Por Paulo Roberto Dantas Brandão
Orlando Dantas foi uma figura diferente. Vindo de uma
família conservadora, de Senhores de Engenho, ousou romper suas tradições, mas
de forma suave. Algo assim como um revolucionário que pensou mudanças tranquilas.
Nasceu em 1900, no dia 28 de setembro, há exatos 120
anos. Sua mãe, D. Nenem (Adelina Vieira
Dantas) vinha do pequeno Engenho Porto dos Barcos, e seu pai, Manoel Dantas, do
aristocrático Engenho Vassouras. O avô paterno, o Comendador Francisco Correia
Dantas era, na segunda metade do século XIX uma das pessoas mais ricas no
Estado.
O ambiente em Sergipe, mesmo entre a aristocracia açucareira
não era de cultura, de discussões. Aí Orlando começa a inovar: Ousa ser um
intelectual, lê de tudo, a começar pelos clássicos, escreve, indo de crônicas
singelas a textos mais elaborados, colaborando com jornais da terra. Acho que
essa é sua primeira ruptura com as tradições locais.
Aos 18 anos seu padrinho, José Luis de Coelho e Campos,
Senador e depois Ministro do Supremo Tribunal Federal morre, sem deixar
herdeiros. No seu testamento deixa 18 contos de reis para o jovem Orlando. Não
sei quanto é isso hoje, mas a crônica familiar diz que estourou os 18 contos em
viagens a estações de água, para onde iam os ricos e famosos. Deve ter sido
bom, porque no final da década de 70, já quase octogenário, lembro que uma ex
namorada desta época telefonou, para saber dele. A saudade deveria ter
apertado. E a outrora jovem casadoira, então uma provecta senhora, provinha de
família paulista quatrocentona. Obviamente D. Dulce morreu de ciúmes.
Depois de suas aventuras, e acho que já sem um tostão da
herança, foi estudar engenharia no Rio de Janeiro. Ao final do 2º ano viu que
aquela não era muito a sua praia. Fez um curso livre de sociologia e veio
embora para Sergipe. Aqui, afinal, ele era amigo do rei.
Seu pai, Manoel Dantas já era um dos políticos mais
importantes do pequeno Estado. Orlando, considerando um cara bonito, porém,
preteriu as jovens abastadas, ligadas a alguma família de donos de engenho e
casa-se com Dulce Menezes, uma pobre menina morena e bonita, de riso largo, sem
nenhuma tradição familiar, e que foi sua companheira de toda vida. Certamente
uma segunda ruptura.
Em Sergipe foi diretor de banco, empresário, mas seu pai o
queria na direção do Engenho Vassouras, que estava sendo transformado em Usina,
com equipamentos importados da Holanda e da Alemanha. Orlando transforma-se num
empresário do açúcar, ousado, inovador, uma terceira ruptura num ambiente onde
os usineiros tendiam a ser tímidos e defensivos. Foi empresário do açúcar
durante toda a vida. Há diversos exemplos de sua atuação destemida: vendo que o alto custo fixo das usinas era um
problema para as pequenas unidades de Sergipe, colocou suas ideias num livro “O
problema Açucareiro de Sergipe”, de 1944, onde propôs que as usinas fossem
reunidas em unidades centrais, por região, em tamanho suficiente para suportar
os tais custos fixos. Cada usineiro seria sócio da empresa que detinha a fábrica,
e forneceria suas canas. Seus colegas donos de usinas não entenderam a
proposta. A vaidade de ser dono de usina os impediu de ver o que viria. Todos
fecharam.
Vendo que os demais usineiros não entendiam suas propostas,
e percebendo que em Divina Pastora não teria espaço para crescer a Usina
Vassouras, muda-a em 1949 para Capela. E na década de 70 inicia a plantação de
cana em taboleiros da região de Capela a N.S. das Dores, terras até então
inaproveitáveis. Em 1979 inaugura a primeira destilaria de álcool do Estado.
Fora sem dúvida um empresário inovador, no sentido schumpteriano.
Seu pai o queria empresário. E nisso ele seguiu a tradição
familiar. Mas na política, Manoel Dantas queria outros rumos. Treinava outros
sucessores. Orlando, porém, também tinha pretensões políticas. E segue na
política por conta própria. Começou de baixo, na década de 30 como Prefeito de
Divina Pastora, renunciando ao cargo com o golpe do Estado Novo. Não houve
muitos com tal postura. Com a redemocratização do país em 1945, entra na
Esquerda Democrática, elege-se deputado estadual constituinte. Depois, já pelo
Partido Socialista Brasileiro, elege-se Deputado Federal, numa legislatura
profícua, destacando-se na defesa da criação da Petrobrás. Sem dúvida,
ingressar em partidos que estavam longo das tradicionais agremiações políticas
pode ser considerada uma nova ruptura com as tradições locais.
Volta a Sergipe, funda o jornal Gazeta Socialista, depois
Gazeta de Sergipe, e destaca-se como a maior figura do jornalismo em
Sergipe. Sem ocupar mais cargos
públicos, foi uma das figuras mais influentes até a sua morte, em 09 de abril
de 1982, sugestivamente, uma Sexta-Feira da Paixão.
Naquele dia, o seu jornal em primeira página dizia: “Há
homens ante os quais na vida e na morte ninguém fica indiferente, Orlando
Dantas foi um deles.”. Discursando no
seu sepultamento, Cabral Machado o comparou a Richard Neville, o Conde de
Warwick, que foi a figura mais influente da Inglaterra no século XV, e cognominado
“O Fazedor de Reis”.
De Orlando Dantas tenho a honra de ser seu neto.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Paulo Roberto Dantas
Brandão
Nenhum comentário:
Postar um comentário