terça-feira, 21 de agosto de 2018

Morre Otávio Frias Filho, diretor da Folha de S. Paulo

O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho. 
Raquel Cunha da Folha Press 

Publicado originalmente no site do El País Brasil, em 21 de agosto de 2018 

Morre Otavio Frias Filho, publisher que liderou a modernização da Folha

Jornalista, que tinha 61 anos, era diretor desde 1984 da publicação de maior circulação no país e tida como a mais influente

Otavio Frias Filho, publisher que liderou a modernização do jornal de sua família, a Folha de S.Paulo, a partir dos anos 80, e imprimiu influência marcante nas transformações do jornalismo brasileiro desde então, morreu nesta terça-feira, 21, em São Paulo, aos 61 anos. Frias Filho lutava contra um câncer de pâncreas.

Formado em direito pela USP, o jornalista assumiu o comando da direção do jornal a partir de 1984, cargo que jamais deixaria de ocupar. O filho mais velho do então dono do grupo de mídia, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007), frequentava o jornal desde a década anterior, mas foi a partir daí que implementou mudanças editoriais e gráficas que reformularam a Folha —do texto direto, herdeiro das agências de notícias, à conduta dos jornalistas, incluindo a obrigatoriedade de ouvir acusados em reportagens, e à criação de uma seção própria para admitir as falhas, o “Erramos”. Eram, então, os últimos momentos da ditadura militar e as mudanças, que traziam novas vozes para o jornal e sofreram resistência inicial na redação, visavam tentar deixar para trás o modelo de um negócio que, no Brasil, segue sendo essencialmente familiar e concentrado em poucas mãos. As metas, escritas num manual público de conduta, seria fazer um "jornalismo crítico, pluralista, apartidário”.

Por anos, Frias Filho e seus editores recrutaram egressos de universidades de jornalismo e integrantes da elite brasileira (inclusive de fora da categoria, à revelia das regras vigentes então), para mudar o jornal e levá-lo ao posto de mais vendido e influente do Brasil. Entre as inovações da Folha, está a introdução do cargo de ombudsman —ouvidor dos leitores—, que marcaria o debate e as reflexões na mídia local. Os anos 90 foram de expansão dos negócios e do leitorado - o jornal chegou a vender um milhão de cópias. A partir do anos 2000, e com os desafios impostos pela Internet, o jornal, parte de um grupo de mídia que também inclui o portal UOL, atravessou crises cíclicas, com a redução do número de jornalistas, de correspondentes no exterior e de recursos. A Folha tem, nos dados divulgados em novembro de 2017, circulação de quase 300.000 exemplares (assinaturas digitais e jornal impresso).

O jornal, sob o comando total de Otavio Frias Filho após a morte do pai, em 2007, era acusado no últimos anos por supostamente se alinhar à oposição aos Governos do PT, a partir de 2003. Foi algo que a direção sempre rechaçou. A favor da publicação, contam as revelações jornalísticas - furos de reportagem, no jargão da profissão - que incomodaram tanto o Planalto de Fernando Henrique Cardoso como de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

Em anos recentes, outra controvérsia de monta foi provocada por um editorial de 2009, no qual a Folha classificou de “ditabranda” o regime militar brasileiro, em comparação às ditaduras vizinhas. O texto provocou inúmeros protestos, tido com uma relativização dos crimes e violações de direitos humanos do período. Foi considerado um editorial emblemático, ainda mais vindo de um jornal que, no passado, havia apoiado, como outros veículos, a ditadura, mas cuja inflexão a partir da campanha das Diretas Já, em 1983,havia sido decisiva para .

Otavio Frias Filho teve, ao longo do tempo, diferentes tipos de incursão nas páginas do jornal —de textos de opinião, a ensaios e entrevistas. Também escreveu teatro e crítica. Mantinha uma coluna mensal no caderno Ilustríssima, que circula aos domingos no jornal. Entre os livros que publicou, está Queda livre (2002), em que o jornalista faz "investigações participativas” em temas que vão da peregrinação do Caminho de Santiago de Compostela a vivências em casas de swing e sadomasoquismo.

Frias Filho deixa a mulher, Fernanda Diamand, duas filhas, Miranda e Emilia, e os irmãos Maria Helena, médica, Luiz, presidente do Grupo Folha, e Maria Cristina, editora da coluna Mercado Aberto, da Folha.

Texto e imagem reproduzidos do site: brasil.elpais.com

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