Publicado originalmente no perfil do Facebook de Carlos Magno Andrade Bastos, em 14 de fevereiro de 2022
Por Carlos Magno Andrade Bastos
Em 1980, fiz a minha estreia como poeta. Militante do movimento secundarista, escrevia pretenciosamente poemas panfletários aliado a um concretismo capenga. Vendo o movimento literário aracajuano passar por um "boom" com lançamento de vários livros apresentei minha "obra" para análise da Sub Secretaria de Cultura e Arte, orgão da Secretaria de Educação. O programa editorial era comandado por Eliane de Moura Moraes. Para minha surpresa o projeto do livro "Gota de Sangue" foi aprovado. Porém no processo de produção do livro, fui apresentado a um sujeito branco baixinho, que era um dos conselheiros editorais, não dei nada por ele. Começou a tecer críticas ao meu "trabalho" Fiquei puto com ele. Pensei com meus equivocados borbotões: quem esse cara pensa que é para desqualificar um poeta laureado da minha lavra, de vanguarda e revolucionário? Procurei Silvinha Leite responsável pela capa do meu inusitado compêndio e ela em tom irritado respondeu: esse cara é Ivan Valença. Sai chateado mas dei de ombros com a petulância desse crítico mordaz. Finalmente a obra foi lançada no hall da Biblioteca Pública Epiphânio Dórea com sucesso de público. Mas pouco depois uma crítica literária de renomada professora de literatura detonava minha poética de forma impiedosa. "Escritor ou escrevente?" Esse foi o título do artigo publicado na imprensa. Para minha sorte a poetisa Iara Vieira que tinha um bom coração, livrou a minha cara rebatendo tal artigo.
Pouco depois comecei a escrever crônicas no semanário Folha da Praia e acabei sendo convidado mais adiante para ser repórter da Gazeta de Sergipe e lá quem eu encontro ? Ivan Valença uma espécie de manda chuva do jornal. Era ao lado do historiador Luis Antônio Barreto editorialista do matutino. E nessa convivência vi claramente que meu julgamento inicial estava completamente equivocado. Quem era eu perto de sua cultura e experiência? Com ele comecei a aprender jornalismo e a respeitar suas ponderações. Até a Folha era diagramada e impressa por ele e depois em sua gráfica imprimi a primeira edição do Papagaio e centenas de edições.
Quando falarem que não julgue pela aparência acreditem. Depois de muitos anos bebendo nessa fonte confiavel e abalizada passei a ser seu admirador e muitas vezes antes de tomar decisões sobre publicações busquei sua consultoria sempre inteligente e gratúita. Além de mestre vi que aquele homem carregava consigo uma nobreza de caráter que jamais havia encontrado. Principalmente entre tantos pistoleiros intelectuais com seus falsos elogios que visavam minha queimação. Um dia ouvi ele dizer " Seja indiferente a críticas e elogios" Assim navegou na imprensa com coragem, lisura e equilíbrio. Tornou-se um amigo muito querido. E antes que esqueça, vale ressaltar a sua estupefaciente habilidade de simultaneamente datilografar velozmente nas velhas remigtons da redação, enquanto conversava e ria contando histórias a seus interlocutores.
Durante a Ditadura Militar oficiais do 28 BC tentaram invadir a Gazeta de Sergipe e foram contidos por Ivan Valença o jovem magricela que lembra o genial e enigmático Woody Allen, resistiu heroicamente para orgulho do lendário jornalista Orlando Dantas que o tinha como filho. Esse ato não impediu a censura imposta ao jornal.
Em seu íntimo regalo, ocupa um lugar de honra na galeria destinada à imprensa na Alese e provoca ciúmes a forma especialmente carinhosa com a qual é tratado principalmente pelas belas mulheres jornalistas que cobrem as atividades parlamentares.
Se tivesse dado ouvido às críticas, a minha indigitada "obra" não carregaria comigo o arrependimento pela mediocridade eternizada. Hoje eu concordo plenamente com Ivan Valença e digo mais: gostaria de engolir cada página desse meu livro de estreia.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Carlos Magno Andrade Bastos
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