domingo, 21 de fevereiro de 2021

Jornal ‘Folha de S.Paulo’ completa 100 anos


Foto/Crédito: reproduzida do site da Folha de S.Paulo e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo. Legenda: (extraída do artigo) 'A Folha nasceu com outro nome. Começou “Folha da Noite...”'

Texto publicado originalmente no site G1 GLOBO/JORNAL NACIONAL, em 19/02/2021

Jornal ‘Folha de S.Paulo’ completa 100 anos

A ‘Folha’ nasceu com outro nome. Começou ‘Folha da Noite’, em fevereiro de 1921. Depois, vieram ‘Folha da Manhã’ e ‘Folha da Tarde’, para, em 1960, serem uma só: ‘Folha de S.Paulo’, um dos mais importantes jornais do Brasil.

Por Jornal Nacional

A “Folha de S.Paulo”, um dos mais importantes jornais do Brasil, completa, nesta sexta-feira (19), 100 anos de existência.

Uma redação que vive um século vê tudo isso: o mundo que parecia acabar; a morte de um sonho brasileiro; a vitória de outro, americano; dias de festa no futebol; e também de derrota; um tanto de guerra; um pouco de paz.

A Folha nasceu com outro nome. Começou “Folha da Noite”, em fevereiro de 1921. Depois, vieram a “Folha da Manhã” e a “Folha da Tarde”, para, em 1960, serem uma só: a “Folha de S.Paulo”.

Com textos enxutos e dinheiro curto, chamou a atenção de Octavio Frias de Oliveira, o Seu Frias, como depois seria chamado, e do sócio, Carlos Caldeira Filho, que assumiram a folha em 1962. Nos anos seguintes, colocaram as finanças em dia e começaram a modernizar o jornal.

Era véspera da ditadura. Como setores da classe média, do empresariado e dos principais veículos de comunicação, inclusive “O Globo”, a “Folha” também apoiou o golpe; mas, depois, se tornou crítica do regime.

Em 30 de março de 2014, o editorial admitiu que o apoio tinha sido um erro - a mesma atitude adotada pelo “Globo” no ano anterior.

A extensa cobertura, em 1975, do assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-Codi, o órgão de repressão política do Exército, em São Paulo, foi um dos marcos de uma escalada pela democracia.

No fim de 1983, a sociedade pressionava pela volta das eleições para presidente e a “Folha” encampou a campanha das Diretas Já. O movimento "Use amarelo" pintou as capas das edições do jornal.

Nessa época, o filho de Seu Frias, Otavio Frias Filho, como diretor de redação, começava a colocar em prática um projeto ambicioso, com medidas que inovaram e profissionalizaram o jornalismo na empresa. Era o Projeto Folha, como ficou conhecido.

Em 2016, Otavio Frias Filho reafirmou o que pensava do jornalismo num debate em Londres.

"Fui educado numa escola de jornalismo segundo a qual cabe ao jornalismo ser crítico em relação a todas as fontes de poder; cabe ao jornalista se desengajar, se distanciar e adotar uma visão de fiscalização e de crítica erga omnes", afirmou Otavio.

Crítica "erga omnes" é aquela que vale para todos. Essa visão sobre o jornalismo, ele já tinha expressado 20 anos antes.

“A gente costuma dizer que está empenhado em praticar um jornalismo que seja crítico, apartidário e pluralista”, disse Otavio em fevereiro de 1996.

Em 2002, ao receber o título de professor honoris causa, nas Faculdades Integradas Alcântara Machado, Seu Frias, atribuiu aos profissionais do jornal o mérito pela qualidade editorial.

“Prefiro ver nessa homenagem um reconhecimento ao trabalho de todo um grupo de pessoas que me ajudaram na aventura profissional de fazer da ‘Folha’ um grande jornal; um jornal do qual pudéssemos nos orgulhar pelos serviços prestados ao país e à comunidade”, comentou na ocasião.

Octavio Frias de Oliveira morreu aos 94 anos, em 2007, e Otavio Frias Filho, em 2018, precocemente, aos 61 anos. A identidade da Folha sobreviveu à passagem de comando - hoje, o publisher é Luiz Frias - e à passagem do tempo também.

É de 1995 a primeira edição da Folha Web, embrião da Folha Online. Tinha poucos meses que a internet era comercializada e, no Brasil, pouca gente conhecia esse novo meio de comunicação.

O avanço da rede mundial não parou as máquinas. Hoje, é por fibra ótica que as páginas chegam da redação ao parque gráfico no começo da noite.

A celebração do centenário se enquadra aos limites das medidas necessárias de distanciamento social.

A edição que comemora os 100 anos foge do ritual do jornalismo. Na redação, como em outras, país afora, o telefone não toca, não tem conversa, reunião de pauta, entrevista, correria para o fechamento. Não tem jornalista, mas não faltam notícias.

Para Sérgio Dávila, diretor de redação, a pandemia de Covid-19 mostrou que o público está cada vez mais ávido por jornalismo profissional.

"Essa pandemia prova que o jornal - o jornalismo - ele é feito pelas pessoas independentemente do lugar, independentemente da reunião. A gente tinha muita dúvida quando começou a pandemia se seria possível fazer um jornal impresso, um jornal digital, os vídeos que a gente faz, os podcasts que a gente faz com essa pulverização que houve nos 300 jornalistas da redação. E passados meses do começo da pandemia, a resposta é sim. É possível fazer jornalismo onde você estiver, desde que você tenha as pessoas certas e desde que você siga os preceitos do jornalismo profissional", comentou Sérgio Dávila.

 Para Luiz Frias, o avanço da internet, com todas as suas consequências, não diminui, mas aumenta a importância do jornalismo profissional: ele segue indispensável, seja no papel ou no digital.

"As redes sociais e as fake news só reforçaram, nas pessoas, a necessidade de uma informação verdadeira, não engajada, que ouve os diferentes lados e que só o jornalismo profissional é capaz de oferecer. Não é à toa que batemos recordes de audiência durante a crise. O modelo de negócio muda, com maior importância na assinatura e menor na publicidade. As pessoas procuram informação verdadeira, precisa e verificada. Com a internet, num mundo onde falta tempo, a curadoria do que é importante virou fundamental na formação profissional e intelectual das pessoas. Marcas com história, como a Folha e esta Globo, prevalecerão, independentemente do mandatário de turno", afirmou Luiz Frias.

Texto reproduzido do site: g1.globo.com/jornal-nacional

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