Clarêncio fazia panegíricos a tantos e morreu abandonado.
Por Luiz Eduardo Costa
Clarêncio
Fontes era filho de poeta, o modernista acanhado José Maria Fontes. O pai, foi
um homem descuidado com ele mesmo. Excêntrico e ensimesmado, passou anos e anos
encafuado na sua casa humilde, quase nas areias do Carro Quebrado, onde acabava
a Rua de Lagarto. Com mulher e filhos, abandonava-se à solidão, partilhada com
as centenas de rãs que tinha soltas pela casa e também delas se alimentava.
Clarêncio criou-se ali, vendo o pai acumulando livros, muitas vezes lendo-os à
luz do poste, quando a energia era cortada. Mas Zé Maria tinha a segurança,
pelo menos de um modesto emprego público. Clarêncio, seu filho, foi também
poeta, herdou os livros do pai, (existiria melhor herança?) a eles acrescentou
tantos outros e colecionava papéis, revistas, jornais, futucava arquivos,
hemerotecas, bibliotecas. E escrevia bem. Embora preferisse o estilo barroco.
Esse acervo, que era também estorvo, o acompanhou na sua decadência.
Clarêncio
nunca teve emprego certo. Foi algumas vezes redator em jornais e emissoras de
rádio, mas o álcool o tornava inconstante e logo perdia os meios de sustento.
Levou uma vida de sacrifícios e carências. Foi encontrado morto, já
tardiamente, enquanto sua esposa doente ao lado nada podia fazer. Ao seu
enterro compareceram 4 pessoas, entre elas o escritor Saracura. Morreu
silenciosa e humildemente, como silenciosa e humilde foi a sua vida. Fez
panegíricos a tantos e todos o deixaram abandonado.
Registre-se
aqui, ressalvadas possíveis omissões, que teve amigos como Kleiber Vieira, o
procurador Givaldo Rosa, tantos outros na Academia de Letras, que por vezes o
socorriam. Mas, a Clarêncio teria faltado alguma coisa, assim como, sei lá, quem
sabe sobre a alma humana, sobre essa coisa chamada destino...
Texto e imagem reproduzidos do blogluizeduardocosta.com.br
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