sábado, 25 de junho de 2022

Por que as pessoas ainda leem jornal?

Publicação compartilhada do JORNAL UFGE, de 30 de maio de 2017 

Por que as pessoas ainda leem jornal?

Pesquisa mostra que laço com o impresso se mantém e atravessa gerações, mas publicações precisam se reinventar

Texto: Angélica Queiroz/Foto: Ana Fortunato

"Os leitores  que  preferem o impresso gostam do cheiro   da   tinta,  do  som de virar as páginas, da textura do papel e da calma que traz a leitura do formato do jornal, sendo também um prazer para a visão. Além disso, não são poucos os que citam o prazer associado a um café. Isso é muito interessante, pois a leitura do jornal passou a aguçar os cinco sentidos, ou seja, a princípio já estimulava a  visão, o tato,  a  audição e o olfato, mas como o paladar não estava presente, o café completa o processo”. O trecho é parte do livro Os Sentidos do Impresso, resultado de pesquisa da professora da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG (FIC), Simone Tuzzo, trabalho que traz uma observação sobre as diferenças entre ler notícias online e no papel.

Segundo Simone Tuzzo, para falar sobre essas diferenças é preciso levar em consideração os diferentes tipos de impactos: tecnológicos, comportamentais, psicológicos, sociais, econômicos e políticos. A professora destaca que os jornais impressos são estruturados e utilizados de um modo que os leitores  se sentem atraídos a ler histórias sobre as quais eles não teriam se interessado de antemão. Além disso, a  maioria  dos  entrevistados, em sua pesquisa, creditaram à mídia impressa maior veracidade das informações do que quando transmitidas através de meios eletrônicos, especialmente na internet. “O jornal não é visto como superficial, mas sim como profundo. Os jornalistas gostam de enfatizar que o rádio diz, a televisão mostra e o jornal impresso explica”.

Impressos terão que se reinventar Os jornais online substituirão os impressos? Para Simone Tuzzo, esse questionamento remete aos velhos discursos sobre o desaparecimento do rádio quando da chegada da televisão. “Por que alguém iria que- rer continuar a utilizar um veículo que só emitia som, se com a TV todos poderiam ter som e imagem? Ainda assim, o rádio está conosco até os dias atuais sem o menor sinal de que desaparecerá, isso porque soube se reinventar, se adequar às novas realidades”, exemplifica. Segundo ela, a cada nova mídia, as anteriores fazem suas adequações e não necessariamente desaparecem.

A pesquisadora explica que o elo estabelecido entre leitores com o jornal firma-se muito mais na relação sensorial e na forma  com que o veículo se apresenta do que meramente por conteúdos. Neste sentido, ainda que as notícias sejam disponibilizadas gratuitamente nas redes sociais, o laço cativo com o impresso se mantém e atravessa gerações. Assim, para a  professora, os veículos impressos devem continuar tendo seu espaço, mas por uma ótica mais crítica. “O futuro do jornal impresso depende do que nós e do que as novas gerações fizermos dele. O seu futuro, o seu destino está em nossas mãos!”.

Segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisa, Desenvolvi- mento e Inovação em Mídias Interativas (Media Lab), Cleomar Rocha, na história das mídias há pouca ou nenhuma substituição. “Lúcia Santaella indica seis eras das mídias: oral, escrita, impressa, de massa, cultura das mídias e cibercultura. Ainda hoje vivemos todas elas, ainda que haja uma convergência para o digital”. Nessa analogia, ele acredita que a mídia impressa, caracterizada como mídia de massa, mantém seu espaço, sendo  preciso, contudo, observar a sua caracterização como meio, identificando as melhores informações para seu berço.

Para Cleomar Rocha, a informação digital, de veículos online, tende a reunir a velocidade da notícia com   a fragmentação da mídia. “Nesse aspecto, a mídia online não substitui a mídia impressa, antes auxilia no  dimensionamento  da   notícia, da informação, podendo haver, na verdade devendo haver, uma integração dos veículos. É comum que corporações de comunicação tenham rádios, TVs, jornais impressos, revistas e sites. A criação de versões online não substituem, mas complementam a  base  jornalística e informacional, em uma sociedade cada vez mais ávida por notícias, por novidades”, detalha.

Jornal UFG se  reinventa

O editorial da primeira edição do Jornal UFG, em junho de 2006, aponta "a convergência" como importância institucional da publicação, apresentando um jornalismo capaz de aproximar universidade e sociedade  por meio de um espaço plural e democrático. “Nessa perspectiva, o Jornal UFG constituiu-se como importante projeto político, acadêmico, científico e cultural relevante para a valorização da cidadania a partir da Universidade”, observa a professora da FIC, Silvana Coleta, uma das  fundadoras do jornal. O veículo, que esse mês de junho completa 11 anos, tem se reinventado para promover integração entre os veículos de comunicação da UFG, numa proposta, em parceria com o Media Lab, que traz o jornal impresso como mídia integradora, central.

“Pela proposta o jornal impresso trata  a  informação  em  função  de seu público e periodicidade, indicando novas abordagens das notícias em outras mídias, como revista, site, TV e rádio. Essa integração tem caráter complementar, nunca com replicação da abordagem”, explica Cleomar Rocha. Com isso os veículos da UFG pretendem não apenas identificar melhor  sua  abordagem e características enquanto mídia, mas abrir espaço para tecer sua própria malha informacional. A integração já teve início, com ampliação de QR Codes, códigos no jornal impresso que conduzem o leitor a matérias da TV e rádio. O processo de adaptação do público ao novo posicionamento do jornal está projetado para um ano, alinhando capacidades integradoras das equipes e também de uso das novas formas de se informar, por parte do leitor. “O posicionamento do jornal é inovador e condiz com o papel institucional da UFG, alinhando pesquisa e extensão”, detalha o professor.

Para Silvana Coleta, o jornal impresso dá sentido à informação de uma maneira que a maioria dos outros meios não dá, sendo objetivo e reflexivo ao mesmo tempo. “Muitos já decretaram a morte do jornal enquanto outros têm a convicção da sua eternidade. Eu tendo a acreditar na ponderação entre esses dois extremos. A mudança nos hábitos de leitura e a  inovação tecnológica são desafios que os jornais enfrentam atualmente e para os quais têm apresentado respostas bastante funcionais. Com a informação reconhecida como vital, a internet conquistou espaço inegável, também no Brasil. Mas por outro lado,  a demanda por informação mais completa, pela contextualização das notícias, pela análise e interpretação dos fatos, não se perdeu”. “Quanto ao futuro do jornal impresso, ele depende do que fizermos dele”, completa.

Jornal UFG

O professor da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação, Reinaldo Nogueira, faz parte do Conselho Editorial do Jornal UFG e tem todas as edições já publicadas até hoje. “Sempre tive uma enorme satisfação em poder me sentar e manusear notícias da UFG, tanto que guardo com muito carinho todas as 87 edições lançadas até agora. Por esse motivo sempre defendi a continuidade da versão impressa, além do fato de nem sempre podermos contar com acesso digital”.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornal.ufg.br

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