Foto do JB, postada pelo blog Meio Impresso,
para ilustrar o presente artigo.
Texto publicado originalmente no site do Jornal do Brasil
Um adversário temido volta às bancas
Por Alberto Dines*
Café, jornal, cigarro. Cigarro, não mais, mas jornal sempre
foi fundamental. O JORNAL DO BRASIL ia além, era vício. Bibliotecas eram
paraísos para Jorge Luís Borges; o JB era alimento para os cariocas e leitores
de outros estados que corriam de banca em banca atrás de um exemplar. “Correio
da Manhã”, revistas “Senhor” e “Realidade”, “O Pasquim” e tantos tabloides de
literatura atormentaram os nostálgicos, mas não voltaram. O JB voltou. Para
fazer barulho bom e peso na leveza das redes. Pedra firme em água fluida. Um
adversário temido volta às bancas.
Caixa de ressonância, guia seguro, imprensa séria,
comprometida, consistente, inovadora, tudo combina com o JB. Repórter bom que
briga com a matéria e com o editor. O redator que acredita: a matéria mais importante
do jornal é a dele, ou a dela – como uma vez eu disse para a então estreante
colunista Clarice Lispector.
Os livros não interessavam aos tablets, e os apressados
preconizavam: vão acabar. Não acabaram. As vendas de livros até aumentaram 6%
no ano passado, no Brasil. E se as vendas dos jornais caem, há sempre um Warren
Buffett que acredita e compra, compra, compra jornais. O jornalismo está
impregnado do espírito sequencial, de passagem, de prolongamento e
continuidade. Nosso ofício, que começa e se esgota a cada fluxo, a cada novo
dia, é o exercício da permanência, da duração. Por melhor ou pior que tenha
sido a edição anterior, o que vale é a seguinte. E depois dela, a outra. É um
nunca acabar, ou eterno renascer.
Um grande jornal faz-se com a consciência do tempo e a
capacidade de atrair o leitor, todos os dias, para a maravilhosa aventura de
saber um pouco mais. Há um caminho aí que é o de fazer pensar. Oferecer
alternativas de pensamento e marcar presença, fazer história. Pensar grande.
Mario Sergio Conti, em coluna recente, lembrou de “Memórias de um Antissemita”,
o romance de Gregor von Rezzori: “O sangue jorra como antes. A única dignidade
que se pode manter no nosso tempo é a dignidade de estar entre as vítimas”. No
caso do JB, é brigar pelas vítimas. Não é fácil, mas é possível. Agora mais do
que nunca.
*Jornalista e escritor, foi editor-chefe do JORNAL DO BRASIL
de 1962 a 1973
Texto reproduzido do site: jb.com.br
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