Foto reproduzida do blogdealtaneira.com.br e postada pelo blog Meio Impresso,
para ilustrar a presente entrevista
Publicado no site Vermelho, em 13/05/2013
Mino Carta: De Veja à CartaCapital, um olhar sobre
comunicação
Aos 80 anos, o homem que comandou a criação da Veja e hoje
dirige a CartaCapital não baixa a guarda. Ataca as novas gerações de
jornalistas e diz que a grande mídia perdeu o poder de influenciar a opinião
pública nacional. Leia a seguir a íntegra da entrevista do jornalista concedida
ao jornal O Povo e publicada nesta segunda-feira (13).
O jornalista Mino Carta esconde, involuntariamente, as oito
décadas de vida com um entusiasmo quase juvenil na defesa de suas ideias. O
mesmo tom agitado que o move nos ataques ao que considera “imbecilização”
brasileira contemporânea acompanha sua análise sobre a desperdiçada vocação
natural do País para ser um “paraíso terrestre”. Efeito, avalia, da herança da
longa escravidão que até hoje mantém vivo entre nós o clima de Casa Grande e
Senzala.
O olhar dele sobre o momento nacional é duro, especialmente
quando visto sob a ótica do jornalismo e da política. A justiça vai na mesma
linha. A conversa é permeada por termos como “imbecil”, “idiota”, “calhorda”
acompanhando suas apreciações sobre personagens, públicos ou de sua convivência
pessoal, uma ênfase que muitas vezes parece desnecessária diante de um diálogo
que o tempo todo flui sob a artilharia verbal de um genovês que vive no Brasil
desde 1946.
Confira os trechos principais da conversa com Mino, que
aconteceu na manhã do dia 17 de abril deste ano, quando de sua passagem por
Fortaleza para lançar o mais novo livro “O Brasil”.
Depois de tudo que o senhor viveu, das experiências boas e
ruins que vivenciou, seria jornalista se lhe fosse dada uma segunda chance?
(risos) Não sei, sinceramente, não sei. Vou lhe dizer, com
toda sinceridade, que eu não queria ser jornalista, embora sendo neto e filho
de jornalista.
O senhor resistiu inicialmente à ideia, então?
É que não era meu objetivo. Eu teria gostado de ser escritor
ou pintor.
O senhor diz que não queria, mas acabou sendo jornalista,
com sucesso, inclusive. O exemplo mostra que a profissão prescinde da vocação
ou é o contrário?
Não, não prescinde, absolutamente. A vocação é absolutamente
necessária e começa pelo fato de você ter de lidar com desembaraço com a
escrita. Fazendo referência à minha geração de jornalista, quando tínhamos que
ter, independente da formação acadêmica, um ótimo conhecimento da língua e
precisávamos ter, portanto, leituras frequentes e profundas, texto impecável.
Agora, só para completar aquela ideia inicial, não queria ser jornalista, mas
acabei sendo jornalista, acabei até, num primeiro movimento, dirigindo uma
revista especializada em carros mesmo sem entender nada de carro...
O senhor não dirige, inclusive...
não, não dirijo. No entanto, acabei comandando a revista e
foi um sucesso. Era, então, um jornalista a serviço de uma ideia que não era
necessariamente a minha. Quando fui trabalhar no Estadão, e fui muito bem
tratado, até pelo fato de o meu pai já ter trabalhado lá e ser uma pessoa muito
querida. Ele, que morreu apenas dois meses depois que comecei a trabalhar no
jornal, era uma pessoa muito querida e eu terminei herdando um pouco essa
condição que havia deixado lá após 17 anos. Bom, fui muito bem tratado e tal,
mas, evidentemente, as ideias dos senhores Mesquita não batem com as minhas,
algo que não me impedia de ser leal no desempenho da minha função. O que
realmente mudou a minha visão do jornalismo foi a ditadura, com a chegada da
censura. Isso corresponde à minha ida para a revista Veja, que foi submetida a
uma censura feroz. Foi quando me dei conta da importância do jornalismo, me dei
conta da serventia dele.
Ainda é?
Sem dúvida, claro. O jornalismo é de uma enorme utilidade,
no Brasil, então, nem se fala. No Brasil ainda estão de pé as casas grandes e
as senzalas, então, contribuir de alguma forma para a demolição delas, algo que
não enxergo como uma coisa próxima, me parece ser uma tarefa brilhante, que a
mídia brasileira não cumpre.
O senhor entende, então, que o papel da mídia seria
fundamental dentro do contexto. Na sua avaliação, os interesses, a carga
opinativa, tudo isso está contaminando o noticiário atualmente?
Ah, sem dúvida. Primeiro, inventa-se. O caso do tomate é um
exemplo clássico, já que foi uma invenção, uma coisa sem base alguma. O que é
grave, pois o jornalista não tem que inventar. Pior ainda é quando você mente,
ou, omite. Olha, eu fundei tudo que de mais importante aconteceu nesse Brasil
em termos de imprensa nos últimos 40 anos, escrevo um livro e, em qual país do
mundo um livro deste seria ignorado pela mídia? Não existe, só aqui! É o único
lugar do mundo onde os jornalistas chamam o patrão de colega. Patrão é patrão,
jornalista é jornalista. Quando fui trabalhar na Itália, com meus 22 anos,
existia uma lei, que até hoje perdura, pela qual o dono não pode ser diretor de
Redação. Diretor de Redação pelo direito divino não existe! Só no Brasil!
O que seria diferente, então, na Carta Capital, onde o
senhor é dono e diretor de Redação?
(risos) É que a Carta Capital é uma tentativa literal de
sobrevida, de sobrevivência. Digo-lhe mais: não tenho interferência alguma na
administração da empresa, nenhuma. Faço o meu trabalho, dirijo a Redação. E,
claro, ganho meu salário que, comparado ao dos rapazes que dirigem redações por
ai, sequer falo do pessoal das televisões, chega a ser ridículo. Trata-se da
única coisa que ganho, dividendos nunca vi.
Voltando à questão do livro que está sendo lançado, o senhor
diz que há uma deliberada opção da grande mídia por ignorá-lo.
É a realidade dos fatos. Mesmo assim, o livro já chegou à
terceira edição, tiragem de dez mil exemplares, passados apenas 45 dias desde o
lançamento em São Paulo.
O público não percebe isso? Qual, na avaliação do senhor, é
a percepção das pessoas, dos leitores sobre o papel da mídia hoje?
Quanto à chamada classe média, que não é média coisa
nenhuma, claro que há influência sobre ela. Quanto ao povo, não! O povo, apesar
de tudo isso (em relação ao governo), se a eleição fosse hoje a Dilma
(Rousseff) ganharia. Apesar do tomate, apesar dos juros, apesar de tudo, assim
como o Lula ganha, e ganhou. Essa mídia não chega ao povo brasileiro, à
senzala. A senzala, eventualmente, vê o Faustão, uma coisa do tipo, mas ao
“Jornal Nacional” não. Ela não lê o editorial do Estadão, não lê a revista
Veja, diferente da classe A, B, que acredita naquilo, repete as mesmas frases.
Além de tudo, a ofensa diária contra a língua portuguesa é inominável, as
pessoas não sabem falar, orgulham-se de usar 100 palavras, os próprios jornais.
É a regra dentro da Folha de S. Paulo, por exemplo: diga tudo com cem palavras.
Esta é a situação!
Parece que no Brasil não há espaço para uma mídia que
manifeste de maneira mais clara e aberta suas posições. Até pelo fato de, na
prática, inexistir direita e esquerda na própria política...
O problema é exatamente este. Temos uma mídia que funciona
de um lado só e que se destina, em última análise, a um público muito restrito.
Pensemos na imprensa dos países mais democráticos, onde há jornal de direita,
de esquerda, de meia-direita, de meia-esquerda, de todas as tendências
possíveis representadas na mídia. Isso cria um debate natural. Aqui é tudo de
um lado só. Moro num prédio em que sou olhado como um perigosíssimo subversivo!
Por que não existem órgãos com tais características, com
posições claras e definidas. É o mercado publicitário que rejeita? É o leitor?
Se a The Economist escolheu a CartaCapital para ser sua
parceira no Brasil, escolheu, não em nome de uma identidade, de uma afinidade
ideológica, porque temos posições diferentes. A escolha foi em função da
seriedade e da qualidade. Eles acham a imprensa brasileira uma tragédia e têm
razão. Eles nos escolheram, mesmo que eu não tenha as mesmas posições da The
Economist, nem a CartaCapital tenha essas posições. A Economist, por exemplo,
pede a demissão de (Guido) Mantega porque mexe com os interesses deles, de quem
cujas causas advoga. Se a The Economist fosse brasileira estaria perdida,
coitada, porque na Inglaterra distribui 200 mil exemplares, menos do que
distribui no Brasil a revista Isto É. Muito menos do que distribui a Época e
infinitamente menos do que a Veja. Os publicitários brasileiros aplicam
febrilmente, e safadamente, critérios que chamam de técnicos. Nós temos uma
revista que tira 70 mil exemplares por edição e, acho, se conseguirmos aplicar
um pouco em autopromoção, poderemos sim multiplicar essa tiragem. Mas, qual é o
limite extremo? Dobrar a tiragem? Seria sucesso total porque praticamos um
vernáculo decente, porque não é fácil ler a CartaCapital. É uma revista séria,
embora às vezes se permita lances de ironia. Razão pela qual será lida sempre
por um público reduzido, como na Inglaterra, que é um país onde os índices de
leitura são superiores aos nossos e você vê que a The Economist distribui 200
mil exemplares.
O mensalão do PT, para o senhor, está recebendo um
tratamento diferenciado, da Justiça e da imprensa?
Sejamos honestos, a Justiça foi pressionada violentamente.
Não houve isenção alguma e muitas condenações foram injustas.
Quando o senhor fala que a Justiça agiu pressionada pelo
noticiário expõe, de qualquer maneira, uma fragilidade que ela não deveria ter,
não é?
Claro. Basta olhar para o ministro Luiz Fux para logo
concluir que se trata de um imbecil. Há pessoas que trazem no rosto a
consistência moral e intelectual, a mostram de uma maneira desabrida. Pensa no
caso (Cesare) Battisti e como se portou esse Supremo Tribunal Federal... Coisa
grotesca, mostrando uma ignorância das coisas do mundo total.
Um erro, então, que começou dentro do próprio governo Lula.
Total, começa no Tarso Genro e chega ao Lula, que cometeu um
erro gravíssimo. Não tem nada a ver comparar Battisti com aqueles nossos
poucos, mas certamente corajosos, guerrilheiros. Battisti queria derrubar um
Estado de Direito, enquanto os nossos queriam devolver o Brasil a um Estado de
Direito. Exatamente o caminho oposto.
O questionamento, me parece, foi à forma como se deu o
julgamento dele na Itália.
Imagine, ele teve os melhores juristas italianos. É que os
franceses tiveram um idiota que se chamava François Miterrand, inventor de uma
lei pela qual quem fosse terrorista encontraria guarida na França. Uma
besteira! Além de tudo, ele, Miterrand, era outro hipócrita, um socialista de
fancaria, de mentira.
Voltando à questão de sua trajetória como criador de alguns
dos principais veículos impressos do País, um marco, sem dúvida, foi a criação
da revista Veja..
Sim, mas a minha Veja...
Hoje, o senhor lê a Veja?
Não. Às vezes me divirto olhando a capa e sempre tem quem me
informa sobre um editorial, algo assim.
Mudou, em relação à época do senhor, inclusive quanto ao
estilo?
É um delírio, um delírio absoluto. Havia um contrato com os
Civita, na minha época, no qual constava que eles definiam o tipo de revista
que queriam, mas depois seriam leitores da revista. A discussão seria sempre a
posteriori, nunca a priori, ou seja, não poderiam influenciar a pauta e coisa e
tal. O Victor Civita cumpriu essa cláusula durante todo o tempo, ele tinha sua
falta de escrúpulo, eventualmente, mas, ao mesmo tempo, era um fazedor, era um
homem de realizações, um empresário dedicado. Quanto aos filhos, um era
bastante claro em relação às suas pretensões, mas não se metia, enquanto o outro,
o Roberto, era metidíssimo e calhorda.
Com relação à Isto É, outra revista que o senhor criou, qual
o sentimento que há ainda hoje?
A Isto É tenta sobreviver, mas a editora Três está carregada
de dívidas, uma coisa monstruosa.
Com efeitos sobre a qualidade editorial?
Sem dúvida, sem dúvida, afeta muito. A Isto É tem uma
posição ambígua, digamos, não é o delírio da Veja, não é a mesma coisa. Mais
próxima da Veja tem a Época, como postura ideológica.
O senhor avalia que o Brasil vive um processo de imbecilização.
No que é que consiste isso e, por outro lado, o fenômeno é nosso, nacional, ou
tem âmbito mundial?
É um fenômeno mundial, acho, embora aqui seja mais acentuado
porque a senzala continua de pé e os moradores da senzala apresentam uma certa
diferença, em termos culturais. Nosso povo é especialmente ignorante. Não
existem povos melhores ou piores e, lhe digo mais, a tragédia é que o Brasil
poderia ser o paraíso terrestre. Acho, sinceramente, porque não existe no mundo
um País tão favorecido pela natureza. A nossa elite é culpada, sim, muito
culpada, pelo atraso que começa nesse ponto, exatamente, na permanência da Casa
Grande e da Senzala, que é a herança de três séculos e meio de escravidão. Uma
herança terrível, visível, tangível, você toca nisso diariamente. É doloroso
porque o Brasil poderia ser o paraíso terrestre. As nossas circunstâncias
históricas sempre foram ruins por causa de uma elite calhorda, prepotente,
feroz, vulgar, ignorante, primária. É isso.
Produção literária
"O que realmente mudou minha visão do jornalismo foi a
ditadura, com a censura"
No total, já são cinco livros de autoria do escritor Mino
Carta. O primeiro deles, “Histórias da Mooca, Com as Bênçãos de San Gennaro”, é
de 1982. Depois, na sequência, vieram “O Restaurante Fasano e a Cozinha de
Luciano Boseggia”, de 1996,”O Castelo de Âmbar”, de 2000, “A Sombra do Silêncio
“, de 2003, e, agora em 2013, “O Brasil”. Como estilo, nos romances, mistura
ficção e realidade sem grande esforço para esconder a possível inspiração de muitos
dos seus personagens.
Perfil
Demetrio Giuliano Gianni Carta nasceu na cidade italiana de
Gênova, em 6 de setembro de 1933, filho de Gianino Carta, jornalista e
professor de História da Arte, e de Clara Carta, escritora. Vestia calças
curtas quando, em 1946, chegou a São Paulo com os pais. Chegou a cursar Direito
da Universidade de São Paulo (USP), mas não concluiu o curso. Dirigiu as
equipes de criação da Quatro Rodas (1960), Jornal da Tarde (1966), Veja (1968)
e CartaCapital (1994). Foi, ainda, diretor de redação das revistas Senhor
(1982), IstoÉ/Senhor (1988) e IstoÉ (1989). O único jornal que ajudou a fundar
e não prosperou foi o Jornal da República (1979). É autor dos livros “O Castelo
de Âmbar” (2000), “A Sombra do Silêncio” (2003), “Histórias da Mooca, Com as
Bênçãos de San Gennaro” (1982), “O Restaurante Fasano e a Cozinha de Luciano
Boseggia”, em parceria com Rogério Fasano (1996) e “O Brasil” (2013). Ganhou
dois Prêmios Esso de Jornalismo, em 1964 e 1968. Dedica-se também à pintura,
desde 1954.
Cerca de 150 pessoas foram ao lançamento do novo livro de
Mino Carta em Fortaleza, em abril, no auditório do Centro Cultural Dragão do
Mar.
Uma demonstração, para ele, de que o boicote da grande mídia
à obra não tem sido suficiente para evitar seu sucesso. A apresentação de “O
Brasil” foi feita pelo ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes.
O livro “O Brasil” é definido como uma autoficção (mistura
de autobiografia com ficção). Nele, o personagem Abukir, alterego de Mino,
repassa três décadas da história nacional, da morte de Getúlio Vargas ao fim da
ditadura militar. Faz-se uma crítica ao País e ao jornalismo brasileiro,
especialmente a partir de sua relação com o poder político.
História de um rompimento
A editora Abril tinha contraído dívidas no exterior e queria
consolidá-las no Brasil através de um empréstimo de 50 milhões de dólares (junto
à Caixa Econômica Federal). Eu estava muito por dentro da situação porque não
somente era diretor de Redação da revista Veja, mas, também, integrava o
Conselho Diretor da editora, composto pelo presidente, Victor Civita, pelos
dois filhos dele, pelo sócio-minoritário, que se chamava Gordiano Rossi, e pelo
genro deste, que funcionava como editor-responsável da editora. O Carlos
Rischbieter (presidente da CEF na época) aprovou o pedido, mesmo porque a Abril
oferecia garantias que ele considerava tecnicamente perfeitas.
O negócio marchou por várias mesas até chegar à do Armando
Falcão, então ministro da Justiça. O partisse desta crise se deu em julho de
1975, quando o Falcão comunicou que o empréstimo não sairia porque a editora
Abril produzia uma revista que era inimiga do regime. Tudo isso era discutido
abertamente no Conselho e eu fiz a seguinte proposta: seu Victor, eu saio da
direção da revista, fico nos bastidores por uns três meses para garantir uma
transferência interna de poderes e, por exemplo, a editora me nomeia diretor
das sucursais europeias e vou morar em Roma, que tal? Ele, ficou de pensar,
conversar com os filhos etc e, uma semana depois, disse que ‘não’. Disse que
tudo bem, mas enquanto estivesse lá faria a coisa funcionar da mesma maneira.
Depois, veio o imbecil do filho dele, uma das mais refinadas
bestas que conheci na minha vida, o Roberto Civita, e perguntou: ‘por que você
não tira férias?’ Ele sugeriu meio ano, mas recusei, lembrando que tinha férias
vencidas, três meses etc e tal. Mas, perguntei: saio três meses e vocês vão
fazer o quê enquanto eu estiver fora? Vão se esbaldar em porcarias? ‘Não’,
disseram eles, ‘vamos assinar um procolo’. O tal protocolo estabelecia,
basicamente, que os redatores-chefes, que eram dois, me substituiriam em
gênero, número e grau. Outro ponto do protocolo, previa que ninguém seria
demitido por razões políticas. Ninguém, nem colaboradores, nem, claro,
funcionários. Muito bem, sai no dia 27 de dezembro para um período de três
meses de férias, o protocolo foi assinado com validade até 1º de abril. Fui à
Europa e, de volta no finzinho de janeiro, o Victor Civita me acha e pede que
vá visitá-lo. Fui e ele me disse que o Roberto tinha estado no dia anterior com
o Falcão e eu tinha que mandar embora o Plínio Marcos. Disse que não iria
mandar embora ninguém, porque existia o protocolo. Ele disse que até o Tratado
de Versailles tinha sido jogado no lixo e tal. Respondi que da minha parte não
rasgaria nem o Tratado de Versailles e nem o protocolo. Ele insistiu mais e eu
peguei um cinzeiro e atirei no peito dele. E fui embora.
Houve antes um encontro com o Roberto Civita que me disse
que o Falcão havia pedido minha cabeça. Eu disse: pois é, eu sei, mas, e daí? O
que é que você diz? Ele disse ‘não sei, o que é que eu posso dizer?’ Falei,
então, estávamos conversando na minha casa, que iria contar até três e se você
estiver ainda diante de mim te quebro os dentes. Ele levantou e saiu correndo
para dentro do elevador.
Fui ao Falcão, que me disse: ‘Mino, você está nervoso, o que
é isso? Tenho uma fazenda em Quixeramobim, com redes entre as árvores
frondosas, bate uma brisa ótima, água de coco, vai lá!’ Fiquei até de ir em
outra oportunidade, mas perguntei como é que tinha sido a história da Veja. Ele
falou que era muito simples: Vem aqui o Roberto Civita, o Victor Civita, o
diretor responsável, um tal de Edgar, e dizem que você é o culpado. O próprio
diretor da Redação em Brasília, o Pompeu de Souza, diz que você é o culpado,
então, o que é que me cabe fazer? Pedir sua cabeça, não é não? Então, disse que
tinha entendido tudo, passar bem, maravilha, até logo... Sai dali e pedi aos
redatores-chefes que entregassem minha carta de demissão.
Fonte: O Povo
Texto reproduzido do site: vermelho.org.br
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