Artigo reproduzido do BLOG DO ORLANDO TAMBOSI, em 26 de
julho de 2020
Jornalismo, a hora da reinvenção.
O jornalismo contemporâneo abandonou conceitos fundamentais
como objetividade, verdade e a própria fidelidade aos fatos, despencando na
ideologia. O professor Carlos Alberto Di Franco considera, em artigo publicado
pela Gazeta, que é hora de o jornalismo se reinventar. A conferir:
Há gente desencantada com o jornalismo e fascinada com as
redes sociais. Acreditam, ingenuamente, que a balburdia do mundo digital vai
resgatar a verdade conspurcada. Como se as redes fossem um espaço plural que se
contrapõe a uma suposta hegemonia da mídia tradicional. Não percebem, talvez
involuntariamente, que a internet tende a criar redutos fechados, bolhas
impermeáveis ao contraditório, um ambiente embalado ao som de Samba de Uma Nota
Só.
Sou apaixonado pelo jornalismo. Escrevo na imprensa
tradicional e participo intensamente das novas mídias. Ambas são importantes.
Não são excludentes.
Em tempos de tentativas de censura à liberdade de expressão,
precisamos desenvolver um constante exercício de autocrítica. A reinvenção do
jornalismo passa, necessariamente, pelo retorno aos sólidos pilares da ética e
da qualidade informativa.
A crise do jornalismo está ligada à falência da objetividade
e ao avanço do subjetivismo engajado. Quase sem perceber, alguns jornais
sucumbem à síndrome da opinião invasiva. Ganham traços de redes sociais. Falam
para si mesmos e não para suas audiências. Como disse João Pereira Coutinho,
“não são as redes sociais que matam os jornais; são eles próprios que se
suicidam quando seguem o exemplo das redes”.
É preciso apostar na informação. Sentir o cheiro da notícia.
Persegui-la. Buscar novas fontes e encaixar as peças de um enorme quebra-cabeça
para apresentá-lo o mais completo possível. Dentre as competências necessárias
para exercer um bom jornalismo, algumas parecem ser inatas e por mais que se
tente aprender, inútil será o esforço. É assim o tal “faro jornalístico”. Uma
capacidade quase inexplicável que alguns profissionais possuem de descobrir
histórias inéditas, de furar a concorrência e manter pulsando a certeza de que
é possível produzir conteúdo de qualidade que sirva ao interesse público.
O ambiente digital rompeu a comunicação unidirecional que,
por muitas décadas, imperou nas redações. O fenômeno das redes sociais estourou
a bolha em que se confinavam alguns jornalistas que produziam notícias para
muitos, menos para o seu leitor real. Além disso, perdemos o domínio da
narrativa. Chegou a hora das pautas com pegada.
Consumidores de jornais mostram cansaço com o excesso de
negativismo de nossas matérias. Trata-se de um fato percebido nas redes. Ao
longo deste ano, alguns jornalistas da grande mídia, sobretudo na cobertura de
política, em nome de suposta independência, têm enveredado excessivamente pelo
que eu chamaria de jornalismo de militância. E isso não é legal. Não fortalece
a credibilidade e incomoda seus próprios leitores.
Na verdade, há um crescente distanciamento entre o que veem
e reportam e o que se consolida paulatinamente como fatos ou percepções de suas
próprias audiências, posto que a estas foi dado o poder de fazer suas reflexões
e até mesmo apurações, facilitadas e potencializadas pela internet.
Não se trata, por óbvio, de ficarmos reféns do leitorado. Os
jornais, frequentemente, têm o dever ético de dizer coisas que podem não
agradar a seus leitores. Mas é preciso não perder conexão com as percepções do
público.
É necessário perceber, para o bem e para o mal, que perdemos
a hegemonia da informação. Impõe-se um jornalismo menos anti e mais
propositivo. Precisamos olhar para nossas coberturas e questionar-nos se há
valor diferencial naquilo que estamos entregando aos nossos consumidores.
Sabendo que se a resposta for negativa poucas serão as possibilidades de
monetizar nosso conteúdo. Afinal, ninguém pagará pelo que pode encontrar de
forma similar e gratuita na rede.
Sou otimista em relação ao futuro das empresas de
comunicação, mas não deixo de considerar que o renascer do nosso setor será
resultado de um doloroso processo. Exigirá uma boa dose de audácia para
dinamitar antigos processos e modelos mentais que, até este momento, vêm
freando as tentativas de reinvenção.
Texto e imagem reproduzidos do blog: otambosi.blogspot.com
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