quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Tarso de Castro é o jornalista que criou o Pasquim...

[Tarso de Castro e a belíssima Candice Bergen, no Brasil]

 Publicado originalmente no site JORNAL OPÇÃO, em 14 abril 2015  

Revirando a história

Tarso de Castro é o jornalista que criou o Pasquim e “seduziu” a atriz americana Candice Bergen

Por Euler de França Belém  Edição 2075

Biografia de Tom Cardoso revaloriza participação de Tarso de Castro na criação de O Pasquim, o jornal que abalou a República, e relata a paixão da atriz americana pelo jornalista

Para alguns jornalistas, como o excelente Ruy Castro, nada é mais importante do que Ipanema. A Segunda Guerra Mundial certamente começou, em 1939, porque Millôr Fernandes, o guru de Paulo Francis e Ruy Castro, estava com dor de dente. Então, como o Rio de Janeiro, que a patota chama de “Rio”, é o centro do universo, discute-se, em livros e jornais, como se fosse a informação mais relevante do mundo, a verdadeira paternidade de “O Pasquim”, depois apenas “Pasquim”, sem o artigo. Há a tendência, admitida até pelo templário milloriano Ruy Castro, de excluir o nome de um dos fundadores do tabloide que mexia com os nervos e mandíbulas dos leitores (todos riam, militares na linha de frente) — o jornalista gaúcho Tarso de Castro (1941-1991). Agora, finalmente, surge a versão de outra patota, a de Tarso de Castro, morto, de tanto ingerir (putz!, dirá a turma do Pasca) bebida alcoólica. Seu café da manhã era vodca. O livro “75 Kg de Músculos e Fúria: Tarso de Castro — A Vida de Um dos Mais Polêmicos Jornalistas Brasileiros”, do jornalista Tom Cardoso, publicado pela Editora Planeta, resgata e restaura a história do fundador do “Pasquim”, tido, por muitos, apenas como “porra-louca”. E era, mas não só isso.

[Che Guevara e Tarso, em 1961]

Ruy Castro, no delicioso livro de baba-ovismo “Ela É Carioca — Uma Enciclopédia de Ipanema” (subtítulo ideal: “Deus criou o mundo a partir de Ipanema”), editado pela Companhia das Letras, traça a história do “Pasquim” com certa isenção, mas puxando sardinha, é claro, para a armada de Millôr Fernandes. Ruy Castro, que felizmente não é parente de Fidel Castro, escreve: “… ‘O Pasquim’ [fundado em junho de 1969] sobreviveu àquele período inicial porque era diferente do que todo mundo esperava. Os militares, que não tolerariam uma oposição política explícita, custaram a perceber que o deboche do jornal na área dos costumes e da cultura o tornava ainda mais ‘subversivo’”. Um dos segredos de seu sucesso, registra Ruy Castro, é que os jornalistas e colaboradores “podiam escrever do jeito que quisessem. (…) ‘O Pasquim’ não parecia ‘escrito’, mas ‘falado’. (…) Mas a grande atração eram as entrevistas, desde a nº 1, com Ibrahim Sued. Elas não eram ‘editadas’. Não se tratava de uma estratégia editorial, mas, no caso das primeiras entrevistas, de preguiça e correria mesmo. O público adorava aquela espontaneidade e ela se tornou padrão nas entrevistas. Os leitores adotaram apaixonadamente o “Pasquim” e fizeram sua circulação disparar: 14 mil exemplares no nº 1; 94 mil no nº 19; 117 mil no nº 22 (com a entrevista de Leila Diniz); 140 mil no nº 23; 200 mil no nº 27”. A grande fase do jornal ocorreu entre 1969 e 1975. Com a distensão e a abertura, o jornal ficou sério demais e perdeu público. Mas o jornal abriu espaço para o “Opinião” e para o “Movimento”, jornais mais engajados ideológica e politicamente. O “Pasca” era uma espécie de jazz do jornalismo.

Pai e padrastos de o Pasquim

Em 1971, o “Pasquim” estava endividado — devia entre 200 mil e 400 mil dólares. O registro de Ruy Castro: “Tarso foi afastado, Sérgio Cabral assumiu a direção da empresa e, pouco depois, Millôr tornou-se uma espécie de interventor convidado, encarregado de sanear as finanças. Levou três anos, mas conseguiu”.

No verbete “Tarso de Castro”, Ruy Castro faz certa justiça: “E, por mais que tentem apagá-lo [Tarso de Castro] dos registros, ficará na história e na lenda como o criador do ‘Pasquim’”. E, em seguida, vem a injustiça, diriam os tarsistas: “É verdade que mais na lenda do que na história — porque ele não o criou sozinho. Jaguar e Sérgio Cabral foram seus sócios na origem do jornal, em 1969, sem falar no brilho individual dos primeiros colaboradores, como Millôr Fernandes, Ziraldo, Claudius, Fortuna, Henfil, Luiz Carlos Maciel, Paulo Francis e o diretor de arte Carlos Prósperi”. E, adiante, faz justiça, outra vez: “Mas, com sua audácia e criatividade, Tarso foi o amálgama inicial para a imagem debochada do ‘Pasquim’, numa época em que o AI-5 acabara de fechar os canais políticos sérios. O sucesso foi incrível: dos 12 mil exemplares iniciais, o jornal passou a 200 mil por semana em apenas cinco meses”.

Agora, sim, é a vez do livro de Tom Cardoso, que muitos vão tachar de “superficial”, com certa razão, mas é um livro que, pelo menos, escapa da versão oficial, a “história”, que também é “lenda” (“se a lenda é mais interessante que a história, imprima-se a lenda”, ensinou o “historiador” do Oeste americano John Ford, em “O Homem Que Matou o Facínora”), contada pelos “filhos” de Millôr Fernandes. O livro é bem-escrito e não é ruim. Talvez seja a base para uma obra mais alentada. Ressalvo, desde já, que há uma certa má vontade com Millôr, o que acho até bom, pois o humorista-filósofo sempre obteve espaço desmedido, por intermédio dos acólitos, para se explicar e impor uma história oficial. Millôr não quis se pronunciar a respeito de uma acusação contra Tarso — a de que ele roubava o próprio jornal. Há histórias muito boas, como a da paixão (tesão) por Candice Bergen, a atriz norte-americana, a do beijo, selinho, que deu no dono da “Folha de S. Paulo”, Octávio Frias de Oliveira, e a paixão de Paulo Francis, não correspondida, pela mulher de Tarso, Bárbara Oppenheimer (espécie de “Sophia Loren germânica”, parente distante de Robert Oppenheimer, o criador da bomba atômica). O velho Frias, segundo Tom Cardoso, adorava Tarso, que entrava em sua sala sem avisar. Homem inteligente, Frias ria das histórias de Tarso e, sobretudo, adorava o alto índice de leitura de sua coluna na “Folha”. Ele era o mais lido, segundo Tom Cardoso. Tarso foi levado para a “Folha” por Claudio Abramo, que, mesmo resmungando, adorava o amigo. Tarso é tido como “maluco”, mas criou, à revelia de Abramo e com o apoio direto de Frias, o pai, o “Folhetim”, caderno de debates do qual o “Ilustríssima” é um pálido simulacro. Além de criar outros jornais.

 Ao apresentar o livro de Tom Cardoso, o jornalista Luiz Carlos Maciel, grande amigo de Tarso e um dos principais colaboradores do “Pasquim”, diz: “Queiram ou não, foi ele o verdadeiro responsável pelo sucesso inicial do ‘Pasquim’”.

O pai de Tarso, Múcio de Castro, era dono do jornal “O Nacional”, em Passo Fundo (RS). Seu principal rival era Túlio Fontoura, dono do “Diário da Manhã”. Os grupos dos dois jornais brigavam sempre. O de Múcio, com o apoio de Tarso, então linotipista, gritava para o de Fontoura: “Pasquim! Pasquim! Pasquim!”. Pode ter sido a origem do nome do jornal que, anos depois, abalou a República civil-militar e os costumes. Antes de criar o “Pasquim”, Tarso brilhou na “Última Hora”, divertindo e irritando Samuel Wainer. Todo jornalista inteligente irrita o proprietário do jornal no qual trabalha. Os medianos passam, não como passarinhos, e sim como anônimos.

Mas voltemos ao “contencioso” sobre a fundação do “Pasquim”. Convidado por Murilo Reis para editar o jornal “A Carapuça”, Tarso de Castro diz: “Vamos fazer um jornal marginal”. Tarso defendia o formato tabloide. Convidou Jaguar e Sérgio Cabral para a empreitada, e, segundo Tom Cardoso, eles aceitaram “sem muito entusiasmo”. “Os primeiros a se juntar ao grupo foram Ziraldo, Paulo Francis e Flávio Rangel.” Millôr foi convidado para participar do “Pasquim” diretamente por Tarso e mostrou-se cético: “Olha, rapaz, desiste. O jornal não vai vingar, em seis meses será fechado”. A folha seca de Tarso: “Pronto. Você escreverá sobre isto no nosso primeiro número”.

Mais Tarso: “Convidei Ziraldo para participar como sócio. Ele recusou. Millôr Fernandes também caiu fora — chegou a escrever um artigo prevendo o final da publicação em poucos números, coisas que se explicam pelo fato de que ele considera insuportável qualquer coisa que dê certo e que não o tenha como autor. Doente, Claudius ia para a Europa e Prósperi tinha, no momento, outros interesses. Acabamos como sócios, eu, Jaguar e Sérgio [Cabral]. (…) [Luiz Carlos] Maciel foi o primeiro não-sócio que convidei”.

Convidando Caetano Veloso, que estava em Londres, para participar do “Pasquim”, Glauber Rocha disse: “Não! Você não está entendendo nada! Paulo Francis não vale nada. E mais: o pior de todos é o Millôr! E o único que presta é o Tarso de Castro. Ele é uma palavra só: ‘Coração’”. Glauber, claro, era um exagerado. Se não fosse, não seria Glauber. Seria, no máximo, Nelson Motta.

Uma das entrevistas mais comentadas, até hoje, do “Pasquim” foi a da atriz Leila Diniz. Durante a entrevista, Leila Diniz falou mais palavrões do que palavras convencionais. O quê fazer? “Foi de Tarso a grande sacada: substituir cada palavrão por um asterisco. Deu certo. Os censores demoraram meses para entender o artifício bolado por Tarso, mas até o mais pudico dos leitores de ‘O Pasquim’ sabia o que Leila queria dizer com ‘O filme era uma * incrível’”, conta Tom Cardoso. Há uma história que Tom Cardoso não apurou suficientemente: Tarso teria financiado a viagem da jornalista Martha Medeiros para Paris com parte do dinheiro que a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) roubou do cofre de Adhemar de Barros. “Reza a lenda”, ressalva o jornalista. Mas uma viagem para Paris, diria Hemingway, justifica mais o roubo do cofre do que a própria guerrilha. Porque, se a guerrilha era uma roubada, Paris era e é uma festa.

Paixão fulminante de Candice Bergen

[Candice Bergen, a bela atriz americana foi esnobada pelo gaúcho Tarso de Gastro]

Uma das principais fontes do livro de Tom Cardoso, ao lado de Martha Medeiros, Luiz Carlos Maciel faz um registro da crise interna do “Pasquim”: “Ali [a introdução de Millôr como sócio e o expurgo de Tarso] foi uma luta pelo poder. O Tarso, embora não determinasse o que seria escrito, era o cara que dava a palavra final. Ele era mandão mesmo. (…) E os outros queriam mandar também, principalmente o Millôr. O Millôr achava um absurdo o Tarso mandar mais do que ele, por isso armou uma conspiração para derrubá-lo. Foi um golpe de Estado, com a adesão do Jaguar e do Francis, de quem era amigo íntimo. Uma das coisas que o Millôr alegou, mas que nunca foi provado, e que não acredito, é que o Tarso roubava dinheiro de ‘O Pasquim’. Que grande corrupção é essa que o cara sai do jornal com uma mão na frente e outra atrás?”.

Uma das partes mais saborosas do livro é a paixão de Candice Bergen por Tarso de Castro. Ruy Castro anota que, em suas memórias, Candice Bergen descreveu Tarso como “um ex-guerrilheiro que entrou em Havana com Che Guevara”. Tom Cardoso amplia a história, citando João Ubaldo Ribeiro: “Quando cheguei lá [ao hotel Meridien] a Candice estava sentada, com as pernas esticadas, despojada, sem maquiagem, mas bonita como sempre foi, um mulherão enorme. Me lembro que ela tinha um pezão imenso, porque foi a primeira coisa que eu vi: ela relaxada, com o pé em cima de uma cadeira e o Tarso atrás, radiante, andando de um lado para o outro, com os braços abertos, em transe absoluto”.

Tarso “tomou” Candice Bergen de Samuel Wainer, que preparou o bote, mas chegou tarde. Há várias histórias sobre as razões de Tarso ter conquistado a atriz. Uma, que Tom Cardoso não registra, talvez por considerá-la lenda, conta que o jornalista encheu o quarto da atriz de rosas e, surpresa, ela decidiu recebê-lo. Dizem que foi tesão à primeira vista.

Como aponta Tom Cardoso, são várias as versões da conquista que abalou Ipanema. Todos, inclusive Millôr e Paulo Francis, tinham inveja do sucesso que Tarso fazia com as mulheres. “Alguns juram ter visto o jornalista entrar correndo no restaurante [Antonio’s], ajoelhar-se aos pés da atriz e beijá-la dos pés à cabeça sem a menor cerimônia. Outros dizem que a abordagem foi um pouco mais sutil: com um buquê na mão esquerda e um urso de pelúcia na direita (doado na última hora pela mãe da promoter Ana Maria Tornaghi), o jornalista disse meia dúzia de palavras em inglês e conquistou a moça.”

“Uma terceira versão”, diz Tom Cardoso, “é sustentada por amigos mais próximos a Tarso. Candice interessou-se por ele no Antonio’s, mas só se apaixonou de verdade depois que viu o seu retrato ao lado de Che Guevara, tirado durante a cobertura da Conferência Econômica e Social da OEA, em Punta Del Este, em 1961. Rápido no gatilho, o jornalista teria dito à atriz que lutara ao lado de Guevara e Fidel Castro durante a Revolução Cubana — contou (provavelmente fazendo gestos) os apuros que ele e os dois líderes comunistas passaram juntos nas montanhas de Sierra Maestra, semanas antes de entrar triunfantes para tomar Havana do ditador Fulgencio Batista. Candice teria ouvido a história com lágrimas nos olhos e se apaixonado perdidamente”.

Candice Bergen de fato apaixonou-se por Tarso, que, diziam as mulheres, não era chato (ao contrário de Paulo “Ogro” Francis, que queria discutir Kant com “locomotivas”, quando as belas queriam discutir “Kama” ou o Kama Sutra) e era bonito. O registro de Tom Cardoso: “A atriz, completamente apaixonada, bancou todas as viagens de Tarso a Nova York. O jornalista, porém, se queixara aos amigos que, por mais que tentasse, não conseguia dedicar-se apenas a uma grande paixão. Não queria magoá-la, mas não via a hora de voltar à vida de solteiro no Antonio’s, livre para morder as orelhas alheias. O publicitário Mauro Salles lembra do dia em que encontrou Candice Bergen no aeroporto de Nova York, pendurada no orelhão, tentando ligar para a casa de Tarso, no Rio: ‘Não conseguimos achar o Tarso em casa e eu decidi ligar para o Antonio’s. Liguei, a cobrar, ele não estava lá. Pedi para a turma localizá-lo. Liguei e o Tarso atendeu. Expliquei que a Candice chegaria ao Rio na manhã seguinte e queria vê-lo. Ele esnobou: ‘É possível que ela não me ache’. Eu não acreditei: ‘Mas, Tarso, a mulher resolveu tirar a folga toda dela, antes das filmagens, só pra te ver!’. E o Tarso: ‘Mauro, não te mete nisso’. A Candice tinha a chave do apartamento do Tarso. Quando chegou lá, de manhã, ele não estava. Só voltou no fim da tarde. Aquela mulher, estrela de Hollywood, sentada na sala de um apartamento caindo aos pedaços, todo desarrumado, e ela, aflita, esperando Tarso de Castro chegar. Não dava para acreditar’”. Se não fosse pelo testemunho de Mauro Salles, um publicitário sério, seria difícil acreditar.

Esnobada e cansada do descaso do amante latino, Candice Bergen casou-se com o cineasta francês Louis Malle (1932-1995), que era baixinho. Tom Jobim disse para o amigo Tarso: “Não fique assim, meu caro, dos Malles, o menor!”. Segundo Ruy Castro, a frase é de Tarso. Candice Bergen, na autobiografia, admitiu que Tarso havia sido o grande amor de sua vida. Tarso era assim mesmo: um Porfirio Rubirosa patropi.

Vida sem poupança e jornalismo sem alma

O título do livro, estranho, tem uma explicação. Quando decidia escrever sua coluna, na “Ilustrada” (da qual foi editor), da “Folha de S. Paulo”, depois de ser buscado num bar por sua assistente, Lilian Pacce, Tarso dizia: “Neste momento, 75 kg de músculos e fúria se reúnem para fazer mais uma coluna”. Sobre o sucesso na “Folha”, na qual contava com a condescendência de Octávio Frias de Oliveira, Tarso disse, numa entrevista ao “Correio Braziliense”, em 1984: “Nosso jornalismo tornou-se tão especializado que perdeu a alma. Os jornais ficaram muito iguais. Minha coluna é irreverente, nela dou esporro, chamo o Maluf de ladrão, defendo a dignidade deste país angustiado. Busco munição nos bares, nas ruas. (…) Os jornais brasileiros acabaram com o talento individual, com o jornalista de estilo próprio”.

Tom Cardoso registra uma história muito boa, contada por Jaguar: “Eu estava tomando minhas biritas na mesa dos fundos do Degrau, quando o Tarso empurrou a porta com um tranco e berrou para todo mundo ouvir: ‘Jaguar, seu viado, vamos duelar! Escolha as armas!’. ‘Conhaque’, respondi. Modéstia à parte, eu estava num daqueles dias em que a gente pode beber um Amazonas que não fica de porre. Ganhei: carreguei o Tarso, desmaiado, até a casa dele”.

Depois de fazer vários jornais, como “Enfim” e “Careta”, e editar a “Tribuna da Imprensa”, Tarso refundou “O Nacional”. O jornal era ligado a Leonel Brizola, no Rio, e a Franco Montoro, em São Paulo. Mesmo devotado a Brizola e ao prefeito Saturnino Braga, Tarso fazia críticas. “A verdade era que Tarso não sabia fazer jornal a favor de ninguém, nem de Brizola”, diz, com acerto, Tom Cardoso.

Na (extinta) “Folha da Tarde”, para onde voltou, depois de ter acionado judicialmente a “Folha de S. Paulo”, do mesmo grupo, Tarso manteve-se implacável. Chamava Orestes Quércia de “Dama de Ferro” e Ayrton Senna de “o nosso Veado Veloz”. Ele tinha o hábito de chamar os outros, sobretudo os desafetos, de “bicha”. Corre a história de que era bissexual, porque gostava de beijar os amigos, como Caetano Veloso, na boca. Tom Jobim “denunciou” que tinha a mania de apertar o aquilo-roxo dos amigos. Tom Cardoso não apresenta, porém, nenhum caso de homossexualidade de Tarso. Ele era um garanhão, sensível, às vezes, grosso, não raro, e sempre adorado e perseguido pelas mulheres… bonitas. Homens têm o hábito de apontar como gays homens bonitos e que atraem as mulheres mais belas.

 

[Tarso de Castro com o compositor, cantor e escritor Chico Buarque]

Aos amigos, que o aconselhavam a parar de beber, Tarso dizia: “Prefiro viver pela metade por uma garrafa de uísque inteira do que viver a vida inteira bebendo pela metade”. Convidado por Luiz Carlos Maciel, frequentou o grupo Alcoólatras Anônimos. Mas caiu fora, com um argumento definitivo: “Prefiro a morte ao anonimato”. Em 20 de maio de 1991, vítima de cirrose hepática, Tarso morreu, aos 49 anos. Otto Lara Resende escreveu: “Tinha um pacto de felicidade com a vida. Pouco importava que a vida não cumprisse a sua parte. Eu interpelava os astros: de quem foge Tarso de Castro? Quem persegue Tarso de Castro? Ele ria. E o riso apagava no rosto o vinco das noites boêmias. A vida jogada fora, num gesto de desdém e de rebeldia. Mas onde está a vida dos que a depositaram na poupança? Na vertigem com que vivia, no seu furor, havia, sim, um sinal de maldição. Sua morte nos punge como um remorso. Tantas imposturas, tantos vencedores! Adeus, Tarso”.

As belíssimas mulheres de Tarso

Tom Cardoso aponta uma seleção das mulheres que “ficaram” — palavra certamente sutil — com Tarso de Castro. Eis algumas das mulheres, todas consideradas muito bonitas: Tônia Carrero, Sílvia Amélia, Leila Diniz, Noelza Guimarães, Nara Leão, sua irmã Danuza Leão, Ana Maria Magalhães, Sonia Braga, Ana de Hollanda, Regina Rozemburgo, Betty Faria, Marisa Urban, Neuza Brizola [filha do ídolo político de Tarso, Leonel Brizola], Duda Cavalcante, Maysa Matarazzo [a cantora], Norma Bengell, Zezé Motta e, claro, Candice Bergen. Millôr e Francis tinham razão de ter inveja de Tarso.

Orestes Quércia era a Dama de Ferro

Quando Tarso de Castro morreu, em 1991, “o desejo da família”, conta Tom Cardoso, “era que o corpo fosse enviado imediatamente para Passo Fundo, logo depois do velório na Assembleia Legislativa de São Paulo. De novo, Fernando Morais ofereceu ajuda. Ligou para Luiz Antônio Fleury Filho, que havia acabado de ser eleito governador de São Paulo, apoiado por seu antecessor, Orestes Quércia, e fez o pedido:

— Governador, preciso que o senhor libere um jatinho para levar o corpo de um amigo com urgência até Passo Fundo.

— Quem morreu?

— O jornalista Tarso de Castro.

 — Quem

— O Tarso.

— Aquele que chamava o Quércia de a “Dama de Ferro” todo dia no jornal?

— Ele mesmo.

— Você está louco? Não posso fazer isso.

— Governador, o Quércia não precisa ficar sabendo.

— Tudo bem. Mas pelo amor de Deus, se ele souber, eu sou enterrado junto com o Tarso.

Texto e imagens reproduzidos do site: jornalopcao.com.br

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