Publicação do Editorial da Edição 248, em 14 de dezembro de 2017
Fim de Caros Amigos
É o pior editorial que um jornalista pode
escrever: anunciar o fim de um projeto acalentado por 20 anos. A revista Caros
Amigos resistiu o quanto pôde, mas não resistiu ao golpe, ao cerco ideológico
do governo ilegítimo, ao aprofundamento da crise deste ultraneoliberalismo que
pune a nação com vingança, ódio e descaramento institucional contra os avanços
e conquistas sociais. Circula esta, sua última edição, também diante de um
mercado editorial em profunda transformação, com queda nas vendas em todos os
nichos, e o avanço das mídias digitais, dominadas por grandes corporações e
assoladas por fake news e ações de rapina ideológica. Mas também é da
necessidade de bom jornalismo nesses tempos de “mídias da confusão” e ambiente
digital bruto que a editora vai manter o site de Caros Amigos e continuar
oferecendo nas bancas republicações de suas edições temáticas, produzidas ao
longo dessa jornada.
A última edição de Caros Amigos aproveita para olhar para
este contexto da era digital e suas “novidades”. A guerrilha virtual das fake
news, robôs e novos hábitos de busca e consumo de informação, como os da
plataforma de vídeos YouTube, que cria celebridades de conversas banais e por
vezes racistas e discriminatórias e é contudo, sonho de fama das novas
gerações. Como questiona o teórico da contemporaneidade Massimo Canevacci, em
uma das reportagens, não era pra ser assim — para ele, a era digital cria a
“personalidade digital autoritária” de um “fascismo sem controle”.
Esta edição tem ainda a história dos jornais da resistência,
publicações que desafiaram ditadores, governos, censura e mesmo o mercado, para
manter acesa a chama por um mundo mais justo e plural. E, ainda, artigos sobre
a democratização da mídia e análise dos governos petistas e seus laços com
projetos neoliberais, seus impactos na geopolítica na América Latina. Além das
colunas dos colaboradores, que também se despedem de Caros Amigos, alguns
deles, sem falhar em nenhuma das 248 edições. Fique aqui registrada uma
profunda admiração e nosso agradecimento. A todos que passaram pelas páginas e
redação de Caros Amigos, jornalistas, articulistas, são tantos; aos anunciantes
que acreditaram na marca e ajudaram na sobrevivência, FNAE, CNTE, entre outros.
Também aos caríssimos e fiéis leitores. Valeu a caminhada!
A revista se vai nesse vendaval de mudanças tecnológicas e
seus impactos nas relações sociais, na comunicação de massa, na reorganização
das sociedades e mercado. O site vai
manter a chama dessa batalha no ciberespaço selvagem e sempre manipulável das
novas plataformas e atores da informação. Embora de outra forma, o sonho
continua.
Boa leitura!
Texto e imagem reproduzidos do site: carosamigos.com.br
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