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Publicada originalmente no site do Jornal do Dia, em 14/03/2018
A Cumbuca de Amaral Cavalcante
Por Rian Santos
Por Rian Santos
Cada número da revista Cumbuca é uma conquista. E como tal
tem de ser celebrado. A publicação, de uma ansiedade parecida com a de seu
próprio editor, o jornalista Amaral Cavalcante, o mais disposto ao curso dos
acontecimentos, um olho nas próprias saudades, outro no olho do furacão, é dos
poucos documentos a falar mais alto em favor dos valores da aldeia. A Cumbuca
cultiva a memória em um lugar repleto de silêncio e esquecimentos.
A edição de nº 17 da revista Cumbuca ganha lançamento
sexta-feira, a partir das 15 horas, no Palácio Museu Olímpio Campos. E ofereceu
o pretexto necessário para o Jornal do Dia ouvir o pai da criança. Segundo
Amaral, as dificuldades existem, mas a publicação soube conquistar a atenção
dos leitores, é consultada por todos os interessados na sensibilidade nativa,
"agora e num futuro qualquer".
Jornal do Dia - A Cumbuca talvez seja hoje a bandeira mais
vistosa da maltratada sergipanidade. Os leitores locais estão merecendo o
cuidado gráfico e editorial impressos nas páginas da revista?
Amaral Cavalcante - A Cumbuca já tem um número razoável de
leitores e colecionadores atentos às suas qualidades gráficas e editoriais. Até
porque a revista é diversa o suficiente para alcançar desde o leitor ocasional
- aquele que é fisgado pela beleza do
design e por ele se inteira do conteúdo - até os mais exigentes. Desde o início
procuramos pautá-la em função de certa atemporalidade, abordando temas
contemporâneos e registrando fatos notáveis da nossa memória cultural, de modo
a remetê-la ao interesse dos leitores, agora e num futuro qualquer.
Jornal do Dia - A publicação é conhecida também pelo amplo
leque de colaboradores mais ou menos frequentes, de perfis os mais variados.
Isso é, talvez, mostra da inteligência e sensibilidade nativa? Em matéria de
Cultura, os sergipanos acompanham o curso dos acontecimentos?
Amaral - Confesso que enfrentamos dificuldades para
conseguir bons textos, principalmente para a abordagem de temas atuais. No meio
universitário, por exemplo, são raros os doutores que se debruçam na pesquisa
da vida cultural; da emergência de novos atores; dos fatos contemporâneos que
vão moldando a alma sergipana, em nosso tempo. A revista, também, não dispõe de
recursos financeiros para remunerar, condignamente, o trabalho de profissionais
que se dediquem a pesquisar e produzir exclusivamente para ela. Há pautas muito
caras a esta editoria que ainda não puderam ser cumpridas, por falta de
recursos.
Jornal do Dia - Como você se vira para se desdobrar entre a
atividade literária, com a produção de crônicas, a edição do Folha da Praia e a
Cumbuca?
Amaral - Esta sempre foi a minha vida. O Folha da Praia,
criado há 38 anos, era uma Cumbuca pobrezinha e revelou alguns dos melhores
jornalistas e escritores que temos. Gosto de reconhecer o talento alheio e de
divulgá-lo. Ando, atualmente, meio entrevado nas juntas, o que tem dificultado
este prazer, mas colecionei grandes amigos que conhecem a minha capacidade de
produção e o nível de exigência estética que tento conservar nela; então, conto
com muita gente disposta a me ajudar.
Jornal do Dia - É notável a sua desenvoltura em ambiente
virtual, sobretudo no Facebook. Você acha que as redes sociais são mesmo a
principal tribuna de nosso tempo? Há conflito entre os novos meios e a imprensa
tradicional "de carne e osso"?
Amaral - Não sei se vocês já notaram, eu quase não escrevo
nos veículos que edito. Não quero estabelecer para mim o privilégio da escolha.
Encontro no Facebook a liberdade de escrever o que me der na telha, como e na
hora que achar conveniente, sem precisar da anuência dos leitores. Não sou dos
que acham que a internet vai sepultar os outros meios; antes, acho que ela dá
uma velocidade à literatura, mais condizente com a modernidade, mas o livro, o
papel como suporte, a confiabilidade do veículo impresso, não serão
descartados.
Jornal do Dia - Há grande expectativa em relação à
publicação de um volume reunindo as crônicas e memórias de Amaral Cavalcante.
Como anda esse projeto?
Amaral - O livro já está em processo. As
crônicas estão sendo ordenadas por uma professora de literatura que ama o que
faz, Rosineide Santana, encarregada de selecionar 80 delas para o livro a ser
editado por Mário Brito com a reconhecida excelência que ele imprime ao que
faz. O título dirá bem do que se trata - Crônicas Sergipanas - em capa dura com
luxuosas interferências de artistas plásticos e designers. Como não pretendo
varar as fronteiras da província nem estourar nas prateleiras nacionais,
considero o projeto de Mário Brito exatamente o que eu queria: um livro bonito
de se ter, para ser guardado carinhosamente como um objeto doméstico pelos
sergipanos e lido, eventualmente, por gerações futuras.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br
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