Publicação compartilhada do JORNAL UFGE, de 30 de maio de 2017
Por que as pessoas ainda leem jornal?
Pesquisa mostra que laço com o impresso se mantém e atravessa gerações, mas publicações precisam se reinventar
Texto: Angélica Queiroz/Foto: Ana Fortunato
"Os leitores que preferem o impresso gostam do cheiro da tinta, do som de virar as páginas, da textura do papel e da calma que traz a leitura do formato do jornal, sendo também um prazer para a visão. Além disso, não são poucos os que citam o prazer associado a um café. Isso é muito interessante, pois a leitura do jornal passou a aguçar os cinco sentidos, ou seja, a princípio já estimulava a visão, o tato, a audição e o olfato, mas como o paladar não estava presente, o café completa o processo”. O trecho é parte do livro Os Sentidos do Impresso, resultado de pesquisa da professora da Faculdade de Informação e Comunicação da UFG (FIC), Simone Tuzzo, trabalho que traz uma observação sobre as diferenças entre ler notícias online e no papel.
Segundo Simone Tuzzo, para falar sobre essas diferenças é preciso levar em consideração os diferentes tipos de impactos: tecnológicos, comportamentais, psicológicos, sociais, econômicos e políticos. A professora destaca que os jornais impressos são estruturados e utilizados de um modo que os leitores se sentem atraídos a ler histórias sobre as quais eles não teriam se interessado de antemão. Além disso, a maioria dos entrevistados, em sua pesquisa, creditaram à mídia impressa maior veracidade das informações do que quando transmitidas através de meios eletrônicos, especialmente na internet. “O jornal não é visto como superficial, mas sim como profundo. Os jornalistas gostam de enfatizar que o rádio diz, a televisão mostra e o jornal impresso explica”.
Impressos terão que se reinventar Os jornais online substituirão os impressos? Para Simone Tuzzo, esse questionamento remete aos velhos discursos sobre o desaparecimento do rádio quando da chegada da televisão. “Por que alguém iria que- rer continuar a utilizar um veículo que só emitia som, se com a TV todos poderiam ter som e imagem? Ainda assim, o rádio está conosco até os dias atuais sem o menor sinal de que desaparecerá, isso porque soube se reinventar, se adequar às novas realidades”, exemplifica. Segundo ela, a cada nova mídia, as anteriores fazem suas adequações e não necessariamente desaparecem.
A pesquisadora explica que o elo estabelecido entre leitores com o jornal firma-se muito mais na relação sensorial e na forma com que o veículo se apresenta do que meramente por conteúdos. Neste sentido, ainda que as notícias sejam disponibilizadas gratuitamente nas redes sociais, o laço cativo com o impresso se mantém e atravessa gerações. Assim, para a professora, os veículos impressos devem continuar tendo seu espaço, mas por uma ótica mais crítica. “O futuro do jornal impresso depende do que nós e do que as novas gerações fizermos dele. O seu futuro, o seu destino está em nossas mãos!”.
Segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisa, Desenvolvi- mento e Inovação em Mídias Interativas (Media Lab), Cleomar Rocha, na história das mídias há pouca ou nenhuma substituição. “Lúcia Santaella indica seis eras das mídias: oral, escrita, impressa, de massa, cultura das mídias e cibercultura. Ainda hoje vivemos todas elas, ainda que haja uma convergência para o digital”. Nessa analogia, ele acredita que a mídia impressa, caracterizada como mídia de massa, mantém seu espaço, sendo preciso, contudo, observar a sua caracterização como meio, identificando as melhores informações para seu berço.
Para Cleomar Rocha, a informação digital, de veículos online, tende a reunir a velocidade da notícia com a fragmentação da mídia. “Nesse aspecto, a mídia online não substitui a mídia impressa, antes auxilia no dimensionamento da notícia, da informação, podendo haver, na verdade devendo haver, uma integração dos veículos. É comum que corporações de comunicação tenham rádios, TVs, jornais impressos, revistas e sites. A criação de versões online não substituem, mas complementam a base jornalística e informacional, em uma sociedade cada vez mais ávida por notícias, por novidades”, detalha.
Jornal UFG se reinventa
O editorial da primeira edição do Jornal UFG, em junho de 2006, aponta "a convergência" como importância institucional da publicação, apresentando um jornalismo capaz de aproximar universidade e sociedade por meio de um espaço plural e democrático. “Nessa perspectiva, o Jornal UFG constituiu-se como importante projeto político, acadêmico, científico e cultural relevante para a valorização da cidadania a partir da Universidade”, observa a professora da FIC, Silvana Coleta, uma das fundadoras do jornal. O veículo, que esse mês de junho completa 11 anos, tem se reinventado para promover integração entre os veículos de comunicação da UFG, numa proposta, em parceria com o Media Lab, que traz o jornal impresso como mídia integradora, central.
“Pela proposta o jornal impresso trata a informação em função de seu público e periodicidade, indicando novas abordagens das notícias em outras mídias, como revista, site, TV e rádio. Essa integração tem caráter complementar, nunca com replicação da abordagem”, explica Cleomar Rocha. Com isso os veículos da UFG pretendem não apenas identificar melhor sua abordagem e características enquanto mídia, mas abrir espaço para tecer sua própria malha informacional. A integração já teve início, com ampliação de QR Codes, códigos no jornal impresso que conduzem o leitor a matérias da TV e rádio. O processo de adaptação do público ao novo posicionamento do jornal está projetado para um ano, alinhando capacidades integradoras das equipes e também de uso das novas formas de se informar, por parte do leitor. “O posicionamento do jornal é inovador e condiz com o papel institucional da UFG, alinhando pesquisa e extensão”, detalha o professor.
Para Silvana Coleta, o jornal impresso dá sentido à informação de uma maneira que a maioria dos outros meios não dá, sendo objetivo e reflexivo ao mesmo tempo. “Muitos já decretaram a morte do jornal enquanto outros têm a convicção da sua eternidade. Eu tendo a acreditar na ponderação entre esses dois extremos. A mudança nos hábitos de leitura e a inovação tecnológica são desafios que os jornais enfrentam atualmente e para os quais têm apresentado respostas bastante funcionais. Com a informação reconhecida como vital, a internet conquistou espaço inegável, também no Brasil. Mas por outro lado, a demanda por informação mais completa, pela contextualização das notícias, pela análise e interpretação dos fatos, não se perdeu”. “Quanto ao futuro do jornal impresso, ele depende do que fizermos dele”, completa.
Jornal UFG
O professor da Escola de Engenharia Elétrica, Mecânica e de Computação, Reinaldo Nogueira, faz parte do Conselho Editorial do Jornal UFG e tem todas as edições já publicadas até hoje. “Sempre tive uma enorme satisfação em poder me sentar e manusear notícias da UFG, tanto que guardo com muito carinho todas as 87 edições lançadas até agora. Por esse motivo sempre defendi a continuidade da versão impressa, além do fato de nem sempre podermos contar com acesso digital”.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornal.ufg.br
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