segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Associação Sergipana de Imprensa: 80 anos de luta

  Símbolo da ASI.

 Seu Eugênio durante discurso na ASI.

 Uma das capas do Jornal da ASI.

 Posse de Alceu Monteiro em 1999.

 Uma das capas do Jornal da ASI.

 Imprensa em SE, Monsenhor Silveira (Fotos: reprodução/ revista ASI 70 anos).

 Aos 95 anos, seu Eugênio relembra a história da ASI.

Atual presidente da ASI, Cleiber Vieira (Fotos: Portal Infonet).

Associação Sergipana de Imprensa: 80 anos de luta
ASI faz aniversário no dia 30 de agosto.
Por Verlane Estácio.

Criada durante a passagem do presidente Getúlio Vargas e sua comitiva em Sergipe, a Associação Sergipana de Imprensa (ASI) completa este ano, 80 anos de existência. Sua atual sede localizada na Rua Itabaianinha abriga um acervo que conta parte da trajetória da comunicação em Sergipe. Para saber dessas e outras histórias, o Portal Infonet foi até lá e conversou com o presidente de honra da ASI, José Eugênio de Jesus, o “Mestre Eugênio”.

Professor da antiga Escola de Artífices (antiga ETFS), jornalista e radialista, Eugênio dedicou pelo menos dois terços da sua vida à criação de diversas entidades, a exemplo do Sindicato dos Gráficos de Sergipe, Sindicato dos Jornalistas de Aracaju e Sindicato dos Radialistas de Sergipe.

Seu Eugênio conta que fundação da ASI em 1933 estava diretamente relacionada ao momento político vivido pelo país à época: a Revolução de 1930. Naquele período, a imprensa em Sergipe era limitada e representada na capital pelo Sergipe Jornal e Estado de Sergipe, além de um grupo forte formado por jornais de Estância, Laranjeiras, Propriá, Maruim e Simão Dias, seguidos de jornais alternativos e sindicalistas.

“Tenho a impressão de que se esboçava um movimento para a fundação da ASI. Mas até então, era uma luta muito grande dos jornalistas, pois eles queriam um órgão de apoio e não encontravam. Era tudo muito desgarrado e até havia um movimento e algumas reuniões cogitando a fundação da ASI. Mas foi somente com a passagem comitiva do presidente que a ideia se desenvolveu. Era a oportunidade propícia em virtude da presença de um número qualitativo de jornalistas da capital e do interior do Estado”, relembra.

Apesar da intensa movimentação da época, segundo Seu Eugênio, não existia uma entidade que reunisse jornalistas e que defendesse os seus interesses e da sociedade em geral. “Criou-se então uma entidade para encaminhar as reivindicações no intuito de alcançar os diversos objetivos da categoria, dentre eles, a fixação de um salário, que era o principal”, comenta.

da Imprensa em SE, Monsenhor Silveira (Fotos: reprodução/ revista ASI 70 anos)
O presidente de Honra destaca que a imprensa em Sergipe nasceu muitos anos antes, através do Monsenhor Antônio Fernandes da Silveira, estanciano nascido em 1975, considerado o criador da imprensa em Sergipe por ter editado o primeiro jornal conhecido, o Recopilador Sergipano, na cidade de Estância. Os trabalhos ultrapassaram fronteiras e anos depois, Silveira fundou a imprensa do Piauí, tendo instalado na antiga capital, Oieiras, a primeira tipografia Piauiense. Monsenhor Silveira também foi político e defendeu Sergipe na causa dos limites Bahia-Sergipe, além de ter promovido a criação de uma companhia de colonização e cultura mineralógica em Sergipe.

Principais gestões

Ao traçar um breve panorama sobre algumas das gestões que passaram pela ASI, Seu Eugênio destaca que primeira administração da ASI ficou a cargo do desembargador Edson de Oliveira Ribeiro. De acordo com ele, neste período, a ASI se filiou a Associação Brasileira de Imprensa, Mas foi somente na gestão de Gonçalo Rollemberg Leite que a entidade foi reconhecida de utilidade pública, através do decreto estadual n 280, de 18 de março de 1935.

Um dos boletins publicados pela ASI
“Nos primeiros anos viveu dias de glória, notadamente nas administrações dos pioneiros Edson de Oliveira Ribeiro, Gonçalo Rollemberg Leite e Godofredo Diniz, com um espírito alegre, propenso a festas e eventos. A Asi também viveu uma fase desalentadora, provocada por divergências político- administrativas, mas ganhou novo fôlego na gestão de Eliézer Leopoldino de Santana, homem citado como pacifista e empreendedor”, detalha.

Em 1950, quando completou 17 anos, a ASI, através de doação, ganhou sua própria sede, que posteriormente recebeu o nome de “Casa do jornalista”. “Abriram-se novos caminhos e novas condições, harmonizava-se a vida da ASI. Veio a seguir, a administração de José Rosa de Oliveira Neto foi marcada pela criação do prêmio de reportagem “Pascoal Maynard” (1984), visando estimular o jornalista na categoria repórter”, relembra.

Seu Eugênio conta ainda que na administração de Bemvindo Sales de campos, foram reativados os núcleos de jornalistas de Tobias Barreto e Lagarto. E que na gestão do jornalista José Elito de Vasconcelos, predominaram as festas de caráter cultural, competições esportivas, além da criação do troféu Destaque Imprensa.

As festas de Caráter Cultural também fizeram parte da gestão do radialista Alceu Monteiro. Foi um momento, segundo a visão de Seu Eugênio, onde a ASI abriu as portas para a comunidade. “Cursos, seminários e excursões marcaram esta administração. Pela primeira vez, a ASI comemorou seu aniversário na data exata de sua fundação- 31 de agosto- evento máximo de sua existência, quando congrega o corpo social, as entidades congêneres à comunidade sergipana para se associarem ao evento máximo da associação”, revela.

Trajetória

Aos 15 anos, Seu Eugênio já tomava seu primeira contato com a imprensa através do seu trabalho como gráfico no jornal Diário da Manhã, de propriedade do deputado Graccho Cardoso. Com todo o movimento revolucionário da época, o jornal foi praticamente destruído, e Seu Eugênio passou a trabalhar no Sergipe Jornal.

“Esse início foi brilhante sobre todos os aspectos. Como gráfico, eu queria saber de tudo um pouquinho. No Sergipe jornal, passei a conviver com grandes intelectuais sergipanos, como advogados, bacharéis em direito, médicos, poetas, entre tantos outros. Apesar de não ter formação acadêmica, seria impossível não conseguir um bom aproveitamento”, destaca.

Seu Eugênio também trabalhou no jornal “A cruzada”, colaborou para a Gazeta de Sergipe, foi criador e diretor da Gazeta dos Esportes e presidente da Associação dos Cronistas de Sergipe. Além da atuação como jornalista e também radialista, eu seu currículo pesa a fundação do Sindicato dos Gráficos de Sergipe, Sindicato dos Jornalistas de Aracaju e Sindicato dos Radialistas de Sergipe.

“Não era fácil criar um sindicato. Com muito esforço e boa vontade, a gente fundava. Era um processo penoso e trabalhoso, com dificuldades para ser reconhecido. Tudo era muito vazio e com a criação dos sindicatos, a coisa personalizou-se mais. Viemos a ter uma bússola orientativa das nossas atividades”, detalha.

Atuação

A ASI, que durante muitos anos, atuou na defesa dos profissionais da imprensa e dos seus direitos, hoje tem um papel ligado à área cultural. A mudança ocorreu por conta do surgimento dos sindicatos que tomaram para si a tarefa de tratar de todas as questões referentes ao exercício da profissão.

"Antigamente, a ASI fazia o papel que atualmente pertence aos sindicatos. Hoje, há uma diferença. Se ela fizer isso, ela vai interferir no papel que é do sindicato. Então, quando o profissional, seja da imprensa falada, escrita ou televisionada, se envolve em alguma questão, o sindicato vai à frente e procurar intermediar os questionamentos entre o público, o jornalista e o veículo. Quando a o questionamento chega até nós, atuamos junto ao sindicato", explica o atual presidente da ASI, Cleiber Vieira.

Os cursos de xilogravura para crianças e o resgate das obras da artista plástica sergipana Rosa Maria Faria são alguns dos trabalhos desenvolvidos pela ASI, que tem procurado valorizar os aspecto culturais da sociedade sergipana. "Mandamos higienizar os quadros de Rosa Maria uma artista de Capela que criou um museu que funcionava no Parque Teófilo Dantas e contava a história de Sergipe através dos seus quadros. Temos tentado resgatar a cultura ministrando cursos de xilogravura para alunos de 8 a 10 anos do educandário Criarte. A gente tem tratado com maior carinho essa questão de arte", afirma.

Para aproximar a ASI dos comunicadores mais jovens, Cleiber destaca que já existem planos de visitas aos cursos de jornalismo de Aracaju. "A diretoria da ASI já se reuniu e discutiu a proposta de ir até os cursos da Universidade Tiradentes e Universidade Federal de Sergipe. A ideia é levar palestras, com o próprio Eugênio, um homem de 95 anos com uma grande vivência e com muitas histórias para contar", explica.

Programação de aniversário

A solenidade de aniversário dos 80 anos da ASI será realizada no dia 30 de agosto, a partir das 20h, na Sociedade Semear. O evento contará com palestra do presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azevedo, entrega de certificados de sócio benemérito, outorga de medalha do mérito jornalístico "Monsenhor Silveira", lançamento do carimbo e selo comemorativos aos 80 anos da ASI, lançamento do Catálogo de Arte Rosa Faria, seguido de coquetel e exposição dos quadros da artista.

Homenagem

A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Estado de Sergipe (Sindijor), Caroline Santos, destaca o apoio dado pela ASI aos sindicatos da categoria e enfatiza a importância de uma aproximação maior dos profissionais da comunicação com a entidade. “Se faz necessário estarmos mais presentes para que junto com os colegas que estão lá, que são mais experientes, possamos fazer uma reflexão sobre nossa profissão, usando um olhar do passado e do presente na busca de uma comunicação melhor no futuro”, opina.

Caroline explica que embora não tenha tido oportunidade trabalhar com Seu Eugênio, ambos lutam pela valorização dos profissionais da comunicação. “Zé Eugênio sempre tem uma palavra de sabedoria para compartilhar. Os comunicadores precisam conhecer a história de Zé Eugênio que, junto com tantos outros, faz parte da história da comunicação sergipana”, destaca.

O jornalista Cláudio Nunes relembra o tempo em que seu pai, o jornalista Célio Nunes, foi presidente da ASI. “Lembro que ele foi o responsável por abrir a entidade para os mais novos. Para se ter uma ideia, a média de idade antes da chegada dele era de 70 anos. Com a experiência do Sindijor, Célio conseguiu levar gente nova e aproximar mais o sindicato da ASI”, conta.

Cláudio destaca também os benefícios da atuação dos ex-presidentes José Rosa de Oliveira Neto e Alceu Monteiro. “José, um dos mais éticos e sábios advogados que Sergipe já teve, chegou a criar uma comissão permanente de redemocratização da imprensa. Sei porque conversava com ele sempre. Mais recentemente, no final da década de 1990, destaque para Alceu Monteiro que também fez campanhas para renovação dos quadros, inclusive com convênio com os cursos de comunicação da universidade para ingresso do sócio-estágio. Alceu também conseguiu manter por um tempo a edição mensal do jornal da ASI” detalha.

Fotos e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura

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