terça-feira, 29 de setembro de 2020

120 anos de Orlando Dantas


Publicado originalmente no Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão, em 28/09/2020

120 anos de Orlando Dantas
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

Orlando Dantas foi uma figura diferente. Vindo de uma família conservadora, de Senhores de Engenho, ousou romper suas tradições, mas de forma suave. Algo assim como um revolucionário que pensou mudanças tranquilas.

Nasceu em 1900, no dia 28 de setembro, há exatos 120 anos.  Sua mãe, D. Nenem (Adelina Vieira Dantas) vinha do pequeno Engenho Porto dos Barcos, e seu pai, Manoel Dantas, do aristocrático Engenho Vassouras. O avô paterno, o Comendador Francisco Correia Dantas era, na segunda metade do século XIX uma das pessoas mais ricas no Estado.

O ambiente em Sergipe, mesmo entre a aristocracia açucareira não era de cultura, de discussões. Aí Orlando começa a inovar: Ousa ser um intelectual, lê de tudo, a começar pelos clássicos, escreve, indo de crônicas singelas a textos mais elaborados, colaborando com jornais da terra. Acho que essa é sua primeira ruptura com as tradições locais.

Aos 18 anos seu padrinho, José Luis de Coelho e Campos, Senador e depois Ministro do Supremo Tribunal Federal morre, sem deixar herdeiros. No seu testamento deixa 18 contos de reis para o jovem Orlando. Não sei quanto é isso hoje, mas a crônica familiar diz que estourou os 18 contos em viagens a estações de água, para onde iam os ricos e famosos. Deve ter sido bom, porque no final da década de 70, já quase octogenário, lembro que uma ex namorada desta época telefonou, para saber dele. A saudade deveria ter apertado. E a outrora jovem casadoira, então uma provecta senhora, provinha de família paulista quatrocentona. Obviamente D. Dulce morreu de ciúmes.

Depois de suas aventuras, e acho que já sem um tostão da herança, foi estudar engenharia no Rio de Janeiro. Ao final do 2º ano viu que aquela não era muito a sua praia. Fez um curso livre de sociologia e veio embora para Sergipe. Aqui, afinal, ele era amigo do rei.

Seu pai, Manoel Dantas já era um dos políticos mais importantes do pequeno Estado. Orlando, considerando um cara bonito, porém, preteriu as jovens abastadas, ligadas a alguma família de donos de engenho e casa-se com Dulce Menezes, uma pobre menina morena e bonita, de riso largo, sem nenhuma tradição familiar, e que foi sua companheira de toda vida. Certamente uma segunda ruptura.

Em Sergipe foi diretor de banco, empresário, mas seu pai o queria na direção do Engenho Vassouras, que estava sendo transformado em Usina, com equipamentos importados da Holanda e da Alemanha. Orlando transforma-se num empresário do açúcar, ousado, inovador, uma terceira ruptura num ambiente onde os usineiros tendiam a ser tímidos e defensivos. Foi empresário do açúcar durante toda a vida. Há diversos exemplos de sua atuação destemida:  vendo que o alto custo fixo das usinas era um problema para as pequenas unidades de Sergipe, colocou suas ideias num livro “O problema Açucareiro de Sergipe”, de 1944, onde propôs que as usinas fossem reunidas em unidades centrais, por região, em tamanho suficiente para suportar os tais custos fixos. Cada usineiro seria sócio da empresa que detinha a fábrica, e forneceria suas canas. Seus colegas donos de usinas não entenderam a proposta. A vaidade de ser dono de usina os impediu de ver o que viria. Todos fecharam.

Vendo que os demais usineiros não entendiam suas propostas, e percebendo que em Divina Pastora não teria espaço para crescer a Usina Vassouras, muda-a em 1949 para Capela. E na década de 70 inicia a plantação de cana em taboleiros da região de Capela a N.S. das Dores, terras até então inaproveitáveis. Em 1979 inaugura a primeira destilaria de álcool do Estado. Fora sem dúvida um empresário inovador, no sentido schumpteriano.

Seu pai o queria empresário. E nisso ele seguiu a tradição familiar. Mas na política, Manoel Dantas queria outros rumos. Treinava outros sucessores. Orlando, porém, também tinha pretensões políticas. E segue na política por conta própria. Começou de baixo, na década de 30 como Prefeito de Divina Pastora, renunciando ao cargo com o golpe do Estado Novo. Não houve muitos com tal postura. Com a redemocratização do país em 1945, entra na Esquerda Democrática, elege-se deputado estadual constituinte. Depois, já pelo Partido Socialista Brasileiro, elege-se Deputado Federal, numa legislatura profícua, destacando-se na defesa da criação da Petrobrás. Sem dúvida, ingressar em partidos que estavam longo das tradicionais agremiações políticas pode ser considerada uma nova ruptura com as tradições locais.

Volta a Sergipe, funda o jornal Gazeta Socialista, depois Gazeta de Sergipe, e destaca-se como a maior figura do jornalismo em Sergipe.  Sem ocupar mais cargos públicos, foi uma das figuras mais influentes até a sua morte, em 09 de abril de 1982, sugestivamente, uma Sexta-Feira da Paixão.

Naquele dia, o seu jornal em primeira página dizia: “Há homens ante os quais na vida e na morte ninguém fica indiferente, Orlando Dantas foi um deles.”.  Discursando no seu sepultamento, Cabral Machado o comparou a Richard Neville, o Conde de Warwick, que foi a figura mais influente da Inglaterra no século XV, e cognominado “O Fazedor de Reis”.

De Orlando Dantas tenho a honra de ser seu neto.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

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