Legenda da foto: Imagem compartilhada do Facebook/Carlos Max Prejuízo e postada pelo blog 'Meio Impresso', para ilustrar o presente artigo.
Texto reproduzido do blog do Portal Infonet, de 20 de outubro de 2023
Banca do Careca na Praça da Catedral: Patrimônio cultural de Aracaju
Por Cláudio Nunes (blog Infonet)
Ao longo dos anos, muitos espaços e imóveis de Aracaju foram destruídos em nome de uma modernidade que não preza pela manutenção do patrimônio histórico e cultural. Um bom exemplo foram os casarões da Avenida Barão de Maruim e da chamada “rua da Frente” do Rio Sergipe. Pouquíssimos sobraram.
Para quem não conhece a história, a Banca do Careca, localizada ao lado da Catedral Metropolitana, foi um ponto de encontro de pessoas que tinham um pensamento de uma sociedade justa e igualitária, principalmente durante o período da ditadura militar.
Os livros da história política de Sergipe contam as prisões, as torturas e as mortes de cidadãos que lutaram contra a ditadura militar. Entre eles, Gervásio dos Santos, o Careca. A história da banca surgiu por uma questão de sobrevivência, já que o Careca não teve opção a não ser vender jornais para colocar comida para seus familiares, quando foi preso na ditadura militar e perdeu o emprego nos Correios.
A banca tornou-se uma das mais movimentadas de Aracaju, reunindo intelectuais e defensores da democracia, e um ponto de referência em defesa da democracia nas décadas de 70 a 90. Depois continuou como ponto de encontro e debates sobre a política sergipana até 2020. Com a pandemia, os netos não tiveram como reabrir a banca que é uma representatividade de uma geração que foi brutalmente perseguida por defender a democracia e a liberdade de expressão.
A banca de revista do Careca irá reabrir no dia 1 de dezembro, exatamente quando completará 28 anos da morte de Careca. A banca será reaberta pelo neto de Careca, o psicólogo Max Prejuízo, que transformará num espaço para salvar vidas, com o clube de doador de sangue Edite Maria Santos Prejuízo, cujo objetivo é a captação de pessoas para doarem sangue. Na banca, as pessoas farão seu cadastro para se colocarem à disposição para quando necessário doar sangue. Esse cadastro será essencial, principalmente para quem possui o fator RH negativo, por conta da dificuldade de identificar doadores.
Além do Clube de Doador, a banca, tornando-se patrimônio cultural, poderá ter, mesmo no pequeno espaço, uma exposição com a história da banca do Careca, com fotos, textos e livros que confirmam a importância histórica da mesma num período no qual a democracia e a liberdade de expressão foram tolhidas no Brasil.
Este jornalista foi forjado numa família que conviveu com essa perseguição: avô, pai e tios. Por isso, na década de 80, teve o prazer de conhecer muitos destes homens que forjaram a história de luta, como Lídio da Cocada, Manoel Vicente, José Nunes, Agonalto Pacheco, Burguesia, Antônio Bittencourt e muitos outros.
Aliás, o vereador professor Bittencourt deveria ser o autor deste projeto de lei para tornar a Banca do Careca patrimônio cultural de Aracaju. Em casa, ele tem no pai um cidadão que encarna essa geração que foi perseguida e lutou pela democracia.
Transformar a Banca do Careca em Patrimônio Cultural de Aracaju é fazer Justiça com a história de uma geração de heróis, muitos deles anônimos até hoje.
Texto reproduzido do site: infonet com br/blogs/claudio-nunes
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