Wilson Figueiredo: O jornalismo é um exercício literário.
Francisco Ucha, em 17|02|2014.
Conversar com Wilson Figueiredo é um prazer. Entrevistá-lo,
contudo, requer dose extra de atenção. Primeiro, para não perder o fio da meada
das histórias que brotam em profusão de sua memória prodigiosa. Acumuladas ao
longo de seus 88 anos de vida, elas não são poucas. Nem simplórias. Segundo,
porque, vez ou outra, ‘seu’ Wilson, como costuma ser carinhosamente chamado
pelos colegas mais jovens que com ele trabalham na FSB Comunicações, tenta
inverter os papéis. Da condição inicial de entrevistado, passa a interpelar o
entrevistador. Coisa de instinto. Postura de jornalista que, experiente, sabe
elaborar perguntas num misto de provocação e doçura.
Do início de sua carreira muito já foi publicado, inclusive
em outra entrevista concedida ao ABI Online, no ano de 2006. Nascido em 28 de
julho de 1924, na cidade de Castelo, no Espírito Santo, ainda adolescente
‘Figueiró’ – apelido que lhe foi dado pelo amigo Hélio Pellegrino – adquiriu o
espírito de um Estado vizinho. “Me sinto mineiro, pois Minas é um vício. Passou
por lá, pega”, já declarou. Foi na capital, Belo Horizonte, que ingressou pela
primeira vez no ambiente profissional em que transitaria por décadas. Era a
Agência Meridional, dos Diários Associados, que funcionava na Redação do Estado
de Minas. O ano era 1944.
Com talento para a poesia manifestado na juventude, Wilson
firmou-se mesmo no jornalismo. Sem exageros, é respeitado e considerado um
mestre. Em meio aos mais jovens, rechaça com bom humor o peso da idade. Aliás,
faz o percurso de sua casa, no Leblon, até o bairro de Ipanema, onde fica a
FSB, quase sempre a pé. “Evito pensar que possa ser o mais antigo jornalista em
atividade no País. Há de haver outro desgraçado, e ainda mais velho, por aí”,
diverte-se. Tamanha bagagem mereceu o devido registro histórico com a edição do
livro E a Vida Continua – A Trajetória Profissional de Wilson Figueiredo,
lançado em 2011. A obra serviu de base para boa parte da pauta desta
entrevista, ao lado de análises sobre o jornalismo atual. Wilson não quer viver
apenas de recordar o passado. Olha para a frente.
Sobre o Wilson poeta, então pouco mais que um garoto, Mário
de Andrade, um de seus inúmeros amigos no universo das letras, escreveu. “Meu
caro Figueiró, acabo de ler seus versos. Você já é poeta, mas só não será poeta
como constância de sua vida se não quiser. Se, quando você chegar aos 38 ou 40,
lembrar que foi poeta e virou funcionário público, ‘argentinos’ de velhas de
estações de águas, ou pai de família só, Figueiró, não bote a culpa na vida, o
culpado será você.”
Se não seguiu carreira literária (será?), Wilson dedicou-se
de corpo e alma ao jornalismo. Na definição do polêmico Nelson Rodrigues,
sempre foi um poeta. Ele estava certo. O ‘Anjo Pornográfico’ soube enxergar
toda a beleza contida no exercício profissional do colega. Pura poesia.
Com
vocês, ‘seu’ Wilson.
Leia no post abaixo, a entrevista concedida a Paulo Chico,
publicada originalmente no Jornal da ABI 387, de fevereiro de 2013.
Texto e imagem reproduzidos do blog: doispontosblog.wordpress.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário