segunda-feira, 2 de março de 2020

A longa marcha na Internet

Sede do 'The New York Times', em Nova York

Publicado originalmente no site do jornal EL PAÍS BRASIL, em 01 de março de 2020

A longa marcha na Internet

Após os anos de gratuidade e alguns experimentos fracassados o setor inteiro se encaminha para as assinaturas digitais

Por Jordi Pérez Colomé

A história do jornalismo digital tem apenas 25 anos. Em 1994 havia 20 jornais com edições digitais em todo o mundo. Cinco anos depois, a cifra já rondava 5.000. Entre elas o EL PAÍS, cujo site nasceu em 4 de maio de 1996.

Os primeiros anos na rede foram experimentais. A Internet não estava acostumada às assinaturas nem ao pagamento. A Amazon vendeu seu primeiro livro em abril de 1995. Ainda assim, alguns veículos experimentaram a cobrança de mensalidades. O sucesso mais notável foi do The Wall Street Journal, um diário econômico que começou a cobrar pelo conteúdo em seu site em 1996. Em três anos, alcançava os 450.000 assinantes.

Mas o Journal foi um caso isolado. Em seguida veio a crise das ponto-com, mas também o apogeu da Internet aberta e com tudo grátis. O surgimento da rede mundial de computadores havia eliminado a necessidade de possuir uma rotativa ou uma antena para enviar mensagens a milhões de pessoas. No começo da década de 2000, além disso, o Facebook não existia, e o Google ainda não tinha explorado a publicidade online. Era possível acreditar que os jornais poderiam ser gratuitos na Internet e se financiar com anúncios. Até então, a imprensa tinha duas fontes básicas de financiamento: venda de exemplares e propaganda. Parecia um negócio sustentável continuar vendendo exemplares de papel para quem quisesse levar o jornal por aí, e continuar cobrando pela publicação de anúncios no computador.

Dentro do setor da mídia, entretanto, nunca desapareceu a sensação de que o jornalismo custava dinheiro, e que os leitores tinham que ajudá-lo. “Por que você deveria pagar para ler este jornal”, dizia em 2005 o título de um artigo de David Carr, célebre colunista de mídia do The New York Times. Os primeiros anos do século foram dos “experimentos fracassados”, segundo o professor Ángel Arrese, da Universidade de Navarra (Espanha). Houve dois casos que marcaram o tropeço dos modelos de pagamento: o EL PAÍS e o The New York Times. Ambos testaram modelos de assinatura digital. Obtiveram um número razoável de adesões. Mas afinal optaram por suspender esse caminho.

“É fácil julgar hoje o passo em falso do The New York Times e do EL PAÍS ao abrirem seus conteúdos e depois de fechá-los”, diz Eduardo Suárez, diretor de comunicação do Instituto Reuters (Oxford, Reino Unido) e autor de um recente estudo sobre modelos de assinatura. “Mas aquele mundo era muito diferente. Quase ninguém pagava por uma assinatura na Internet em 2005. Entre outras coisas porque os sistemas de pagamento eram um inferno”, acrescenta. Havia mais motivos. Talvez o mais substancial fosse que a publicidade digital ainda era rentável. Mas a hecatombe era iminente: o iPhone apareceu em 2007. Com os dispositivos móveis, o jornal estava sempre com o leitor. E algo ainda mais importante: o Google e o Facebook começaram a se apropriar da publicidade online. Ao mesmo tempo, os anúncios classificados começavam a desaparecer.

A crise de 2008 foi outra punhalada. O número de funcionários nas redações nos Estados Unidos caiu 47% entre 2008 e 2018. Na Espanha, anos depois, seguiu-se o mesmo caminho, e as redações foram exauridas pela crise, pela perda de circulação e pela revolução tecnológica.

Em fevereiro de 2009, a Time publicou uma capa com o título “Como salvar sua publicação?”. A proposta era tão modesta que tinha um só ponto: pagar pelo conteúdo. Com o passar dos anos, complicou-se ainda mais a partilha do minguante bolo publicitário. Embora jornais como o EL PAÍS já obtenham mais faturamento com a publicidade digital que com a do papel, o crescimento é insuficiente para manter grandes redações. Não foi o único problema: “Deu-se uma banalização jornalística e uma perda de valor próprio que não ajuda a diferenciar o jornalismo de qualidade”, afirma Arrese. Os cliques haviam atirado alguns veículos numa batalha pelo tráfego fácil.

A sensação de transição se prolongou, mas o destino hoje em dia parece claro: um modelo de assinatura, também na Internet. Os grandes jornais globais já cobram por seus conteúdos, que são cada vez mais excepcionais. É um modelo que tem servido a muitos, embora não com o mesmo sucesso para todos, por enquanto.

Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com

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