal jornal impresso e um dos melhores veículos de comunicação de Sergipe. Trabalhávamos no jornal de Antônio Carlos Franco, um homem rico, conservador, filho de Augusto Franco e que vibrava junto de todos nós, os “malucos”, e que jamais permitiu qualquer forma de censura.

A morte de Eugênio Nascimento encerra uma era romântica e importante do jornalismo sergipano. Ainda mais para o Jornal da Cidade, que já vinha de duas perdas fundamentais também acontecidas neste ano de 2024. Thaís Bezerra morreu em abril e Osmário Santos em maio, deixando lacunas que jamais serão preenchidas.

Thaís Bezerra produziu um colunismo social rentável e imbatível, iniciado na Gazeta de Sergipe de Orlando Dantas e que se tornou referência no Jornal da Cidade. Osmário Santos inovou no colunismo de variedades e nas entrevistas semanais, que renderam dois livros também referenciados: “Memórias de políticos de Sergipe no Século XX”, organizado pelo professor Afonso Nascimento, irmão de Eugênio, e “Oxente, essa é a nossa gente”, sobre vultos populares, prefaciado e revisado por este que vos escreve. 

Eugênio Nascimento passou por muitas redações e por vários anos foi correspondente da Folha de São Paulo, quando os grandes jornais do país ainda mantinham representantes em quase todos os estados. Adiberto era correspondente do Jornal do Brasil, Milton Alves de O Globo e José Andrade de O Estado de São Paulo.

Através da Folha, Eugênio levou ao conhecimento do Brasil a atuação criminosa do grupo autointitulado A Missão, uma milícia criada no segundo governo de João Alves Filho para supostamente combater a bandidagem no interior de Sergipe.

Ele também trabalhou na Universidade Federal de Sergipe, onde ingressou no início dos anos 90 nos quadros do Centro Editorial e Audiovisual – Ceav, gestão do reitor Luiz Hermínio e a convite do diretor Jorge Aragão, assessorando seguidamente os reitores José Fernandes de Lima, Josué Modesto dos Passos Subrinho e Angelo Antoniolli.

Há 14 anos, Eugênio e o colega jornalista Kleber Santos criaram o blog Primeira Mão, onde ele mantinha uma coluna política semanal. A última coluna foi postada no dia 29 de junho, pouco antes de iniciar a batalha concluída agora, aos 67 anos.

Mas seu grande momento no jornalismo foi o Jornal da Cidade, onde ingressou definitivamente em meados dos anos 90, passando pela reportagem e editor de Política, antes de se tornar diretor de Redação.

Eugênio foi, fundamentalmente, um dos grandes repórteres de política de Sergipe. Era um homem de esquerda, um dos pioneiros do Partido dos Trabalhadores, mas sempre respeitado por todos com quem conviveu e teve acesso fácil a cada um que passou pelo poder. Porque não falseava a verdade, não trabalhava com subterfúgios, era ético e íntegro.

Em tempo: substituindo José Araújo, eu fui diretor de Redação do Jornal da Cidade por 10 anos, de 1999 a 2009, quando saí para assumir a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, gestão Edvaldo Nogueira. Acácia Trindade foi a editora seguinte, depois Andréa Moura e, por fim, Eugênio Nascimento, que assumiu a direção do JC em 2015. O bastão agora está merecidamente nas mãos de Dilson Ramos.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso

Eugênio Nascimento morre aos 66 anos

Texto publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, de 1 de novembro de 2024 

Eugênio Nascimento morre aos 66 anos

Jornalista estava internado desde julho; sepultamento será na Colina da Saudade

Na noite dessa quinta-feira, 31, o jornalismo sergipano perdeu um de seus nomes mais queridos e respeitados: Eugenio Nascimento. Ele estava internado no Hospital Cirurgia e faleceu aos 66 anos em decorrência de problemas cardíacos. Com mais de quatro décadas dedicadas à comunicação, sua trajetória foi marcada pela paixão, pelo compromisso com a verdade e pela habilidade de narrar os fatos com sensibilidade e profundidade.

Nascido no município de Salgado, Eugênio Nascimento é um dos mais importantes nomes do jornalismo político sergipano. Nasceu no dia 13 de novembro de 1957, sendo o terceiro filho de Dona Maria Elze e seu José Nascimento. De Salgado, a família se mudou para Pedrinhas, Aracaju e para Laranjeiras, onde alfabetizou-se.

De lá, mudaram-se definitivamente para rua Espírito Santo, no Siqueira Campos. Estudou no Kennedy da Baixa Fria e depois passou pela seleção da Escola Técnica, onde concluiu o antigo científico. Trabalhou no grupo de teatro amador de Severo D’Acelino, no Siqueira Campos e participou também do Coral da Escola Técnica, com o qual fez várias viagens pelo Brasil. Prestou concurso vestibular para a Universidade Federal de Sergipe no curso de Letras, logo depois abandonado. Ao mesmo tempo começou a estagiar na Gazeta de Sergipe como jornalista e nunca mais largou o ofício. Foi aluno de Orlando Dantas, Nino Porto, Ivan Valença, entre outros.“Muito boêmio, abria e fechava muitos bares. Levava aos ambientes por ele frequentados bom papo e boas risadas”, relembra o professor da UFS, Afonso Nascimento, seu irmão.

Na época de estudante da UFS, teve importante militância estudantil, junto com Milson Barreto, Joel, Zé Luiz, Clímaco, Déda, entre outros. Foi um dos fundadores do PT, o seu único partido. Foi muito influenciado pela esquerda pernambucana, aqui representada por Vera Lúcia Gomes, militante comunista e sindical e fez muitas viagens para Recife. Casou-se com Tereza Cristina Cerqueira Graça, 1979, com quem teve dois filhos, Victor Wladimir e Mayra. E três netos: Lucas, Bernar - do e Aurora.

Já como jornalista, Eugênio trabalhou na Gazeta de Sergipe, no Jornal da Cidade, na extinta TV Jornal, TV Sergipe, foi correspondente por vários anos da Folha de São Paulo. Assumiu a as - sessoria da Universidade Federal de Sergipe, nas gestões de José Alencar, José Fernandes de Lima, Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira, Josué Modesto dos Passos Subrinho e Ângelo Antoniolli. “Fazia a mediação entre os reitores e classe política sergipana, com o que ajudou na liberação de muitas emendas parlamentares para a UFS e, assim, ajudou na expansão dessa instituição de ensino superior na capital e no interior”, reforça o professor Afonso Nascimento, seu irmão e grande admirador do jornalista. Trabalhou na Psico-Clínica de Bosco Mendonça e teve uma passagem pela assessoria da Ordem de Advogados do Brasil. Nos últimos anos assumiu o cargo de diretor de Jornalismo do JORNAL DA CIDADE.

Viajou pela Argentina e pela Europa Latina (Portugal, Espanha, França) e de cada lugar ele trazia uma história boa e divertida para contar, alegrando os familiares e amigos com seu jeito engraçado de ser. O segundo casamento foi com Ivana Guimarães, com quem viveu até os dias atuais. O empresário e secretário de Turismo, Marcos Franco, tinha com Eugenio um vínculo além do profissional. Uma sólida amizade que marcou os longos anos de convivência. “A história de Eugênio Nascimento, no JORNAL DA CIDADE, é longa e não tem apenas a relação profissional, nesses anos que atuamos juntos construímos, também, uma sólida amizade. Era um jornalista sério e competente, uma referência no jornalismo político em Sergipe e por isso sempre foi respeitado pelos colegas e pela classe política. Ele emprestou por mais de três décadas seu talento ao jornal, foram duas longas passagens pelo JC, colaborando para construir a reputação que o jornal tem hoje. Devemos muito a ele, é uma perda muito grande para todos nós, para o jornalismo ser gipano, sobretudo para mim”.

O senador Rogério Carvalho recebeu com pesar a notícia do falecimento de Eugênio Nascimento. “Eugênio foi uma referência no jornalismo sergipano, sempre exercendo sua profissão com coragem, ética e compromisso com a verdade. Sua contribuição para a imprensa e para o debate político no nosso estado é inestimável. Neste momento de tristeza, expresso minha solidariedade à sua família, amigos e a todos que conviveram com esse grande profissional. Eugênio deixa um legado de dedicação ao jornalismo e à democracia”.

Para o secretário de Estado da Comunicação, Cleon Nascimento, a trajetória de Eugênio, marcada pela dedicação e compromisso com a verdade, elevou o jornalismo no estado. “Lamento profundamente o falecimento do jornalista e diretor de Jornalismo do JORNAL DA CIDADE, Eugênio Nascimento. Neste momento de tristeza, me solidarizo com seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Eugênio foi uma figura emblemática da imprensa sergipana. Como editor do Jornal da Cidade, ele se destacou por sua capacidade de transformar notícias em reflexões para a sociedade, sempre com uma visão crítica e sensível aos desafios de Sergipe. A imprensa sergipana perde um grande nome, mas seu legado permanece vivo, refletindo a importância do jornalismo para a construção de uma sociedade mais informada e consciente. Meus mais sinceros sentimentos e respeito”.

O secretário municipal de comunicação de Aracaju, Elton Coelho, declara que Eugenio deixa um legado de aprendizados e bom relacionamento com o mundo político. “Com um faro jornalístico apurado e certeiro, o jornalista e diretor do Jornal da Cidade, Eugênio Nascimento, nos deixa hoje e um legado de ensinamentos, aprendizados e bom relacionamento com o mun do político. Estou sentido, mas ao mesmo tempo vangloriado por ter convivido em sua mesa de redação e até na confraria. Expresso meu profundo pesar pela partida do amigo querido, rogando a Deus que o receba na plenitude do que ele representou neste plano e confortando a todos os familiares e amigos. Vai em paz, Eugênio! ”.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade net

Morre o jornalista Eugênio Nascimento

Legenda da foto: O jornalista Eugênio Nascimento sempre se pautou pela ética

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 1 de novembro de 2024

Morre o jornalista Eugênio Nascimento

Vítima de uma arritmia cardíaca, morreu em Aracaju o jornalista Eugênio Nascimento, 67 anos. Diretor de redação do Jornal da Cidade, ele estava internado no Hospital de Cirurgia há quatro meses, mas não resistiu às complicações e faleceu às 21 horas dessa quinta-feira (31). O velório do corpo acontece no Cemitério Colina da Saudade, onde também ocorrerá o sepultamento, às 14 horas desta sexta-feira (1º). Eugênio deixa viúva, dois filhos e netos.

Nascido em Salgado, Eugênio Nascimento se mudou para Aracaju ainda criança, passando a residir com a família no Bairro Siqueira Campos. Ingressou na imprensa de Sergipe muito jovem, sendo a Gazeta de Sergipe seu primeiro contato com o jornalismo. A brilhante carreira incluiu passagens por vários veículos de comunicação do Estado, a exemplo da TV Sergipe, da extinta TV Jornal e do Jornal da Cidade, onde permaneceu por cerca de 30 anos. Também trabalhou por vários anos como correspondente do jornal Folha de S. Paulo em Sergipe e foi assessor de comunicação da Universidade Federal de Sergipe.

Fundador do PT em Sergipe e da Central Única dos Trabalhadores, Eugênio sempre foi respeitado pela maneira correta de atuar como jornalista, trabalhando com isenção na produção das reportagens políticas. “Recebi com tristeza a notícia sobre o falecimento do jornalista Eugênio Nascimento”, lamentou o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT). O governador de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD), também lamentou a morte do jornalista: “Respeitado, crítico, sagaz, Eugênio comandou a redação do Jornal da Cidade com inteligência. Sua ausência será sentida como uma lacuna na linha de frente dos que acreditam no poder transformador da informação”, escreveu.

Texto e imagem reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

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terça-feira, 29 de outubro de 2024

'Célio Nunes, um contista do cotidiano', por Allan de Oliveira

Legenda da foto: Jornalista Célio Nunes - (Crédito da foto: Wellington Barreto).

Artigo compartilhado do blog LITERATURA SERGIPANA, de 1 de fevereiro de 2015

CÉLIO NUNES, um contista do cotidiano
Por: Allan de Oliveira.

O jornalista, contista, sindicalista, e ativista político, Célio Nunes da Silva nasceu no dia 11 de outubro de 1938 em Aracaju / SE, sendo filho do operário gráfico, funcionário da Secretaria do Estado da Fazenda, e líder sindical José Nunes e da Professora Júlia Canna Brasil e Silva. Estudou no Grupo General Valadão (antes Escola de 1º Grau General Valadão e, atualmente, Colégio São José) e no Colégio Atheneu Sergipense. Começou a carreira de jornalista no final da década de 1950 no jornal Folha Popular do PCB. Após ter adotado ideias comunistas das quais o pai também fora adepto, tornou-se militante estudantil da UJC, e depois, dirigente do PCB. Posteriormente, fora morar no Estado da Bahia, trabalhando em jornais como repórter, redator e correspondente dos jornais Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia e A Tarde, além de também ter exercido funções públicas. Participou do Movimento Cultural da Bahia e do movimento de Teatro Amador. Morou em Itabuna com o irmão, o poeta Hélio Nunes e depois em Ilhéus, onde trabalhou no Diário da Tarde, Correio de Ilhéus, e diretor da Secretaria da Câmara de Itabuna e do Departamento Cultural da Prefeitura. Ao ter morado em Salvador fundou a Sociedade Itabunense de Cultura (SIC), montando várias peças teatrais. Com o Golpe de 1964, foi perseguido, juntamente com o pai e o irmão Hélio Nunes, sofrendo agressão psicológica.

No ano de 1972, fez o Curso de Jornalismo na UFBA, abandonando o curso para voltar para o Estado de Sergipe, trabalhando no serviço público e em jornais, sendo reconhecido como jornalista pela lei da regulamentação de 1971. Logo mais em Aracaju, trabalhou como assessor de imprensa do extinto Condese e na Secretaria de Planejamento, local que se aposentou, e também redator da Gazeta de Sergipe, redator e editor no Jornal da Cidade, redator, editor e diretor geral no Jornal da Manhã, criando o suplemento cultural Arte & Palavras que ajudou como literato, além de divulgar escritores de Sergipe, dirigido aos meios acadêmicos e intelectuais do Brasil e do exterior. Fundou em 1977 o Sindicato dos Jornalistas de Sergipe com alguns amigos, sendo presidente durante dois mandatos e membro de várias associações.

Em suas estórias são mostradas desilusões, angústias, adultério, havendo toques de ironia e lirismo com personagens simples do povo como operários, pescadores, prostitutas, e temas voltados para a promiscuidade, o adultério, o alcoolismo, onde o palco se dá em cidades como o Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, e Alagoas. O próprio autor revela: “[...] existe toda a vida de um ser humano em meio ao mundo caótico em que vivemos”. (NUNES, Célio, 2005). Publicou contos em jornais, revistas, antologias e artigos literários. As primeiras publicações ocorreram na Bahia e em 1972, a consagrada poetisa Núbia Marques o incluiu na antologia Contos e Contistas. No ano de 1980 publicou o livro Trajetória para a Ilha dos Encantados, tendo participado também da antologia Prosa Sergipana organizada de 1992 por José Olyntho e Márcia Maria, lançando em 2000 o livro Réquiem para José Eleutério e em 2005, O Diário de W.J.

“Célio Nunes pertence à uma privilegiada irmandade: esta constituída de escrevedores-pensadores, que quando deitam a lançar frases sobre o papel o fazem com tal elegância, firmeza e zelo, que é de pensar o branco da folha manifestando-se infinitamente grato por tornar-se o suporte de tão extraordinário talento desmembrado em linhas. Contador de histórias, inventor de argumentos aparentemente simples (eis o pântano traiçoeiro de literatura celiana tão rica), Célio tomou Aracaju, qual província-universo, como arena em que personagens de um banal surrealismo transformam, sob a égide do escritor, seus dias de mesmices e vazios profusos em tormentosas ocorrências, que tanto mais trágicas são quando percebidas diante dos silêncios impostos pelo mundo corroído duma solidão constante”. (Orelha do livro Réquiem para José Eleutério APUD Léo A. Mittaraquis).

Em 2004, Célio Nunes recebeu pela Prefeitura Municipal de Aracaju a medalha da Ordem do Mérito Cultural Ignácio Barbosa. Faleceu em 13 de agosto de 2009 em sua residência, vítima de infarto agudo.  

É importante lembrar também que Célio Nunes foi irmão de Hélio Nunes, um escritor sergipano que foi perseguido durante a Ditadura Militar no Brasil...

Texto e imagem reproduzidos do blog: literaturasergipana blogspot com

Registro de notícia publicada em 13 de agosto de 2009


REGISTRO DE NOTÍCIA publicada em 13/08/2009

Publicação compartilhada do site INFONET, de 13 de agosto de 2009

Amigos lamentam morte de Célio Nunes

Amigos e parentes dão adeus ao jornalistas 

Logo que foram informados da morte de Célio Nunes, amigos do jornalista se juntaram aos familiares na OSAF da rua Itaporanga, centro de Aracaju, para compartilhar a tristeza pelo falecimento dele. Nas lembranças dos conhecidos, histórias de aprendizado e momentos de alegria com Célio.

O velório acontece até o início da manhã de sexta-feira, 14, quando o corpo será levado ao cemitério Santa Isabel, zona norte, para ser enterrado por volta das 10h.

Amigos falam sobre Célio

Aprendizado é a palavra que melhor define a relação entre Célio e o atual editor-chefe do jornal Correio de Sergipe, Raimundo Brito. Eles se conheceram quando Raimundo começou a botar em prática as lições aprendidas na faculdade na redação do Jornal da Cidade (JC).

“Eu entrei no JC como digitador e Célio era redator. Neste período foi pouco tempo que passamos juntos, mas anos mais tarde o reencontrei no Jornal da Manhã. Ele era meu chefe, mas tinha paciência para sentar, orientar e aconselhar. Sabia exercer o jornalismo e me ensinou a ser jornalista”, diz Brito.

Um dos melhores amigos de Célio Nunes, Fagner da Silva Ribeiro, diz que o momento é de dupla tristeza: pela morte do companheiro e por ele não ter conseguido lançar o seu mais recente livro, Micro Contos. “Ele possuía a arte da história curta. O admirava não só pela sua atividade como jornalista, mas também por ser um grande intelectual, poeta e contista”, diz.

O poder de síntese de Célio, aliado ao olhar atento às coisas, pessoas e situações cotidianas, o transformou em referência na produção de contos e o elevou ao status de grande escritor. Como jornalista, se destacou no estado de Sergipe principalmente por suas opiniões políticas firmes.

“Célio Nunes foi um dos mais brilhantes de sua geração e, embora perseguido pelo governo por causa de seus posicionamentos políticos, conseguiu levar em frente um belo trabalho dentro de sua profissão”, relembra o jornalista Ivan Valença, contemporâneo de Célio.  

Amigos próximos da família, como o ex-vereador de Aracaju, Sérgio Góes, também lamentaram. “Minha convivência com ele veio através de seu filho, Cláudio Nunes. Célio foi um jornalista digno e sério, qualidades herdadas por Cláudio, que segue a mesma linha do pai. Era uma figura extraordinária e uma grande perda para os sergipanos”, diz.

História

Célio Nunes estudou dois anos no curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA), mas foi registrado como jornalista profissional conforme lei da regulamentação de 1971. Costumava dizer que era um autodidata, aprendeu tudo o que sabia na prática.

Foi militante estudantil, integrou a direção da primeira formação da União da Juventude Comunista em Aracaju. Ainda jovem, morou algum tempo em Salvador e no sul da Bahia, onde fundou a Sociedade Itabunense de Cultura (SIC), onde montou diversas peças teatrais.

Começou a carreira de jornalista na década de 50 como editor do jornal semanal Folha Popular, em Sergipe. Depois, na capital baiana, foi repórter, correspondente e redator dos veículos Jornal da Bahia e Tribuna da Bahia. Em Itabuna trabalhou no Jornal de Notícias, Diário de Itabuna e dos tablóides Desfile, Flâmula e SB-Informações&Negócios. Em Ilhéus, teve passagem pelo Diário da Tarde e Correio de Ihéus.

Prisão e volta a Sergipe

Foi preso pelo regime ditatorial em 1964, em Itabuna, por participar de um grupo de apoio á invasão de Belmonte, em invasão com Ligas Camponesas. No início da década de 70, já de volta a Aracaju, foi assessor de imprensa do antigo Condese e depois da Secretaria de Planejamento onde se aposentou.

Trabalhou na Gazeta de Sergipe (redator), Jornal da Cidade (redator e editor), Jornal da Manhã (redator, editor e diretor geral) e por alguns meses foi colunista do Portal Infonet, onde publicava contos. Ainda foi membro do Conselho Estadual de Cultura, diretor administrativo e Financeiro da SEGRASE, onde, eventualmente, exerceu a presidência.

Ele fundou o Sindijor/SE

O jornalista fundou o Sindicato dos Jornalistas de Sergipe (Sindijor/SE) e por duas vezes foi o presidente. Dirigiu a Federação Nacional dos Jornalistas, foi presidente da Associação Sergipana de Imprensa e chefe da Assessoria de Comunicação da UFS.

Também teve vários livros publicados, entre eles Contos, Trajetória para a Ilha dos Encantados, Réquiem para José Eleutério, O diário de W.J. e outras histórias, Contos e Contistas Sergipanos e o Moderno Conto da Região do Cacau.

Célio deixa três filhos, um deles o jornalista Cláudio Nunes. A equipe do Portal Infonet presta condolências ao colega e toda a família.  

Por Glauco Vinícius

Texto reproduzido do site: infonet ccom br

'Adeus, Osmário', por Jorge Carvalho do Nascimento

Artigo compartilhado do site JORNAL DO DIA SE, de 17 de maio de 2024

ADEUS, OSMÁRIO 
Por Jorge Carvalho do Nascimento*

Conheci Osmário Santos quando eu fui aluno do Atheneu Sergipe, nos anos 60 e 70 do século XX. Osmário é cinco anos mais velho que eu e isto, na adolescência faz muita diferença. Eu tinha 14 anos de idade quando toquei corneta na banda. Estava na quarta série ginasial. Osmário, aos 19 anos, tocava caixa de repique, e estava já no terceiro anos científico se despedindo do Atheneu.

Depois encontrei Osmário quando ele trabalhou no comércio e atuou na elegante loja do seu pai, Zé do Magazin ou Zé da Seda, O Magazin dos Móveis, onde as famílias endinheiradas de Sergipe adquiriam a mobília que decorava suas residências. Era uma loja grande e muito movimentada.

Na segunda metade da década de 70 do século XX, eu trabalhava como repórter do jornal Gazeta de Sergipe e Osmário foi trabalhar como colunista social. Era uma espécie de era de ouro da coluna social no Brasil e, também, em Sergipe, marcada por grandes colunistas que eram figuras indispensáveis nos eventos de maior importância.

Osmário era um dos que mais se destacava dentre figuras como Karmen Mesquita, Ilma Fontes, Ivan Valença (Leilinha Leite), Pedrito Barreto, Clara Angélica Porto, Daisy Monte, Paulo Nou (que também assinava Caymmi), Anselmo Oliveira, Antonio Piuga, Araripe Coutinho, Arlene Chagas, Carlos Correia, João de Barros, Lânia Duarte, Thaís Bezerra, Ledinaldo Almeida (que também assinava Zuzu Lyra), João Barreto Neto, Luduvice José, Sacuntala Guimarães, Cristina Souza, Sônia Mara, Márcio Lyncoln, Roberto Lessa, Yara Belchior, Maria Franco e Madalena Sá.

Um universo que sucedia a geração anterior, marcada por jornalistas como Carlos Henrique de Carvalho, o Bonequinha, Luiz Daniel Baronto, Laurindo Campos, Maria Luiza Cruz, Kerginaldo, Tereza Andrade, Abrahão Crispim, Amaral Cavalcante, Anderson Nascimento, Antonio Newton Porto e muitos outros.

Osmário foi um dos mais influentes dentre os muitos nomes de colunistas sociais em Sergipe. É autor dos livros “Memórias de Políticos Sergipanos no Século XX”, publicado em 2002, e “Oxente, Essa é a Nossa Gente”, de 2004. Ambos divulgam dados biográficos de personalidades do Estado de Sergipe.

Jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Tiradentes, Osmário Santos teve o seu interesse pelo jornalismo despertado ainda na adolescência, ao cuidar do jornal mural dos estudantes do Colégio do Salvador. No final da década de 60 do século XX criou o jornal “Capacidade”, com a participação do poeta Danilo Sampaio e dos estudantes Aderbal Corumba e Antônio Menezes Barbosa.

Impresso em mimeógrafo, o jornal circulava uma vez por mês e era completamente dedicado a temas culturais, com poemas de cunho revolucionário em pleno auge da ditadura militar.

Estreou como colunista social com um programa na Rádio Jornal de Sergipe. Chamou a atenção ao fazer a cobertura do concurso Miss Brasil realizado em Salvador e transmitido por ele juntamente com o radialista Jairo Alves. Trabalhou também na Rádio Atalaia de Sergipe.

Como colunista social, manteve programas na Rádio Liberdade de Sergipe e na Rádio Difusora. Foi também responsável pela coluna social publicada na edição mantida pela sucursal de Aracaju no Jornal do Comércio do Recife. Assinou coluna diária de sociedade no Jornal de Sergipe.

No jornal Gazeta de Sergipe manteve coluna social diária e foi também editor do suplemente dominical “Gazetinha”. No Jornal da Cidade foi editor do caderno “Atalaia” que circulava aos sábados, onde era responsável pela coluna social. Quando o caderno deixou de circular assumiu a responsabilidade por uma página de coluna social que era publicada aos domingos.

Osmário Santos nasceu em 1952 e morreu aos 72 anos de idade, nesta quinta-feira, 16 de maio de 2024. Na década de 80 do século XX, quando o “Jornal da Cidade” se transformou no principal veículo da mídia impressa em Sergipe, manteve em seu quadro de jornalistas três colunistas sociais muito importantes: Osmário Santos, João de Barros e Thais Bezerra.

O próprio Osmário Santos confessou, em diversas ocasiões, que buscava praticar o mesmo estilo que se tornou marcante na década de 70 do século XX, no Rio de Janeiro, com o colunista Zózimo Barroso do Amaral, do “Jornal do Brasil”, que soube mesclar as tradições da coluna social com formas editoriais mais contemporâneas do Jornalismo. Em Sergipe, tal estilo foi muito cultivado nas décadas de 70 e 80 do século XX por colunistas como ele e, também por Luiz Adelmo Soares.

Adeus, Osmário. A minha geração está morrendo.

* Jorge Carvalho do Nascimento é jornalista e professor aposentado da UFS

Texto reproduzido do site Jornal do Dia

Registro de Notícia publicada em 7 de dezembro de 2006

REGISTRO DE NOTÍCIA publicada em 07/12/2006

Publicado originalmente no site Agência Aracaju de Notícias, em 7 de dezembro de 2006

 Lançamento do livro do jornalista Cláudio Nunes

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, participou na noite de ontem do lançamento do livro ´A Liberdade de Expressão´, do jornalista Cláudio Nunes. A obra, lançada na Sociedade Semear, é uma coletânea de textos publicados na coluna do jornalista no Portal Infonet durante o período eleitoral de 2006 em Sergipe. Colocar estes textos num livro é uma maneira excelente de registrar um dos momentos políticos e históricos mais importantes de Sergipe. Cláudio Nunes é hoje um dos colunistas mais lidos em todo o Estado e seus textos têm a medida da credibilidade e seriedade necessária a qualquer bom profissional de imprensa, comenta o prefeito. Natural de Itabuna (BA), Cláudio mora em Sergipe desde os seis anos. É também radialista e atua no jornalismo político há 13 anos. Para ele, a repercussão de seu trabalho na internet foi surpreendente. “Comecei a escrever na Infonet a convite do seu editor, o jornalista Ivan Valença, depois de uma demissão intempestiva. Comecei a coluna timidamente, mas ela foi rapidamente crescendo, relembra ele, cuja coluna on line já teve picos de 3 mil acessos diários. Também participaram do lançamento do livro o governador eleito Marcelo Déda e sua esposa, Eliane Aquino; os secretários municipais Carlos Cauê (Comunicação), Sílvio Santos (Governo) e Oliveira Júnior (Finanças); o prefeito de Estância, Ivan Leite; políticos, intelectuais, empresários e comunicadores.

Texto e imagem reproduzidos do site: www aracaju se gov br 

domingo, 29 de setembro de 2024

'Carvalho Déda no batente do jornal', por Luiz Antônio Barreto

Publicação compartilhada do site INFONET, de 5 de dezembro de 2008

Carvalho Déda no batente do jornal

Por Luiz Antônio Barreto (blog infonet)

Basta uma simples leitura, uma conferência no Catálogo dos jornais, revistas e outras publicações periódicas, organizado por Armindo Guaraná, comemorativo do Centenário da Imprensa no Brasil, publicado pela Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, em 1908, para que tenha a mais exata idéia de como a imprensa floresceu em Sergipe. De 226 verbetes, cobrindo de 1832 a 1908, 140 indicavam jornais e revistas editadas em Aracaju, e 86 no interior, salientando-se que no interior os jornais eram: 36 de Estância, 16 de Laranjeiras, 10 de Maroim, 8 de Propriá e 7 de São Cristóvão. Os restantes 8 estavam distribuídos por Santo Amaro das Brotas, Neópolis, Rosário do Catete e Simão Dias.

Foi em Simão Dias, em 8 de setembro de 1946, que apareceu um jornal de vida longa no interior, tendo no batente de sua redação e da ilustração, através de xilogravuras, José de Carvalho Déda, advogado provisionado, político, intelectual, homem do seu tempo, com uma obra que serve de referência nos estudos da história e do folclore. Carvalho Déda encarnou o seu jornal, contando com uma colaboração constante do irmão Francino da Silveira Déda, e, mais tarde, do filho Carlos Alberto Déda, que viveu o cotidiano de A Semana e tornou-se, após a morte do pai, no curador de todo o acervo de 23 anos de sobrevivência.

Acostumado a redigir, Carvalho Déda fazia de tudo no seu semanário, inicialmente circulando no domingo e mais adiante saindo aos sábado, uma tribuna do povo de Simão Dias, sem contudo perder o contato com o Estado, com o País e com o mundo. Mesmo sem teletipos, telex, Internet e outras tecnologias, A Semana podia ser considerado um jornal moderno, com bom volume de informações, editado com graça, leveza e, ainda, com o humor predominante crítico do redator principal.

As atividades políticas de Carvalho Déda não impediram sua presença constante na redação do jornal. Sua experiência era tão reconhecida, que a UDN o convidou para redigir e dirigir o Correio de Aracaju, grande jornal sergipano, que contou em sua redação com Homero de Oliveira e com Edison Ribeiro, figuras que cuidaram do passado daquele prestigioso jornal. Carvalho Déda deu conta do recado e parecia fazer pouca diferença, entre editar e dirigir o Correio e a sua Semana.

A Semana teve, em seu tempo, a importância que teve A Razão, em Estância, O Laranjeirense e O Republicano, em Laranjeiras, e o Correio Sergipense, em São Cristóvão, que foi, sem dúvida, um dos melhores jornais de todo o século XIX. Quando os olhos dos pesquisadores forem lançados por todo o Estado, para formar um panorama da vida nas comunidades, tais jornais serão referências básicas, mantendo o tônus cultural animador da sociedade sergipana.

A Semana é uma escola, no sentido de que ela ensina a fazer jornal e a tratar as páginas dos jornais com a dignidade da boa notícia, do comentário justo, da denúncia e da cobrança necessários e acima das questões locais. Mais que isto, A Semana tem arte em suas páginas, seja pelas charges, caricaturas, ou seja pelas ilustrações que fizeram de Carvalho Déda um artista, que aliou no batente do jornal muitas qualidades requeridas pelo jornalismo. A reunião dos jornais, a começar pela coleção 1946/1947, em CD ROM permite aos contemporâneos solver, com prazer, esse belo exemplo de cidadania cultural deixado por Carvalho Déda em A Semana.

Para evocar Carvalho Déda, nos exatos 110 anos de nascimento e 40 anos de morte, o BANESE CARD e a FUNCAJU promovem, no dia 9 de dezembro, uma Exposição comemorativa, na Galeria de Artes Álvaro Santos, focalizando em 50 painéis o cidadão, o político, o intelectual, o jornalista e o xilógrafo. Na Exposição será lançada uma caixa com o título O Mundo de Carvalho Déda, reunindo 4 livros: Brefáias e Burundangas do Folclore Sergipano, que ganha 3ª edição, Simão Dias – Fragmentos de sua história, em 2ª edição, o romance inédito Formigas de asas e a coletânea Carvalho Déda Vida & Obra, com textos inéditos, correspondências, ilustrado com fotos e xilogravuras.

Vai na caixa, também, um DVD com a vida e a obra do fundador de A Semana, e um CD ROM com a coleção do semanário simãodiense, dos anos de 1946 e 1947, como parte de um projeto que digitalizará toda a coleção, até 1969. 

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet com br/blogs

terça-feira, 24 de setembro de 2024

Morre Sebastião Nery, um dos maiores jornalistas do Brasil

Sebastião Nery (Foto: Reprodução Youtube)

Publicação compartilhada do site BRASIL247, de 23 de setembro de 2024

Morre Sebastião Nery, um dos maiores jornalistas do Brasil

Jornalista e cronista político deixa um legado de mais de seis décadas de atuação, marcando a história da imprensa nacional

247 – O jornalismo brasileiro se despede de uma de suas vozes mais icônicas com a morte de Sebastião Nery, considerado um dos maiores cronistas e analistas políticos do país. Nery, que ao longo de mais de 60 anos de carreira atuou como jornalista, escritor e colunista, marcou sua trajetória com uma escrita afiada e um olhar crítico, sempre atento aos bastidores da política nacional. Sua partida deixa uma lacuna significativa, mas também um legado incontestável. Nery se notabilizou pelas crônicas do "Folclore Político" e também produziu uma belíssima biografia, no livro "A nuvem", em que relata toda a sua trajetória.

Em veículos de grande circulação e em publicações que abordavam temas cruciais para o Brasil, Nery consolidou uma reputação de profissional íntegro, respeitado por seus pares e pelo público. Autor de livros que exploraram momentos decisivos da política nacional, ele se destacou por sua capacidade de narrar a realidade com precisão e coragem. “O jornalismo é a história que está sendo escrita todos os dias”, afirmou o jornalista em uma de suas entrevistas, destacando o valor de sua profissão.

O jornalista também se destacou por suas colunas, publicadas em jornais de grande alcance, onde não apenas relatava os fatos, mas também oferecia uma análise profunda das estruturas de poder e da sociedade brasileira. Ele era conhecido por desafiar autoridades e por não se esquivar de polêmicas, sempre defendendo o direito à informação e a liberdade de expressão. “Um bom jornalista é aquele que, acima de tudo, não teme desagradar”, dizia Nery, em uma frase que reflete bem sua postura.

Sebastião Nery será lembrado como uma figura central na história do jornalismo nacional, alguém que não apenas acompanhou, mas também influenciou os rumos da imprensa e da política no Brasil. Seu legado, tanto como escritor quanto como jornalista, continua a inspirar as novas gerações que buscam compreender o país por meio das palavras de quem viveu e narrou intensamente os acontecimentos.

A perda de Nery é sentida por colegas, leitores e admiradores, que o consideram um dos maiores jornalistas do século XX e XXI. Com sua partida, encerra-se uma era de grande relevância para o jornalismo político brasileiro, mas seu impacto permanece vivo, especialmente naqueles que encontraram em seus textos um olhar lúcido e corajoso sobre a realidade.

Texto e imagem reproduzidos do site: www brasil247 com/midia

sábado, 27 de julho de 2024

Morre o artista gráfico Hélio de Almeida

Legenda da foto: Almeida: conhecimento e talento aplicados às artes gráficas - (Crédito da foto: Thereza Almeida)

Publicação compartilhada do site da REVISTA PESQUISA, de 22 de julho de 2024

Morre o artista gráfico Hélio de Almeida

Designer criou projetos e capas de livros e revistas, como o de Pesquisa FAPESP

Por Neldson Marcolin

Até 2006, os computadores estavam presentes em todas as mesas da redação de Pesquisa FAPESP – menos na ocupada pelo editor de arte Hélio de Almeida. O local onde concebia o desenho de cada reportagem tinha apenas um telefone, diagramas e numerosos lápis de todas as cores alojados em um pote. Esse mesmo padrão era repetido em seu estúdio. Dizia que o trabalho no computador se tornou indispensável, o que não excluía a possibilidade de o designer continuar a fazer esboços à mão. Para ele, esse hábito permitia expressar melhor suas intenções ao criar. Almeida quase sempre atuou em jornais e revistas da grande imprensa. Artista de múltiplos recursos, fez cartazes, ilustrações e logotipos, criou esculturas e móbiles e foi o responsável por alguns dos projetos gráficos para livros mais expressivos da editora Companhia das Letras. Em Pesquisa FAPESP, onde trabalhou de 1999 a 2006, estabeleceu um padrão de qualidade gráfica elevado que vem sendo seguido desde sua saída. O artista gráfico morreu aos 80 anos no dia 20 de julho de um infarto.

Almeida era paulistano, filho de portugueses. Antes dos trabalhos na imprensa, enveredou brevemente pela publicidade e pelas artes plásticas até começar a trabalhar no departamento de arte do jornal Folha de S. Paulo, em 1963. “Apresentado às regras de um jornalismo ágil, encarregou-se de transpô-las para o universo gráfico do jornal”, escreveu o designer gráfico Norberto Gaudêncio Júnior, hoje professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie. O texto é parte do livro Hélio de Almeida: Artista gráfico (Ipsis), lançado em 2008, que reuniu seus trabalhos mais significativos feitos até aquele momento.

Em 1968 foi convidado a integrar a equipe da revista Veja, da editora Abril, onde ficou até 1973. Nesse mesmo ano voltou à Folha e desenvolveu um novo projeto gráfico para a Ilustrada. Alguns anos depois fez parte da criação da revista IstoÉ (1976), projeto do qual se orgulhava pela grande liberdade criativa que teve, por oito anos, ao elaborar semanalmente a capa e o visual interno da revista. A mesma equipe da IstoÉ lançou em 1979 o Jornal da República, com projeto gráfico de Almeida. A experiência, no entanto, durou apenas seis meses.

Em meados dos anos 1980, o designer voltou à editora Abril para fazer a reformulação gráfica da revista Exame, Melhores e Maiores e criar o projeto de Exame Vip e Exame Informática. Na segunda metade da década, foi contratado como diretor de Arte da editora Globo, onde trabalhou com os títulos Globo Rural, Moda Brasil e foi o responsável gráfico dos livros lançados de 1986 a 1989. Paralelamente ao trabalho nas editoras, fez cartazes de peças teatrais como Macunaíma (1978) e Xica da Silva (1988), de numerosas exposições e coletivas de artistas plásticos e criou logos e projetos para instituições e empresas.

A partir de 1989, o designer começou a fazer projetos e capas para a jovem editora Companhia das Letras, fundada por Luiz Schwarcz em 1986. Segundo escreveu em um post no Instagram, Almeida foi fundamental para a história da Companhia das Letras. “Hélio de Almeida, um dos grandes designers de livros e revistas, ajudou a definir, através dos tempos, parte importante da imagem da editora. Trabalhou a meu lado, literalmente, na antiga sede da Companhia, num sobrado do Pacaembu”, contou. “O conheci quando, me achando muito ousado, procurei o famoso artista gráfico para realizar o design das obras de Rubem Fonseca [1925-2020], recém-contratadas por nós.” Almeida criou capas e projetos para várias outras editoras, como Moderna, Nova Fronteira, Manole, institutos como o IMS e empresas, como o Objetivo.

Sua participação em Pesquisa FAPESP começou quando a jornalista Mariluce Moura coordenava a área de Comunicação da Fundação na segunda metade dos anos 1990. A parceria se estabeleceu desde o momento em que, às voltas com os problemas para aperfeiçoar o boletim Notícias FAPESP, ela foi procurá-lo em fins de 1998 (ver Pesquisa FAPESP nº 155). “Ali nasceu quase imediatamente, além da amizade, uma parceria de trabalho sem a qual Pesquisa FAPESP não seria esta a revista que é. Foi dele a capa do boletim número 39, de janeiro/fevereiro de 1999, com 24 páginas e tiragem de 16 mil exemplares”, contou Moura, então diretora de Redação, no editorial da revista nº 100. “Em outubro de 1999, a revista foi enfim lançada, com 44 páginas e um encarte especial de oito páginas sobre jornalismo científico, com tiragem de 22 mil exemplares.” Hoje a publicação tem 100 páginas editoriais e tiragem de 28 mil. Ainda na FAPESP, ele foi também autor de projetos gráficos de relatórios e livros lançados pela Gerência de Comunicação.

Em 2006, a designer gráfica Mayumi Okuyama substituiu Almeida como editora de Arte da revista. “Hélio foi um artista absolutamente livre, nunca preso a estéticas do momento, inquieto no melhor sentido”, diz. “Para mim, o que melhor o definia era sua fascinação pelos móbiles: um objeto livre, que só tem sentido se entregue ao seu tempo, que sempre procura o equilíbrio”, conclui.

Hélio de Almeida deixa a mulher, a ilustradora de livros infantis e artista plástica Laurabeatriz, e os filhos Maria Rosa, Thereza, Manu Maltez e Joaquim e seis netos, além das irmãs Vera e Marli.

Texto e imagem reproduzidos do site da revistapesquisa fapesp br